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A possibilidade de alteração do prenome do transexual à luz do princípio da dignidade da pessoa humana

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARINA MATOS SCHELEMBERG

A POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO PRENOME DO TRANSEXUAL À LUZ DO PRÍNCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Florianópolis 2017

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A POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO PRENOME DO TRANSEXUAL À LUZ DO PRÍNCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Jeferson Puel, Me.

Florianópolis 2017

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, que iluminou essa minha longa jornada, dando-me força, coragem, determinação e perseverança para seguir em frente.

À minha amada mãe, Ione (in memoriam), por simplesmente tudo. Minha alma gêmea, minha melhor amiga, meu porto seguro e grande responsável pela minha formação pessoal. Presença espiritual que me revela os caminhos dessa longa jornada da vida, mas não faz desaparecer a imensa saudade.

Ao meu pai, por ter sempre priorizado minha educação e por ser o grande incentivador para ingressar e concluir essa segunda graduação, fazendo-me acreditar que esse sonho seria possível.

Aos meus irmãos, exemplos de determinação, responsabilidade e sabedoria. Aos meus amados sobrinhos Helena, Leonardo e Vinicius, pelos momentos de alegria e diversão.

À minha prima Bárbara, pelo incentivo e pela grande ajuda com o fornecimento de material para a realização deste trabalho.

Às minhas amigas Cecília e Candice e à minha tia Myriam, que me deram forças para recomeçar e superar momentos de muita tristeza e dor.

Dedico especial agradecimento ao meu marido, meu grande amor, companheiro incondicional, amigo e parceiro de todos os momentos felizes e, também, difíceis de nossas vidas. Agradeço por toda a ajuda, paciência e por compreender os momentos de ausência durante esses cinco anos de graduação.

À família do meu marido, em especial meus sogros – Guto (in memoriam) e Tânia –, que me acolheram como uma filha e me apoiaram em todos os momentos dessa minha caminhada.

À Patrícia, Cristielle, Alethéia, Júlia e Grace, pelas lições de amizade e companheirismo. Foi um grande privilégio encontrar pessoas como vocês.

Ao meu orientador, professor Jeferson Puel, verdadeiro mestre, sempre disposto a ajudar e orientar, passando todo o suporte e o ensinamento necessários para concluir a monografia.

A todos aqueles que compreenderam meu grande período de ausência e me incentivaram no decorrer da monografia.

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O presente trabalho tem como objetivo verificar a possibilidade de os transexuais alterarem o prenome no registro civil de nascimento. Utiliza-se, para isso, o método dedutivo, de procedimento histórico e monográfico, com técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Para uma melhor contextualização do tema, inicia-se trazendo à baila a evolução histórica, o conceito, a natureza jurídica e os elementos formadores do nome. Apresentam-se as principais características e as funções/princípios do nome, de modo que se dedica atenção especial à sua função de adequar-se ao sexo do seu titular, a fim de que sejam resguardados os princípios da razoabilidade, isonomia, felicidade e, em especial, dignidade da pessoa humana. Apontam-se as hipóteses legais de mudança de nome e, consequentemente, a relativização do princípio da imutabilidade. Adentra-se no conceito de transexuais, na possibilidade da realização da cirurgia de redesignação sexual e na ausência de previsão legislativa brasileira que discipline a ideia de os transexuais alterarem o prenome. Por fim, cotejam-se as decisões jurisprudenciais acerca do assunto. Diante da discussão, constata-se como resultado dessa pesquisa monográfica que o princípio da dignidade da pessoa humana é o fundamento que tem possibilitado a alteração do prenome do transexual, mesmo nas situações em que não tenha realizado a cirurgia.

Palavras-chave: Alteração do prenome. Transexuais. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

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1 INTRODUÇÃO ... 8

2 O NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL ... 10

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ... 10

2.2 CONCEITO ... 13

2.3 NATUREZA JURÍDICA DO NOME ... 16

2.3.1 Teorias ... 17

2.3.2 O nome como Direito da Personalidade ... 18

2.4 FORMAÇÃO DO NOME ... 20

2.4.1 Prenome e sobrenome ... 21

2.4.2 Outros elementos de formação do nome... 23

2.5 FORMAS DE AQUISIÇÃO/PERDA DO NOME DE FAMÍLIA ... 24

2.5.1 Casamento, União Estável, Viuvez e Divórcio ... 25

2.5.2 Filiação socioafetiva, Adoção e Ato do próprio interessado ... 27

3 PARTICULARIDADE DO DIREITO AO NOME E À IDENTIDADE ... 30

3.1 CARACTERÍSTICAS ... 30

3.1.1 Indisponíveis, intransmissíveis, irrenunciáveis e inalienáveis ... 30

3.1.2 Vitalícios, inexpropriáveis, extrapatrimoniais e impenhoráveis ... 32

3.1.3 Absolutos, imprescritíveis e ilimitados ... 33

3.1.4 Exclusivos ... 34

3.2 OBRIGATORIEDADE DO REGISTRO CIVIL E A PROTEÇÃO LEGAL DO NOME 35 3.3 FUNÇÕES/PRINCÍPIOS DO NOME ... 40

3.3.1 Conceito de princípio... 40

3.3.2 Princípios/Funções ... 42

3.4 NOME E IDENTIDADE DE GÊNERO: PRINCÍPIOS CORRELATOS ... 43

4 POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DO PRENOME DO TRANSEXUAL À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 49

4.1 PRINCÍPIO DA (I)MUTABILIDADE DO NOME E SEGURANÇA JURÍDICA... 49

4.2 HIPÓTESES LEGAIS DE MUDANÇA DO NOME ... 51

4.2.1 Erro de grafia e homonímia ... 52

4.2.2 Exposição ao ridículo... 53

4.2.3 Coação ou ameaça em vítima e apelido público e notório ... 54

4.2.4 Maioridade ... 56

4.3 TRANSEXUAIS ... 57

4.3.1 Conceito e formas de manifestação da sexualidade ... 57

4.3.2 Cirurgia de Redesignação sexual e direito ao próprio corpo ... 60

4.3.3 Ausência de previsão legislativa brasileira acerca dos direitos dos transexuais e do uso do nome social ... 61

4.4 ALTERAÇÃO DO PRENOME DO TRANSEXUAL À LUZ DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ... 63

4.5 DECISÕES JUDICIAIS A RESPEITO DA TEMÁTICA ... 69

4.5.1 Apelação nº 2014.074259-6 - SC ... 71

4.5.2 Apelação nº 2011.034720-1 - SC ... 73

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1 INTRODUÇÃO

O nome é relevante no ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que se trata de um Direito da Personalidade que carrega a função primordial de distinguir e identificar seu titular. Em decorrência das novas demandas sociais e a fim de garantir valores como a dignidade humana, o princípio da imutabilidade resta relativizado, de modo que há dispositivos legais que tutelam possíveis retificações do nome.

Em que pese a mitigação do referido princípio, não há previsão legal que possibilite ao transexual alterar o prenome no registro civil de nascimento. Diante dessa lacuna, oportuno se faz o desenvolvimento do presente estudo na veemência de responder a seguinte questão: Em que hipóteseso transexual pode alterar o prenome no registro civil?

Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo principal verificar a possibilidade de os transexuais alterarem o prenome no assentamento de nascimento, seguido dos objetivos específicos, que versam sobre as seguintes questões: apontar os principais aspectos do nome; contextualizar o direito ao nome na ordem jurídica; e demonstrar a possibilidade de os transexuais modificarem o prenome à luz do princípio da dignidade da pessoa humana.

O tema torna-se relevante para o presente estudo na medida em que o país presencia grandes avanços científicos e tecnológicos, responsáveis por mudanças nos hábitos e costumes humanos. Nesse viés, o direito não pode ficar inerte frente à evolução da civilização, de forma que os membros do Congresso Nacional, o Judiciário e os operadores do Direito têm o dever de resguardar esse grupo de indivíduos que não possuem suas prerrogativas amparadas por leis específicas.

Sem uma lei que defina os procedimentos da alteração dos documentos para pessoas transexuais, esses indivíduos buscam o Poder Judiciário para o reconhecimento de sua identidade. Nesse contexto, dado que a alteração do prenome dos transexuais ainda gera preconceito e restrições, faz-se urgente uma maior regulamentação, a fim de que esses indivíduos sejam protegidos e respeitados.

Para melhor compreensão do tema, a presente pesquisa foi dividida em três capítulos teóricos. O primeiro apresentará a evolução histórica, o conceito, a natureza jurídica, bem como a descrição dos elementos formadores e dos modos de aquisição/perda do nome de família. Sucessivamente, no segundo capítulo buscar-se-á informar as principais características do Direito da Personalidade e, por conseguinte, do nome, bem como elucidar a

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obrigatoriedade do registro civil e as formas de protegê-lo. Visa-se ainda ao apontamento das funções/princípios do nome, dentre os quais se destaca a função de identificar o sexo do seu titular, de forma que foram trazidos à discussão os princípios da razoabilidade, da isonomia e da felicidade.

Em relação à estrutura do terceiro capítulo, será apresentado o princípio da imutabilidade e as hipóteses legais de mudança do nome. Em seguida, trará o conceito de transexuais, as formas de manifestação da sexualidade e a possibilidade da realização da cirurgia de redesignação sexual. Relatar-se-á a ausência de previsão legislativa no Brasil acerca dos direitos dos transexuais e o uso nome social. Por derradeiro serão apresentadas a possibilidade de alteração do prenome dos transexuais à luz do princípio da dignidade da pessoa humana e de decisões judiciais acerca do assunto.

A motivação para escolha do tema decorreu da verificação de um aumento dos debates travados no âmbito jurídico em torno dessa celeuma, cujo objeto está relacionado com a necessidade de autorização judicial para que transexuais possam modificar seus nomes nos assentamentos civis, levando o jurisconsulto a buscar formas de adequar dignamente esses indivíduos na sociedade.

O presente trabalho monográfico valeu-se do método dedutivo de abordagem, que partirá de uma premissa geral, um modelo extremamente genérico, para uma premissa específica. Em se tratando da natureza, é utilizado o método qualitativo, advindo dos conceitos e das teorias dos autores pesquisados e de procedimento histórico, utilizando-se basicamente de pesquisa bibliográfica, fomentada pela doutrina, bem como de pesquisa documental, amparada na legislação e na jurisprudência.

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2 O NOME CIVIL DA PESSOA NATURAL

O nome possibilita a identificação do indivíduo, sendo considerado um direito fundamental inerente ao ser humano1. Desse modo, “ganha especial importância na ordem jurídica, pois constitui uma marca exterior, o que facilita a aplicação da lei no que tange o reconhecimento de direitos e obrigações às pessoas, devendo, portanto, receber especial proteção do Estado”2.

Esse capítulo dedica-se à exposição da evolução histórica, do conceito, da natureza jurídica, bem como à descrição dos elementos formadores e dos modos de aquisição/perda do nome de família.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O nome “integra a personalidade por ser o sinal exterior pelo qual se designa, se individualiza e se reconhece a pessoa no seio da família e da sociedade”3, sendo “[...] um dos meios mais essenciais da personalidade”4, dessa maneira convém traçar os aspectos históricos relevantes a respeito do surgimento dos Direitos da Personalidade.

A preocupação com a pessoa e com a personalidade teve início no direito antigo, em especial nas cidades Gregas e Romanas. Na idade Média, a Magna Carta (1215) resguardava algumas garantias legais em favor do amparo e da assistência a necessitados, em especial no tocante ao acesso à justiça. É com o Renascimento, o Humanismo do Século XVI e o Iluminismo dos séculos XVII e XVIII que os valores fundamentais dos indivíduos passaram a ser tutelados, de modo que ocorreu a promulgação de diversas declarações e conferências internacionais, dentre as quais se destacam o Bill of Rights (1969); a Declaração Americana (1776); a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), decorrente da Revolução Francesa; e a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948)5.

Essas declarações se tornaram marcos históricos na construção e no reconhecimento dos Direitos da Personalidade. Toda essa preocupação com o indivíduo

1 NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JÚNIOR, Nelson. Instituições de direito civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. v. 1. p. 20.

2 BORGES, Michelle de Souza. Direito à identidade: o transexual e sua autonomia corporal. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/842>. Acesso em:10 mai. 2017.

3 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 231. 4 MORAIS, Maria Celina Bodin. Sobre o Nome da pessoa Humana. Revista da Emerj, v. 3, n. 12, p. 49, 2000. Disponível em:<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista12/revista12_48.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.

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influenciou as Constituições dos países signatários a inserirem nas respectivas legislações meios de tutelar os direitos humanos, cujas teorias vinham sendo construídas nos países europeus, em especial Alemanha e França. A partir da promulgação da Lei Fundamental Alemã, em 1949, denominada Constituição de Born, outras nações-membros da Comunidade Europeia passaram a proteger os Direitos da Personalidade nos textos constitucionais. Nesse contexto, impende destacar as Constituições Italiana (1974), Portuguesa (1976) e Espanhola (1978)6.

No Brasil, segundo Fábio Ulhoa Coelho7, os Diretos da Personalidade – intimidade, vida privada, imagem, honra e nome – passaram a ser protegidos a partir do advento da Constituição da República Federativa do Brasil8. Dessa forma, é possível aferir que, com o fenômeno da constitucionalização do Direito Civil, que nas palavras de César Fiúza significa que “[...] as normas civis têm que ser lidas à luz dos princípios e valores consagrados na Constituição”9, concretizaram-se os Direitos da Personalidade na realidade jurídica pátria, de modo que foi possível vislumbrar a importância do Direito Civil nas relações interpessoais10. Assim, pela primeira vez, o CC/2002 dispôs acerca dos referidos Direitos, nos artigos 11 a 21, dentro do título relativo às pessoas naturais11.

Realizada a digressão histórica preliminar a respeito dos Direitos da Personalidade, que contemplam o direito ao nome, na medida em que se trata de importante conquista da humanidade, faz-se oportuno trazer à baila o histórico acerca da evolução do nome civil.

Desde os tempos mais remotos o nome foi reconhecido como um atributo imprescindível da personalidade, dado que a partir do momento em que as pessoas passaram a oralizar as suas reflexões e opiniões surgiu a necessidade de denominar os seus semelhantes e

6 SZANIAWSKI, Elimar. Direitos de personalidade e sua tutela. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 49-61.

7 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 1. p. 192. 8Art. 5º, inc. X: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”; inciso LXXVI: “São gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento [...]”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 8 dez. 2016. 9 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais; Belo Horizonte: Del Rey, 2014. p. 145.

10 CAPPELLETTI, Priscilla Lemos Queiroz. O nome civil do transexual: uma análise a partir da realidade jurídica pátria. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 17, n. 123, abr. 2014. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/index.php%3Fn_link%3Drevista_artigos_leitura%26artigo_i d%3D13175%26revista_caderno%3D8?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13929&revista_caderno=7>. Acesso em: 15 dez. 2016.

11 BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:

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as coisas12. Nas sociedades primitivas, chamadas patriarcais, os indivíduos apresentavam um nome único, que tinha a missão de identificá-los no âmbito familiar. Com o crescimento populacional tornou-se necessária a propagação de uma nova forma de identificação, que ofertasse um complementoao nome13.

Na Grécia Antiga empregava-se um único nome, como Aristóteles, Platão, Ulisses. Em razão da complexidade da cidade-estado, tornou-se necessário acrescer outros elementos ao nome, a fim de expressar a origem familiar ou o agrupamento social a que pertencia o indivíduo. Igualmente aconteceu em Roma, que adotava um reduzido número de prenomes aos quais se inseriam outros elementos designativos. No caso das mulheres, empregava-se, ao lado do nome próprio, o do pai ou o do marido. Os escravos tinham seu nome ao lado do de seu patrão. A plebe possuía um nome único ou, no máximo, dois elementos. O povo hebreu, por sua vez, empregava o nome simples para identificação, acrescentado a filiação de origem ou um elemento topográfico. Os bárbaros tinham seus nomes tirados das qualidades pessoais, como Guerreiro, Valente, ou da profissão adotada, como Monteiro, Ferreira14.

Na mesma linha de pensamento, Monteiro e Pinto asseveram que os gregos tinham um nome único, de modo que não era transmitido aos descendentes. Da mesma maneira, os hebreus utilizavam um único nome. No entanto, à medida que as comunidades se multiplicavam, as pessoas passaram a ser individualizados pelo seu nome ligado ao do seu genitor. Em Roma, o nome era formado por três elementos: o gentílico (empregado por todos os membros que tinham gens)15, o prenome (ou nome próprio) e o cognome16.

Na Idade Média, com a difusão do cristianismo, o prenome passou a ter grande importância, sendo, de regra, o único nome adotado, extraído, em geral, do nome de santos. Ao prenome de batismo, todavia, foram sendo inseridos o nome do progenitor e nomes originários de lugares, profissões, dentre outros, de modo que passavam a ser hereditários, surgindo o patronímico. Na Alta Idade Média, volta a viger o sistema de adoção de um só

12 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 1. p. 198.

13 CAMARGO, Mateus Travaioli. O princípio da imutabilidade do Nome e a sua Flexibilização na Sociedade jurídica. Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 10, n. 10, p. 214, 2013. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistas-metodista/index.php/RFD/article/.../4074>. Acesso em: 08 dez. 2016.

14 OLIVEIRA, Euclides de. Direito ao nome. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo, v. 11, p. 195-196, jan. 2003.

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Gens. Direito romano. Conjunto de pessoas ligadas a um antepassado comum, por serem deles descendentes. DINIZ, Maria Helena. Gens. Dicionário jurídico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 2. p. 765.

16 MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. p.118-119.

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vocábulo, sendo que, a partir do século IX, começa-se a acrescentar ao prenome um segundo elemento de identificação pessoal, embora este não fosse transmissível hereditariamente17.

Assim, foi apenas na Idade Moderna que se retornou à adoção do nome composto tendo como elementos o prenome, como designação do indivíduo, e o sobrenome, sendo este transmissível hereditariamente18. Luís Guilherme Loureiro afirma que “o sistema onomástico passou, portanto, do nome único ao nome composto por dois elementos: o prenome e o nome de família ou sobrenome, que geralmente correspondia a um lugar, uma atividade ou uma função”19.

No Brasil, o nome foi regulado como uma questão de Estado, a partir do momento que foi compreendido, historicamente, como meio imprescindível para certificar a segurança coletiva através da identificação precisa do indivíduo no meio social20. Impende informar que a Lei de Registros Públicos (LRP)21 é responsável por disciplinar os serviços concernentes a

esses registros, contemplando a obrigatoriedade do assento de nascimento, com a indicação do prenome e do sobrenome22. Tendo em vista a importância do nome como elemento individualizador da pessoa, é considerável trazer à discussão o conceito do nome na visão de alguns doutrinadores.

2.2 CONCEITO

É de fundamental importância esclarecer que a ordem jurídica admite duas espécies de pessoas: a natural (ser humano, chamado em alguns países de pessoa física) e a jurídica (conjunto de indivíduos que se unem em prol de um objetivo comum)23. O presente trabalho se dedica ao estudo do nome da pessoa natural. Convém evidenciar que o Título I do Livro I do CC/2002 conceitua, no artigo 1º, as pessoas naturais como sujeitos de direitos e

17 BRANDELLI, Leonardo. Nome Civil da Pessoa Natural. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 23. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502173286/cfi/0>. Acesso em: 08 jan. 2017.

18 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Maria Celina Bodin de. Instituições de direito civil. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. 1. p. 206.

19 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 62. 20 SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade: revista e atualizada. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 189.

21 BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 19 dez. 2016. 22 OLIVEIRA, Euclides de. Direito ao nome. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo, São Paulo, v. 11, p. 200, jan. 2003.

23 GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil 1 esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 104.

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deveres24. A partir dessa diferenciação, é oportuno tecer o conceito de nome da pessoa natural.

Cumpre informar que, de acordo com o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda25 e com o Dicionário Eletrônico Priberam26, nome é a “palavra que designa pessoa, animal ou coisa (concreta ou abstrata)”. Complementando, Denis Alland e Stéphane Rials, no Dicionário de Cultura Jurídica, assentam que “o nome é sinal de pertencimento (família, cidade, tribo, nobreza etc.) [...]. Daí a importância do nome e da proteção que eventualmente lhe pode ser dada”27.

Na esfera jurídica, o nome assume relevada importância, visto que é considerado um dos principais Direitos da Personalidade, em razão de permitir a identificação da pessoa natural, sendo, dessa forma, amparado pelo Direito Constitucional, Civil e Penal28. Assim, o nome pode ser conceituado como “elemento designativo do indivíduo e fator de identificação na sociedade, integra a personalidade, individualiza a pessoa e indica grosso modo sua procedência familiar”29.

Interessante aferir que o nome permite a identificação dos indivíduos como sujeitos de direitos e deveres, constituindo a maneira pela qual a pessoa é individualizada, sendo responsável pela designação dos seres no meio social e no contexto das relações jurídicas que transpassam a vida civil. Nesse norte, o nome é responsável por tutelar o direito à identidade do indivíduo, à honra, à imagem, enfim, trata-se de um direito pessoal que recebe do ordenamento jurídico conteúdo publicístico30,31.

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“Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 08 dez. 2016. 25 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda; SILVEIRA, Alzira Malaquias da; FERREIRA, Marina Baird (Coord.). Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 6. ed. Curitiba: Positivo, 2004. p. 580.

26 Nome. In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 2010. Disponível em: <https://www.priberam.pt/dlpo/nome>. Acesso em: 14 jan. 2017.

27 ALLAND, Denis; RIALS, Stéphane (Org.); FREITAS, Márcia Villares de (Org.) (Rev.). Dicionário da cultura jurídica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. p. 1.237.

28 ARAUJO, Aricele Julieta Costa de. A importância e a possibilidade de alteração do nome civil das pessoas naturais. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 116, set. 2013. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13616>. Acesso em: 15 dez. 2016.

29 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Maria Celina Bodin de. Instituições de direito civil. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. 1. p. 206.

30 “Publicístico: o que qualifica aquilo que se relaciona com o poder estatal, interesse público ou da

coletividade”. DINIZ, Maria Helena. Publicístico. Dicionário jurídico. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 3. p. 1.019.

31 RODRIGUES, Marcelo. Tratado de registros públicos e direito notarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 73-74.

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Nesse ínterim, Gagliano e Pamplona asseveram que o nome da pessoa natural é “o sinal exterior mais visível de sua individualidade, sendo através dele que a identificamos no seu âmbito familiar e no meio social”32. Isso porque o direito ao nome é absoluto, representa um interesse essencial da pessoa e todos têm obrigação de respeitá-lo. Aperfeiçoando as colocações, Amaral sublinha que o nome é intransmissível, imprescritível e irrenunciável, assim como os demais Direitos da Personalidade, de modo que seus preceitos legais são de ordem pública, sendo, desse modo, interrogáveis33.

Ratificando os ensinamentos dos doutrinadores supracitados, Farias e Rosenvald aludem que, reconhecido como Direito da Personalidade, o direito ao nome é absoluto, obrigatório, exclusivo, imprescritível, inalienável, privativo, inexpropriável, irrenunciável e intransmissível. Devido ao fato de estar intimamente ligado à identidade da pessoa, possibilitando sua identificação no meio social, o nome apresenta imutabilidade relativa, podendo ser alterado apenas em casos excepcionais, devidamente motivados e desde que não representem riscos a terceiros34.

Nessa esteira, o nome, além de ser um dos atributos da personalidade, trata-se do modo pelo qual a pessoa é individualizada e conhecida no mundo. Para pessoas com o mesmo nome (homônimos), utiliza-se, para distingui-las, os dos pais ou, caso estes sejam comuns, os dos avós35. Fábio Ulhoa Coelho prossegue assentando que o nome é a forma de identificar a pessoa natural, sendo a principal maneira de distinção de homens e mulheres. Sua importância, além de jurídica, é psicológica, sendo considerado o alicerce para construção da personalidade36.

A esse respeito assevera Pontes de Miranda que “cada ser humano que nasce há de ter, na vida social, um nome. Assim o exige o tráfico dos atos humanos”37. É possível afirmar que é através do nome que a imagem se revela e o indivíduo se faz presente, no ambiente jurídico, como sujeito de direitos e obrigações38. Coaduna o mesmo pensamento

32 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 16. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 160.

33 AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. p. 327. 34 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 1. p. 287.

35 DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 46-47.

36 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 1. p. 194. 37 MIRANDA, Pontes de; MARTINS-COSTA, Judith; HAICAL, Gustavo; SILVA, Jorge Cesa Ferreira da. Tratado de direito privado: tomo I - parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 352.

38 NERY, Rosa Maria Andrade; NERY JÚNIOR, Nelson. Instituições de direito civil. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 1, p. 19-20, 2015.

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Loureiro, ao definir que o nome é “um elemento de identificação que individualiza o ser humano, distingue-o dos demais membros da família e da sociedade”39.

Nesse diapasão, Arnaldo Rizzardo assenta a respeito da definição do nome civil da pessoa natural, que:

De sorte que o nome, mais que uma simples palavra que serve para destacar as pessoas entre si, passa a constituir um patrimônio, um símbolo de valor, revela uma história, uma realidade de acordo com o desempenho de quem representa. Os que passaram pela história e permaneceram, as pessoas famosas, os conquistadores, os sábios, os que sobressaíram, e mesmo os maiores criminosos, os que a história condenou e repudiou continuam conhecidos porque vinculados a um nome40.

Após um passeio pelos diferentes conceitos doutrinários, é possível sustentar que o nome tem o papel primordial de identificar e individualizar as pessoas, permitindo a vida em sociedade. Nesse norte, será tratada, para continuidade deste trabalho monográfico, a natureza jurídica do nome.

2.3 NATUREZA JURÍDICA DO NOME

A natureza jurídica do nome foi motivo de constantes debates, na medida em que este apresenta um caráter dúplice. A conotação de direito público advém da obrigatoriedade da adoção de um nome, a fim de que os indivíduos sejam diferenciados na sociedade e que seja possível imputar-lhes prerrogativas e deveres. Apresenta, também, um aspecto de direito privado, dado que cada pessoa tem direito a um nome, podendo protegê-lo e fazer uso exclusivo dele. Em razão dessa dicotomia, várias são as teorias a respeito da natureza jurídica do nome41.

Faz-se oportuno ressaltar que serão tratadas neste estudo as Teorias que alcançaram maior destaque no mundo jurídico, dentre as quais a Teoria do Direito de Propriedade, do Estado, da Polícia Civil, a Negativista e a Teoria do Nome como Direito da Personalidade. Nesse aspecto, cabe informar que essas Teorias foram lançadas a fim de que fosse possível evidenciar que a prerrogativa ao nome está intimamente ligada aos Direitos da Personalidade.

39LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 62. 40 RIZZARDO, Arnaldo. Introdução ao direito e parte geral do Código Civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 237.

41 BRANDELLI, Leonardo. Nome Civil da Pessoa Natural. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 48. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502173286/cfi/0>. Acesso em: 08 jan. 2017.

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2.3.1 Teorias

A Teoria do Direito de Propriedade considerava o nome como um direito patrimonial. Trata-se da mais antiga das Teorias, que deixou de possuir credibilidade em razão da vulnerabilidade de seus argumentos, bem como o fato de a propriedade apresentar características incompatíveis com o nome42.

Essa Teoria, denominada também como Dominial, considerava o nome um Direito de Propriedade que deveria ser usufruído pelo titular de maneira absoluta. A jurisprudência francesa durante um longo período defendeu a Teoria supradita, apesar das opiniões divergentes, que sustentavam que a propriedade é alienável, prescritível, dotada de valor econômico intrínseco e exclusiva, enquanto o nome, ao contrário, é inalienável, imprescritível, não tem valor econômico próprio e não pode ser dotado de exclusividade43.

Atestando as colocações acima apresentadas, Gagliano e Pamplona evidenciam que a Teoria do Direito de Propriedade, que se referia ao nome como uma propriedade da família ou do próprio indivíduo, é inaceitável, posto que o direito ao nome tem natureza extrapatrimonial, por não se poder dele dispor. Dessa maneira, os autores denotam que essa Teoria apenas encontra respaldo em relação ao nome comercial, que, por possuir valor pecuniário, é responsável por tornar patrimonial o direito do titular44.

Outra vertente que merece atenção é a Teoria dos Estados, que expõe que o nome é um fato que deve ser protegido pela ordem jurídica, visto que se trata de uma questão de Estado. De acordo com o Orlando Gomes, a referida Teoria não é válida, uma vez que inviabilizaria a possibilidade de alteração do nome45.

Para a Teoria da Polícia Civil, ou Teoria Negativista de Plainol, o nome é uma instituição de polícia, sendo, dessa forma, uma obrigação, antes que objeto de um direito. Há também a Teoria Negativista sustentada por Savingny, Ihering e Clóvis Beviláqua. Segundo essa Teoria, em razão de o nome não apresentar as características de direito, não merece proteção jurídica46. Assim, Clóvis Beviláqua aduz que “o nome pelo qual o indivíduo aparece

42 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 7.

43 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Maria Celina Bodin de. Instituições de direito civil. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. 1. p. 206.

44 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 160.

45 GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 160.

46 FRANÇA, Rubens Limongi. Do nome civil das pessoas naturais. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. p. 65-66, 77.

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na ordem jurídica é um complexo de direitos, não é um direito. Da mesma forma, o nome não pode ser um direito, por isso mesmo que designa o núcleo de onde irradiam os direitos”47.

Em que pese as Teorias acima explanadas, na vigência do CC/2002 denota-se que essas correntes doutrinárias se tornaram obsoletas, de maneira que prevaleceu a teoria que considera o nome como um Direito da Personalidade.

2.3.2 O nome como Direito da Personalidade

A Teoria que define a natureza jurídica do nome é a que o considera como uma prerrogativa inerente à pessoa, constituindo um Direito da Personalidade48. Nesse norte, passa-se a considerar que “o nome é um atributo da personalidade, é um direito que visa proteger a própria identidade da pessoa, com o atributo da não patrimonialidade”49. Esclarecem Farias e Rosenvald que o “[...] nome é um Direito da Personalidade, pois toda e qualquer pessoa – natural ou jurídica – tem direito à identificação”50. Nesse diapasão, “entende-se o direito ao nome, bem como os seus desdobramentos, como Direito da Personalidade, recebendo mesma proteção constitucional”51.

Ratificando as colocações supraditas, mister aferir que “a melhor doutrina atribui ao nome a natureza jurídica de Direito da Personalidade, na medida em que, como sinal verbal ou mesmo marca do indivíduo, o identifica dentro da sociedade e da própria família e é capaz de ser tutelado erga omnes”52, 53. Assim, o nome é o meio de identificar os indivíduos no seio da sociedade, constituindo, desse modo, um Direito da Personalidade digno de proteção54.

Filiam-se também a essa corrente os doutrinadores Washington de Barros Monteiro e Ana Cristina de Barros Monteiro, que sustentam que “o nome é a expressão mais característica da personalidade, elemento inalienável e imprescritível dos indivíduos. Não se

47 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil, comentados por Clóvis Beviláqua. Rio de janeiro: Ed Rio, 1949. v. 1. p. 214.

48 GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil 1 esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 137.

49 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 1. p. 200.

50 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 1. p. 286.

51 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais; Belo Horizonte: Del Rey, 2014. p. 170.

52 Erga omnes. Locução latina. “Contra todos; oponíveis a todos”. DINIZ, Maria Helena. Erga omnes. Dicionário jurídico. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 2. p. 418.

53

AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 8.

54 RIZZARDO, Arnaldo. Introdução ao direito e parte geral do Código Civil. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 238.

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concede na vida social ser humano que não traga um nome”55.

Nessa mesma diretriz, Marcelo Rodrigues suscita que “o nome civil é concebido como um dos elementos que integram o Direito da Personalidade, nesse rol inserida sua natureza jurídica”56. Para tornar sólida essa natureza jurídica, afastando qualquer outra vertente contrária, o CC/2002 dedicou um capítulo exclusivo para tratar dos Diretos da Personalidade, estando dentre eles o nome, considerado um dos principais57. Assim, é importante trazer à discussão o momento em que ocorre o início da personalidade, qual o seu conceito e seus atributos.

No Brasil, adotou-se a Teoria Natalista, que considera que a personalidade inicia a partir do nascimento com vida. Dessa maneira, no instante em que entra ar nos seus pulmões, o bebê é considerado uma pessoa. O reconhecimento jurídico da existência da pessoa lhe confere de imediato os seguintes atributos: o nome, a capacidade, o estado e o domicílio. Cumpre assinalar que o término da personalidade ocorre com a morte encefálica58. Dadas essas colocações, pode-se deduzir que “a personalidade, como atributo da pessoa humana, está a ela indissoluvelmente ligada. Sua duração é a da vida. Desde que vive e enquanto vive o ser humano é dotado de personalidade”59.

Sob a denominação dos Direitos da Personalidade, compreendem-se aqueles considerados essenciais à pessoa humana, os quais a doutrina moderna preconiza e disciplina a fim de resguardar sua dignidade. Outrossim, pode-se dizer que esses Direitos “[...] estão previstos no ordenamento jurídico exatamente para a defesa de valores inatos no homem, como a vida, a higidez física, a intimidade, a honra, a intelectualidade e outros tantos”60, sendo que sua tutela deve ser integral, a fim de garantir a proteção em qualquer situação61.

Em razão de os Direitos da Personalidade abrangerem um número cada vez mais

55 MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. p. 117-118.

56 RODRIGUES, Marcelo. Tratado de registros públicos e direito notarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 74.

57 VIEIRA, Felipe Souza. Prenome e gênero do transexual - averbação ou retificação. Revista Jus Navigandi, Teresina, n. 4279, mar. 2015.

58 DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 38, 46.

59 PEREIRA, Caio Mário da Silva; MORAES, Maria Celina Bodin de. Instituições de direito civil. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. v. 1. p. 183.

60 BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006. p. 1.

61 DONEDA, Danilo. Os direitos da personalidade. In: TEPEDINO, Gustavo (Coord.). A parte geral do novo Código Civil: estudos na perspectiva civil-constitucional. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p. 48.

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amplo de direitos subjetivos – como nome, privacidade, imagem, corpo e honra62 –, é possível constatar “[...] que não há uma lista exaustiva, e, hoje, embora com divergências em torno do alcance, aí se insere o direito à opção sexual”63. Flávio Tartuce complementa essa concepção mencionando que os referidos Direitos têm a função de resguardar os aspectos físicos, morais e intelectuais dos indivíduos, desde o nascimento até a morte64.

Por derradeiro, convém destacar que os Direitos relativos à Personalidade se referem às prerrogativas ligadas à:

[...] noção de liberdade, de dignidade, de individualidade, de personalidade, devendo todo o ser humano ter sua vida com pleno desenvolvimento e igualdade de oportunidades, sendo essa proteção imprescindível para o desenvolvimento integral da personalidade65.

Nesse passo, após uma reflexão acerca das Teorias da natureza jurídica do nome, a seguir serão tratados seus elementos formadores.

2.4 FORMAÇÃO DO NOME

Quando se fala em nome é preciso correlacioná-lo com “[...] a denominação completa constante no registro civil”66. O CC/2002, no artigo 1667, e a LRP, no artigo 54, § 4º68, determinam que todos os indivíduos têm direito a nome e sobrenome. Carlos Roberto Gonçalves sustenta que “[...] enquanto o prenome é a designação do indivíduo, o sobrenome é o característico de sua família, transmissível por sucessão”69. Complementando essa concepção, Wald aduz que o “direito ao nome abrange o prenome, primeiro nome ou nome de

62 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. v. 1. p. 194-195.

63 CASTRO, Guilherme Couto de. Direito civil. 4. ed. Niterói/RJ: Impetus, 2011. p. 20. 64 TARTUCE, Flávio. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Método, 2014. v. 1. p. 145.

65 RABELO, César Leandro de Almeida; VIEGAS, Cláudia Mara de Almeida Rabelo; POLI, Leonardo

Macedo. O direito do transexual de alterar o prenome, o gênero e exercer sua autodeterminação. Revista IOB de Direito de Família, São Paulo, v. 15, n. 82, p. 18, fev./mar. 2014.

66 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 161.

67 “Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 08 dez. 2016. 68 “Art. 54. O assento do nascimento deverá conter: §4º o nome e o prenome, que forem postos à criança”. BRASIL, Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 19 dez. 2016. 69 GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil 1 esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 139.

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batismo, que é o nome individual, e o sobrenome, ou nome patronímico ou de família, que integra a pessoa dentro de um certo grupo”70.

Dessa maneira, no sistema vigente, “[...] é essencial a existência de um prenome, que vulgarmente denominamos primeiro nome ou nome de batismo, e um nome, vulgarmente chamado sobrenome”71. Além de ser formado pelo prenome e pelo sobrenome, o nome pode ser constituído por outras partículas (agnomes, títulos, pseudônimos, heterônimos, apelidos, alcunhas e vocativos)72. Adiante, tais elementos serão tratados discriminadamente.

2.4.1 Prenome e sobrenome

O prenome da pessoa natural é responsável por individualizar o sujeito no meio social, podendo ser simples (Maria) ou composto (Ana Laura)73, encontrar-se ligado

diretamente ao sobrenome (José Silva) ou mediante a presença de partícula (José da Silva)74. Acerca disso, Aricele J. C. de Araújo sustenta que o prenome é designação que se encontra em primeiro lugar, antes do sobrenome. De acordo com a autora, os prenomes são escolhidos livremente pelos pais ou pelo rol de legitimados descritos no artigo 52 LRP, tais como parentes mais próximos, administradores de hospitais ou médicos e parteiras que tiverem assistido o parto, além de encarregados da guarda do menor75.

Interessante ressaltar, também, que na hipótese de gêmeos idênticos ou irmãos, caso os pais queiram atribuir aos filhos o mesmo prenome, é fundamental que este seja composto e diferenciado, com fulcro no artigo 63 caput e parágrafo único da LRP76. Lamana Paiva esclarece que, em se tratando de irmãos gêmeos, “[...] a lei impõe que se estabeleça um

70 WALD, Arnoldo; AZEVEDO, Álvaro Villaça (Colab.). Direito civil. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. p. 176.

71 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 1. p. 201.

72 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 9. 73 ASSIS NETO, S. J. de; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria Izabel de. Manual de direito civil. 5. ed. Salvador: JusPODIVM, 2016. p. 170.

74 PELUSO, Cezar; GODOY, Claudio Luiz Bueno de (Coord.). Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.01.2002. 10. ed. Barueri/SP: Manole, 2016. p. 32.

75 ARAUJO, Aricele Julieta Costa de. A importância e a possibilidade de alteração do nome civil das pessoas naturais. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 116, set. 2013. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13616>. Acesso em: 15 dez. 2016.

76 “Art. 63. No caso de gêmeos, será declarada no assento especial de cada um a ordem de nascimento. Os gêmeos que tiverem o prenome igual deverão ser inscritos com duplo prenome ou nome completo diverso, de modo que possam distinguir-se. Parágrafo único: Também serão obrigados a duplo prenome, ou a nome completo diverso, os irmãos a que se pretender dar o mesmo prenome”. BRASIL, Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 19 dez. 2016.

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critério diferenciador de cada ser humano perante os demais. Por isso não se admitem nomes iguais na mesma família, ainda que se tratar de irmãos dessa natureza”77.

Sobrenome, patronímico, nome de família ou cognome são denominações adotadas para identificar a procedência familiar dos indivíduos78. Nessa via, além de manter a ligação familiar e carregar uma história de vida, pode-se dizer que o sobrenome é direito subjetivo de titularidade do requerente. Nas situações em que as pessoas apresentam um nome muito extenso (com prenomes compostos e muitos sobrenomes), é possível que seja realizado o registro com abreviações79, como por exemplo João P.L.H. da Silva, de acordo com o previsto no artigo 57, § 1º da LRP80.

Marcelo Rodrigues define o sobrenome como uma forma de identificar a procedência familiar no meio social, sendo transmissível hereditariamente, de modo que o indivíduo não pode dispô-lo ao seu livre-arbítrio. Embora não exista imposição legal, recomenda-se que se inclua no nome tanto o sobrenome da mãe quanto o do pai, com o intuito de proporcionar maior segurança jurídica. Quanto à ordem dos sobrenomes, não há regra prevista na legislação, porém a cultura brasileira adotou como costume que o último sobrenome seja o do pai, apesar de nada impedir o contrário81.

O sobrenome pode ser simples ou composto e pode originar-se do apelido de família paterno, materno ou de ambos. Além de ser adquirido com o nascimento, é possível que o sobrenome seja resultado de um ato jurídico (adoção, casamento), de um ato do interessado (mediante requerimento ao magistrado) ou decorrente de um parentesco de afinidade por linha reta82. Insta ressaltar que as formas de aquisição e perda do nome de família serão abordadas a seguir.

77 PAIVA, João Pedro Lamana. Do Nascimento. In: ALVIM NETO, José Manuel de Arruda; CLÁPIS, Alexandre Laizo; CAMBLER, Everaldo Augusto (Coord.). Lei de Registros Públicos comentada: (Lei 6.015/1973). Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 230.

78AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. p. 328.

79 NEVES, Rodrigo Santos. O nome civil das pessoas naturais. Revista IOB de Direito de Família, São Paulo, v. 14, n. 75, p. 121, dez. 2012/jan. 2013.

80 “Art. 57 § 1º Poderá, também, ser averbado, nos mesmos termos, o nome abreviado, usado como firma comercial registrada ou em qualquer atividade profissional. (Incluído pela Lei nº 11.924, de 2009)”. BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 06 jan. 2017.

81 RODRIGUES, Marcelo. Tratado de registros públicos e direito notarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 79-81.

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2.4.2 Outros elementos de formação do nome

Além do prenome e do sobrenome, o nome pode ser ainda composto por outros elementos facultativos: o agnome (possibilita distinguir a pessoa de um ancestral de nome idêntico, com os termos Júnior, Neto e Sobrinho, por exemplo), o pseudônimo (falso nome que a pessoa atribui a si mesma no lugar do nome verdadeiro, para se tornar conhecida no exercício de certas atividades, sendo esta uma prática corrente no meio artístico e literário – exemplo: Moliére, Voltaire) e alcunhas ou apelidos (que podem ser acrescentados ao nome para o indivíduo se tornar conhecido em certos meios – exemplo: Edson Arantes “Pelé” do Nascimento)83.

A esse respeito não se pode deixar de destacar que o Direito Brasileiro não reconhece, como parte do nome, os títulos de nobreza. Por essa razão, no meio político, artístico e literário, assim como em conventos, permite-se o emprego de alcunhas, nomes de guerra, pseudônimos e designações religiosas84.

Não é raro encontrar sobrenomes com partículas como Moço, Velho, Filho, Júnior, Neto e Sobrinho, com a intenção de diferenciar parentes que tenham o mesmo nome. Há, também, embora não seja costume brasileiro, como ocorre em países de língua inglesa, o uso de ordinais para diferenciar os indivíduos da mesma família. Esses termos constituem o nome, devem fazer parte do registro civil e são denominados agnomes. Silvio Venosa destaca outros elementos secundários do nome: axiônimo (forma cortês de tratamento, oposta antes do prenome, como, por exemplo, conde ou comendador), títulos eclesiásticos (padre, monsenhor, cardeal) e títulos acadêmicos (Doutor, Mestre)85.

O pseudônimo ou heterônimo tem origem na palavra grega pseudos, que significa “mentira”, e serve para ocultar a identidade civil do titular, a fim de impedir o reconhecimento do público, sendo em geral utilizado pelos artistas, escritores e jornalistas. Em razão do seu caráter personalíssimo, o pseudônimo é de uso exclusivo do titular, de modo que deve ser escolhido nos limites dos bons costumes e da ordem pública, dispondo de proteção jurídica, dado que representa a identidade pessoal do indivíduo86.

Já alcunha, apelido ou epíteto são expressões sinônimas que se referem

83 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Método, 2014. p. 62. 84 MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil. 43. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v. 1. p. 121.

85 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 1. p. 202.

86 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2013. v. 1. p. 289-290.

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normalmente a um defeito físico ou mental (aleijadinho, manco, lelé), a um trabalho exercido (padeiro, leiteiro) ou ao local de nascimento ou de residência (alemão, japonês, carioca). Curiosamente, os apelidos são empregados também entre os criminosos, sendo responsáveis muitas vezes por torná-los conhecidos e famosos. Vale lembrar que as alcunhas, além de serem atribuídas com a função de ofender, depreciar, podem ser empregadas como motivo de glória, em razão da notoriedade e celebridade aferida87.

Importante mencionar que o apelido é diferente do pseudônimo, uma vez que este é um nome fictício criado pelo indivíduo, ao passo que aquele é resultado da iniciativa alheia e que, em grande parte dos casos, vincula-se ao meio social independentemente da vontade do interessado. Por esse motivo a lei não estende ao apelido a proteção que é conferia ao pseudônimo, permitindo apenas que se inclua no próprio nome o apelido, desde que público e notório88. Carlos Roberto Gonçalves aponta, ainda, a existência do nome vocatório (nome

pelo qual a pessoa é conhecida – exemplo: PC Farias, para Paulo César Farias) e do hipocorístico (diminutivo do nome, denotando intimidade – como Zezinho, por exemplo)89.

Realizado esse panorama acerca dos elementos formadores do nome, faz-se oportuna a apresentação das formas de aquisição/ perda do patronímico.

2.5 FORMAS DE AQUISIÇÃO/PERDA DO NOME DE FAMÍLIA

O nome de família, também conhecido como sobrenome, patronímico ou cognome, serve para designar a família a que o indivíduo pertence, identificando sua origem. A forma mais comum de obtenção do patronímico é a aquisição de pleno direito, ou seja, é suficiente o nascimento para conferir o direito de utilizar o sobrenome de família. O indivíduo pode adotar quaisquer dos nomes de família de seus ascendentes, não somente o da mãe e o do pai, como também os dos avós ou bisavós90.

Nesse contexto, todos os indivíduos têm direito não só ao prenome como também a um sobrenome, a fim de que seja identificada e revelada a sua ascendência familiar. Como já mencionado anteriormente neste estudo, além de poder ser adquirido pelo nascimento, em razão de um indivíduo pertencer a uma determinada família, o sobrenome pode ser resultado

87 AMORIM, José Roberto Neves. Direito ao nome da pessoa física. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 15. 88 SCHREIBER, Anderson. Direitos da personalidade: revista e atualizada. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 204.

89 GONÇALVES, Carlos Roberto; LENZA, Pedro (Coord.). Direito civil 1 esquematizado. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 138.

90 BRANDELLI, Leonardo. Nome Civil da Pessoa Natural. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 84, 123. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502173286/cfi/0>. Acesso em: 08 jan. 2017.

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de um ato jurídico – como casamento (facultativo) e adoção (obrigatório) – ou de um ato do próprio interessado, mediante requerimento ao juiz91. Sendo assim, com o objetivo de elucidar as formas de aquisição decorrentes de um ato jurídico, faz-se necessário passar ao estudo mais específico de cada uma delas.

2.5.1 Casamento, União Estável, Viuvez e Divórcio

Em se tratando do casamento, o CC/2002 autoriza a qualquer dos noivos acrescer ao seu sobrenome o do outro (CC, art. 1.565 § 1º)92. Essa possibilidade de alteração deve ser realizada no casamento, entretanto nada inviabiliza que aconteça em momento posterior. Nessa hipótese, de acordo com o entendimento do STJ93, exige-se que o pedido seja efetuado pela via judicial. Como é facultado que ambos alterem o sobrenome, tal fato pode representar que os dois portem apenas o sobrenome do outro. Essa possibilidade, apesar de descaracterizar a ideia de o nome da família simbolizar o núcleo familiar, não gera transtorno social, dado que o mais importante é a cumplicidade do casal94.

A Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de Santa Catarina (CGJ/SC)95, no Código de Normas, no Título II, Capítulo II, Seção I, que trata da habilitação para o casamento, determina no artigo 555 § 2º que “O nubente poderá manter o nome de solteiro ou alterá-lo com o acréscimo do patronímico paterno ou materno do outro, ou ambos, na ordem que lhe for mais conveniente, vedada a supressão total do sobrenome de solteiro”96.

O nome recebe, também, especial proteção no que se refere à constituição da união estável, na medida em que o artigo 57 § 2º da LRP97 permite à mulher a averbação do

91 RODRIGUES, Marcelo. Tratado de registros públicos e direito notarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 81-82.

92 “Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro”. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 08 jan. 2017. 93 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial: REsp 910.094/SC, 4ª T. Relator: Min. Raul Araújo. Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23515776/recurso-especial-resp-910094-sc-2006-0272656-9-stj>. Acesso em: 08 jan. 2017.

94 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 123-125.

95 “A Corregedora-Geral da Justiça do Estado de Santa Catarina é o órgão do Poder Judiciário Catarinense responsável pela orientação, apoio e fiscalização das atividades das unidades judiciais do primeiro Grau de jurisdição e das unidades extrajudiciais. É reconhecido como órgão de referência na orientação e no apoio aos magistrados, servidores, notariais e oficiais de registro público”. CORREGEDORIA-GERAL. Disponível em: <http://cgj.tjsc.jus.br/index.jsp>. Acesso em: 01 jun. 2017.

96 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça – Corregedoria-Geral de Justiça. Código de Normas. Disponível em: <http://cgj.tjsc.jus.br/consultas/liberada/cncgj.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2017.

97 Artigo 57 § 2º “A mulher solteira, desquitada ou viúva, que viva com homem solteiro, desquitado ou viúvo, excepcionalmente e havendo motivo ponderável, poderá requerer ao juiz competente que, no registro de

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sobrenome do companheiro. Apesar de o Código Civil omitir-se em relação ao assunto, em razão do princípio constitucional da isonomia, acredita-se que a permissão aos nubentes para adotar o sobrenome do outro cônjuge (artigo 1.565 CC/2002)98 deve ser estendida aos conviventes99.

No tocante à união estável homoafetiva, cumpre destacar que o CC/2002, no artigo 1.723100, reconheceu a união estável como entidade familiar limitada às uniões entre homens e mulheres. Insta ressaltar que foi com a aprovação da Resolução 175 do CNJ101 que se reconheceu a legitimidade e ficou autorizada a conversão da união estável homoafetiva em casamento. Nessa via, igualadas as situações entre as uniões estáveis, homo ou heterossexual, é fundamental, como consequência do reconhecimento da proteção jurídica do Estado, que seja também autorizada a incorporação do sobrenome de um companheiro nas relações homoafetivas102.

No caso de viuvez, se a mulher não tiver filhos, é possível retirar do seu nome o sobrenome do marido; quando há filhos, caso estes tenham sido registrados somente com o patronímico do pai, será necessário primeiro alterar o nome dos filhos, a fim de incluir o sobrenome da mãe, para que posteriormente a viúva consiga retirar do seu nome o sobrenome do falecido marido103.

Dissolvido o casamento pela separação judicial ou divórcio, em regra, incumbe ao cônjuge que incorporou o sobrenome do outro decidir pela conservação ou não do nome de

nascimento, seja averbado o patronímico de seu companheiro, sem prejuízo dos apelidos próprios, de família, desde que haja impedimento legal para o casamento, decorrente do estado civil de qualquer das partes ou de ambas”. BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 06 jan. 2017. 98 Art. 1.565 CC: “Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes,

companheiros e responsáveis pelos encargos da família”. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 08 dez. 2016.

99 MALUF, Carlos Alberto Dabus; MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Curso de direito de família. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 397.

100 “Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 24 jan. 2016.

101 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/resolu%C3%A7%C3%A3o_n_175.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2016.

102 RODRIGUES, Marcelo. Tratado de registros públicos e direito notarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 112-113.

103 NEVES, Rodrigo Santos. O nome civil das pessoas naturais. Revista IOB de Direito de Família, São Paulo, v. 14, n. 75, p. 131, dez. 2012/jan. 2013.

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casado (art. 1.571 § 2º e 1.578 CC/2002)104, desde que a alteração não ocasione as situações descritas nos incisos I a III do caput do artigo 1.578 ou se o cônjuge inocente tenha se manifestado em sentido contrário na sentença de separação judicial. Pelas razões esboçadas, é possível constatar que no CC/2002 é direito tanto do homem quanto da mulher a manutenção do nome de casado, de modo que é viável, por exemplo, que apenas o homem queira manter o seu nome de casado105.

A alteração do nome do filho no caso de casamento ou divórcio pode ser efetuada administrativamente, nos termos o Provimento 8/2016, publicado no dia 29 de junho de 2016 pela CGJ/SC, que estabelece que é:

[...] permitida a averbação, no assento de nascimento do filho, do patronímico materno ou paterno, em decorrência do casamento ou divórcio, independentemente de pedido judicial, mediante requerimento escrito da parte interessada, acompanhado de documentação comprobatória de ordem legal e autêntica106.

Feitas essas considerações, a seguir serão apresentados casos de aquisição de patronímico de família em decorrência de filiação socioafetiva, adoção e por ato do próprio interessado.

2.5.2 Filiação socioafetiva, Adoção e Ato do próprio interessado

No que se refere à filiação socioafetiva, impende destacar que a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil representou um importante avanço no instituto da filiação, sendo extinta qualquer forma de discriminação entre filhos havidos no casamento e os decorrentes da relação extraconjugal. Nesse passo, o princípio da igualdade entre os filhos foi recepcionado no artigo 1.596 do CC/2002107. A socioafetividade, que

104 1.571 §2º “Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial. [...] Art. 1.578. O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar: I - evidente prejuízo para a sua identificação; II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida; III - dano grave reconhecido na decisão judicial. § 1o O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro. § 2º Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado”. BRASIL. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 24 jan. 2016.

105 RODRIGUES, Décio Luiz José. Família e sucessões no novo Código de Processo Civil. Leme/SP: Imperium, 2016. p. 434.

106 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça – Corregedoria Geral de Justiça. Provimento 8/2016. Disponível em: <http://cgj.tjsc.jus.br/consultas/liberada/cncgj.pdf.>. Acesso em: 11 mar. 2017.

107 “Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. BRASIL. Lei n° 10.406, de

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consiste no acolhimento de uma pessoa como filha apesar de não existir o vínculo biológico, foi reconhecida no artigo 57 § 8º da LRP, que permitiu ao enteado ou à enteada adotar o nome de família do padrasto ou da madrasta, estabelecendo, assim, um laço entre o nome e a personalidade da pessoa com quem vive108.

O dispositivo supracitado na LRP, que consagra o caráter socioafetivo das relações familiares, determina que o indivíduo não pode excluir os apelidos de família, uma vez que o fato de permitir a inclusão de sobrenome do padrasto ou da madrasta não pode de forma alguma afetar o poder familiar109. Acerca disso, Maria Helena Diniz evidencia que “[...] é possível acrescer ao sobrenome o da madrasta ou padrasto, havendo socioafetividade, ante a existência de família recomposta, marcada pela afeição, convivência cotidiana e pelo vínculo de afetividade”110.

Faz mister ressaltar que o reconhecimento da paternidade socioafetiva de filho que tenha 16 anos e menos de 18 dependerá da “anuência escrita dele, perante o Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais”, de acordo com a determinação do Provimento 16/2014 da CGJ/SC111.

No que se refere à adoção, é importante frisar que esse instituto gera um vínculo de parentesco definitivo entre o adotante e o adotado. Nesse diapasão, o artigo 47 §5° do Estatuto da Criança e do Adolescente112 determina que o adotado obrigatoriamente deve assumir o sobrenome do adotante, enquanto que a modificação do seu prenome pode ser requisitada pelo adotante ou adotado113. Com a adoção, o menor passa a ter a condição de filho legítimo do adotante, vínculo que não pode ser dissolvido e gera rompimento integral com os registros passados da criança, sendo que as relações de parentesco não se estabelecem

10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 24 jan. 2016. 108 SILVA, Maria Cristina da. Filiação socioafetiva e direito ao uso do patronímico. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 139, ago. 2015. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=16303&revista_caderno=14>. Acesso em: 24 jan. 2017.

109 PAIVA, João Pedro Lamana. Do Nascimento. In: ALVIM NETO, José Manuel de Arruda; CLÁPIS, Alexandre Laizo; CAMBLER, Everaldo Augusto (Coord.). Lei de Registros Públicos comentada: (Lei 6.015/1973). Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 225.

110 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v. 1. p. 243. 111 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça – Corregedoria Geral de Justiça. Provimento 16/2014. Disponível em: <http://cgj.tjsc.jus.br/consultas/liberada/cncgj.pdf.>. Acesso em: 11 mar. 2017.

112 Art. 47 § 5o “A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome”. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 24 jan. 2017.

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