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CARACTERÍSTICAS E HIPÓTESES DE APLICAÇÃO

No documento Regime disciplinar diferenciado (páginas 50-52)

As características do regime disciplinar diferenciado estão previstas no art. 52, incisos I, II, III e IV, da Lei de Execução Penal, in verbis:

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características:

I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II - recolhimento em cela individual;

III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas;

IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.11

Nesse sentido, pode-se afirmar que o tempo de inclusão no RDD, mesmo sem obedecer ao princípio da proporcionalidade, será limitado, não podendo exceder o limite de 360 dias. No entanto, a sanção poderá ser repetida no caso de nova falta grave de mesma espécie, desde que observado o limite de um sexto da pena aplicada. A aplicação do regime disciplinar diferenciado determinará o recolhimento do preso em cela individual, com direito à saída da cela por duas horas diárias para banho de sol, e visitação semanal de somente duas pessoas, durante duas horas.

Sobre as hipóteses de aplicação, nos termos do art. 52, §§1º e 2º da Lei de Execução Penal12, o RDD é cabível aos presos provisórios ou condenados que praticarem crime doloso, resultante na subversão da ordem ou da disciplina interna. Poderá ser aplicado

10

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 157.

11

BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Loc. cit. 12

também aos presidiários, nacionais ou estrangeiros, de alto risco para ordem e segurança do estabelecimento prisional ou da sociedade, bem como aos que possuam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação em organizações criminosas, quadrilha ou bando.

Com efeito, registra-se que na hipótese de existirem suspeitas de envolvimento ou participação do preso em organizações criminosas ou caso represente ele um grave risco para a ordem ou segurança do estabelecimento prisional ou para a sociedade, o regime disciplinar diferenciado poderá ser aplicado como medida cautelar, de forma preventiva, visando evitar um maior dano ao sistema carcerário ou à sociedade.

Nesse sentido, leciona Mirabete:

A inclusão no regime disciplinar diferenciado com fundamentos nos §§ 1º e 2º do art. 52 da Lei de Execução Penal constitui medida preventiva, de natureza cautelar, que tem por fim garantir as condições necessárias para que a pena privativa de liberdade, ou a prisão provisória seja cumprida em condições que garantam a segurança do estabelecimento penal, no sentido de que sua permanência no regime comum possa ensejar a ocorrência de motins, rebeliões, lutas entre facções, subversão coletiva da ordem ou a prática de crimes no interior do estabelecimento ou no sistema prisional, ou, então, que, mesmo preso, possa liderar ou concorrer para a prática de infrações no mundo exterior, por integrar quadrilha, bando ou organização criminosa.13

Segundo Marcão, “a inclusão preventiva no RDD é medida cautelar a ser decretada pelo juiz da execução, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, não se constituindo em distinta quarta hipótese de inclusão.”14

Nesse contexto, nos termos do art. 54, § 1º, da Lei de Execução Penal15, a determinação judicial para a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado dependerá de requerimento circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento prisional ou por outra autoridade administrativa, sendo vedada a decisão do juiz ex ofício.

Por óbvio que a inclusão do preso no RDD necessita de prévia e fundamentada decisão do juízo competente, após a manifestação do representante do Ministério Público e da defesa, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, conforme o previsto no art. 54, §2º, da Lei nº 7.210/84.16 Lembrando que, no caso de preso provisório, o juiz competente será o mesmo do processo de conhecimento. Por outro lado, em se tratando de preso condenado com sentença transitada em julgado, a competência será do juiz da execução penal.

Excepcionalmente, a autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do preso pelo prazo máximo de 10 (dez) dias, mas sua inclusão definitiva no 13 MIRABETE, 2004, p. 151. 14 MARCÃO, 2010, p. 76. 15

BRASIL. Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Loc. cit. 16

regime disciplinar diferenciado continua sujeita à decisão do juiz competente, sendo o tempo de isolamento preventivo computado do período de cumprimento da sanção definitiva, no moldes do art. 60, §1º, da Lei de Execução Penal:

Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz competente.

Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar.17

Sobre a diferença entre o prazo da decisão judicial e o prazo de isolamento preventivo, esclarecedora a lição de Nucci:

Embora o juiz tenha o prazo máximo de 15 dias para decidir a respeito, a autoridade administrativa, em caso de urgência pode isolar o preso preventivamente, por até dez dias, aguardando a decisão judicial (art. 60). Os prazos, no entanto, deveriam coincidir, ou seja, se o juiz tem até 15 dias para deliberar sobre o regime disciplinar diferenciado, o ideal é que a autoridade administrativa tivesse igualmente 15 dias para isolar o preso, quando fosse necessário. Nada impede, aliás recomenda, no entanto, que o juiz alertado de que o preso já foi isolado, decida em dez dias, evitando-se alegação de constrangimento ilegal.18

Diante das características e possibilidades de aplicação do regime disciplinar diferenciado, evidente sua contradição com o objetivo ressocializador da Lei nº 7.210/84, que estabelece em seu artigo 1º: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.”19 Por ora, oportuno apenas citar as peculiaridades do RDD, para confirmar suas incongruências de forma detalhada nos próximos itens desse trabalho.

No documento Regime disciplinar diferenciado (páginas 50-52)

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