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CAPÍTULO 3 – PRÁTICAS DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO MEDIADAS PELAS

3.1 Mesa Educacional Alfabeto: a voz as professoras

3.1.1 Capacitação Docente: formação

Teóricos da área, como Valente (2007), apontam que o componente chave para o desenvolvimento de atividades na área da informática associada à educação é a formação do profissional devidamente capacitado para usar o computador como ferramenta educacional.

Quando questionamos as docentes sobre a capacitação realizada pela equipe especializada do grupo empresarial Positivo junto ao conteúdo que o curso priorizou, Samira e Carolina revelaram que:

curso de... das Mesas Pedagógicas, eu fiz em uma formação que aconteceu durante uma semana, oferecido pelo Departamento de Educação... que aconteceu em julho de 2008 (SAMIRA).

Na verdade, eu mesma não passei por um curso de capacitação. Algumas professoras, coordenadora da minha escola... passaram por esse curso e...

com a ajuda da coordenadora, algumas questões me foram repassadas e a gente planejou junto é... os conteúdos que iriam ser trabalhados na alfabetização e... e eu fui trabalhando, fui mexendo, fui aprendendo a cada dia o que poderia ser utilizado de acordo com a faixa etária de cada criança, e a gente foi desenvolvendo esse projeto, né? (CAROLINA)

Como somente Samira participou do restrito (de tempo, conteúdo e público participante) curso de formação, ela relata que a capacitação foi desenvolvida a partir de uma apresentação do conteúdo das Mesas, para que as professoras pudessem conhecer os softwares educativos que compõem as máquinas. Estes são instalados por meio de CDs, que são compostos por diversos aplicativos, cujo conteúdo envolve as diversas áreas do conhecimento.

Porém, a capacitação, ofertada pela empresa que elaborou a referida tecnologia, englobou apenas o aplicativo voltado para a alfabetização. Samira ainda esclarece que, nesta modalidade do ensino da leitura e escrita, são três CDs: “Tem o introdutório, o de aperfeiçoamento e um de enriquecimento”.

Ela ainda esclarece, quando indagada sobre qual o conteúdo/CD trabalhado na referida capacitação:

É... são vários CDs, esse é o Introdutório . O Introdutório. Que é a sala de aula, a casa de jardim, aquário, o básico mesmo, que trabalha com... a introdução de palavrinhas, letras, sílaba, letra inicial, letra final... (SAMIRA)

Apesar de afirmarem que houve o curso focado na aprendizagem da funcionalidade das máquinas, elas reiteram que sentem necessidade de se atualizarem, recebendo uma capacitação contínua, de modo a aprimorarem suas práticas e trocarem experiências e conhecimentos. Samira e Carolina (mesmo sem terem participado) expressam com clareza:

[...] Secretário de Educação que volte a procurar essa equipe do Positivo para nos capacitar, porque é uma Mesa que eu tenho certeza que deve ter outros aplicativos, outros CDs interessantes, outras formas de estar trabalhando. Às vezes, em outra cidade, um trabalho muito bom que deve ter sido feito. Então, o que a gente... o trabalho que a gente está iniciando com essas Mesas em nossa Escola, ele é assim muito pequeno, é como se fosse a pontinha, assim, do iceberg mesmo, [...] (Samira).

[...] eu sinto um pouco é falta de mais capacitação, de mais pessoas capacitada pra estarem utilizando esse recurso, porque eu acho que a gente tem... tem muito coisa que pode ser utilizada e que, no entanto, assim como a gente não passa por capacitação, assim... mas constante. Então, eu acho, assim, que faz falta isso pra gente está até mesmo melhorando as práticas, né?... e está melhorando é... o atendimento a essas crianças que têm

dificuldades e estar sempre aprimorando, né?... ajudando nesse período de alfabetização das crianças (CAROLINA).

Isso consequentemente nos leva a interpretar que a formação ofertada foi insuficiente, tanto no sentido de não contemplar um conteúdo pedagógico contextualizados às suas práticas, como também determinante para atualização dessas profissionais. Afinal:

O papel primordial do educador frente às novas tecnologias vai estar ligado à sua preparação e capacitação diante das mesmas, pois há a necessidade, na prática, de que os mesmos saibam operar com os diferentes signos linguísticos propiciados pelo universo midiático, e assim garantir uma verdadeira práxis pedagógica frente à incorporação das práticas tecnodigitais (FERREIRA; FRADE, 2010, p. 25).

Além disso, os professores devem ser levados a refletirem que a propagação das TDIC nas escolas requer um modelo didático diferenciado e também que essas influenciam e promovem mudanças nas práticas sociais de leitura e escrita. Sobre esse último aspecto, Freitas (2010) explica que as novas tecnologias, “além de máquinas, são instrumentos de linguagem que exigem, para seu acesso e uso, diferentes e novas práticas de leitura-escrita” (p. 337).

Desse modo, é preciso reconhecer que o domínio tecnológico pode ser entendido como alfabetização digital e letramento digital, e não se restringe ao uso mecânico da técnica, mas a um domínio crítico da linguagem tecnológica (SAMPAIO e LEITE, 1999).

Na voz de uma das docentes, é possível captar a preocupação dela de estar aprendendo mais sobre esse contexto e aperfeiçoando o domínio dessa linguagem pela complementação da capacitação dela:

[...] porque muitas coisas, assim, está mexendo no computador, como instalar o CD, como desenvolver as atividades ali no dia a dia com as Mesas, é porque já é um conhecimento que eu já tenho em relação à... assim, nos outros cursos que eu fiz de informática, até eu em casa mexendo no meu computador, através da curiosidade, perguntando às vezes o monitor, corre aqui, corre ali, mas eu gostaria, sim, que tivesse mais capacitação pra gente poder estar aperfeiçoando o trabalho, porque às vezes quer fazer um bom trabalho mas você não domina tudo que tem na Mesa, porque às vezes você precisa de um suporte maior para estar trabalhando junto com os alunos, [...] eu não domino todos (SAMIRA).

Essa busca traduz a percepção da falta do letramento e da alfabetização digital tanto no contexto concreto do uso das tecnologias em sala como na ausência de capacitação que abarque a temática dos recursos computacionais (SAMPAIO e LEITE, 1999) tecem uma opinião que vai de encontro a essa questão. Para as autoras:

Esta alfabetização significa um domínio das técnicas e suas linguagens, mas está relacionada também a um permanente exercício de aperfeiçoamento mediante o contato diário com as tecnologias. Relaciona-se ao conhecimento técnico e pedagógico que o professor deve ter das tecnologias e de seu potencial pedagógico (p. 75).

O relato de Samira traduz a percepção de que, para não conceber pontos lacunares na integração das TDIC em salas de aula, deve-se preparar o professor para interpretar a nova linguagem que elas carregam, o que também observa Freitas (2010). Conforme aponta essa autora:

Cabe ao professor estar atento a essa nova fonte de informações para transformá-las, junto com os alunos, em conhecimento. Essa é uma das características do letramento digital: associar informações, ter uma perspectiva crítica diante delas, transformando-as em conhecimento. O professor é parte inerente e necessária a todo esse processo, em seu lugar insubstituível de mediador e problematizador do conhecimento, um professor que também aprende com o aluno (p. 348: grifo meu).

3.1.2 Uso dos Recursos Tecnológicos: o papel da MEA no processo de alfabetização e