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DESAFIOS

ENFRENTADOS

DURANTE

O

PROCESSO

DE

CONCEITUALIZAÇÃO EM QUÍMICA.

Durante a análise realizada, no decorrer do trabalho foram citadas diversas dificuldades que perpassam o processo de conceitualização em química por parte de alunos com DV, no entanto, levantar as dificuldades não foi o objetivo principal.

O objetivo do trabalho foi investigar a percepção dos professores de química, tanto aqueles em formação inicial, como aqueles em atuação ou formados, acerca do processo de conceitualização em química por alunos com DV. Porém uma das perguntas foi colocada no questionário com esse foco, para tentar obter mais informações sobre o assunto.

Nesse sentido, diversos conceitos foram citados como difíceis de serem ensinados a alunos com DV, podendo ser destacados os seguintes: reações químicas, moléculas e modelo atômico. Mas, essa discussão ficará para um momento oportuno.

Portanto, para esse trabalho, o direcionamento será para uma discussão geral das dificuldades relacionadas ao processo de conceitualização em química e propor possíveis ações para poder superá-las e atingir o sucesso no processo de ensino-aprendizagem.

As dificuldades que perpassam esse processo foram em sua maioria categorizadas nas subcategorias do processo de ensino-aprendizagem e também sobre os recursos multissensoriais.

Com base nas respostas dos informantes, está explícito o distanciamento entre as pesquisas realizadas nas universidades e a educação básica, já que muitos desconhecem a existência de recursos alternativos que podem auxiliar no processo de ensino-aprendizagem, principalmente aqueles relacionados ao ensino de química orgânica, estruturas e geometrias moleculares.

Não quer dizer que essas pesquisas não precisam aumentar, muito pelo contrário os investimentos nesta área se fazem necessários, já que os alunos com DV estão sendo matriculados em salas regulares, podendo ser umas das possibilidades de superação das dificuldades de recursos. Além de ser necessário promover um maior contato do que está sendo feito nas universidades com as escolas de educação básica, por meio de parcerias, projetos, entre outros.

Nesse sentido, essa falta de informação pode estar relacionada à formação inicial e continuada dos professores, e quando tratamos de formação inicial de professores, é possível destacar o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), em que os alunos dos cursos de licenciatura podem ter o contato com a educação básica nos primeiros anos do curso superior.

Além do Pibid, os componentes curriculares dos cursos de licenciatura precisam se adequar para possibilitar o contato dos futuros professores com a diversidade, propondo atividades que possam auxilia-los no processo de inclusão. Nesse contexto, o tema precisaria estar presente de forma direta nas matrizes curriculares dos cursos de formação, como por exemplo, na ementa de algumas disciplinas, nos componentes curriculares de Estágio Supervisionado, Metodologias de ensino, entre outras. Esse aspecto está sendo destacado, por ter sido citado por muitos informantes, já que muitos não tiveram nenhum, ou apenas um componente que abordasse sobre inclusão.

No que diz respeito a formação continuada, políticas públicas precisam ser implantadas para dar condições aos professores irem em busca desse preparo. Pois, com as condições de trabalho oferecidas atualmente, é quase impossível buscar formação de qualidade, já que não dispomos de tempo para tal.

Com um exemplo das dificuldades para ir em busca de formação continuada, senti a necessidade de colocar a minha vida como professora da educação básica, na qual leciono em quatro escolas, sendo: 1 escola da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; 2 escolas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo; e 1 escola particular. Além de estar em 4 unidades escolares diferentes, trabalho os 3 períodos, totalizando 51 horas/aulas, sem contar o tempo dedicado a preparação de aulas, atividades, aulas práticas, correções, fechamento de notas, entre outros.

Em uma das escolas, por ter maior estabilidade, devido ser contratada pelo Regime Estatutário, o valor da hora/aula é de R$12,92, no entanto, a qualidade de trabalho não pode ser determinada unicamente pelo salário, mas as condições de trabalho são deploráveis, em que lidamos com a ruptura da parceria aluno-família-escola e os reflexos da prática da progressão continuada, a qual os alunos não entendem a importância das ciências e outros componentes curriculares em sua vida.

Nessa perspectiva, faço o seguinte questionamento: como um professor que trabalha em três períodos para poder conseguir um salário digno, não sei se podemos chamar de digno, consegue ir em busca de formação?

Um outro aspecto em que as escolas estão ultrapassadas é sobre a falta de investimentos em tecnologias, que são recursos com os quais os adolescentes estão acostumados a utilizar para acessar redes sociais e não sabem como esses instrumentos podem auxiliar no processo de aprendizagem de conceitos. Nesse sentido, a escola não está contribuindo com a mediação de formas alternativas de ter acesso aos conhecimentos científicos. Portanto, a educação necessita de investimentos direcionados a atender às necessidades atuais e evitar o envio de verbas para investimentos indispensáveis.

Um fator importante a ser considerado é que alunos estão na sala de aula, sejam eles com DV, surdez, transtorno do espectro autista (TEA), entre outras especificidades. Por esse motivo, devemos buscar formação para podermos atender as necessidades desses alunos no âmbito educacional, mesmo sem apoio, sem plano de carreira, sem condições mínimas de trabalho.

Um momento crítico para a educação e de grande incerteza é reforma do ensino médio e junto com ela veio a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017). Quando falamos em formação docente, um aspecto negativo da nova BNCC é que por meio de uma complementação pedagógica o professor pode dar aula de outra disciplina, desde que seja dentro de sua área de conhecimento.

Isso não quer dizer que esse processo já não aconteça, mas com a possível aprovação da reforma do ensino médio, essa brecha ficará regulamentada, nesse sentido, na área de concentração ciências da natureza, os professores de física ou biologia podem fazer uma complementação pedagógica e lecionar química, deixando de lado toda a especificidade dessas ciências, já que cada uma delas tem suas particularidades.

Em relação a percepção dos professores quanto ao processo de conceitualização em química por alunos com DV, os professores apresentaram características da dissociação entre os três aspectos característicos do ensino de química, e várias dificuldades foram apontadas por conta dessa fragmentação e isso pode contribuir para a apropriação inadequada da ciência. Uma proposta para superar as dificuldades citadas, acerca do processo de ensino-aprendizagem de conceitos, fenômenos e representações é melhorar ou aumentar a abordagem da característica do ensino de química nos cursos de formação inicial de professores desta área.

Muitas das dificuldades citadas pelos informantes estão pautadas na percepção visual, mas é um reflexo de uma sociedade majoritariamente vidente e do entendimento que o meio social, histórico e cultural exerce grande influência no entendimento sobre a apropriação de conhecimentos. Todavia, os conceitos químicos são, em sua grande maioria, abstratos, ou seja, independem da visão. As dificuldades apontadas sobre a necessidade da percepção visual podem ser superadas a partir de estudos e aprofundamento sobre a DV e as suas particularidades.

É preciso ressaltar que o ensino de química para alunos com DV, assim como o processo de conceitualização é possível que aconteça, desde que as abordagens se deem por meio de recursos adequados, que atendam às necessidades perceptivas dos alunos. As dificuldades são muitas, mas são passíveis de serem superadas, por meio da melhor formação de professores, investimentos em recursos, condições de trabalho e políticas públicas.