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2.4 Cooperativas de crédito e a geração de benefícios aos cooperados

2.4.3 Capacidade de geração de sobras

Em termos de geração de benefícios aos seus membros associados e considerando que o objetivo desses membros ao se afiliarem à organização é, fundamentalmente, econômico uma outra forma de as cooperativas de crédito afetarem diretamente a renda cooperados é através da distribuição de sobras.

Ao fornecer os serviços de intermediação financeira e outros serviços bancários diversos, as cooperativas de crédito devem gerar um resultado operacional proveniente da margem operacional sobre o montante dos custos das operações (BARROSO; BIALOSKORSKI NETO, 2010).Conforme os autores, o resultado operacional decorrente das atividades de intermediação financeira origina-se do spread praticado pela cooperativa, ou seja, da diferença entre os valores pagos aos poupadores e os valores cobrados dos captadores de recursos, e é destinado à cobertura dos custos operacionais da atividade e à formação das sobras. Das operações bancárias diversas, que envolvem outros serviços fornecidos pela cooperativa, também é gerado um ingresso decorrente das tarifas cobradas pelos serviços, o qual destina-se à cobertura dos custos da atividade e também à formação de sobras ou resíduo operacional (BARROSO; BIALOSKORSKI NETO, 2010).

Dado que a cooperativa tem a característica do usuário proprietário, ou seja, suas operações são realizadas com seus próprios sócios, essa organização não visa a maximização do resíduo operacional. Isso ocorre porque nas sociedades cooperativas os “lucros” são primeiramente distribuídos na forma de preços reduzidos para quaisquer serviços que a organização forneça aos seus cooperados (MILGROM; ROBERTS, 1992), que exigem vantagens operacionais e financeiras na prestação de serviços e nas operações de captação e aplicação de recursos.

Se o spread gerado pelas cooperativas de crédito e os ingressos gerados na cobrança de tarifas pelos serviços prestados fossem gerados no volume mínimo para o custeio operacional,

não haveria a formação de sobras, já que todo aquele resultado seria distribuído através da política de preços e da prestação de serviços. No entanto, entende-se que há uma necessidade de geração de sobras pela cooperativa para uma destinação explícita, dada, principalmente, sua necessidade de investimento para fortalecimento da organização, e que a eficiência da cooperativa na geração de benefícios aos cooperados pressupõe essa necessidade.

A apuração de sobras nas cooperativas implica em decisões quanto à destinação explícita das mesmas a reservas indivisíveis, ou seja, para a constituição de reservas obrigatórias e não obrigatórias (BRASIL, 1971), as quais, conforme Barroso e Bialoskorski Neto (2010), pertencem a toda a sociedade cooperativa e visam aumentar o patrimônio líquido. A apuração de sobras implica também em decisões quanto à devolução aos cooperados, de modo que o retorno das sobras líquidas do exercício aos cooperados deve ser feito proporcionalmente às operações realizadas pelo mesmo, o que, a rigor, deve ser aprovado em Assembleia Geral (BRASIL, 1971). Dessa forma, caberá à Assembleia Geral a decisão sobre o reinvestimento das sobras líquidas, considerando possíveis perdas financeiras decorrentes de insuficiências na contribuição dos associados; ou distribuição das mesmas aos associados.

Bialoskorski Neto (1998) coloca que os benefícios imediatos da atividade cooperativa são repassados ao associado na forma de um melhor sistema de preços e da prestação de serviços e que isso reduz a capacidade de geração de sobras. Para o autor, isso ocorre porque o associado prefere receber os benefícios de sua cooperativa através dos benefícios e melhores preços de imediato do que através de uma distribuição de resultados no futuro.

Apesar de nas cooperativas a capacidade de geração de sobras ser reduzida, estas precisam ter uma geração positiva de resultados que lhes permita uma boa situação financeira e sua própria sobrevivência e crescimento. Conforme Quiroga, Bressan e Braga (2005), quanto maior a capitalização da cooperativa de crédito, ou seja, a relação entre o patrimônio líquido e o passivo real, melhor é a situação financeira da cooperativa. Essa capitalização é permitida, em parte, pela apuração e retenção de resultados positivos decorrentes das receitas provenientes da atividade das cooperativas, como pode ser visto a seguir.

Os autores supracitados afirmam que uma das formas de aumentar a capitalização é através do aumento do patrimônio líquido, seja por meio da integralização de capital por parte dos cooperados, seja pela integração de sobras no capital social da cooperativa. Outra forma de fazê-lo é a destinação ao fundo de Reserva Legal e à Reserva de Assistência Técnica Educacional e Social (QUIROGA; BRESSAN; BRAGA, 2005), além de às outras reservas existentes.

Para Bauer (2008), a relação entre a capitalização e a saúde financeira da cooperativa ocorre porque as cooperativas de crédito têm seu crescimento limitado às reservas requeridas e a única forma de aumentarem essas reservas é através da retenção de ganhos. Embora essa retenção adie a alocação do benefício, ela reduz o risco de falência da cooperativa (RUBIN et

al., 2013).

Dessa forma, justifica-se a afirmativa de que as cooperativas de crédito afetam a renda dos cooperados também através da geração de sobras, assumindo-se para fins deste trabalho que existe a prática disseminada de distribuição das mesmas aos cooperados, porém a retenção também reverte em benefícios ao cooperado como forma de reinvestimento, favorecendo a manutenção das atividades da cooperativa.

Devido à separação da análise de eficiência em dois modelos realizada no presente trabalho, optou-se pela não utilização das sobras como uma variável componente de ambos os modelos, devido à dificuldade de se separar qual seria a parcela das mesma decorrente da atividade de intermediação, da atividade de prestação de outros serviços bancários e ainda, de outras operações. Assim, as proxies utilizadas foram relacionadas à geração de receitas provenientes de cada uma das duas atividades estudadas.

3 MÉTODO DE PESQUISA

Nesta seção são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na condução do trabalho e são discutidas as variáveis utilizadas para a avaliação de eficiência, bem como os procedimentos para identificar os fatores associados à eficiência no setor de cooperativas de crédito.