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CAPÍTULO XXX

No documento livro4 (páginas 161-175)

EM QUE SE COMEÇA A DESCRIÇÃO PARTICULAR DA ILHA DE SÃO MIGUEL COMEÇANDO DA VILA E MORRO DO NORDESTE, ATÉ AO LUGAR DA POVOAÇÃO

VELHA

Esta ilha de São Miguel em que, Senhora, estamos é montuosa e regada de ribeiras, e era logo, quando se achou, coberta de arvoredo, graciosa em sua situação e, por ser húmida com as águas das chuvas e ribeiras e quente do sol, criou tantos e tão espessos arvoredos que com sua sombra conservavam nela esta humidade sempre fresca e durável, com que ela ficou e estava no princípio tão fumosa de tão grossos vapores, sem ter o sol força para os gastar nem penetrar com seus raios, nem os ventos livre entrada para os lançar daqueles lugares sombrios da espessura do arvoredo, que sendo a ilha de Santa Maria achada e descoberta doze anos primeiro que ela, não podia ser vista dos moradores dela, tendo-a tão perto e sendo tão chegada vizinha, como defronte de sua porta. Mas, o que em longíssimos e antiquíssimos anos foi criado, em tão poucos se queimou, roçou e consumiu quase tudo depois de achada que estando ao presente a maior parte de toda a terra escalvada, tomaram os ventos tanta posse dela e é tão lavada deles que levam-na em pó ao mar, e escalvando e ensuando os frutos da terra, a deitaram a perder quase de todo, fazendo mais dano nela que nenhum dos outros elementos; porque ainda que o fogo por baixo fez algum, isto foi por vezes limitadas, quando de anos em anos, por longos intervalos arrebentaram os montes e cobriram de pedra, terra e cinzeiro, algumas partes dela; mas os ventos (como os rapazes de Eliseu) a perseguiram tanto, depois que a viram calva do espesso arvoredo que Ihe servia de cabelos, com que se ornava e enfeitava, que quase continuamente, e todolos anos, com sua vexação contínua, em um só dia ou em uma só hora, são importuna destruição de quanto ela pelo tempo vai criando, com que fica menos fértil e formosa; sendo, d’antes que escalvada fosse, um riquíssimo e fresco jardim e deleitoso vergel, como um terreal paraíso. Pelo que, o que agora direi dela será muito diferente da pintura que d’antes tinha, e a minha rude linguagem a fará mais feia do que ainda agora parece, mas, por obedecer a vossos rogos e mandado, direi o que dela souber, como a vejo e acho neste presente estado.

Já tenho dito que a ilha de Santa Maria está em trinta e sete graus de altura do polo ártico, e esta de São Miguel (terra alta e estreita que é maior que todas as dos Açores e de mais rendimento que todas elas, muito povoada, nobrecida e rica, com uma populosa cidade e cinco nobres vilas e vinte e dois lugares ou aldeias, que por todas fazem trinta freguesias, e com estas freguesias tem noventa e seis igrejas, por todas ou noventa e sete, com a ermida de António de Sá; e afora os religiosos, tem cento e quatro sacerdotes de ordens de missa, dos quais são trinta vigairos e quarenta e dois beneficiados e nove curas, e os mais extravagantes, entrando nesta conta dois mosteiros de religiosos de São Francisco, e quatro de religiosas de Santa Clara, e quarenta e uma ermidas, e o Sprital da Ribeira Grande) Ihe fica da banda do norte, em trinta e oito graus norte e sul com ela, ficando a de Santa Maria norte e sul da Povoação, e com Vila-Franca noroeste sueste doze léguas da Povoação, de terra a terra; e está leste oeste com a terra de Setúvel, por linha recta do morro dela, que é chamado o morro do Nordeste; e demora a terra de Setúvel a leste duzentas e cinquenta léguas, que é costa de Portugal, que corre norte a sul o cabo de Espichel com o cabo de São Vicente. Da banda do sul Ihe fica a ilha de Santa Maria, desta mesma comarca e governação das ilhas dos Açores, cuja cabeça e governo tem assento na ilha Terceira, onde está a Sé, e cabido, e ela também está estendida no mesmo rumo de leste oeste, ainda que uma ponta da parte do levante tem lançada para o nordeste e a outra da parte do ponente está para o noroeste; é de comprido de dezoito léguas e de largura duas e meia, a partes, e em algumas, uma, que é no meio dela, onde a fazem mais estreita duas baías grandes que tem, uma da parte do sul, de uma ponta que se chama da Galé até à ponta de Santa Clara, da cidade da Ponta Delgada, e outra, da

parte do norte, da ponta da Bretanha até à dos Fenais da Maia; em torno, ao redor, tem trinta e seis léguas, pouco mais ou menos. Assim fica o lançamento desta sua compridão leste oeste e a ponta da parte do oriente pende ao nordeste, e a outra do ocidente demora ao noroeste; cuja altura da parte do norte é trinta e oito graus, e ainda que junto da terra, em torno, seja mui cheia de baixos, uma légua ou menos afastado da costa é mui limpa; em todo o seu circuito tem alguns portos e estâncias em que muitos navios podem seguramente ancorar, mas não invernar. Tem esta ilha baixo, onde se fazem grandes pescarias, que está nordeste sudoeste com o porto da vila do Nordeste, afastado da terra por espaço de três léguas; do qual baixo (que está norte e sul com os baixos que chamam Formigas), até às mesmas Formigas, há distância de oito léguas; e o porto do Nordeste está com as Formigas nor-noroeste e su-sueste e haverá dez léguas entre o dito porto e elas; as quais (como tenho dito), com a ponta de Álvaro Pires, que é a ponta de leste da ilha de Santa Maria, estão nordeste e sudoeste afastadas sete léguas da mesma ponta, ficando da mesma ilha de Santa Maria quase ao nor-nordeste. Também na era de 1577, quarenta léguas ao norte da mesma vila do Nordeste, vindo um navio novo da pescaria, dando à bomba, tocou como em terra, de modo que abriu todo, cuidando os marinheiros que dera em alguma baleia, e deitando o barco fora com toda a gente, por verem que era um penedo, foram no barco ter à Galiza e depois a Aveiro, sua terra; dali a dois anos ou três, veio a dar no mesmo penedo uma nau de franceses ou ingleses e perdeu-se nele à vista de outra nau sua companheira, a qual tornando para sua terra, deu notícia daquele baixo que, de então, se começou a pôr em algumas cartas de marear, no dito rumo de quarenta léguas ao norte da vila do Nordeste desta ilha de São Miguel, e se chama a Baleia, por cuidarem os primeiros que o viram ser baleia; outros Ihe chamam Sirte ou Scopulo.

Começa a compridão desta ilha da ponta do porto da vila do Nordeste, assim chamada por ter o rosto a este vento, e de modo que o seu contrairo vento, desta ponta, e o nordeste, junto do morro alto que, de vinte e trinta léguas ao mar, primeiro se vê dos navegantes que vêm do oriente, situada no Lombo Gordo, em uma lomba que se chama de Salvador Afonso, em um lugar não mui chão, mas de boas casas e devotas igrejas, lugar alegre, de frescos pomares, com claras ribeiras, mas estéril de vinho. O qual lugar do Nordeste fez vila el-Rei D. Manuel, de gloriosa memória, e o separou da jurisdição de Vila-Franca, como conta o docto cronista Damião de Goes, na quarta parte de sua Crónica, no último capítulo, e, como mais claro e particularmente parece pela carta de mercê, passada de motu próprio, estando el-Rei em Lisboa, feita aos dezoito dias de julho do ano de mil e quinhentos e quatorze, por o lugar do Nordeste estar sete léguas da dita Vila-Franca, no que os moradores do dito limite recebiam detrimento, em irem a ela pelas coisas de justiça, por caso dos maus caminhos e ribeiras que havia do dito lugar à dita Vila, e havendo respeito ao gasto e despesa que entre si fizeram nos ditos caminhos e terras que aproveitaram, e a como o dito lugar ia em mor crescimento do que soía ser, dando-lhe por termo aquela terra que ela dantes tinha por limite. Não se sabe quem fossem nela os primeiros oficiais da Câmara, porque o livro dos oficiais do primeiro ano, que foi (segundo parece) o ano de mil e quinhentos e quinze, não se acha; somente um só oficial se sabe que parece que fazendo em Câmara, o ano de quinze, a um Diogo Preto almotacé, ele não quis servir, e o ano de dezasseis saiu por juiz este Diogo Preto, e pedindo confirmação, para os oficiais servirem, ao corregedor, que era Hierónimo Luís, não quis ele confirmar o Diogo Preto, dizendo que refutara servir de almotacé o ano d’antes, e mandou expressamente que dessem juramento a Francisco Afonso, que o ano passado servira de vereador, o dito primeiro ano de quinze, como se vê pela carta de confirmação; pelo que no segundo ano de mil e quinhentos e dezasseis, depois de ser o Nordeste vila, saíram no pelouro por juízes, este Francisco Afonso e João Pires, e por vereadores, Lopo Vaz e Henrique Afonso, e um Pero Gonçalves por procurador do concelho. Da qual vila, até uma ponta que se chama os Escalvados, que está ao noroeste, junto do lugar dos Mosteiros, é a compridão desta ilha, como dito tenho. Tem a vila do Nordeste uma freguesia do bemaventurado São Jorge, em que há cento e oitenta e dois fogos, e almas de confissão quinhentas e oitenta e quatro, das quais são de comunhão quatrocentas e quarenta e quatro, povoada de nobre gente, Costas, Afonsos, Manuéis, Correias, Carvalhos e outros nobres apelidos; cujo primeiro vigairo, sendo lugar, foi um Fernão d’Alvres, que caindo no mar, de um penedo junto da vila, das mais seguras pedras de pesqueiros que há naquela costa, por este desastre Ihe deu o nome que agora tem, Penedo do Clérigo, o qual em seu tempo serviu sem ter beneficiados.

O segundo vigairo, depois de feita vila, foi Aires Carvalho, sendo seu beneficiado João Luís, que também serviu de tesoureiro; ao qual Aires Carvalho, indo-se para Portugal, sucedeu por serventia um Álvaro Anes; o terceiro vigairo foi Pedreanes, irmão de Lopo Anes de Araújo, e

teve por seus beneficiados o mesmo João Luís e Alvareanes; falecido Pedreanes, sucedeu por espaço de tempo Diogueanes, até que faleceu, caindo de uma ladeira da ribeira de Guilherme, tendo em sua vida por beneficiados os mesmos João Luís e Alvareanes e um Simão Vaz que com ele veio da cidade do Porto e para lá tornou depois, onde dizem ser cónego; em cujo lugar ficou Manuel Gonçalves, de Vila-Franca; e ido este, sucedeu Manuel Garcia, natural da mesma vila; e falecido João Luís, teve o benefício outro natural, Domingos Afonso, e neste tempo serviu Amador Furtado; em seus lugares sucederam Tomé Vaz, de Porto Formoso, e Vicente Pinheiro; e depois da morte de Tomé Vaz, Frutuoso Coelho; e falecido Alvareanes, António de Paiva, da Ribeira Grande; e em lugar de Vicente Pinheiro, o padre Diogo Fernandes, natural da mesma vila do Nordeste, e logo Baltasar de Paiva; e no de Frutuoso Coelho, Manuel Fernandes, da Ponta Delgada; e depois serviu um benefício novo, um Cristóvão Francisco, da mesma cidade, que agora está tresladado para ela, na igreja de São Pedro, da Calheta de Pero de Teves. Falecido Diogueanes, vigairo, houve a vigairaria Frei Francisco Diniz de Sousa, que serviu muitos anos, ao qual sucedeu Baltazar de Paiva, que era vigairo da igreja Matriz da Vila do Porto, da ilha de Santa Maria, depois de passado Francisco Diniz para o lugar de Santo António; assim que somente tem ao presente esta vila do Nordeste, vigairo e três beneficiados, tendo d’antes quatro. Foi primeiro cura nesta vila Manuel Fernandes e depois Manuel Roiz.

O primeiro capitão da ordenança de guerra foi Gaspar Manuel, que ainda é vivo e morador agora em Vila- Franca do Campo, feito pelo Capitão Manuel da Câmara; em cujo lugar sucedeu Jorge Fernandes que, por ser velho, foi depois feito por eleição terceiro capitão Baltasar Manuel. O primeiro alferes foi João Lourenço, o Moço por alcunha, por haver outro João Lourenço, mais velho, no tempo de Gaspar Manuel em que não havia sargento. E vindo a ser capitão Baltasar Manuel, saiu também na eleição, por sargento primeiro, João Afonso Correia, e por alferes segundo Pero Carvalho, que é filho do alferes passado João Lourenço; em cuja capitania, na dita vila e seu termo, pode haver cento e setenta homens de armas e já teve mais gente, porque antes do segundo terremoto que aconteceu nesta ilha, tinha ela e seu termo duzentos e vinte vizinhos.

É terra de pão e algumas criações, e mato de boa madeira, principalmente de cedros, em que alguns de seus moradores têm boa granjearia. As peles do gado cabrum são ali mais estreitas que de toda a ilha, por causa das ladeiras e grotas em que as cabras pastam e comem os ramos de alto dependuradas, alevantando sempre a cabeça para as partes altas onde os acham, principalmente agora, depois que pelo segundo terremoto se cobriram os pastos de pedra pomes, não comem senão rama. Com o incêndio do segundo terremoto que disse, se cobriu toda aquela comarca de cinza e pedra pomes, em muita altura, que como o vento, quando abriu a terra, era ponente, foi causa desta pedra pomes, que do centro saiu e se alevantou no ar, com a força do fogo, correr mais para aquela banda e fazer ali mais dano caindo sobre ela; mas os moradores e senhores das fazendas tiraram logo muitas ribeiras de água, com as quais, não com pequeno trabalho, as limparam, de tal maneira, que agora se recolhe, cada um ano nesta vila e seus termos, até seiscentos moios de pão, e cada vez ao diante se irão recolhendo mais. Era terra muito delgada, mas com a invenção do tremoço com que a outonam, engrossou já tanto que é tida em muita conta; não tem outras mais granjearias que as ditas, para sustentar seus moradores, e, se se faz algum pastel, é pouco. Serve-se de toda a ilha por batéis e barcos e carregam de trigo alguns navios no verão e outros tempos do ano. Tem da banda do sul porto limpo para ancorar, mas muito trabalhosa serventia para batéis e carros, por uma ladeira de um comprido lombo íngreme e defensável de imigos e cossairos, que só por ele podem subir, por ser aquela parte desta ilha, por todalas bandas do mar, de altas e talhadas rochas bem cercada; e da parte da terra, de ásperas e umbrosas serras e sarrados matos, donde as sobreditas águas continuamente estão correndo; mas, se por causa das serras e porto, a vila está segura, não está o mar daquela costa, por andarem muitas vezes cossairos espreitando e esperando os navios que vão para fora e doutras partes vêm para esta ilha, por todos irem demandar o alto morro que está perto dela, que é, como disse, a primeira coisa que se vê, quando vêm do oriente.

Tem esta vila somente um termo, que é o lugar da freguesia de São Pedro, pela costa do norte, como direi quando dela falar adiante. O porto desta vila está distante dela quase um quarto de légua, para a banda do sul e, pela volta que a terra vai fazendo, fica fronteiro ao leste. Dali vai correndo a costa de alta rocha ao su-sudoeste, por espaço de um tiro de espingarda, até uma ponta, pouco metida no mar, chamada de uma mulher que ali morou a Ponta da Marquesa, ficando atrás em uma lomba uma ermida de Nossa Senhora de Nazaré e uma lomba de Gaspar Soares, porque foi de um homem assim chamado, por onde corre uma

ribeira, chamada a ribeira da Ponta, por ter uma, ou por morar ali um Diogo da Ponte, da qual vai descendo até ao mesmo porto da vila do Nordeste. Da Ponta da Marquesa corre a costa tanto como meia légua ao sudoeste, passando pela lomba de Rui Garcia e pela lomba do Meio, donde corre uma ribeira, do Trosquiado, um homem assim chamado, porque se trosquiava sempre e não deixava crescer o cabelo, que chamam Lomba do Meio, por estar entre a de Rui Garcia e a lomba e ribeira dos Cambos; entre a ponta da Marquesa e a dos Cambos faz ali a terra uma grande baía de meia légua, que tem uma praia de areia, a que chamam as Prainhas, onde se acolhem os navios das tormentas e ventos su-sudoeste, sudoeste, oeste e noroeste; e para todos estes ventos e quase todos os outros, tirando o norte e sul, é este muito bom porto e limpo e seguro abrigo; onde também está uma fajã de terra de pão, de António Afonso, senhor do Lombo Largo, sogro do licenciado António Camelo; e logo adiante uma ponta, que se chama o Lombo Gordo, onde é o topo da ilha, como um cunhal dela, que se chama Topo ou Morro do Nordeste, que estará de Água Retorta um quarto de légua. Na rocha da ponta do Lombo Gordo nasceu uma árvore tão grande como uma romeira, que nunca se pôde saber que árvore era, nem de que espécie, a qual tinha as folhas como de pau branco e de cor de ouro, e dava umas maçãs de pau, como bugalhos, que regoavam; por cuja causa chamavam dantes àquela ponta ali a Árvore Formosa, que durou naquela parte muitos anos e já é consumida. Logo adiante, corre uma ribeira, que se chama dos Cambos, chamada assim porque não se podendo descer um homem que ia por ali perdido, fez uns cambos de pau, com que desceu ao calhau pela rocha abaixo. Mais adiante está uma ponta ao mar, pequena, onde está uma fajã de Francisco Fernandes, sogro que foi de Matias Lopes de Araújo, da vila de Água do Pau; da qual fajã até à ponta de João da Costa será uma légua, ao pé da qual (que é muito alta) está outra fajã de moio e meio de terra de pão, do mesmo João da Costa, filho de João Afonso.

Dela para trás vai virando a terra para o nordeste, tudo em rocha mui alta, onde não há mais que duas descidas abaixo ao calhau, onde se chama a Água Retorta, e duas ribeiras, uma chamada do Arco, porque furou a terra para ir para o mar e ficou um arco nela, e outra se chama a ribeira de Água Retorta, porque se vai retorcendo em voltas. Ali na terra, em cima daquelas altas rochas, está um ajuntamento de moradores, até dez casais, da freguesia do Faial, onde entre eles tem sua fazenda João Roiz Cordeiro, cidadão de Vila Franca do Campo. Daí para o sul, que será mais de quarto de légua, corre a costa ao noroeste, fazendo uma enseada ou baía de mais de meia légua, antre a ponta de João da Costa e outra que está logo além do Faial; estando depois da ponta de João da Costa uma altíssima rocha, direita ao prumo e talhada, que dizem ser a mais alta de toda a ilha, que se chama o Bode, por cair algum dela abaixo, donde caem também pedras (por ser mui íngreme), que mataram ali um moço e feriram dois, que por baixo passavam; e, para contar isto melhor, somente ao longo da costa, digo que da vila do Nordeste, correndo rocha alta, ao porto da dita vila, que é desembarcadouro em penedia brava, e uma calheta em que somente cabe um barco, há mais de dois tiros de escopeta, e do dito porto pela costa adiante, até chegar à costa do sul, tem muitos e bons surgidouros.

Do porto há, outro tanto espaço de rocha alta, uma grande e alta ponta, chamada da Marquesa; da Ponta da Marquesa vai fazendo a rocha uma enseada, de compridão de uma légua, até ao Morro, que é uma alta rocha, como cunhal da ilha, testa do Lombo Gordo, dentro da qual enseada, toda cercada de penedia, ao lível do mar, meia légua, quase no meio dela,

No documento livro4 (páginas 161-175)

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