CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO TRINTA
Celeb sumido como sempre. Eu focada no romance da Madame Bovary. Escrevendo e escrevendo. Feliz, uma boa parte de mim, feliz.
Chego trinta minutos antes do início da aula e sento na cafeteria ao lado. Estou concentrada relendo meu texto e vejo o Gabriel vindo em minha direção.
Finjo naturalidade e ele sem nenhuma cerimônia senta do meu lado e diz: - Bom dia, Lyna? Por que você fez um facebook falso?
- Isso é problema meu. Você tá incomodado por quê? - Tô curioso, só isso.
- Claro que não, você sabe muito bem que só daria processo se você usasse a imagem de alguém, mas como você usou a da sua irmã gêmea, acho que não dá nada.
- Vem cá... qual é a tua? - A tua.
- Como assim?
- Gosto de você. Por mais mentirosa e falsa que você possa ser. - Nossa, que agressão. Falsa por quê?
- Não sei, você não me parece real, sei lá. - Ninguém é real o tempo todo.
- Acho você linda. Linda e mentirosa.
- Se escrever é mentir em palavras, sou mentirosa sim.
Um silêncio se instalou entre um gole de café, uma olhada e um pedido ao garçom de mais dois cafés.
Alterei o rumo da conversa para a festa de final de Oficina e a escolha dos três candidatos a mestrado.
- Você vai na festa? - Lógico, quer ir comigo?
- Não, obrigada. Vou com meu namorado. (não consegui achar outra resposta e a Lyna burrinha & mentirosa falou mais rápido)
- Mentindo outra vez, Lyna Luck? Ou será que você é sua irmã gêmea e está se passando por ela?
- Você continua disputando cargo pra detetive? Jornalista, técnico de informática e detetive. Ou seria espião da Cia ou Scotland Yard?
- Engraçadinha! Fugindo da resposta.
- Eu não tenho que responder as tuas perguntas, eu mal te conheço.
- É verdade, mas você não para de me olhar na aula. E esta maneira de olhar eu conheço.
- Hum! Talvez eu ache você interessante. Só isso. -Então você pode ir na festa comigo.
- Na real, não tô muito pilhada para ir nesta festa.
- Sério, mas vai ser um festão. Como morreu sua irmã gêmea? - Num afogamento, por hipotermia.
- Vocês estavam juntas?
- Sim e não. Ela estava no barco fazendo o passeio e eu fiquei tomando sol na areia com uma galera. Olha só, vamos pagar o café e ir pra sala, tá na hora da aula.
Um calor abafado e úmido. Fiz um coque solto e rumei para última aula antes das férias.
Assim que entramos juntos na sala, me dirigi ao mestre (sim porque este Herrb sabe muito) Ele é capaz de orientar qualquer um para ler tudo de bom que existe. Conhece técnica de escrita como ninguém. Achei que devia explicações ao grupo.
Ele me concedeu uns minutos e ali mesmo de pé comecei minha catarse.
“Sinto vontade de pedir desculpas ao grupo, em especial ao professor. Não costumo me comportar assim, mas a oficina é muito importante para mim. Saí da sala na aula passada sem nem dar tchau porque a presença de um manequim me provoca uma crise de ansiedade violenta. Estou tratando isso na terapia, mas desde que vi o corpo da minha irmã gêmea morta de hipotermia, imóvel e inconsciente, com as pupilas dilatadas, a única coisa que me vem em mente é pânico. Toda vez que vejo um manequim eu surto. Ela era bem branquinha, delicada e lógico, parecida comigo. Gostava de usar lente de contato azul. Tinha os cabelos mais claros e cacheados artificialmente.
Fiz um facebook falso com a foto dela e entrei nesta aula para aprender a escrever. Ela escrevia muito bem, eu não. Sei tocar piano, velejar, desenho muito bem, mas escrever sempre foi com ela. Meus textos não terminam porque eu apresentava os textos dela e não sabia como terminar. Desculpa, professor. Acontece que no meio do percurso comecei a me apaixonar pela ficção e consegui produzir alguns textos aqui. Alguns que vocês devem ter rido por dentro, mas são meus. O que entreguei ao professor tem dois capítulos dela, o resto é meu. Peço permissão para entregar o romance que estou trabalhando. E se o professor aceitar, fico neste curso até o final. Posso aprender pouco, mas o pouco já me serve pra entender a paixão pela arte, em especial pela literatura. Quem escreve, ama ler. Quem lê muito, escreve bem. Eu quero escrever bem. Por enquanto o texto é um refletor que me defende dos meus medos. Obrigada, professor.”
Sentei. Vi os olhos do Gabriel colados em mim. De alguma forma diferente me senti muito bem e fiquei firme sustentando o silêncio de todos.
Sumário: só menciona os elementos essencias do momento. Às vezes, pode servir para introduzir uma cena ou dar continuidade à narrativa.
Cena: Recria em pormenor um momento da história. O sumário conta. A cena mostra sobre o conflito. Para uma cena lenta: pausas, digressões reflexivas Forma verbal do imperfeito.
Verbos de estado.
Palavras que despertem lentidão Cena:
Frases curtas Narrar no presente Verbos de ação
Não usar advérbios “mente”
Copiem. Trabalhem. Quero duas narrativas curtas. Uma com cena, outra cenário. O tempo passou com a experiência de sempre: lento como um sumário, quando os momentos ruins acompanham a gente. E rápido como uma cena bem trabalhada, quando a vida nos deixa sorrir.