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CAPÍTULO 2 – AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS IDOSOS 1 A Teoria das Representações Sociais (TRS)

Centrado na questão da inserção digital e social dos idosos residentes no Distrito Federal, esse capítulo discute e analisa a construção do referencial teórico-metodológico da Teoria das Representações Sociais (TRS) em investigações acadêmicas. Na obra intitulada “La psysichanalyse, son image et son public”, Moscovici (1961) descreve o estudo sobre a representação social da psicanálise para grupos específicos de Paris com o objetivo de compreender como a teoria psicanalítica era disseminada.

Para Moscovici (1961, 2003) as representações sociais constituem-se como uma série de opiniões, explicações e afirmações que são produzidas a partir do cotidiano dos grupos, sendo a comunicação elemento primordial neste processo. As representações sociais são consideradas como uma forma de conhecimento, criadas pelos grupos como forma de explicação da realidade. A representação social formaliza uma “(...) modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos” (p 26).

Pensar as representações sociais para Almeida (2009) pressupõe, antes de tudo, considerar as próprias representações sociais como forma de conhecimento social. Dentre as definições formuladas por pesquisadores destaca-se a de Jodelet (2005, p. 22) como: “As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. A mediação que faz com que isso aconteça se dá nos contextos concretos onde as pessoas e grupos vivem, por meio da cultura construída ao longo da história, e dos valores, códigos e idéias compartilhadas no meio no qual estão inseridos.

Almeida & Cunha (2003) ressaltam as finalidades próprias das representações sociais sistematizadas por Abric (2001) da seguinte forma:

(...) ao integrar um novo conhecimento a saberes anteriores fazem do novo algo assimilável e compreensível (função do saber). Elas têm por função, também, situar os indivíduos e os grupos no campo social, permitindo-lhes a

elaboração de uma identidade social e pessoal gratificante (função identitária). Ainda, elas orientam os comportamentos ou de práticas “obrigatórias”, na medida em que definem o que é aceitável em um dado contexto social (função de orientação). Por fim, as representações sociais permitem justificar a posteriori, os comportamentos e as tomadas de posição (...) preservando e mantendo a distância social entre grupos (função justificadora) (p 123).

Os processos fundamentais para a estruturação das representações sociais por um grupo foram identificados por Moscovici (1978) na formulação dos conceitos: ancoragem e objetivação.

3.2. Conceito de Ancoragem e Objetivação

As representações sociais têm um status transversal, ou seja, uma penetração em todas as ciências, o que as torna um conceito articulador dos diversos pontos de vista próprios de diferentes campos de conhecimento. Segundo Moscovici (2003), tais representações sociais são construídas a partir de dois processos básicos como objetivação e ancoragem.

3.1.1. Objetivação

De acordo com Andrade (1999) a objetivação se desenvolve em dois momentos: seleção e formação. Na etapa de seleção “as informações sobre o objeto, no caso de serem científicas, são desvinculadas de seu campo específico, para serem apropriadas pelo público, que assim pode dominá-las para seu uso cotidiano” (ANDRADE, 1999, p.101), a qual é realizada, tomando como referência os valores do grupo.

Na etapa de formação “a estrutura conceitual é reproduzida sob forma de imagem” (ANDRADE, 1999 p. 101), a qual Moscovici (2003) prefere chamar de figurativa, por acreditar que as representações sociais não constituem um reflexo ou reprodução de uma realidade dada, mas, uma construção do sujeito.

A objetividade, portanto, consiste em uma atividade imaginativa que dá forma ou figura ao conhecimento de um objeto. É o processo que torna concreto o que é abstrato, que materializa a palavra, que transforma o conceito em objeto e os torna intercambiáveis. Na realidade, ela substitui o conceito pelo que é percebido, o objeto pela sua imagem, a imagem tornando-se o objeto e não sua representação. A imagem é

sempre uma simplificação, necessariamente deformada, do conceito que lhe deu origem (MOSCOVICI, 2003).

3.1.2. Ancoragem

Sua função é realizar a integração cognitiva do objeto representado num sistema de pensamento preexistente. Dessa maneira, os novos elementos de conhecimento são colocados numa rede de categorias mais familiares. O sistema de classificação utilizado supõe uma base de representação partilhada coletivamente (JODELET, 1992, p. 377). Assim, a ancoragem se refere às significações distintas daquelas internas ao conteúdo de uma representação. São as significações que intervêm nas relações simbólicas existentes no grupo social que representa o objeto.

Doise (1992, p. 189) propõe uma análise da ancoragem das representações sociais a partir de uma classificação em três modalidades: 1. A ancoragem do tipo psicológico, que diz respeito às crenças ou valores gerais que podem organizar as relações simbólicas com o outro; 2. A ancoragem do tipo psicossociológico, que inscreve os conteúdos das representações sociais na maneira como os indivíduos se situam simbolicamente nas relações sociais e nas divisões posicionais e categoriais próprias a um campo social definido; 3. A ancoragem do tipo sociológico, que se refere à maneira como as relações simbólicas entre grupos intervêm na apropriação do objeto.

Esses dois processos, objetivação e ancoragem, são complementares, ainda que aparentemente opostos: enquanto um busca criar verdades óbvias para todos e independentes de todo determinismo social e psicológico, o outro, ao contrário, refere- se à intervenção de tais determinismos na gênese e transformação dessas verdades. O primeiro cria a realidade em si, o segundo lhe dá significação.

A representação social estabelecida por esses processos garante certa coerência epistemológica ao objeto representado. O mundo se modifica mais depressa do que a idéia que fazemos dele. Transformando o complexo em simples (objetivação) e o estranho em familiar (ancoragem), ela permite uma integração “suave” do novo e do desconhecido.

Tidas como moduladoras do pensamento e reguladoras da dinâmica social, as representações sociais atuam aqui como guias de interpretação e organização da

realidade, proporcionando os elementos necessários para que os idosos se posicionem diante da internet e permitem aos mesmos se situar no mundo e dominá-lo. Como saber do senso comum, as representações sociais permitem aos idosos entrevistados compreender e explicar a realidade na qual estão inseridos e integrados a saberes anteriores, transformada em algo assimilável e compreensível (ALMEIDA, 2009).

De posse desses conhecimentos, pode-se então, partir para a pesquisa de campo, construindo e explicando o método aplicado para buscar resultados e discutir seus significados.

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