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2.4 Estratégias de sobrevivência

2.4.3 Capital Social

Marx no século XIX definiu capital como produto da mais valia (trabalho não pago) produzida pelo trabalhador e apropriada pelos donos dos meios de produção. A palavra nos remete ao mercado, propriedade privada, trabalho assalariado, recursos econômicos, riqueza e miséria. (D’Araújo, 2003)

As organizações provem de capital para se manterem vivas e funcionando. Elas possuem seu patrimônio (capital próprio) que são seus bens físicos imóveis, móveis e financeiros; e seu capital humano, seus funcionários. Já o trabalhador dessa instituição possui seu capital intelectual conseguido por meio de estudos, treinamentos, experiência, habilidades, técnicas, e por fim, seu capital social construído por meio das suas relações interpessoais e suas redes sociais.

O capital social não deve ser confundido com o capital humano, nem com infra- estrutura. O capital humano engloba as habilidades e conhecimentos dos indivíduos que, em conjunto com outras características pessoais e o esforço despendido, aumentam as possibilidades de produção e de bem-estar pessoal, social e econômico. O capital humano é refletido pela educação, treinamento ou experiência, enquanto o capital social é dado pela existência de estreitas relações interpessoais entre os indivíduos (Coleman, 1988; Lin, 2001). Bourdieu (1985) diz que o composto de benefícios gerados a partir de conexões sociais, nos quais o capital social pode ser convertido, se tornam em determinadas condições, capital econômico. Diferente de outras formas de capital, o capital social não tem uma taxa de depreciação previsível, por duas razões: embora possa se depreciar pelos que não o usam não se deprecia com o uso, pelo contrário, o faz crescer ainda mais (Adler & Kwon, 2002). Fora isso, o capital social possui também em seu conjunto as normas, valores, instituições e relacionamentos compartilhados que permitem a cooperação dentro ou entre os diferentes grupos sociais. Segundo Becker (1993) o efeito do meio social, um estoque de capital social

dos indivíduos depende não primariamente de suas próprias escolhas, mas das escolhas de seus pares em suas redes relevantes de interações.

As redes são portanto, uma forma de capital social na qual os indivíduos estão relacionados entre si por normas e valores comuns, além dos laços econômicos. (Franco, 2001). Já o capital social é a “habilidade das pessoas trabalharem juntas, em grupos e organizações, para atingir objetivos comuns” (Coleman, 1988:95). Para Coleman, o capital social é um recurso para o indivíduo que pertence a uma determinada estrutura, tratando-se de um recurso coletivo. Já Lin (2001) define capital social como recursos incorporados em uma estrutura social que são mobilizados em ações intencionais. Ele é proveniente das relações entre indivíduos, organizações, comunidades ou sociedades. Putnan (1995), de forma semelhante aos outros autores, trata o capital social como um recurso coletivo baseado em normas e redes de intercâmbio entre os indivíduos. Ele define capital social como “aspectos da organização social como redes, normas e confiança social, que facilitam a coordenação e a cooperação em benefício mútuo”. Ainda se pautando no discurso do recurso, Kostova & Roth (2003) classificam como sendo “recursos potenciais que os atores sociais podem mobilizar para conseguir seus objetivos e que estão disponíveis para eles por causa de suas relações sociais com os outros”. Já Oliveira e Silva & Ferreira (2007) definem como um conjunto de redes e normas que permitem a redução dos riscos decorrentes das relações entre desconhecidos e, conseqüentemente, dos custos de transação. O capital social é composto por normas sociais e de estruturas que garantem que as pessoas evitem comportamentos de maximização da utilidade em detrimento dos objetivos do coletivo.

Bourdieu (1985) definiu capital social como o apregador de recursos, reais ou potenciais, que possibilitavam o pertencimento duradouro a determinados grupos e instituições. Ele trata o capital social como a soma dos recursos decorrentes da existência de

uma rede de relações de reconhecimento mútuo institucionalizada. Os recursos são usados pelas pessoas em uma estratégia de progresso dentro da hierarquia social, prática resultante da interação entre o indivíduo e a estrutura (Marteleto, 2002). O Capital social é um meio de reforçar as normas de comportamento entre indivíduos de uma organização agindo como recurso (Walker et al., 1997). Ainda segundo Bourdieu (1985), o capital social pode ser entendido como um conjunto de redes e normas, permitindo a redução dos riscos decorrentes das relações entre desconhecidos e, conseqüentemente, dos custos de transação. Bourdieu (1980) afirma que uma rede tende a reproduzir um padrão de relações de valores individuais na preservação do capital social. A noção de capital social implica uma estratégia de manter a estrutura existente das relações.

Conceituaremos capital social um recurso construído pelos indivíduos por meio de laços de confiança interpessoal dentro das redes utilizado para alcançar seus objetivos profissionais.

Para Nahapiet e Ghoshal (1998), o capital social nas empresas está associado à existência de recursos existentes nos relacionamentos pessoais que podem ser usados em proveito dos indivíduos e das organizações. Eles apontam três aspectos do capital social:

• Estrutural – O indivíduo obtém vantagens, pois inclui a interação social e sua posição na rede, e seus contatos permitem que ele obtenha informações vantajosas (vantagem no acesso a recursos). Ele diz respeito ao padrão geral das relações encontradas nas organizações.

• Relacional – Se refere a ativos que estão residentes nas relações, como a confiança. Ele diga respeito à natureza das ligações entre indivíduos em uma organização. Enquanto a dimensão estrutural incide sobre a conexão dos funcionários, a dimensão relacional incide sobre a qualidade dessa conexão.

• Cognitivo - dimensão de conteúdo ou da comunicação que facilitam a compreensão dos objetivos da coletividade e das normas para atuar naquela sociedade. Ele diz respeito a como os indivíduos das redes sociais compartilham uma perspectiva ou entendimento comuns.

Focando no aspecto relacional, o capital social reflete os potenciais benefícios para os atores que são derivados a partir do conteúdo e da natureza das suas relações com os outros, como indicado pelas crenças e atitudes que os indivíduos detêm para com os outros. Tais crenças e atitudes incluem a confiança e confiabilidade (Fukuyama, 1995; Putnam, 1993; Tsai e Ghoshal, 1998), normas e sanções (Coleman, 1990; Putnam, 1995), as obrigações e expectativas (Burt, 1992; Coleman, 1990; Granovetter , 1985), identidade e identificação (Hakansson & Snehota, 1995; Merton, 1968). Como outras características do capital social, podemos citar como sendo tanto “apropriável” (Coleman, 1988) quanto "conversível" (Bourdieu, 1985). É apropriável no sentido de que a rede de um ator, digamos, os laços de amizade podem ser usados para outros fins, tais como a recolha de informações ou conselhos; e conversível, pois se torna um recurso tanto para o indivíduo como para a organização.

Existe, portanto uma forte relação entre os elementos da estrutura de redes por trás do conceito de capital social que passa a ser um recurso do indivíduo podendo ser utilizado por ele, pela comunidade ou pela instituição, mas que foi construído por meio de suas relações. Um ator cria oportunidades para operações de capital social, pois suas relações externas para outras redes e atores dão a oportunidade de alavancar seus recursos de contatos (Adler & Kwon, 2002).

Coleman (1990) afirma que o capital social é composto de uma variedade de diferentes entidades tendo duas características em comum: todas elas consistem em algum aspecto da estrutura social e facilitam certas ações dos indivíduos que estão dentro da

estrutura. Portanto, o Capital social é o recurso disponível para os atores em função de sua localização na estrutura de suas relações sociais (Adler & Kwon, 2002). A posição de cada indivíduo na rede depende do quanto ele agrega ao capital social do conjunto; e a margem de decisão de cada um está sujeita à distribuição de poder, e dos fluxos de informação (Oliveira e Silva & Ferreira 2007). O capital social, portanto, pode trazer dois tipos de benefícios. Leana & Van Buren (1999) usam os termos benefícios primário e secundário para descrever a forma com que os indivíduos utilizam essas informações: para benefícios pessoais, quando ele utiliza para si mesmo; e quando ele “sofre” os benefícios; ou seja, quando os recursos são utilizados para o bem comum ou da organização. O capital social torna-se, portanto, um “bem” disponível para indivíduos ou grupos. Sua fonte situa-se na estrutura e no conteúdo das relações sociais do ator. Seus efeitos se dão pelos fluxos surgidos a partir da informação, influência e solidariedade disponíveis para o ator (Adler & Kwon, 2002).

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