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Da aprendizagem individual à aprendizagem organizacional

Uma Volta Duas Voltas VALORES

ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

2.3.3.5 Da aprendizagem individual à aprendizagem organizacional

Da mesma forma que Senge (1998), Kim (1993, 1996, 1998) também parte do princípio de que o aprendizado é iniciado no indivíduo, ou seja, “uma organização aprende através de seus membros individuais e, portanto, é afetada direta ou indiretamente pela aprendizagem individual (KIM, 1998, p. 70-71). Entretanto, a aprendizagem organizacional não é apenas a ampliação do aprendizado individual, mas um aumento significativo no grau de complexidade para a integração de um grande número de indivíduos diferentes, com seus aprendizados diversos. De acordo com Kim (1998, p. 77), a aprendizagem organizacional é definida como “aumentando a capacidade da organização para tomar ações eficazes”.

O referido autor, em seus estudos, desenvolveu um modelo integrado de aprendizagem organizacional que envolve o processo de observar, avaliar, projetar e implementar − modelos mentais compartilhados (OADI-SMM Observe-asses-design-

implement

Shared mental models). O modelo aborda a questão da transferência

da aprendizagem por meio da permuta de modelos mentais individuais e compartilhados, conforme exposto na Ilustração 3 a seguir:

Ilustração 3: Um modelo integrado de aprendizagem organizacional: o ciclo OADI-SMM

Fonte: Um modelo integrado de aprendizagem organizacional: o ciclo OADI-SMM, KIM, (1998, p. 77).

O modelo OADI-SMM é composto pela aprendizagem individual que, por sua vez, compreende os níveis de aprendizagem conceitual e operacional. O nível conceitual – o por quê se efetuar tais mudanças, está relacionado à aquisição da capacidade para a compreensão mental de uma experiência e ocorre através do ato de avaliar a realidade vivenciada. Esta forma de aprendizagem é influenciada pelas estruturas dos modelos mentais.

O nível de aprendizagem operacional – mudanças na maneira como se realiza o trabalho, está relacionado à aquisição da habilidade física para produzir

alguma ação e envolve a implementação dos conceitos projetados pela aprendizagem conceitual, sendo realizado em seguida o ato de observar a implementação, o que oferece fundamentos para uma avaliação, que, então, retorna a aprendizagem conceitual, fechando assim, o ciclo. Esta última forma de aprendizagem também é influenciada pelas rotinas operacionais individuais da organização. Portanto, um ciclo de aprendizagem conceitual e operacional informa e recebe informações de modelos mentais.

As rotinas são os procedimentos operacionais individuais do cotidiano das organizações, as quais refletem o aprendizado organizacional ao mesmo tempo em que o influenciam. E os modelos mentais individuais são compostos pelas estruturas e são influenciados pelo aprendizado conceitual.

Os modelos mentais compartilhados são compostos pela visão de mundo (weltanshauung) da organização, que influencia e é influenciada pela estrutura dos modelos mentais individuais e pela cultura organizacional5. As rotinas organizacionais são as formas padronizadas de atuação conjunta da organização as quais se relacionam com as rotinas individuais.

A aprendizagem individual em “loop único” (ISLL – Individual single-loop

learning) resulta da ação individual, relacionada à aprendizagem operacional, a qual

acarreta influências no meio ambiente e uma resposta deste, que é observada e entra em ciclo de aprendizagem individual.

A aprendizagem individual em “dois loops” (IDLL – Individual double-loop

learning) origina-se da influência do aprendizado individual, o qual provoca

mudanças nas estruturas e rotinas geradas pelos modelos mentais individuais. Tais

5Segundo Schein (1984), a cultura organizacional é o modelo dos pressupostos básicos, que determinado grupo

tem inventado, descoberto ou desenvolvido no processo de aprendizagem para lidar com problemas de adaptação externa e integração interna. Uma vez que os pressupostos tenham funcionado bem o suficiente, para

mudanças igualmente exercem influência nas aprendizagens conceituais e operacionais respectivamente. Este ciclo pode também ter origem na aprendizagem organizacional em “dois loops” (ODLL).

A aprendizagem organizacional em “loop único” (OSLL – Organizational

single-loop learning) ocorre como resultado da ação individual, a qual provoca, ou

insere-se, em uma ação organizacional que tem como conseqüência um impacto no ambiente onde se situa a organização. Ocorre então, uma resposta do meio ambiente que tem influência no ciclo de aprendizagem individual dos envolvidos e na ação organizacional.

A aprendizagem organizacional em “dois loops” (ODLL – Organizational

double-loop learning) tem relação com as mudanças nos modelos mentais, tanto

individuais como compartilhados, as quais provocam efeitos nas rotinas, estruturas, visão de mundo e na própria ação organizacional. Isso decorre da interação existente entre os inconscientes individuais e coletivos e as estruturas das ações que deles resultam.

A grande virtude do modelo OADI-SMM de Kim (1998) está em demonstrar, com relação à aprendizagem organizacional, um conjunto dinâmico e inter- relacionado de elementos que se influenciam mutuamente. A composição de seu modelo acaba privilegiando a relação cíclica entre o fundamento do pensar (modelo mental), a estrutura de ação (rotina) e os imperativos ambientais, produção de resultados (resposta ambiental). Outra peculiaridade do modelo está em não determinar onde ocorre o início dos ciclos, deste modo ele pode iniciar em qualquer um de seus componentes, resultando a seguir em influências nos demais elementos relacionados. Também, caracteriza-se como uma visão sistêmica dos fenômenos

organizacionais, o que ressalta a complexidade dos acontecimentos que ocorrem neste contexto.

A partir destes cinco estudos apresentados sobre aprendizagem organizacional, cabe ressaltar a evidente similaridade entre as abordagens, no que diz respeito à importância da participação individual para que ocorra a aprendizagem organizacional. Apesar das organizações se caracterizarem como entes coletivos, a incorporação de novos conhecimentos, depende de seus integrantes, porque, segundo Nonaka (2000, p.31), “novos conhecimentos sempre se originam nas pessoas”.

No trabalho de Kim (1998), o uso das representações mentais pode ser destacado como um dos mais importantes elementos da aprendizagem organizacional enquanto coletivo. Com o estabelecimento destes modelos mentais, são desenvolvidas habilidades, são adquiridos novos conhecimentos que servem de subsídios para a realização de ações. Estas, após terem demonstrado eficácia, se transformam em rotinas presentes e são reproduzidas pela organização.

Para que aconteça o aprendizado organizacional é necessário também evitar o aprendizado fragmentado entre as pessoas e disseminar, compartilhar o conhecimento adquirido, pois o desafio de uma organização é entender o processo de transferência pelo qual o conhecimento e o aprendizado individual são incorporados na memória e na estrutura de uma organização.

A organização que aprende está constantemente aberta a novos conhecimentos e transformações. Por isso a necessidade de um olhar especial ao aprendizado de duas voltas, pois este é o aprendizado que vai além, que transforma, que provoca inovações, que para Nonaka (2000, p.31) “é a recriação do mundo de acordo com determinada visão ou ideal”, que faz o diferencial de uma organização e

surpreende seus clientes. Faz uma leitura sistêmica da organização. No ambiente onde a comunicação confiável flui livremente entre as pessoas, as áreas e os níveis; a interdependência seja a base da coesão; o sucesso de indivíduos e coletivos seja uma constante; onde prevaleçam a confiança; o ato de assumir riscos e ajudar os outros profissionais, a fim de que os conflitos possam ser identificados e gerenciados. Parece ser este o caminho, para uma organização que aprende.

Na análise das capacidades individuais e coletivas de aprendizagem, percebe-se a importância do trabalho em equipe em uma organização. Como o objetivo deste estudo é a descoberta das características das equipes desportivas enquanto uma organização que aprende, faz-se necessário dar especial destaque aos Jogos Desportivos Coletivos em que sobressai o trabalho coletivo, impulsionado pela variabilidade das situações de jogo, pela rapidez com que se deve tomar decisões táticas e pela velocidade na realização das ações motoras, como forma de organização.