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2.4 Cooperativas de crédito e a geração de benefícios aos cooperados

2.4.1 Política de preços

Conforme já colocado, a política de preços é uma das formas pelas quais as cooperativas geram benefícios aos cooperados, afetando de forma direta a renda dos mesmos, como é abordado nesta subseção.

Conforme Bressan (2009) a cooperativa de crédito, especificamente, é uma fonte de recursos não somente para consumidores de crédito, mas também para aplicadores. Dessa forma, alguns cooperados podem usar estas cooperativas exclusivamente para aplicações de recursos financeiros, realizando depósitos à vista ou a prazo, enquanto outros podem utilizá-la como fonte de consumo de crédito, captando empréstimos ou financiamentos da cooperativa. Uma terceira possibilidade é a atuação como aplicador e captador de recursos ao mesmo tempo.

Ao aceitar poupanças de membros, a cooperativa de crédito tem características de uma cooperativa produtora ou de venda, enquanto que, ao fornecer empréstimos para membros, têm características de cooperativas de consumo ou de compra (FRIED; LOVELL; EECKAUT, 1993; TAYLOR, 1971). Isso sugere que os interesses dos membros poupadores, altas taxas de juros sobre os depósitos, estão em conflito com os interesses dos membros mutuários, baixas taxas de juros sobre os empréstimos. Para Fried, Lovell e Eeckaut (1993) a falta de unanimidade de interesses torna modelos cooperativos de produtores e modelos cooperativos de consumo,

ambos os quais assumem conformidade entre os objetivos dos membros e também um grupo de não-membros para explorar em um esforço para atingir esses objetivos, modelos inapropriados quanto ao comportamento de cooperativas de crédito.

Assim, uma vez que os interesses dos membros poupadores são nem mais e nem menos importantes que os interesses dos membros mutuários é desejável que se evite atribuir, a priori, pesos para serviços de poupança e para serviços de empréstimos que uma cooperativa de crédito oferece aos seus membros (FRIED; LOVELL; EECKAUT, 1993). Ou seja, a princípio, ambos os serviços têm a mesma importância em termos de intermediação financeira.

Existem, no entanto, modelos sobre o comportamento de cooperativas de crédito que colocam forte ênfase sobre como o equilíbrio na distribuição de benefícios entre seus membros mutuários e poupadores é alcançado, alguns dos quais apresentados por McKillop e Wilson (2011). Conforme o autor, a abordagem de Taylor (1971), a qual foca na extensão para a qual as cooperativas de crédito balanceiam os interesses de membros poupadores e captadores, cria um problema, já que enquanto os membros poupadores querem o maior retorno possível sobre o capital investido, os membros captadores querem o menor custo possível no consumo de crédito.

Taylor (1971) considera três cenários para explorar o potencial conflito entre membros de uma cooperativa de crédito: 1) a cooperativa neutra; 2) a cooperativa dominada por tomadores de recursos; e 3) a cooperativa dominada por poupadores de recursos. Nos dois últimos cenários predominam os interesses dos respectivos membros dominadores, enquanto no primeiro cenário não dominam os interesses de nenhum dos membros. Seguindo esse raciocínio, seria possível assumir que cada tipo de cooperativa de crédito deveria buscar as alternativas que levassem ao maior benefício dos cooperados dominadores em detrimento dos demais em busca de um melhor desempenho no atendimento aos interesses do cooperado.

Apesar de em uma cooperativa de crédito haver, declaradamente essas três possibilidades de usuários, os aspectos econômicos dos conflitos nessas cooperativas são um problema menos agudo do que em uma cooperativa comum, como as de produção ou de consumo (TAYLOR, 1971). O autor coloca que há alguns motivos para isso e o primeiro deles é que é que embora existam similaridades em relação aos conflitos entre atuais e novos captadores de recursos e entre atuais e novos poupadores de recursos, a relação entre atuais captadores e novos poupadores e entre atuais poupadores e novos captadores é de complementaridade. Isso porque, conforme o autor, a demanda por empréstimos de longo prazo representa a fonte máxima de recurso para pagamento de juros aos poupadores, enquanto os recursos dos poupadores são a fonte de custo mais baixo para os recursos emprestados.

O segundo motivo apresentado por Taylor (1971) é que nas cooperativas de crédito, embora inicialmente os membros se unam com o propósito de ou emprestar ou poupar, normalmente fazem um pouco das duas operações enquanto estão associados à cooperativa, de forma que o princípio da autoajuda é provável de predominar sobre o interesse próprio.

Hastings (2006, p.206), ao tratar da regra de partilha do spread em instituições financeiras, afirma que não parece haver um meio científico para determinar qual deve ser essa regra, mas considera que, na prática, como as economias costumam ser carentes de capitais e, portanto, a tarefa de captar ser mais árdua do que a de aplicar, seja razoável que a parte do

spread voltada ao captador seja maior que 50% (com o spread total representando 100%).

Nesse caso, a cooperativa estaria atuando em maior benefício dos membros poupadores de recursos.

No entanto, dado o objetivo de atuação em prol do benefício dos cooperados e a coexistência de membros captadores e aplicadores, entende-se que a cooperativa de crédito terá uma maior eficiência na geração de benefícios aos cooperados, em termos de intermediação financeira, se ela buscar o melhor interesse aos dois tipos de membros. Ou seja, se ela buscar oferecer um maior retorno para os aplicadores e uma menor taxa de captação para os mutuários de uma forma neutra, ainda que dessa forma não seja possível fornecer os benefícios máximos de preços para os usuários unicamente poupadores ou captadores.

Essa ideia parece corroborar com a análise teórica de McKillop e Wilson (2011) sobre o trabalho de Taylor (1971), de que as cooperativas de crédito neutras são mais eficientes. Para os autores, a neutralidade é menos provável à criação de incentivos para as cooperativas de crédito desencorajarem a participação de novos membros e, portanto, ajuda a manter a vitalidade da instituição. No entanto, a necessidade de geração de sobras pela sociedade cooperativa não deve ser ignorada, de modo que a organização seja capaz de manter suas atividades.

No que tange à prestação de outros serviços bancários, entende-se que a minimização dos custos é um dos fatores preponderantes para o fornecimento de serviços não relacionados à intermediação financeira em benefício aos cooperados. Toma-se, assim, que as cooperativas de crédito serão eficientes em termos de na prestação de serviços se conseguirem oferecer serviços para os cooperados incorrendo no menor custo possível, de forma a poder oferecer seus serviços a taxas mais baixas.

Com relação à receita de prestação de serviços, assume-se que quanto maior for essa renda mais a cooperativa estará atuando em benefício ao cooperado, à medida que a mesma possibilita uma maior capacidade de geração de sobras. Dessa forma, a Receita de Prestação de

Serviços (apesar de não ser detalhada nos balancetes) e as Despesas Administrativas foram utilizadas na composição de proxies para a composição do modelo de eficiência de na prestação de serviços bancários não relacionados à intermediação financeira em benefício aos cooperados. A visão de eficiência na prestação de serviços bancários não geradores de juros baseada na incidência de menores custos não é corroborada por Bauer (2008). O autor critica o foco de trabalhos que avaliam a eficiência em cooperativas de crédito no cálculo da eficiência técnica e afirma que, apesar do fato de as cooperativas deverem buscar reduzir custos operacionais, na realidade essas organizações não têm por meta a redução de custos, que na realidade também é buscada por outras instituições financeiras, mas sim têm por objetivo a maximização de utilidade para os cooperados.

Para Bauer (2008), a cooperativa de crédito busca de fato maximizar o vetor de ganhos líquidos, sobre os empréstimos e poupança, dos seus membros cooperados. No entanto, considerou-se para fins do presente trabalho que a redução de custos, através, por exemplo, da economia de escala, é considerada um dos fatores chave para proporcionar maiores benefícios oferecidos aos cooperados. Dessa forma, justifica-se seu uso na construção de proxies relacionadas à atuação em benefício dos membros associados.