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2 A PLANTA GENÉRICA DE VALORES NO CONTEXTO DAS RECEITAS

3.2 Capacidade contributiva

A capacidade contributiva é um dos principais pressupostos da tributação (BONOMO, 2009). Dessa forma, pressupõe-se que não se deve tributar quando não existe uma capacidade contributiva.

Sendo assim, e sabendo-se que existe riqueza tributável, o que fazer para agrupar os homens e as sociedades de forma a tributá-los obedecendo-se ao princípio constitucional da isonomia? Resposta: utilizando-se do critério da capacidade contributiva de forma a igualar/desigualar os contribuintes (BONOMO, 2009).

33 Quando os princípios constitucionais não sejam atendidos para a criação de novos tributos, este poderá ser questionado através do processo judicial, que trabalha exclusivamente para a preservação de direitos do cidadão, onde se assegura que os efeitos e as expectativas criadas pelas normas propostas realmente se propaguem na realidade (BONOMO, 2009).

Dessa forma, percebe-se que a eficácia também pode ser exigida judicialmente, sempre que houver necessidade, aliando-se em conformidade com as normas jurídicas fundamentais (BONOMO, 2009).

Existem ainda outros institutos jurídicos tributários, que orbitam o princípio da capacidade contributiva, e que precisam ser observados e utilizados pelo poder público de forma a proporcionar a realização da justiça social e fiscal, através de imunidades, isenções e remissões, também como tipos de exoneração do crédito tributário (DINIZ, 2003).

Salienta-se, porém, que as imunidades aparecem dispostas na constituição como regras de exceção, onde ficam impedidos alguns tipos de pagamentos de impostos em relação a determinados fatos ou pessoas, especialmente ao apresentar algum tipo de incapacidade econômica (CLÉVE, 2000).

Já as remissões, por sua vez, estão previstas no (art.156, VI e art. 172 do Código Tributário Nacional), onde menciona-se que estas devem ser aplicadas em casos concretos, de forma a exonerar de forma total ou parcial o crédito tributário a alguém. Nesta linha, o artigo 145 da Constituição Federal menciona que o princípio da capacidade contributiva pode ser aplicado apenas para a espécie tributária ‘impostos’. Já o art. 172, I do Código Tributário Nacional impõe sua aplicabilidade para todos os tipos de tributos, porém, citando-se que a remissão deve ser aplicada aos créditos tributários (BONOMO, 2009).

Sobre as isenções, também se verifica que realizam os ideais da capacidade contributiva, de forma a representar um chamado ‘favor legal’ que é concedido para as pessoas tanto físicas quanto jurídicas, através de condução onerosa ou gratuita, deixando-as exoneradas de tributação. Neste caso, são aplicados os mecanismos que estabelecem uma relação entre as rendas e despesas, onde é dado um tratamento diferenciado para aqueles que possuem rendas equiparadas, porém, possuem

34 despesas diferentes, de modo a conseguir atingir a justiça social e fiscal (CLÉVE, 2000).

Dessa forma, pode-se perceber que a capacidade contributiva impõe uma situação onde os tributos possam ser pagos na mesma proporção dos recursos do contribuinte. Pois, o próprio conceito de capacidade contributiva foi evidenciado e reafirmado por diferentes estudiosos ao longo da história (DINIZ, 2003, p. 77).

Em resumo, apesar do conceito de capacidade contributiva sempre ter gerado controvérsias na doutrina e jurisprudência, o ordenamento jurídico brasileiro acabou trazendo contribuições importantes e necessárias para a evolução da evidência da própria capacidade contributiva, especialmente através das teorias subjetivas que analisam os aspectos pessoais que norteiam o fenômeno da imposição tributária (BONOMO, 2009).

Dessa forma, conclui-se que a graduação dos impostos precisa considerar a capacidade econômica do contribuinte, o que acaba gerando algumas discordâncias conceituais (SILVA, 2003) pois, “capacidade econômica”, entende-se por várias vezes como como sendo equivalente ao termo “capacidade contributiva”. Na verdade, a capacidade contributiva significa dizer que o contribuinte precisa ser obrigado a colaborar com os gastos públicos em razão de sua “força econômica” (BRANDÃO, 2015, p. 3).

Com relação a “gradação”, que está neste caso, extremamente ligada ao enunciado “sempre que possível”, a doutrina prevê que o princípio da capacidade contributiva exige, sempre quando possível, que os impostos sejam progressivos, ou seja, “que possuam alíquotas estabelecidas na proporção em que se aumenta a dimensão da base de cálculo” (BRANDÃO, 2015, p. 3).

Nesse sentido, é importante que seja observado neste trecho que ao passo que aumenta a dimensão da base imponível, “pressupõe-se que o sujeito passivo da obrigação tributária” que, neste caso, “possuir maior capacidade econômica em relação aos demais contribuintes” deve merecer uma “tributação desigual”, pois, a sua própria condição financeira já os desiguala, “de modo que todos tenham tratamento isonômico” (BRANDÃO, 2015).

35 Dessa forma, conclui-se que a tributação incide de forma desigual sobre a pessoa que detenha a maior capacidade econômica. Portanto, o princípio da capacidade contributiva considera que a expressão de riquezas passa a ser um indicativo da capacidade de suporte em relação à incidência do ônus fiscal (SILVA, 2003, p.17).

Com relação à Planta Genérica de Valores, percebe-se que esta é norteada por fatos que são descritos na hipótese de incidência tributária, culminando com a presunção de riqueza dos contribuintes (ARAÚJO, 2006, p, 131).

Dessa forma, é possível afirmar que não há falar em mal ferir a capacidade contributiva do contribuinte o simples fato da Administração Tributária revigorar sua Planta Genérica de Valores que por muito tempo encontrava-se desatualizada.

Por isso, mesmo que a revisão da sua Planta Genérica de Valores tivesse apenas por fundamento uma avaliação feita de forma equivocada em exercícios anteriores, nada impediria que fosse feita a correção através de uma precisa reavaliação. Pois, não seria o dever apenas do contribuinte em pagar da forma correta o tributo, mas também, uma obrigação da Administração em assegurar a correta avaliação dos imóveis (ARAÚJO, 2006, p. 131).

Com base nisso, percebe-se que a estratégia adotada para este fim converge para o conceito do princípio da proporcionalidade. Onde, o uso da proporcionalidade permite a aplicação de uma alíquota única sobre uma base tributável variável, se tratando assim, de um instrumento de justiça fiscal ‘neutra’. Com isso, possibilita-se buscar a realização do princípio da capacidade contributiva.

O uso da proporcionalidade permite uma indução de que o “desembolso de cada qual possa ser na mesma proporção da grandeza da expressão econômica do fato tributado”. De acordo com Brandão(2015) o próprio Supremo Tribunal Federal já se manifestou a favor de que o princípio da capacidade contributiva é prestigiado, no caso dos impostos ditos reais, pelo uso do conceito da proporcionalidade.

Ainda, segundo Brandão (2015), não é possível concordar que contribuintes em igualdade de condições sejam beneficiados injustificadamente por meio de tributação menos onerosa em função de uma suposta tese de ofensa aos preceitos

36 constitucionais, com base em alegação de “ruptura súbita do natural planejamento pelo contribuinte”.