• Nenhum resultado encontrado

Consoante já verificado, o nome revela-se como um dos Direitos da Personalidade, que se traduzem em “[...] qualidades que se agregam ao homem, sendo intransmissíveis, irrenunciáveis, extrapatrimoniais e vitalícios, comuns da própria existência da pessoa e cuja norma jurídica permite sua defesa contra qualquer ameaça”117, motivo pelo qual serão abordadas as principais características dos Direitos da Personalidade e, por conseguinte, do nome.

3.1.1 Indisponíveis, intransmissíveis, irrenunciáveis e inalienáveis

O CC/2002, no artigo 11, dispõe que os Direitos da Personalidade são

intransmissíveis e irrenunciáveis, posto que “[...] essas características, mencionadas expressamente no dispositivo legal supratranscrito, acarretam indisponibilidade dos direitos da personalidade”118.

A expressão indisponibilidade abrange a intransmissibilidade e a

116 OLIVEIRA, Euclides de. Direito ao nome. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo, v. 11, p. 194, jan. 2003.

117 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Método, 2014. v. 1. p. 149.

118 GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil 1 esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 158.

irrenunciabilidade. A indisponibilidade significa que os Direitos da Personalidade não podem mudar de titular, mesmo que por ato de vontade própria; ao passo que a intransmissibilidade pode ser conceituada como a impossibilidade de ceder o direito de um sujeito para outro; já a irrenunciabilidade se traduz no fato de que o direito ao nome não pode ser abdicado119.

Na irrenunciabilidade, o titular não pode dispor do nome, por razões de ordem privada e pública. No âmbito privado, por exemplo, não é possível que o indivíduo dispense sua identidade assumindo outra, enquanto na esfera pública há o interesse estatal na conservação do nome dos seus integrantes. Oportuno ressaltar que as situações em que se possibilita a troca do nome representam uma exceção à irrenunciabilidade, já que alterá-lo significa renunciar ao nome que se tem para assumir um novo120.

Em que pese o fato de serem indisponíveis, admite-se em casos específicos a relativização dos Direitos da Personalidade através da cessão do exercício (não titularidade), desde que sejam respeitadas a dignidade humana e a inviabilidade de disposição em caráter total ou permanente. Farias e Rosenvald mencionam, como exemplo, o direito à imagem, que, em razão da edição específica de uma revista, pode ser cedido, onerosa ou gratuitamente, por um determinado lapso temporal121.

Para resumir as características abordadas neste tópico, faz-se oportuno trazer à baila os ensinamentos de Rabelo, Viegas e Poli acerca dessa temática:

Os direitos da personalidade caracterizam-se, principalmente, por serem intransmissíveis, pois nascem e se extinguem com os seus titulares: são indisponíveis relativamente, pois são insuscetíveis de disposições, salvo em caso de interesse (cirurgia de adequação de sexo), de vontade própria (exploração de imagem para eventos ou produtos) ou de doação de órgãos; são direitos irrenunciáveis e impenhoráveis122.

Outrossim, os Direitos da Personalidade são inalienáveis, de modo que “não é dado a pessoa transmitir a outrem sua própria identidade, sob pena de negação da própria

119 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: volume 1 - parte geral. 16. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014. p.196.

120 BRANDELLI, Leonardo. Nome Civil da Pessoa Natural. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 64, 66. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502173286/cfi/0>. Acesso em: 08 jan. 2017. 121 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v.1. p. 181, 182.

122 RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo; POLI, Leonardo

Macedo. O direito do transexual de alterar o prenome, o gênero e exercer sua autodeterminação. Revista IOB de Direito de Família, São Paulo, v. 15, n. 82, p. 24, fev./mar. 2014.

personalidade, é bem fora do comércio”123. Dadas as explanações anteriores, tendo em vista que o nome não pode ser objeto de alienação, convém traçar as características que seguem.

3.1.2 Vitalícios, inexpropriáveis, extrapatrimoniais e impenhoráveis

O nome é vitalício, perdura por toda a vida e se extingue apenas com a morte; é essencial e simboliza um mínimo fundamental à vida do indivíduo124. Na esteira desse entendimento, a impossibilidade de renunciá-lo faz com que o nome seja perpétuo, “[...] nascendo e extinguindo-se com a pessoa”125. Em razão de serem vitalícios, os Direitos da Personalidade são inexpropriáveis, “pois, por serem inatos adquiridos no instante da concepção, não podem ser retirados da pessoa enquanto ela viver por dizerem respeito à qualidade humana”126.

Coaduna do mesmo pensamento Felipe Ventin da Silva, ao enfatizar que são “inexpropriáveis, porque nem mesmo o Estado poderá privar o indivíduo desta faculdade”127. Dessa maneira, “os Direitos da Personalidade não são suscetíveis de desapropriação, por se ligarem à pessoa humana de modo indestacável. Não podem dela ser retirados contra a sua vontade nem o seu exercício sofrer limitação voluntária”128. Outrossim, admite-se que os Direitos da Personalidade não apresentam conteúdo econômico, “[...] compostos que são por características imanentes ao próprio ser humano, enquanto ser físico e psicológico, não podem ser valorados em pecúnia, até, porque, como já se disse são inalienáveis”129.

Em regra, os Direitos da Personalidade são impenhoráveis, uma vez que não possuem conteúdo econômico. Sendo assim, são “inerentes à pessoa humana e dela inseparáveis, certamente não podem ser penhorados, pois a constrição é ato inicial da venda forçada pelo juiz para satisfazer crédito do exequente”130.

123 OLIVEIRA, Euclides de. Direito ao nome. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, v. 11, p. 193, jan. 2003.

124 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 60, 61. 125 PELUSO, Cezar; GODOY, Claudio Luiz Bueno de (Coord.). Código Civil comentado: doutrina e

jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.01.2002. 10. ed. Barueri/SP: Manole, 2016. p. 28.

126 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 136. 127 SILVA, Felipe Ventin da. Fundamentos dos direitos de personalidade e o papel da tutela inibitória na sua proteção. Revista Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 85, fev. 2011. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8955>. Acesso em: 04 fev. 2017. 128 GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil 1 esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 159.

129 ASSIS NETO, S. J. de; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria Izabel de. Manual de direito civil. 5. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016. p. 162.

César Fiuza ensina que os Direitos da Personalidade “são extrapatrimoniais ou existenciais por não terem natureza econômica-patrimonial”131. A extrapatrimonialidade não impede que, em algumas situações, em especial em caso de violação, esses direitos possam ser mensurados economicamente. Como exemplo destacam-se os direitos autorais, que se dividem em morais e patrimoniais (direitos de dispor e utilizar a obra, facilmente aferíveis em dinheiro). Também se faz necessário observar que, ainda que os direitos morais do autor não possam ser penhorados, é possível ocorrer a penhora dos créditos da cessão de uso do direito à imagem132. Esse fato constitui uma exceção à característica da impenhorabilidade.

Nesse contexto, é imperioso lembrar os dizeres de Francisco Amaral acerca do nome, quando aponta ser “[...] extrapatrimonial, porque não são avaliáveis em dinheiro, salvo os direitos de autor e de propriedade industrial, que têm regime próprio”133. Destaca-se que o nome, como um dos Direitos da Personalidade, é absoluto, imprescritível e ilimitado, características que serão expostas a seguir.

3.1.3 Absolutos, imprescritíveis e ilimitados

Os Direitos da Personalidade constituem prerrogativas subjetivas, de modo que no polo ativo se encontra a pessoa titular desse direito e no passivo figura a coletividade, que tem o dever jurídico de respeitar a individualidade, a honra e o nome de cada indivíduo. A partir disso, é possível deduzir que os Direitos da Personalidade são absolutos, oponíveis erga omnes134. Nesse sentido, “opõem-se à observância de todos, como predicado da proteção da dignidade da pessoa humana”135 e “[...] contém em si um “dever geral de abstenção”136.

Ademais, insta observar que o direito ao nome é imprescritível, ou seja, pode ser a todo tempo exercitado, mantém-se íntegro independentemente do uso, de modo que o indivíduo não pode perdê-lo pelo desuso nem adquiri-lo pela posse137. César Fiúza enfatiza que os nomes “são imprescritíveis por não haver prazo para o seu exercício. As ações que os

131 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais; Belo Horizonte: Del Rey, 2014. p. 206.

132 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 198.

133 AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. p. 304. 134 NADER, Paulo. Curso de direito civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. v. 1. p. 185, 186. 135 ASSIS NETO, S. J. de; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria Izabel de. Manual de direito civil. 5. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016. p. 164.

136 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 152.

137 OLIVEIRA, Euclides de. Direito ao nome. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo, v. 11, p. 195, jan. 2003.

protegem tampouco se sujeitam a prazo”138.

Flávio Tartuce e parte da doutrina, como Maria Helena Diniz, Francisco Amaral e Gagliano e Pamplona, defendem que os Direitos da Personalidade, por envolverem matéria de ordem pública, são imprescritíveis, inexistindo um prazo para o exercício dessa prerrogativa. Para o doutrinador, essa corrente tem maior harmonia com a valorização da dignidade humana presente no texto constitucional (art. 1º, III)139. Tartuce alude, ainda, que há um segundo posicionamento minoritário, defendido por Carlos Roberto Gonçalves, que aduz que o direito é imprescritível, mas a ação ou pretensão para reparar os danos prescreve em três anos, com fulcro no artigo 206, § 3º, V, do CC/2002140.

Ademais, os Direitos da Personalidade são ilimitados, uma vez que não estão restritos ao que foi previsto na lei, sendo impossível prever quais desses direitos serão futuramente tipificados. O CC/2002, nos artigos 11 a 21, traz um rol meramente exemplificativo, uma vez que é impossível existir um numerus clausus acerca desses Direitos141. Apontado esse cotejo a respeito das características apresentadas, tratar-se-á, da exclusividade do nome.

3.1.4 Exclusivos

Rubens Limongi França assenta que “O direito ao nome é um direito exclusivo, quer dizer, é um direito absoluto, exercitável erga omnes”142. Desse modo, o nome permite identificar de forma única a personalidade do seu titular, de maneira que os indivíduos podem impedir o seu emprego quando causar confusão da personalidade e ofensa à exclusividade. A exclusividade do nome apresenta uma face positiva, que possibilita ao titular empregá-lo de modo exclusivo e excludente, e outra negativa, que estabelece que é oponível contra todos143.

138 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais; Belo Horizonte: Del Rey, 2014. p. 207.

139 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 08 jan. 2017. 140 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Método, 2014. v. 1. p. 162, 163.

141 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 188, 189. 142 FRANÇA, Rubens Limongi. Do nome civil das pessoas naturais. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. p. 188.

143 BRANDELLI, Leonardo. Nome Civil da Pessoa Natural. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 73. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502173286/cfi/0>. Acesso em: 08 jan. 2017.

Insta destacar que a exclusividade do nome não se trata de uma questão unívoca na doutrina. Segundo Monteiro e Pinto, “o nome civil não é exclusivo; ninguém pode impedir que outrem seja registrado ou faça uso do mesmo nome”144. Na trilha desse entendimento, Chaves e Rosenvald declaram que a exclusividade é “característica inerente, apenas, à pessoa jurídica, uma vez que é impossível ser aplicada à pessoa natural, a quem se permite a homonímia”145.

Dadas essas colocações, é possível aferir “que a maioria das características dos Direitos da Personalidade reconhecidas pelas fontes formais e materiais do direito são voltadas a sua proteção em face de terceiros, de forma passiva ou negativa”146. Nessa via, o estudo será aprofundado na característica da obrigatoriedade do nome e, em momento posterior, serão descritas formas de protegê-lo.

3.2 OBRIGATORIEDADE DO REGISTRO CIVIL E A PROTEÇÃO LEGAL DO NOME