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Categorias e Subcategorias I Categoria “Benefícios”

5. CAPÍTULO IV – RESULTADOS E DISCUSSOES TEÓRICAS 1 Análise de Conteúdo dos Sujeitos pelo Programa ALCESTE

5.3. Apresentação da Análise de Conteúdo:

5.3.1. Categorias e Subcategorias I Categoria “Benefícios”

A categoria “Benefícios” consiste em mostrar, a partir dos discursos dos idosos, as contribuições da internet na melhoria de sua qualidade de vida. Nela acoplaram percepções dos idosos entrevistados relacionados aos benefícios proporcionados pela internet. A possibilidade de ser inserido socialmente no mundo contemporâneo fez com que idosos buscassem mais esse meio de comunicação.

A – Subcategoria: Potencial Intelectual

Para Kachar (2001, 2003) a informática resgata o potencial intelectual das pessoas da terceira idade, criando condições para que elas se desvelem para a vida, ao invés de ficarem reclusas em seus mundos de memórias do passado. Por meio da

internet, o idoso se apropria da tecnologia, do conhecimento e da informação, permitindo-se revelar o que pensa, pensar o que sente e gostar do que fazem, e com isso desvelar os potenciais adormecidos, esquecidos, negligenciados por eles mesmos. Observamos nas falas dos entrevistados a recuperação e retenção de informações, assim como a melhoria da habilidade mental.

1 Com a internet parece que minha mente voltou a funcionar. Penso mais,

converso mais, lembro de coisas com mais facilidade (Sujeito M, 78 anos). 2 Após iniciar minhas atividades na internet minha mente evoluiu muito (Sujeito O, 88 anos).

B – Subcategoria: Socialização

A fala de alguns idosos deixa transparecer contribuições da internet em suas vidas relacionadas a um espaço de encontros, convivência, solidariedade, conversações e trocas de experiências, de se conhecer o outro, de entrar em contato com o novo, com o diferente.

O grupo de idosos divide-se entre aqueles que relatam utilizarem a internet e aqueles que revelam dificuldades, preconceitos e conflitos interpessoais com a utilização da internet. Entretanto, apesar disso, para todos os entrevistados, a internet é percebida de maneira positiva, como um espaço de socialização (encontros, conversas).

Nota-se que há variações quanto ao benefício da internet, e apesar da heterogeneidade desse benefício, é consenso que a socialização é uma representação social da internet para esse grupo.

Kachar (2003) refere-se ao idoso como um cidadão do mundo contemporâneo, da cibercultura e que apesar da dificuldade em manusear o mouse, falta de destreza para clicá-lo e arrastá-lo ao mesmo tempo, dentre outras, desafiam os idosos a continuarem sociáveis, aprendizes e aprendentes nesse novo contexto social.

1 Conheço pessoas da minha idade, compartilho objetivos, esforços, desilusões, alegrias e opiniões (Sujeito S, 72 anos).

2 (...) o dia todo fico sozinha, e com a internet eu não penso na minha solidão, pois entro em contato com um ou outro. Tem sempre gente pra conversar (Sujeito Z, 78 anos).

C – Qualidade de Vida

Viver cada vez mais é o desejo da maioria das pessoas, que pode resultar numa sobrevida marcada por incapacidades e dependência. O desafio é conseguir uma maior sobrevida, com uma qualidade de vida melhor.

Partindo da caracterização de Erikson (1968), da etapa correspondente à velhice como luta pela resolução do conflito “integridade do ego” versus “desespero”, tema central do ajustamento das pessoas idosas, Néri (2007) menciona que o processo de envelhecimento e a vivência da velhice são experiências particulares de cada idoso.

A autora complementa que com o crescente interesse no constructo “qualidade de vida”, o tamanho, a configuração e a função das redes sociais são destacadas como elementos associados a desfechos positivos na velhice (AZEVEDO & MORAES, 2003).

Qualidade de vida, definida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores, no qual vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (FLECK et al, 2000), traz consigo desafios conceituais e práticos enfrentados pelo idoso na utilização da internet e constitui tema importante para a promoção da saúde física, mental e de bem-estar social dos idosos.

1 Com a internet, minha qualidade de vida melhorou muito. Me sinto útil, ajudo os outros passando minhas experiências pra eles. Eu sinto bem com isso (Sujeito E, 90 anos).

2 Acho maravilhoso acessar a internet e ver tudo que gostaria de ver, comprar, conversar com meus filhos, netos (...). Nossa mãe, como minha vida está bem melhor! (Sujeito H, 79 anos).

3 Posso falar do meu eu antes de aprender acessar a internet e da minha vida após a internet. Você escolhe. Só acrescento uma coisa: minha qualidade de vida está bem mesmo, não sinto solidão, tenho mais amigos. Tô até pensando em voltar a estudar pela internet (Sujeito L, 69 anos).

II – Categoria Sentimento

Esta categoria é proposta como informações que os seres biológicos são capazes de sentir nas situações por eles vivenciadas (GUEDES & CÁRDENAS, 2007). Divide- se em satisfação, gratidão, alegria, empatia.

Sentimento, aqui é uma decisão (disposição mental) que alguém toma em sua mente, ou alma, ou espírito, a respeito de outrem ou algo. Por este conceito, toda e qualquer palavra que denota emoções quando usada, pode ser classificada como sentimento, desde que possua uma forma verbal. Estes sentimentos (estas decições ou disposições mentais) porém, vão promover emoções no corpo que, agora sim, serão sentidas.

A – Subcategoria Satisfação

Essa subcategoria procura relacionar o sentimento de satisfação pessoal à internet e às atividades prazerosas. Nesse sentido, a internet apresenta-se como uma atividade que permite o gozo, a satisfação por parte do idoso participante da pesquisa.

Vimos em Papaléo Neto (2002) que o envelhecimento pode ser considerado por muitos como um período vazio, sem valor, inútil. Em Guedes e Cárdenas (2007) como tempo de liberdade, de desligamento de compromisso profissional, de aproveitar a vida. Aqui por meio da internet, o envelhecimento passa a ser caracterizado como um período de satisfação, de vivência, de troca de experiências pessoais, profissionais e espirituais.

1 Estou satisfeitíssima com a internet. Fico muito feliz só de saber que eu

tenho essa fonte à minha disposição e que a qualquer momento posso recorrer a ela (Sujeito Y, 94 anos).

2 Durante o tempo em que estou na internet, eu não penso em nada, só em

navegar na internet; e minha filha, como fico satisfeita, você nem imagina!

B - Subcategoria Gratidão

Apresenta-se como uma classificação atribuída ao sentimento de gratidão pela capacidade de realização e auto-realização, de aprender e ensinar por meio da internet a vida. Apresentam-se sentimentos de agradecimento a Deus e aos familiares, aos amigos por terem ensinado a acessar a internet e assim aumentar o grupo de amigos. Manifestam gratidão pelo poder de se sentir viva para acessar a internet.

1. Sou grata por conhecer gente como eu pela internet. Pela

oportunidade de ser eu mesma quando muitos querem que eu seja outra pessoa (Sujeito J, 89 anos).

2. Agradeço a Deus, por me dar vida pra viver na era da tecnologia (...)

me dar talento, dois braços, duas mãos para navegar num mundo inacessível a tempo atrás (Sujeito A, 69 anos).

Guedes e Cárdenas (2007) abordam a gratidão enquanto capacidade de se maravilhar, de referência, de ver o sagrado nos fatos comuns, de sentir-se vivo.

C – Subcategoria Alegria

Esta subcategoria reforça características pessoais advindas do despertar para a vida, na busca de novos caminhos, novas formas de ver a vida.

1. Nossa, a internet é tudo pra mim, é alegria, é participação, é vida! Posso ficar o tempo todo e não me canso de acessá-la (Sujeito Z, 78 anos). 2. Desde o dia que me ensinaram a navegar na internet que renasci, passei a ler mais, ouvir mais, a viver mais, a sair mais (Sujeito R, 86 anos).

D – Subcategoria Empatia

A empatia é informação sobre os sentimentos dos outros. Esta informação não resulta necessariamente na mesma reação entre os receptores, mas varia, dependendo da competência em lidar com a situação, e como isso se relaciona com experiências passadas e outros fatores.

Esta subcategoria compreende retomar pontos focais de sua vida e do cotidiano a partir da vida do outro. Guedes e Cárdenas (2007) relatam a partir de Montangu (1969)

que a forma de linguagem verbal é substituída em alguma medida pela eficiência tecnológica atual, permitindo ao idoso identificar-se com a evolução da imagem e expressão visual, retornar a tempos passados, viajar para tempos futuros.

Ao manifestar a capacidade humana de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo mesma, com os outros e com o mundo, o idoso reitera e estabelece novas relações, combinando novas possibilidades de integração do velho com o novo, do real com o sonho, do eu com o outro.

1 Sei que por meio da internet posso aprender mais com a dor do outro. Com a dor do outro me fortaleço, e colocando-me no lugar do outro sinto que posso ajudar mais (Sujeito D, 70 anos).

2 A vida é engraçada, né, quem imaginava no meu tempo de adolescente que eu teria chance de orientar e dar conselhos a outros via internet (Sujeito L, 69 anos).

3 Em oitenta e dois anos de vida sempre pensei ter vivido tudo, no entanto por meio da internet me tornei empático com a vida miserável do meu irmão, (...)se sabe até chorei (Sujeito V, 82 anos).

III – Categoria “Significados”

Desde tempos remotos, o ser singular se faz presente, significando e resignificando atos, ações, eventos e acontecimentos. Mais do que fazer, construir, o sujeito idoso é um ser formador de opinião, de significados e de representações. Ele é capaz de estabelecer relações, experiências, vivências e lhes dar um significado.

A – Subcategoria Companhia

A internet permitiu o não isolamento social, emocional, próprio do processo de envelhecimento, ao idoso. Camarano (2002) chama atenção para a crescente tendência das mulheres idosas de viverem sozinhas devido a fatores intrínsecos e extrínsecos do processo de envelhecimento.

Nesse sentido, a autora chama atenção para fatores como viuvez, desquite e divórcio. Sayer et al (2002) ressalta a importância de se evitar o isolamento do idoso, inserindo os idosos em projetos sociais, individuais. Guedes e Cárdenas (2007) recomendam o preenchimento de tempos e espaços vazios com novas ocupações, a busca de distrações e o entendimento da necessidade de se ter companhia, porque a solidão é ruim.

1. Com a internet não me sinto mais sozinha, ela conseguiu preencher a minha solidão (Sujeito F, 79 anos).

2. Hoje, eu tô cheia de colegas e se sabe até de amigos só porque um dia acessei o orkut e o msn (Sujeito B, 80 anos).

B – Subcategoria Competência

Paz (2001) menciona que a grande maioria dos brasileiros ingressa muito cedo nas atividades laborativas e, por conta dos anos vividos e da intensa dedicação ao trabalho, ao chegarem a idades avançadas podem apresentar dificuldades e limitações, resultando em doenças, invalidez, improdutividade.

Nesse sentido, esta categoria demonstra a importância da internet no resgate da capacidade de apreender o aprender, de re-elaboração do domínio social, político, econômico e ideológico.

Guedes & Cárdenas (2007), Brito & Faleiros e Sato & Câmara (2008) traduzem competência por habilidade humana de fazer coisas, de transformar materiais da natureza para os mais diferentes propósitos e se transformar.

1- Acessar a internet significou pra eu ser útil, competente (...) hoje, por exemplo, faço curso de graduação a distância (Sujeito C, 85 anos).

2- A internet me fez sentir competente naquilo que eu sei fazer, me proporcionou leitura, prazer, paixão em ajudar alguém (Sujeito P, 71 anos).

3- Pra mim, a internet é ter uma ocupação, ocupar o meu tempo. Com ela entro em contato com a família, amigos, netos. Trabalho com mais vigor e competência (Sujeito X, 79 anos).

C – Inserção Digital e Social

A longevidade humana e o uso de recursos da informática vêm crescendo de forma contínua e rápida. Nesse sentido, a linguagem da informática e o conhecimento sobre o computador e os idosos passaram a ser símbolos da cultura contemporânea, independentemente da área de especialização, influenciando no desenvolvimento e redirecionamento de uma nova cidadania societal e solidária (NUNES, 2006).

Por aparecer de maneira significativa nos diversos setores da sociedade, provocando transformações nos aspectos econômicos e sociais, mexendo com valores e comportamentos das pessoas, a internet é uma ferramenta de possibilidades para se inserir socialmente o idoso (KACHAR, 2003).

Entre as inúmeras possibilidades permitidas pela internet destacam-se o auxílio a novos modelos de organização da vida, “otimização” do tempo para realização de trabalhos, tarefas, estudos e lazer, e inclusão ou inserção digital e social do idoso.

1 Eu sempre fui um sujeito meio ruim para fazer amizade, trabalhar,

ganhar dinheiro, mas assim que aprendi a mexer na internet, eu mudei, vejo que as coisas não são como a gente quer, e aí tô tentando mudar. Só posso falar de maneira positiva como a internet me ajudou muito. Passei a me relacionar melhor com meus filhos, meus netos e, amigos (Sujeito I, 77 anos). 2 A internet pra mim é muito importante (...) tenho como entrar em contato

com outras pessoas, me informar, fazer algo sem sair de casa (Sujeito W, 80 anos).

3 Eu fico muito feliz de saber ler e escrever e agora que sei acessar a

internet estou mais feliz por entrar na internet a qualquer hora (Sujeito T, 82 anos).

4 Estou com idade avançada, e se não tiver algo como a internet para

exercitar meus neurônios, eles podem falhar, e eu começar a ter problemas de esquecimento, problema de raciocínio (Sujeito Z, 78 anos).

5 Converso com o meu neto que mora no Japão pela internet msn e desse

modo não preciso ir até o correio, ou esperar dias para receber e responder. É só conectar e pronto, recebo e envio mensagens ao mesmo tempo (Sujeito M, 78 anos)

6 Quando entrei na internet na primeira vez tudo era mágico. Andei pelo Brasil e pelo mundo em minutos. Foi incrível! (Sujeito C, 85 anos).

7 Depois da internet, não dá mais para usar máquina de escrever, calculadora e papel (Sujeito P, 71 anos.)

Tendo realizado a leitura desses resultados e a discussão teórica, parte-se para o fechamento desse trabalho com as Considerações Finais.

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