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Capitalismo Financeiro e o Sistema Bancário

No documento marcosjoseortolanilouzada (páginas 58-61)

CAPÍTILO I CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS SOBRE CLASSE E CONSCIÊNCIA DE

CAPÍTULO 2 O SISTEMA BANCÁRIO E O PROCESSO DE TRABALHO NOS BANCOS

2.1. Capitalismo Financeiro e o Sistema Bancário

Conforme Hilferding (1985), uma das principais características da sociedade capitalista é que nela os produtores são unidades autônomas entre si, movidos pela chamada “iniciativa privada”. Assim, o desenvolvimento da divisão do trabalho, acaba forçando as pessoas se relacionarem umas com as outras, para desta forma, conseguir atender suas necessidades. Como afirma o autor, “esse ato se concretiza na troca de produtos” (HILFERDING, 1985, p.33).

A troca possui uma função fundamental no capitalismo, através dela o bem se converte em mercadoria, em algo que não mais se limita a suprir as necessidades de um indivíduo. Segundo Hilferding (1985),

o bem tornou-se mercadoria porque seus produtos encontraram-se em determinada relação social na qual tem que se defrontar uns com os outros como produtores independentes. É somente sob essa forma que o bem, objeto de normalmente natural e sem qualquer problema, expressão de uma relação social, adquire um aspecto social (p.35).

Neste processo, algumas mercadorias acabam se tornando parâmetro para as trocas, sendo freqüente o seu uso como “padrão de valor”. Quando ocorre esse fenômeno e a mercadoria se transforma numa “referência de valor”, ela se torna “dinheiro”. Hilferding (1985) assim define o dinheiro:

O dinheiro é, assim, mercadoria como todas as outras e, com isso, a materialização do valor. O dinheiro se distingue das demais mercadorias por ser um equivalente delas. É, pois, a mercadoria que expressa o valor de todas as outras (p. 38).

Segundo o autor, o dinheiro, no sistema capitalista, é a mercadoria que expressa o valor de troca de todas as outras, convergindo para si uma “forma imediata de materialização do tempo de trabalho socialmente necessário” para aferir o valor de todas as mercadorias produzidas. Como afirma Marx, “o dinheiro como valor de troca de mercadorias torna-se, dessa maneira, uma mercadoria especial e exclusiva.” (MARX apud HILFERDING, 1985, p.38). Nele também encontramos que o dinheiro é uma mercadoria que tornou-se o “equivalente geral” de qualquer outra. O sistema capitalista, regido pela troca de mercadorias,

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acabou se tornando refém da existência do dinheiro. Ele torna possível a correlação social entre os diferentes produtores através do preço dos seus produtos.

O processo de circulação de mercadorias se desenvolverá na fórmula M-D-M (Mercadoria – Dinheiro - Mercadoria). Neste processo, o dinheiro serve como meio de comprovação de que as condições individuais de produção da mercadoria correspondem às condições sociais de produção. Com o tempo o Estado acabou tomando para si a responsabilidade de emissão do dinheiro na forma de moeda fiduciária, ou seja dinheiro de curso forçado, em quantidade suficiente para permitir a circulação das mercadorias, podendo variar somente de acordo as flutuações nos preços dos produtos.

Hilferding (1985) esclarece que, com a evolução do sistema bancário, os recursos que ficavam ociosos durante o processo produtivo, “entesourados” nas empresas para compensar seus compromissos futuros, acabaram se transformando em depósitos bancários. Os bancos, dispondo de um volume cada vez maior de capitais, utilizaram estes recursos para financiar o desenvolvimento industrial, suprindo suas necessidades de capital circulante e capital fixo. Assim, o setor produtivo adquiriu uma nova dimensão para os bancos, o interesse momentâneo tornou-se permanente, e vice-versa. As empresas acabaram se tornando dependentes do crédito bancário. Conforme o autor,

de fato, com a expansão do sistema de crédito, o volume de capital de toda empresa limitou-se ao mínimo, uma vez que qualquer necessidade repentina ocorrente exige um aumento dos meios líquidos, requerendo uma operação de crédito cujo fracasso poderia significar a quebra da empresa. É a disponibilidade do capital monetário que dá ao banco sua superioridade em relação às empresas, cujo capital está imobilizado como capital de produção ou de mercadorias (HILFERDING, 1985, p.97).

O desenvolvimento do sistema capitalista culminou com o surgimento das Sociedades Anônimas, as S.A.’s, cujo capital pertence a diversos sócios, denominados acionistas. A maioria dos acionistas são capitalistas monetários, que buscam no mercado acionário uma remuneração superior ao juro pago pelo sistema bancário. O acionista “fundador”, ou aquele que detiver o controle acionário da empresa, deverá distribuir apenas parte do lucro para os acionistas, como pagamento de dividendos, suficiente para superar o juro bancário. Assim, conforme Hilferding (1985, p.114), o capitalista fundador retém para si parte do resultado, na forma de “lucro do fundador”.

Os bancos, que tradicionalmente se limitavam a utilizar os capitais administrados para financiar as indústrias, encontraram na aquisição de ações uma dupla oportunidade de

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investimento. Ao se tornarem acionistas, eles podiam fiscalizar e participar da gestão das empresas, reduzindo o risco de inadimplência. Além disso, esse tipo de investimento permitia uma receita contínua sobre o capital monetário, via dividendos, podendo recuperar o capital investido a qualquer tempo através da venda da participação acionária. Como observa Hilferding (1985),

com a sociedade anônima [...], o levantamento do capital não significa para o banco nada mais do que adiantá-lo, parcelá-lo em cotas de participação (ações) e reaver o capital pela venda dessas cotas, ou seja significa fazer um simples negócio monetário do tipo D – D’. (p.124)

Dessa forma, paulatinamente o capital bancário começou e se fundir ao capital produtivo. Na qualidade de grandes acionistas, os bancos se infiltraram na gestão de diversas empresas, através da indicação de representantes em estruturas administrativas como “conselhos fiscais”. Dessa forma, fiscalizavam inclusive a gestão do crédito bancário utilizado pelas empresas. A intensificação deste relacionamento deu luz ao “Capital Financeiro”.

Hilferding (1985) destaca ainda que no processo de formação lucro do setor bancário, uma parte é resultado da aplicação do capital bancário em operações de tesouraria das indústrias, que pode ser entendida como lucro médio no sentido categórico e outra deriva de seu papel como mediador de depósitos e empréstimos, trata-se da diferença entre o juro recebido dos devedores e o juro pago aos credores. Para o autor,

como mediador do crédito, o banco trabalha com todo capital próprio e alheio que dispõe. Seu lucro consiste no juro pelo capital emprestado; seu lucro líquido – depois da dedução das despesas – consiste na diferença entre os juros que lhes são pagos e os que, por sua vez, paga pelos depósitos. Por conseguinte, esse não é lucro no sentido categórico, e seu nível não é dado pela taxa média de lucro. É oriundo do lucro, do mesmo modo que o lucro de outros capitalistas monetários. A posição mediadora do banco na circulação do crédito permite-lhe ganhar não somente como capital próprio, como qualquer outro capitalista monetário, mas também com o de seus credores, a quem paga juro mais baixo do que cobra de seus devedores. Esse juro é apenas uma parte ou uma dedução do lucro médio de nível socialmente já dado. Todavia, esse lucro não entra, de modo algum. Na determinação da taxa média de lucro, como lucro do capital do comerciante e do capital monetário. (p.170)

Tais considerações são pressupostos para que se compreenda a forma como o sistema bancário se estruturou imbricado ao desenvolvimento do próprio capitalismo. No processo de produção e reprodução do capital há que se considerar o lugar ocupado pelo sistema bancário. Setor importante para o modo de produção capitalista, que se ocupa da produção da riqueza revela-se aparentemente distante do lócus da produção. Entretanto, origina-se dele, mas se

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coloca como expressão apartada do sistema de produção de mercadorias, onde se realiza a passagem da fórmula D – D’, sem a medicação da mercadoria, fazendo parte do chamado Setor de Serviços. Sobre ele teceremos algumas considerações para tratarmos especificamente do porcesso de trabalho bancário e, na seqüência sobre o desenvolvimento histórico da instituição bancária que tomamos como espaço onde estão inseridos os trabalhadores objeto de nosso estudo.

No documento marcosjoseortolanilouzada (páginas 58-61)