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Características do consumo no mercado farmacêutico brasileiro

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Market share 2009 US$ EUA

4.3.4 Características do consumo no mercado farmacêutico brasileiro

Na opinião de Pinto (2008), o mercado brasileiro de medicamentos difere-se de outros países, tais como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França e Itália, onde se encontram as matrizes dos principais laboratórios que atuam no Brasil. As duas maiores diferenças situam- se no fato de que:

 No Brasil, os medicamentos de prescrição são vendidos livremente aos consumidores sem a apresentação de receita médica, embora contrarie as determinações da ANVISA. A compra é feita pelo consumidor em qualquer ponto de venda (farmácia ou drogaria), ou tele-atendimento e internet, ao contrário dos países acima citados, onde a venda é realizada somente com a apresentação de receita médica;

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 Em todos esses países anteriormente citados existe o sistema de reembolso (seguro social) de medicamentos prescritos, a partir de critérios para coberturas percentuais, não cabendo ao paciente o desembolso total na aquisição do medicamento.

Teixeira (2006) faz uma análise do funcionamento do mercado farmacêutico apontando imperfeições, as quais chamou de “falhas de mercado”, que o torna pouco concorrencial, destacando as seguintes características:

 Concorrência reduzida devido a elevadas barreiras à entrada de concorrentes e pela ausência de bens substitutos. Aspectos relativos à vigência de patentes e custos iniciais elevados para fabricação de medicamentos constituem-se também barreiras a novos entrantes. Soma-se a estes fatos o domínio de poucas empresas em cada mercado relevante, em decorrência também de processos de fusões e aquisições ocorridas na última década, reduzindo assim o número de indústrias no setor e aumentando a participação no mercado das empresas líderes; as inovações tecnológicas e P&D também são importantes barreiras a entrada, uma vez que grandes somas de recursos são necessárias para a efetivação;

 a demanda do setor é pouco sensível ao preço, em função da sua essencialidade e do pouco poder de decisão dos consumidores, principalmente quando se trata de medicamentos vendidos sob prescrição médica (medicamentos éticos). Por diferentes aspectos, tanto consumidores de renda mais alta quanto os de baixa renda têm seu consumo de medicamentos pouco influenciado pelo preço, de forma que apenas a demanda dos produtos isentos de prescrição apresenta alguma elasticidade, em conseqüência da possibilidade de troca por outro similar. Para os consumidores de renda mais elevada, a fidelidade à marca garante a venda dos produtos mais caros, enquanto que, para os consumidores de baixa renda, o achatamento da renda é tamanho que mesmo uma redução de preços não torna o medicamento mais acessível, ou seja, a demanda observada nas classes mais baixas é muito mais sensível a variações na renda do que na variação nos preços dos medicamentos. Há, entretanto, segmentos intermediários relativamente sensíveis a preço, que encontram no medicamento genérico um substituto mais barato que o medicamento de marca.

 Outra característica limitante a concorrência no setor está relacionada a assimetrias de informação. Observa-se separação nas decisões de produção, prescrição, dispensação e consumo. No caso dos medicamentos éticos, o consumidor não é quem escolhe, a decisão sobre a compra não é de quem paga pelo produto e quem paga muitas vezes não é quem faz o uso do medicamento. Nesses casos de não conciliação de interesses dos agentes – o médico preocupado em maximizar a saúde do paciente, sem levar, muitas vezes, em consideração o preço; e o consumidor que se preocupa, além da sua saúde, com suas limitações financeiras – dificultam a substituição de produtos pelo consumidor.

Tais características fazem com que as decisões das empresas, quanto ao preço dos produtos, não desenvolvam relação com seus custos, mas, pelo contrário, sejam influenciadas fortemente pelo grau de competição do mercado (TEIXEIRA, 2006).

Dentro deste panorama, existe uma competição acirrada tanto pelo receituário médico quanto pela capacidade de compra do consumidor (PINTO, 2008). Em 2006 o crescimento do mercado foi 2,13% em unidades em relação a 2005, enquanto que a média mundial foi de 17%. Apesar do crescimento da população e da implantação de lei de genérico em 1999, o

63 volume de venda de medicamentos no Brasil em 2007 reduziu-se em três pontos percentuais, se comparado com o ano de 1997, conforme já observado anteriormente na tabela 1.1.

Pinto (2008) reforça que, comparando-se a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) da Fundação Getúlio Vargas, realizada em 2002/2003 – a qual registrou uma queda no poder aquisitivo da população entre dois períodos de análise (1999/2000 e 2002/2003) – com o desempenho da indústria farmacêutica (tabela 7), que acusou uma significativa retração no volume de medicamentos comercializados no período de 1999 a 2006 em torno de 16% - poder-se-ia confirmar, mediante ao já exposto, que a redução na demanda dos medicamentos não foi consequência da política de preços (introdução dos genéricos), mas sim do poder aquisitivo do consumidor. No gráfico 9 observa-se que em 2003 o grupo de mais alta renda, que representa 15% da população, era responsável por quase 50% do consumo de medicamentos no Brasil, enquanto o grupo demais baixa renda, 44% da população, tinha seu consumo extremamente reduzido.

Gráfico 9 - Relação do Consumo de Medicamentos das Classes A,B,C,D - Brasil 2003

7 44 16 34 36 15 48 0 20 40 60 80 100 120 POPULAÇÃO CONSUMO DE MEDICAMENTOS CON SUM O (% ) CLASSE SOCIAL A B C D

Grupo A - mais de US$ 750,00/mês Grupo B - de US$ 300,00 a US$ 750,00/mês

Grupo C - de US$ 20,00 a US$ 300,00/mês Grupo D - menos de US$ 20,00/mês

Fonte: FREBRAFARMA (2004)

Desta forma, infere-se dos dados estatísticos observados, que reduções nos preços dos medicamentos não produzem aumento na demanda, fenômeno este verificado quando há aumento de renda do consumidor, comprovando a elasticidade da demanda à renda. Com a atual estabilidade econômica e conseqüente ganho no poder de compra da população – com destaque para a classe C, onde se verifica que a capacidade de consumo mais que dobrou (gráfico 10) – houve evolução no volume de venda de medicamentos, tal como observado anteriormente, a partir do ano de 2008, na tabela 7.

64 Gráfico 10 - Perspectiva de Consumo de Medicamentos pelos Brasileiros em 2009

2% 0,5% 18% 7,4% 48% 34,6% 27% 42,4% 5% 15,1% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

Nº DE DOMICÍLIOS URBANOS GASTO COM MEDICAMENTOS

CO NS U MO (%) CLASSE SOCIAL A B C D E

Fonte: IPC -Target do Brasil em Foco 2009 disponível em http://www.targetbr.com/index.php?

Segundo dados da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (ALANAC), o Brasil conta com quase 11 mil medicamentos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dos quais cerca de 8 mil são similares. Cabe observar que o medicamento similar forma a base da indústria farmacêutica de capital nacional privado e estatal.

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