• Nenhum resultado encontrado

A capacidade de jogo como pré-requisito do rendimento para o jogo

Uma Volta Duas Voltas VALORES

ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

2.4 Jogos desportivos coletivos – JDC

2.4.3 A capacidade de jogo como pré-requisito do rendimento para o jogo

O objetivo do treinamento desportivo é melhorar o funcionamento da equipe desportiva antes e durante o jogo, aperfeiçoando a aplicação dos estímulos necessários a uma boa execução dos movimentos em jogo e da capacidade de prognose dos seus efeitos sobre a aplicação destes, enquadrados sempre em uma

visão interdisciplinar que tem em conta os diversos aspectos fisiológicos, psicológicos, pedagógicos, culturais e sociológicos do atleta no treino.

Segundo Garganta e Pinto (apud GARGANTA e OLIVEIRA, 1996, p. 18),

... na construção da atitude tática, o desenvolvimento das possibilidades de escolha do jogador depende obviamente do conhecimento que ele tem do jogo. Isto quer dizer que a forma de atuação de um jogador está fortemente condicionada pelos seus modelos de explicação, ou seja, pelo modo como ele concebe e percebe o jogo. São esses modelos que orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a compreensão das informações e a resposta motora.

Assim sendo, a capacidade de inter-relacionar os componentes tático- técnicos durante o desenrolar da ação pressupõe uma ampla automatização na realização da mesma por parte do jogador, automatização esta que resulta da experiência acumulada pelos jogadores, tanto nos treinos como nas competições.

De acordo com as idéias de Nonaka e Takeuchi (1997), esta experiência acumulada pelos jogadores é denominada de conhecimento tácito – algo dificilmente visível e exprimível. É altamente pessoal e difícil de formalizar, o que dificulta sua transmissão e compartilhamento com outros. O conhecimento tácito está enraizado nas ações e experiências de um indivíduo, bem como em suas emoções, valores ou ideais. Por isso, as limitações de tempo que, na competição, exigem do atleta uma ação rápida, geram condições que restringem e por vezes impossibilitam um processo consciente de apreensão, tratamento e tomada de decisão prévia para a realização do movimento, do ato motor.

No processo de treino desportivo, grande parte dos atletas era sujeita à realização constante de exercícios físicos, sendo poucos os treinadores que se preocupavam com o desenvolvimento dos aspectos cognitivos ou mentais dos seus jogadores. Isto resultou claramente de um entendimento da estrutura de rendimento nas suas diferentes dimensões: energético/funcionais, coordenativas, cognitivas e emotivas. Contudo, atualmente, há a necessidade inadiável de que esta perspectiva,

construída a partir de um paradigma disjuntivo, seja rapidamente superada (TAVARES e FARIA, 1996).

Em vista disso, Harris (apud TAVARES e FARIA 1996, p. 42) considera que, “em termos de rendimento desportivo, se colocarmos em igualdade de circunstâncias todos os componentes do rendimento, não será o componente físico a determinar a diferença entre os atletas, mas sim o componente cognitivo que determinará o grau de sucesso na competição”. Para tanto, é necessário que os treinadores dêem maior atenção ao aperfeiçoamento e desenvolvimento das capacidades cognitivas e emocionais dos seus atletas, e não apenas às capacidades físicas e técnicas.

Para que haja qualidade de jogo, o indivíduo deverá ter comportamentos inteligentes, os quais dependem da capacidade dele para assegurar três tipos de funções que, segundo Andreewsky (apud GARGANTA e OLIVEIRA 1996), são:

função de resolução (elaborar e selecionar soluções pertinentes para atingir os

objetivos e resolver problemas), função de compreensão (responder de modo coerente e apropriado às questões e criar formas significantes compreensíveis) e

função de efetuação (organicamente ligada às tomadas de decisões).

Ainda no que diz respeito à tomada de decisão, Pruden (apud FARIA e TAVARES 1996, p. 36) aponta o dilema do processo ensino/treino ao questionar como desenvolver as capacidades decisórias dos jogadores, tendo em vista que o treinador decide antecipadamente pelo jogador, ao apresentar um conjunto de regras e soluções que determinam quem e quando deve realizar uma ação. Segundo o autor “tal perspectiva é redutora da atividade do jogador e incompatível com a espontaneidade, imaginação e criatividade, pois apenas apetrecha o atleta para as seqüências estáveis do jogo sem contemplar todos os outros membros

associados à emergência do novo”. Dificultando, desse modo, ações mais dinâmicas, criativas e, em muitos casos, inviabilizando a iniciativa. Visto também, que a essência dos JDC é a imprevisibilidade, sendo assim, tal modo não seria o mais adequado.

A tomada de decisão desempenha um papel importante nas ações do atleta, pois a realização de movimentos conscientes é sempre precedida de uma decisão. Portanto, todo jogador deve ser considerado como um tomador de decisão, tendo que escolher e executar rapidamente uma resposta em uma determinada situação.

Assim sendo, a autonomia do jogador e dos integrantes de uma equipe desportiva ou de trabalho pode vir a aumentar a possibilidade de os indivíduos se automotivarem para criar um novo conhecimento.

Efetivamente, nos JDC, segundo Garganta e Oliveira (1996), o desenvolvimento das possibilidades de escolha implica um desenvolvimento dos “saberes”: saber o que fazer, o que se prende com o conhecimento declarativo, que pode ser exprimido através da linguagem; saber executar, ou seja, possuir um conhecimento processual que decorre da ação propriamente dita.

Se forem levadas em consideração as situações imprevisíveis do jogo, percebe-se que não se pode estabelecer com rigor um conjunto de normas reguladoras da ação do jogador.

Stacey (apud TAVARES e FARIA 1996) considera que, quando as pessoas se defrontam com situações totalmente novas, que são impossíveis de prever, podem geralmente, detectar alguma semelhança com acontecimentos que já ocorreram. Neste caso, reconhecem padrões qualitativamente semelhantes, que usam para desenvolver modelos mentais, no sentindo de lidar com as novas situações.

Conforme apresentado nas “Cinco Disciplinas de Senge” neste estudo, modelos mentais são crenças armazenadas ao longo da vida e que determinam como ver os fatos ao redor e, a partir disto, o direcionamento das ações. Os mesmos podem limitar as formas de pensar e agir. Usa-se analogias, baseadas na semelhança, para lidar com o inesperado, quando com ele somos confrontados.

Para Tavares e Faria (1996) a capacidade de jogo é uma combinação tática de uma grande diversidade de capacidades psicológicas e físicas, e de um grande número de habilidades técnicas, com complexas ações de jogo, para as quais as tarefas exigidas são resolvidas da forma mais eficaz.

Após estudos sobre a teoria das Organizações que Aprendem, seus processos de aprendizagem, bem como o estudo de alguns tópicos essenciais no campo dos Jogos Desportivos Coletivos, far-se-á uma análise prática das prováveis características de funcionamento e comportamento de uma equipe desportiva, neste caso em específico, de voleibol de alto nível, visando reconhecer a similaridade e o entrelaçamento existentes entre os processos desenvolvidos por essa equipe desportiva e pelas equipes organizacionais, no que se refere ao seu funcionamento, como nas dinâmicas de aprendizagem.