• Nenhum resultado encontrado

Capacitação profissional e suporte pedagógico

No documento UM COMPUTADOR POR ALUNO: (páginas 101-106)

PARTE 2 – UM CoMPUTADoR PoR AlUNo: CoNSIDERAçõES

5. Capacitação profissional e suporte pedagógico

Praticamente todos os professores receberam capacitação antes do início da implantação do projeto. Em geral o primeiro contato dos professores com os equipamentos foi de reconhecimento da má-quina e o que ela poderia oferecer, com exploração dos programas disponíveis. Em alguns casos, a capacitação foi oferecida pelas em-presas envolvidas (Intel, Encore/Telavo, Cisco); nos outros, pelas universidades. Essa exploração inicial foi especialmente relevante no caso do XO, dadas as peculiaridades do protótipo.

Afora a questão operacional, também foram oferecidas capacita-ções sobre o uso pedagógico do laptop, aprendizagem por projetos e situações problema, portais e objetos virtuais de aprendizagem etc. Aí, a introdução ou a ênfase dada às temáticas se diversifica substancialmente, dependendo dos agentes envolvidos. Em Brasília e Palmas, o Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) foi o princi-pal executor dessas capacitações. A escola carioca se beneficiou da estrutura organizada no âmbito do Piraí Digital. As escolas Luciana

série Avaliação de Políticas Públicas | 01

108

de Abreu e Ernani Silva Bruno receberam o apoio da UFRGS e da USP, respectivamente.

Aparentemente, o fato de o professor já haver passado por capacita-ções na área de informática educativa e/ou já utilizar o laboratório de informática da escola em suas aulas reduzem resistência e ansiedade, bem como oferece um estímulo inicial para a experimentação, mas está longe de ser definitivo quanto ao uso do laptop.

Nesse sentido, o que nos pareceu mais decisiva foi a estrutura de su-porte pedagógico. Nas escolas do Rio Grande do Sul e de São Paulo, as universidades estão bastante presentes no trabalho cotidiano dos professores, fazendo, no mínimo, visitas semanais. Contudo, essas vi-sitas têm características bastante distintas.

Na escola gaúcha, a visita semanal se traduz numa reunião de traba-lho, onde os professores, dentre outras atividades, expõem o anda-mento dos projetos de aprendizagem, o interesse e a qualidade dos trabalhos produzidos por seus alunos, trocam experiências e plane-jam as atividades seguintes.

Isso é feito com a ajuda dos coordenadores (externo e da escola). São esses profissionais que estão atentos para sugerir a utilização de determinados recursos tecnológicos oferecidos pelo laptop, que ini-cialmente não foram imaginados pelo professor. A oportunidade é também aproveitada para treinamentos em softwares específicos. Enquanto isso, em São Paulo, essa visita semanal acabou tendo ca-ráter mais disperso, resultando num efeito mais débil sobre a mo-bilização e a motivação da equipe de professores. Efeitos esses que são especialmente relevantes na fase inicial da implementação. Cabe

10

Um Computador por Aluno: a experiência brasileira

próprio corpo gestor e dos professores que, assoberbados por ou-tras tarefas da rotina escolar, viam-se privados do tempo previsto para executá-las. Em compensação, a escola conta com um Pro-fessor Orientador de Informática Educativa (Poie), que oferece o suporte pedagógico de forma mais sistematizada.

Na escola de Tocantins, a estrutura de suporte pedagógico está centrada na figura dos dois coordenadores do UCA, um para os turnos do dia e outro que atua no noturno. Há, ainda, um técnico da Positivo disponível em tempo integral, que capacita os pro-fessores para o uso do portal Aprende Brasil46, e um auxiliar da coordenação de tecnologias, deslocado para reforçar a fase inicial de implantação do projeto.

As escolas do Rio de Janeiro e do Distrito Federal apoiaram-se nas capacitações oferecidas por seus respectivos órgãos gestores. O su-porte mais cotidiano e específico é fornecido pelo coordenador pe-dagógico das unidades.

Na escola da vila Planalto, os professores participam de uma capa-citação continuada ofertada pelo NTE/Seduc. O curso de sessenta horas é realizado no próprio laboratório da escola, durante três ho-ras por semana, no período de coordenação do professor. Em Piraí, 46 ver www.aprendebrasil.com.br. No portal, há opções tanto para educadores como para alunos, focadas no desenvolvimento de conteúdos. Entre outras, estão disponíveis as seguintes ferramentas: dicionário, material interativo; conteúdos especiais sobre fa-tos recentes; texfa-tos de articulistas e especialistas on line; linha do tempo; recomenda-ções de leitura para pais, mestres e alunos; glossário pedagógico no formato wiki, e criação de blogs.

série Avaliação de Políticas Públicas | 01

110

além das reuniões mensais promovidas pela Secretaria Municipal de Educação, há um profissional da Positivo disponível para “ampliar os usos do portal”, mas ele não está sediado na escola, como em Palmas, e suas visitas são mensais.

Importante destacar que se percebe diferença entre a proposta de ca-pacitação continuada e a atuação de um suporte pedagógico. Esse úl-timo se despe do viés formativo para atuar de uma forma mais direta na construção do fazer pedagógico de cada professor. Sua presença cotidiana, centrada nas propostas concretas que o professor elabora e mais consciente das habilidades tecnológicas do docente, faz com que sua intervenção seja mais prática, mais objetiva e, portanto, muito mais efetiva.

Sob essa perspectiva, ele faz a conexão entre as dimensões tecnoló-gica e pedagótecnoló-gica. Além de ajudar a elaborar, ele monitora a execu-ção de algumas atividades para conhecer as facilidades e os proble-mas enfrentados pelo professor ao implementar seu planejamento em sala. De forma sutil, induz a reflexão do professor sobre seu trabalho, confrontando objetivos pedagógicos e práticas. Longe de substituir o professor, seu papel é descortinar possibilidades de uso e ajudá-lo a usufruir do potencial da tecnologia para alcançar uma finalidade pedagógica.

Os experimentos mostraram que o suporte pedagógico também é crítico na fase inicial de implementação. Ao contrário do suporte técnico, cujas demandas podem ser reduzidas – mas dificilmente cessarão com um uso mais massificado dos laptops –, a questão pedagógica pode ser gradativamente absorvida pela escola, à me-dida que seus professores ganhem fluência digital, experimentem

111

Um Computador por Aluno: a experiência brasileira

do coordenador de tecnologia ou outro tipo de profissional capaz de ajudar a escola a se beneficiar da tecnologia na construção do conhecimento de professores e alunos será sempre bem-vinda. Em várias conversas, ouvimos que a capacitação prévia tinha utili-dade curta, pois os alunos suplantavam as habiliutili-dades tecnológicas do professor rapidamente. Essas ironias reforçaram a impressão de que o suporte pedagógico pode ajudar a deslanchar o processo, constituindo-se num diferencial substantivo para garantir que o ní-vel de fluência digital do professor não seja o único determinante para a tecnologia entrar em sala de aula. Pode ser ainda um indutor efetivo de mudanças nas práticas do professor.

Com isso não se pretende afirmar que a capacitação inicial é ir-relevante. Diversas avaliações internacionais apontam que, em al-guns casos, a simples disponibilização dos laptops aos professores, antes dele chegar à sala de aula, ajuda a minimizar inseguranças e resistências.

Com relação à capacitação continuada, o diálogo e a colaboração com os profissionais docentes no planejamento pedagógico são ca-pazes de apontar, de forma bastante precisa, as necessidades de trei-namentos em softwares específicos e de aprofundamento do enfoque pedagógico que a tecnologia deve ter na escola.

Programas de capacitação continuada também devem levar em con-ta a dinâmica do mundo tecnológico e sua velocidade. Novas tec-nologias, softwares e funcionalidades são regularmente oferecidas a

série Avaliação de Políticas Públicas | 01

112

um mercado ávido por inovações e avanços, criando novos níveis de desenvolvimento de fluência digital e requerendo novas habilidades e competências por parte dos profissionais da educação.

No documento UM COMPUTADOR POR ALUNO: (páginas 101-106)