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CAPÍTULO 4 – AS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO ESCOLAR:

4.2 Práticas de Letramento e Alfabetização mediadas pelas TDIC

4.2.3 Questões da Alfabetização e Letramento Evidenciadas pelo Uso da MEA

lúdico interativo da MEA. Para tanto, vamos elencar a caracterização e os aspectos dos jogos que compõem o software dessa tecnologia. A abordagem focal será feita em ambas as turmas de alfabetização no sentido de uniformizar nosso olhar mediante essa proposta pedagógica, pois o que competia à singularidades delas já foi exposto.

Vale ainda acrescentar que, no período em que estivemos nas duas escolas observando o uso da MEA, as modalidades de jogos selecionadas para uso foram as seguintes: “O Aquário”, “A Casa de Doces” e “A sala de Aula”.

Esse(s) computador(es) usado(s) como suporte de jogos remete(m) a uma estratégia didática, que motiva e estimula o aluno a exercer práticas de leitura e escrita, as quais auxiliam a alfabetização. Repare no trecho descrito a seguir:

Quando chegamos à sala onde as Mesas ficam disponíveis, estas já estavam ligadas, e Carolina foi logo informando que o jogo de hoje seria o ‘LETRAS SUSPENSAS’, e, ao clicar na escolha, foi explicando como o jogo funciona. Cada dupla ficou em um computador: Bruno com Pietra e Ana Maria com Vinícius formaram os pares desse primeiro momento.

Este jogo funciona da seguinte maneira: o jogador deve encaixar no módulo os blocos das letras correspondentes às letras ditadas pelo próprio computador de modo a formar palavras. Ao final, o áudio efetua a leitura da palavra soletrada (conta com a tradução em LIBRAS também) e o jogador ainda conta com a ilustração do termo; e, logo abaixo, as letras que compõem o nome do desenho são registradas na tela: à medida que a criança disponibiliza, a letra fica em evidencia. Caso o jogador acerte a letra soletrada, o áudio lhe informa: ‘Muito bem’ ou ‘Excelente’. Já, se ocorre erro, o áudio expressa ‘Epa’ e repete qual é a letra em foco (Nota da Campo, 17/05/2012 – Escola C).

Nesse caso, além do recurso interativo, notamos a tarefa a ser executada pelo jogo em evidência: “ajuda a consolidar o princípio de que a ordem das letras corresponde à ordem da pauta sonora, levando as crianças, em grupo, a tentar analisar as unidades das palavras, estabelecendo uma relação termo a termo entre partes escritas e partes faladas” (LEAL; ALBUQUERQUE; LEITE, 2005, p. 124). Esses argumentos vão ao encontro das considerações tecidas pelas autoras referenciadas que, de acordo com os princípios do Sistema de Escrita Alfabético classificam como “jogos que ajudam a sistematizar as correspondências grafofônicas(p. 119).

Portanto, a atividade lúdica “Letras Suspensas”, pertencente à categoria “A Casa de Doces”, encaixa-se no grupo dos “jogos que ajudam a refletir sobre os princípios do sistema alfabético”. Estes são jogos que ajudam a criança a entender a lógica da escrita, a familiarizar com as letras e seus sons, a descobrir unidades sonoras: sílabas e fonemas, fazendo com que elas compreendam as irregularidades presentes entre a fala e a escrita. Sua principal característica é um trabalho voltado para a composição e a decomposição de palavras, a comparação de palavras escritas e as que

incitam os alunos a ler ou reconhecer palavras, usando os conhecimentos já desenvolvidos sobre a escrita (LEAL; ALBUQUERQUE; LEITE, 2005).

No entanto, após essa elucidação, é possível afirmar que toda a variabilidade de jogo de “A casa de Doces” engloba o desenvolvimento das dimensões da alfabetização explicitadas. Basta conferir na descrição feita da referida modalidade e também no seguinte recorte:

Samira auxiliou a dupla a encontrar a opção de outra modalidade de jogos aglomeradas no link ‘A Casa de Doces’. Para tanto, é necessário manipular a janela principal do software. O jogo escolhido por todas as duplas nesta nova opção foi ‘Escrevendo Palavras’, que consistia em completar com as iniciais das figuras dispostas na tela de modo a formar uma palavra ao final da sequência. Terminado, o jogador conta com o áudio que efetua a leitura do termo formado junto à sua ilustração (Nota de Campo, 31/05/2012 – Escola B).

As demais modalidades contemplam outros aspectos da alfabetização, como o aprendizado das letras do alfabeto e também o reconhecimento das iniciais das palavras. Estamos tratando das atividades dos grupos lúdicos “O Aquário” e “A Sala de Aula”. Os dois trechos a seguir exemplificam:

Na modalidade ‘A Sala de aula’, esta segunda turma optou pelo jogo ‘Qual é a letra’; neste, os jogadores, ou seja, as duplas, devem escutar o áudio pronunciar a palavra, e na tela ficam dispostas quatro opções de letras e a ilustração, e o jogador deve descobrir qual é a inicial do termo pronunciado. Outro jogo escolhido foi ‘O Desafio das Letras’, no qual são dispostos três desenhos na tela, cujas iniciais de seus nomes são as mesmas que devem ser descobertas pelo jogador. O áudio pronuncia o nome dos desenhos e a criança acha e completa com a letra inicial. Para escutar os nomes, basta clicar em cima de cada figura. No jogo ‘As letras estão caindo’, na tela aparece uma letra descendo e, antes que ela chegue à parte inferior da tela, o jogador deve encaixá-la usando os cubos móveis.

As crianças efetuaram tranquilamente cada jogada compartilhando a satisfação com seus pares (Nota de Campo, 31/05/2012 – Escola B).

Uma dupla jogava na opção ‘O Aquário’ ‘O peixe come come’, em que é necessário achar a letra que aparece na tela e completá-la antes que o peixe a devore. Neste, aparecem letras maiúscula e minúscula, porém a opção de letras do alfabeto móvel usado pelas crianças é o das letras maiúsculas no momento, mas o kit tecnológico dispõe do alfabeto minúsculo. Samira me explicou que, como Anita não apresentou à turma o alfabeto minúsculo, ela não trabalha com este também, pois, segundo ela, as crianças ainda ‘não discriminam este tipo de letra’ (Nota de Campo, 31/05/2012 – Escola B). De acordo com Leal, Albuquerque e Leite (2005), essas atividades lúdicas privilegiam o que em suas categorização correspondem aos “jogos de análise fonológica”. São jogos cujo principal

aspecto é fazer com que as crianças compreendam que o princípio básico do sistema de escrita está na relação letras e pauta sonora, e não nos sinais gráficos e significados do objeto; ou seja, não se faz correspondência com a escrita.

Além dessas características da aprendizagem das primeiras letras, a questão da acentuação gráfica também é enfocada, uma vez que existem cubos específicos para esse direcionamento na MEA. Segue o recorte:

Bruno foi familiarizando com a máquina e rapidamente completou GORILA. Beatriz, ao completar MEIA, escutou ao tentar encaixar a letra Í: ‘Essa palavra não tem assento!’ Acho que a garota usou esta letra acentuada por curiosidade mesmo. Augusto gostou da ideia e completou URSO. Para tanto, usou Ô e logo foi informado pelo áudio: ‘Não precisa deste assento!’ (Nota de Campo, 10/05/2012 – Escola C)

Essas experiências ainda nos permitem demonstrar que a atração que as crianças obtêm pelos recursos interativos oferecidos pela MEA é justificada pela interface interativa do computador, mas que acaba tornando-se mais um elemento lúdico. Adiante, segue um trecho ilustrativo:

Danilo também levou tempo para completar e consequentemente entender a dinâmica de montagem das palavras usando mais de uma letra e não somente a inicial e o áudio. Logo, exprimiu: ‘Foi dá uma voltinha!’ Assim, quando o garoto completou o termo BALDE, pôde escutar: ‘Muito Bem!’ (Nota de Campo, 10/05/2012 – Escola C).

O interessante de se perceber nessas utilizações é que a ludicidade, junto à interatividade, é o que de fato inova a forma do conteúdo alfabetizador desenvolvido, proporcionando o que, muitas das vezes, fica ausente no impresso: a reflexão acerca do processo de construção da escrita. Sendo assim, a intenção de aprendizagem via dimensão lúdica se oficializa, pois já é comprovado que o jogo contribui para o desenvolvimento (cognitivo e afetivo) infantil. Quando usados especificamente na alfabetização, os jogos

[...] podem ser poderosos aliados para que os alunos possam refletir sobre o sistema de escrita, sem necessariamente serem obrigados a realizar treinos enfadonhos. Nos momentos de jogo, as crianças mobilizam saberes acerca da lógica do funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens já realizadas ou se apropriando de novos conhecimentos nessa área (BRANDÃO et al., 2008, p. 13).

É preciso reforçar que, para que os jogos atribuam resultado significativo no processo de alfabetização, as circunstâncias de aprendizagem devem ser criadas, a fim de que o potencial educativo do lúdico seja ativado. “Nesse sentido, o professor continua sendo o mediador das relações e precisa, intencionalmente, selecionar os recursos didáticos em função dos seus objetivos, avaliar esses recursos e planejar ações sistemáticas para que os alunos possam aprender de fato” (BRANDÃO et al., 2008, p. 14).

Dando continuidade, é importante lembrar que, para a consolidação do processo de alfabetização, é indispensável compreender os princípios básicos do nosso sistema de escrita. Além disso, não é fácil o entendimento dessa questão da correspondência grafofônica, pois sua natureza perpassa pelas regras ortográficas.

Porém, no que compete ao aprendizado da técnica do processo, este é valorizado, ou seja, a MEA “aplica-se” bem à alfabetização. Já no que compete ao aspecto social da leitura e da escrita, não se valoriza essa função. Leal, Albuquerque e Leite (2005) corroboram essa assertiva ao pontuarem que

[...] não é suficiente entender os princípios do sistema alfabético, ou seja, dominar a escrita alfabética, para ser capaz de ler e compreender textos. Isso acontece por vários motivos: falta de familiaridade com os gêneros textuais que circulam socialmente; falta de conhecimentos prévios referentes aos temas tratados nos textos; dificuldades relacionadas ao desenvolvimento de estratégias de leitura e de escrita; falta de fluência de leitura ou agilidade de escrita, entre outros (p. 126).

4.3 Práticas de Alfabetização e Letramento com o Laptop (PROUCA)