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Uso dos Recursos Tecnológicos – estratégias de utilização do laptop PROUCA nas práticas de

CAPÍTULO 3 – PRÁTICAS DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO MEDIADAS PELAS

3.1 Mesa Educacional Alfabeto: a voz as professoras

3.2.3 Uso dos Recursos Tecnológicos – estratégias de utilização do laptop PROUCA nas práticas de

As mudanças, inovações e implicações pedagógicas são os elementos que dimensionam o uso do laptop em salas de aula. Partindo dessa premissa, foram identificadas, no discurso das professoras, suas estratégias de utilização dos computadores portáteis, definindo, assim, a temática desta categoria.

De acordo com os “Princípios orientadores para o uso pedagógico do laptop na educação escolar”, os seguintes pontos caracterizam a proposta de uso do PROUCA (Brasil, 2007, p. 12):

 Imersão na cultura digital: permite o uso do laptop na situação1:1 por todos, estudantes e educadores nas escolas públicas;

 Mobilidade: possibilidade de uso do equipamento em ambientes dentro e fora da escola;

 Conectividade: processo de utilização se dará por meio de rede sem fio conectadas à Internet;

 Integração das Mídias: uso pedagógico das diferentes mídias disponibilizadas no laptop.

Esses tópicos representam um aspecto fundamental desta categoria de análise, pois as professoras entrevistadas, em seus depoimentos, mencionam que o uso do laptop em suas práticas manteve-se restrito aos recursos do próprio dispositivo. Logo, verificaremos quais desses quatro princípios perfizeram tais práticas.

No comentário de Anita, alguns aspectos dessa questão são assinalados:

[...] nós não usamos a internet, nós usamos só os recursos que o próprio... que a própria máquina nos oferecia diante da... da... da faixa etária da alfabetização mesmo, foram só os joguinhos ou às vezes em aula de artes para que a criança pudesse pintar [...] (ANITA).

Embora a docente afirme que não houve uso da internet, posteriormente ela justifica que os jogos educativos voltados para as crianças em processo de alfabetização instalados já no próprio computador foram a ferramenta utilizada por ela; aliás, a única, como a mesma confirma “Esse uso desse laptop, o único recurso que eu utilizei foi os joguinhos de... de alfabetização que... que ele tem”.

Esses trechos da fala de Anita evidenciam que foi criada uma estratégia de utilização em sua prática educativa articulada ao conteúdo didático desenvolvido em seu trabalho focado no ensino- aprendizagem da língua escrita. Este, além de cumprir em parte a proposta de uso do projeto UCA, pode vir a ser um aspecto positivo, pois o lúdico agregado à tecnologia “tem possibilitado novos jogos e atividades produzidos com intenção de ajudar as crianças a construir e a compreender, de forma lúdica, reflexiva e colaborativa, o nosso sistema linguístico” (Coscarelli e Cafiero, 2011, p. 16).

As práticas de uso da professora Guilhermina também foram planejadas via utilização de jogos, porém a disponibilização desses recursos efetivou-se via web. Como a docente não fez menção a essa prática, recorremos às nossas observações em sua sala de aula para conceber essa inferência. Quando a docente reporta aos laptops educacionais, ela elenca a seguinte opinião: “Acho que a utilização desta ferramenta possibilita a busca e a consulta para trabalhos escolares e até mesmo para projetos de aprendizagem na educação”.

Tais elucidações vão ao encontro das seguintes argumentações teóricas tecidas por Coscarelli (2010): “[...] o computador é explorado para entretenimento, como fonte de pesquisa, e o aluno tem acesso livre a sites, jogos, programas variados. Dessa constatação, surge inevitavelmente a pergunta: precisamos realmente separar o lúdico do pedagógico? (p. 522).

Assim, concluímos que o lúdico é o atrativo que sobressai na operalização dos computadores portáteis nas duas salas de aula pesquisadas. No entanto, é preciso estabelecer um olhar analítico para os jogos disponíveis na internet gratuitamente. Segundo uma pesquisa realizada por Coscarelli (2010), a maioria dos jogos encontrados na internet são atividades que eram feitas no papel e que foram levadas para web sem muitas alterações e com poucas incorporações do quesito diversão e de outros mecanismos que o mundo digital possibilita, tornando-se, assim, apenas uma extensão online da didática tradicional aplicada nas escolas para o processo de alfabetização.

A respeito das práticas de uso do laptop educacional, a professora Guilhermina ainda afirma: “Costumo planejar o uso do laptop nos conteúdos que pretendo trabalhar”.

O planejamento é um elemento que sistematiza o trabalho pedagógico e é elaborado a partir da definição de objetivos, critérios e estratégias do que se deseja ensinar. Diante dessa situação inovadora, inusitada, organização e flexibilidade devem ser aspectos característicos do uso individualizado de computadores. Almeida e Prado (2011) fazem uma relação direta com essa assertiva ao explicarem que:

As TIC entram na sala de aula como fonte de informação e de interação muito ampla, e nem sempre previsível, nos objetivos propostos no planejamento do professor, o que demanda dela a criação de estratégias de mediação e uma postura diferenciada, ou seja, flexível e aberta [...] (p. 53). Este processo de estruturação do uso dessa tecnologia móvel envolve não só o docente, mas também supervisores e gestores. É um trabalho conjunto que visa à definição de mecanismos de utilização desses recursos e que viabilizam a apropriação tecnológica tanto do professor quanto do aluno.

Quando indagadas se elas recebiam algum apoio pedagógico para planejar tais práticas de uso, as respostas que obtivemos das professoras foram as seguintes:

Não, nós não... não temos nenhuma ajuda pedagógica quanto aos laptops você mesmo que... que procura... a... a preparar sua aula (ANITA).

Não, sempre faço meu planejamento sozinha, não tenho muito apoio (GUILHERMINA).

Esse se constitui em mais um entrave relatado pelas docentes, o que acaba por desconfigurar a dinâmica de uso dos laptops. A falta de apoio pedagógico da gestão escolar resulta em ações isoladas e pouco articuladas às propostas do projeto UCA.

Isso revela que, com uma gestão omissa, o funcionamento do PROUCA fica debilitado, pois a equipe gestora exerce um grande papel na condução de suas atividades. Cabe aos gestores alicerçar o fazer pedagógico no sentido de empreender questões políticas pedagógicas a favor da aprendizagem dos alunos, eles são elementos fundamentais nesse processo (FRANÇA; RAMOS; BORGES, 2011).

Ainda de acordo com as professoras, o único investimento que foi consolidado em termos de preparo para implantação do projeto UCA que o município recebeu foram as modificações na infraestrutura física das escolas. O comentário a seguir evidencia isso:

[...] a única preparação que a escola teve foi um armário para ser colocado os... as máquinas, os laptops não têm nada, nenhum... um professor de apoio nada que possa estar te ajudando na sua prática pedagógica (ANITA).

Percebemos que as reformas operadas envolveram a distribuição dos mobiliários adequados para alocar os laptops nas salas de aula junto à instalação da internet banda larga. Assim, a falta de suporte técnico e pedagógico foi um ponto bastante questionado e até mesmo apontado como um fator necessário a um manejo mais eficiente dos laptops educacionais:

[...] eu acho que esse UCA poderia, assim, ser um projeto muito interessante desde que tivéssemos suporte mais amplo, um suporte pedagógico, uma preparação mais ampla para os professores estarem trabalhando com seus alunos, é mais apoio, uma pessoa específica para está ali te apoiando nessas aulas. Então, desde que fosse um... um projeto com suporte maior, com mais didáticas mesmo para... para você está atuando na sua prática pedagógica seria, sim, um projeto legal [...] (ANITA).

Na opinião da professora Guilhermina, também é revelado que “as escolas precisam sofrer transformações frente a essa ‘nova tecnologia’ e, assim, constituir uma aprendizagem inovadora”. Esses depoimentos mostram que as concepções que as educadoras possuem frente à introdução dos microcomputadores nas práticas educativas e suas demandas. Almeida e Prado (2011) compartilham desse mesmo prognóstico ao expressarem que:

Para que a presença do laptop possa agregar valor aos processos de ensino- aprendizagem, é importante o professor conhecer os principais recursos, funcionalidades e serviços oferecidos por essa tecnologia e respectivas potencialidades pedagógicas, de modo que ele possa criar situações nesse contexto nas quais o computador traga efetivas contribuições à aprendizagem e ao desenvolvimento do aluno (p. 51).

Diante desse quadro, observamos que foram escassas mudanças na infraestrutura pedagógica, o que de certa forma justifica os mecanismos estratégicos de utilização dos computadores portáteis suplantados nos jogos de alfabetização. As transformações ficaram restritas à esfera técnica.

Um dado interessante e que cabe ser neste momento citado foi trabalho desenvolvido pela professora Anita. Um dos mecanismos de uso adotado por ela foi enviar o laptop educacional para a casa de seus alunos. Um bilhete explicativo acompanhou o aparelho até as residências das crianças para que os pais pudessem manipular junto a seus filhos um dos jogos de alfabetização nele instalados. A fala da professora explicita essa questão: “[...] então, foi só mesmo algumas vezes ou

de tarefa para casa, mas sempre usando o recurso do... da própria máquina, os joguinhos que tinham de alfabetização da máquina”.

Essa medida funcionou como uma espécie de dever de casa e constitui-se em mais uma estratégia de utilização dos computadores deslocada do tempo e do espaço escolar, dando a ênfase, assim, à sua característica técnica da “mobilidade”. Nas análises de duas pesquisadoras do PROUCA (MENDES; ALMEIDA, 2011), “a mobilidade influi nas dimensões educacionais e potencializa a inovação pedagógica e a criação da cultura tecnológica da escola (p. 52).

Apesar dos investimentos na infraestrutura tecnológica, pelo depoimento de uma das educadoras, é perceptível que a conectividade foi um aspecto inviabilizado do projeto. Segundo ela, essa foi uma das grandes dificuldades enfrentadas em sala de aula, pois, nas tentativas de uso do laptop conectado à internet, ou os aparelhos apresentavam problemas técnicos, ou não havia conexão. No trecho extraído da fala de Anita, ela comenta um pouco sobre os problemas enfrentados em sala de aula, além de expressar influencia da maturidade de seus alunos no manejo dos laptops:

[...] é um trabalho muito difícil porque como eles ainda não têm ainda essa maturidade para está ajudando essa máquina, você está ajudando, um ou outro computador já travou e a criança já está te chamando a todo momento. Então, é um trabalho bem cansativo e... a criança acaba ficando frustrada porque nem sempre dá para concluir o uso do que você pretendia com máquina (ANITA).

Desses dizeres, podemos concluir que existe a necessidade de um gerenciamento consistente que melhor direcionem as atividades do projeto. A manutenção do PROUCA não foi assegurada, o que acabou por prejudicar o seu desenvolvimento, ao menos no município pesquisado. Isso é fruto da descontinuidade que acompanha as políticas públicas da educação, que, ao invés de garantir mais investimentos e otimizá-las, extingue o fornecimento dos suportes, defasando-as. A esse respeito e remetendo ao projeto UCA em específico, Almeida e Prado (2011) comentam que os desafios enfrentados pelas escolas no uso das tecnologias processam via tomadas de decisões de instâncias superiores, as quais muitas vezes são interrompidas pela falta de encaminhamento das providências necessárias à sua concretização.

No discurso da(s) docente(s), fica a reivindicação de que o programa forneça uma capacitação mais afinada às propostas práticas de uso pedagógico. Vemos, contudo, que a formação foi iniciativa fragilizada em nosso contexto. O resultado é uma integração tecnológica desconexa da política de origem, já que

o foco das preocupações centra-se na urgência e na necessidade de preparar os educadores para preparar os educadores para atuarem com os laptops na prática pedagógica. Em outras palavras, e nesse momento, em que professores e alunos interagem com o laptop na sala, que o Projeto UCA ganha vida e começa a se concretizar na escola (Almeida e Prado,2011, p. 35).

Em outras palavras, Guilhermina afirma de forma bem simplificada: “Para isso, é importante o professor familiarizar-se com essas ferramentas”. Só assim mobilidade, imersão na cultura digital, integração das mídias e até mesmo conectividade serão características abordadas por completo nas práticas de uso do laptop educacional.