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CAPÍTULO III CARACTERIZAÇÃO DAS INCUBADORAS DE EMPRESAS

3.1. Características essenciais

De acordo com a ANPROTEC, as incubadoras podem ser divididas conforme sua natureza:

Tabela 9: Natureza das incubadoras

Natureza Características

Organizações públicas ou sem fins lucrativos Financiadas pelo governo e por organizações não-governamentais, voltadas para o desenvolvimento econômico, geração de emprego e renda, diversificação da economia, entre outros.

Organizações acadêmicas Ligadas a universidades e faculdades que, apesar de compartilharem dos mesmos objetivos das incubadoras públicas e privadas, visam ampliar as oportunidades de pesquisa e de negócios a partir das pesquisas desenvolvidas nessas instituições.

Híbridas Resultam de um esforço comum entre

governo, agências não-governamentais e setor privado. Esses parceiros desfrutam de acesso a recursos e financiamento governamentais e também do financiamento e especialização do setor privado.

Privadas Administradas por grupos de investidores ou

agências imobiliárias, têm como interesse principal o retorno financeiro dos investimentos realizados em empresas incubadas, aplicação de novas tecnologias e aumento no valor do mercado imobiliário por meio do desenvolvimento de áreas comerciais.

Outras Apoiadas por várias outras fontes, tais como

tribos indígenas, organizações de arte, grupos de igreja e associações comerciais.

Fonte: www.anprotec.org.br

A maior parte das incubadoras não tem fins lucrativos e tem como meta o incentivo ao empreendedorismo, ao desenvolvimento de projetos, produtos e processos. Vale ressaltar que as incubadoras privadas não assumem caráter estritamente econômico, pois as parcerias que são estabelecidas com os órgãos apoiadores e as prefeituras tornam-se uma ponte entre o aspecto econômico e social dos empreendimentos.

As incubadoras disponibilizam infraestrutura física, ou seja, além dos serviços administrativos comuns, oferecem também espaço físico, laboratórios e equipamentos, por meio de parcerias com centros de pesquisa, universidades, agências de transferência de tecnologia ou mesmo através do leasing de equipamentos. O suporte administrativo torna-se relevante, porque os empreendedores precisam de conhecimento administrativo, financeiro e de marketing para desenvolverem seus produtos e comercializá-los. O suporte técnico, por sua vez, auxilia as empresas incubadas na transferência de tecnologia e na difusão do conhecimento tecnológico. A assistência jurídica diz respeito, sobretudo, à garantia de propriedade intelectual. As incubadoras de empresas proporcionam redes de trabalho e acesso a financiamentos, essenciais ao estágio inicial de uma empresa.

A ANPROTEC caracteriza os nove tipos de incubadoras da seguinte forma:

Tabela 10: Tipos de incubadoras e suas características

Tipo Característica

Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica São organizações que abrigam empresas cujos produtos, processos ou serviços resultam de pesquisa científica, para os quais a tecnologia representa alto valor agregado.

Incubadoras de Empresas de Setores Tradicionais

São organizações que abrigam empreendimentos ligados aos setores da economia que detêm tecnologias amplamente difundidas e que queiram agregar valor aos seus produtos, processos ou serviços, por meio de um incremento em seu nível tecnológico.

Incubadoras Mistas Abrigam tanto empresas de base

tecnológica como empresas de setores tradicionais.

Incubadoras Setoriais Abrigam empreendimentos de apenas um setor da economia.

Incubadoras Agroindustriais Abrigam empreendimentos atuantes em cadeias produtivas ligadas ao agronegócio. As empresas incubadas possuem unidades de produção externas à incubadora e utilizam seus módulos para atividades voltadas ao desenvolvimento tecnológico e ao aprimoramento da gestão empresarial.

Continuação da Tabela 10

Tipo Característica

Incubadoras de Cooperativas (tecnológicas ou não)

Apoiam cooperativas em processo de formação e/ou consolidação, instaladas dentro e fora do município. Podem apresentar características tanto das incubadoras tradicionais, tecnológicas ou à distância. Esse tipo de incubadora auxilia a colocação, no mercado, dos produtos e serviços produzidos pelos cooperados, com maior competitividade.

Incubadoras Sociais São empreendimentos oriundos de projetos

sociais, ligados aos setores tradicionais, cujo conhecimento é de domínio público. Atendem à demanda de criação de emprego e renda e melhoria das condições de vida da comunidade. Essas incubadoras apoiam o desenvolvimento de competência, sustentabilidade, capacidade empreendedora e profissional de grupos comunitários de artesãos e produtores rurais, visando à valorização do ser humano com base nos princípios de autogestão, solidariedade, democracia e economia solidária.

Incubadoras Culturais Abrigam empreendimentos (produtos ou serviços) na área de cultura.

Incubadoras de Artes Objetivam apoiar pessoas criativas e empreendedoras que pretendam desenvolver negócio inovador na área de artes.

Fonte: www.anprotec.org.br

As Incubadoras de Empresas de Base Tecnológica, que são o objeto de estudo desta pesquisa, apoiam empresas atuantes em setores tecnologicamente dinâmicos e que têm na inovação ou no aprimoramento tecnológico (de produto ou de processo) o diferencial do seu negócio, ou seja, são diferentes porque não incubam atividades precárias em conhecimento. Têm por base o conhecimento e, geralmente, estão vinculadas a centros avançados de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. A criação desse tipo de incubadora tem se mostrado um processo eficiente para a transferência de tecnologia e para a cooperação institucional entre universidade e empresa, exercendo papel decisivo na interface entre ciência e tecnologia e o setor produtivo. Os empreendimentos mais comumente abrigados são das áreas de informática, biotecnologia, química fina, mecânica de precisão e novos materiais.

A inovação tecnológica pode ser de produto ou de processo. Ocorre uma inovação de produto quando o novo produto tem características tecnológicas ou usos pretendidos diferentes dos já conhecidos. Tais inovações podem envolver tecnologias totalmente novas, podem basear-se na combinação de tecnologias existentes em novos usos, ou podem ser derivadas do uso de novo conhecimento.

Ocorre uma inovação de processo quando se adotam métodos de produção novos ou significativamente melhorados, incluindo métodos de entrega dos produtos. Esses métodos podem envolver mudanças no equipamento ou na organização da produção, ou uma combinação dessas mudanças, ou podem derivar do uso de novo conhecimento. Os objetivos do novo método devem girar em torno de produzir ou entregar produtos tecnologicamente novos ou aprimorados, que não poderiam ser produzidos ou entregues com os métodos já conhecidos, sequer poderiam pretender o aumento da produção ou da eficiência na entrega de produtos existentes.

Joseph Schumpeter, considerado o teórico da inovação, explica que a inovação encontra-se no âmago da mudança econômica. As inovações radicais provocam grandes mudanças no mundo e as incrementais preenchem continuamente o processo de mudança.

O novo produto não precisa ser altamente sofisticado, ele pode apresentar pequenas alterações no desenho do produto ou pequenas melhorias no processo produtivo, ou até mesmo nos processos gerenciais, que contribuirão para a melhoria da competitividade. O produto pode também ter seu desempenho significativamente aprimorado ou elevado. Um produto simples pode ser aprimorado – tanto em termos de melhor desempenho quanto em termos de custo –, através de componentes ou materiais de desempenho melhor; ou um produto complexo, que consista em vários subsistemas integrados, pode ser aprimorado, através de modificações parciais em um dos subsistemas.

Em relação à diferença entre as incubadoras de empresas de base tecnológica e as incubadoras de empresas de setores tradicionais, vale considerar que não faz sentido limitar os mecanismos de promoção de empreendedorismo inovador ao segmento de alta tecnologia, especialmente pelo fato de o Brasil ser um país em desenvolvimento; por outro lado, também não faz sentido criar incubadoras preocupadas apenas em prestar suporte a empreendimentos que não fazem diferença alguma em termos de inovação e agregação de valor. Inovação, agregação de valor e inserção de conhecimento são fundamentais para todas as empresas, não somente às empresas de setores de ponta. E mais, é necessário criar empreendimentos que agreguem inovação a outros setores da economia, principalmente, aos que têm predominância

de empresas tradicionais e convencionais, mas que nem por isso são desprovidas de competências.

Os critérios para aceitação dos empreendimentos a serem apoiados perpassam por exigências, tais como: geração de empregos, potencial para um rápido crescimento, geração de novas tecnologias, autossustentação e demonstração de viabilidade técnica, científica e econômica.

Os empreendimentos selecionados para as incubadoras brasileiras podem encontrar-se em uma das seguintes situações:

Tabela 11: Tipos de processos de incubação

Processo Características

Incubação à distância Trata-se de um processo de desenvolvimento de um empreendimento ou empresa que recebe suporte, mas não está instalado, fisicamente, em incubadora.

Pré-incubação (Hotel de Projetos, Hotel de Ideias ou Hotel Tecnológico)

Trata-se de um conjunto de atividades que busca estimular o empreendedorismo e preparar os projetos que tenham potencial de negócios em empresas, durante um curto período (de seis meses a um ano no máximo), para ingresso na incubadora. A ênfase é dada ao plano de negócios, à pesquisa de mercado e à preparação dos empreendedores sobre gestão de negócios, tomando por princípio básico que todo empreendimento para ser competitivo deve buscar a eficiência em sua gestão, ser eficaz em suas ações e produzir impactos positivos na região em que atua.

Empresa incubada (ou empresa residente) Fase em que a empresa desenvolve produtos ou serviços inovadores e recebe o apoio técnico, gerencial e financeiro de uma rede de instituições constituída, primordialmente, para criar e acelerar o desenvolvimento de pequenos negócios. O período de permanência das empresas dentro das incubadoras é, em média, de três anos.

Continuação da Tabela 11

Processo Características

Empresa associada (ou empresa não residente)

Fase em que a empresa utiliza a infraestrutura e os serviços oferecidos pela incubadora, sem ocupar espaço físico, mas mantendo vínculo formal. A empresa associada busca o desenvolvimento de produtos e processos e o aprimoramento de suas ações mercadológicas. Ela tanto pode ser uma empresa recém-criada como uma já existente no mercado.

Empresa graduada (ou empresa liberada) É a organização que passou pelo processo de incubação e que alcançou desenvolvimento suficiente para ser habilitada a sair da incubadora. O vínculo com a incubadora pode manter-se na condição de empresa associada. Além disso, em alguns casos, é interessante que a empresa graduada mantenha relação estreita com diversas instituições de pesquisa.

Fonte: www.anprotec.org.br

A ênfase dada à elaboração do Plano de Negócios no processo de pré-incubação justifica-se por ele ser uma ferramenta essencial para o empreendedor, ao proporcionar a diminuição dos riscos do empreendimento. O Plano de Negócios retrata o planejamento de uma empresa, detalhando quem são os empreendedores, qual é o produto, quais e quantos são os clientes, qual é o processo tecnológico de produção e vendas, qual é a estrutura de gerenciamento e quais são as projeções financeiras (fluxo de caixa, receitas, despesas, custos e lucros). Ao elaborar o Plano de Negócios, o empreendedor estuda a viabilidade de um produto ou de um processo sob todos os seus aspectos.

As incubadoras auxiliam as empresas no processo de conhecimento de seu ramo de atividade. Para o conhecimento do ramo de atividade, tal como explicou Filion39 (1997 apud Dolabela, 1999c), identificam-se as seguintes necessidades de aprendizagem por parte dos empreendedores:

- Análise setorial: processo que permite o conhecimento do cliente, por sinal, cada vez mais exigente, de seus hábitos de compra e de suas preferências em termos de qualidade e eficiência; o conhecimento do funcionamento do setor e de suas características (rentabilidade,

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barreiras e proteções à entrada, nível de investimento para entrada, fatores críticos de sucesso e análise do mix mercadológico – produto, preço, localização, distribuição e propaganda); e, por fim, conhecimento dos concorrentes e de sua forma de atuação.

- Avaliação de recursos: é a necessidade de se conhecer as fontes de obtenção de recursos materiais, humanos e financeiros necessários ao negócio.

- Informação: é o que determina a capacidade de decisão. As informaçãoes necessárias ao negócio devem ser obtidas a fim de minimizar os riscos envolvidos.

- Realimentação: é fundamental a constante revisão dos planos, a fim de atualizar as informações que dizem respeito aos clientes, fornecedores, colaboradores internos, financiadores, ambiente econômico e legal, políticas governamentais, etc.

- Domínio tecnológico: é primordial a constante atualização para o sucesso do negócio. O processo de benchmark é importante para colocar o produto em condições tecnológicas vantajosas.

- Gestão de recursos humanos: o empreendedor deve ter a capacidade de manter e motivar as pessoas que colaboram na empresa.

Dolabela (1999c) ressalta que, em se tratando de projetos de base tecnológica, o know how fora da área tecnológica representa a parte principal do desafio de um empreendedor. Ele utiliza o termo “empresariamento” para denominar o conjunto de conhecimentos que abrangem a expertise nas áreas de planejamento, finanças, pessoal, marketing, propaganda, embalagem, etc.

A partir da caracterização das incubadoras de empresas, é possível entender o porquê elas precisam ser incentivadas justamente em ambientes onde são desenvolvidos novos conhecimentos. Quando instaladas em instituições de ensino e pesquisa, quase sempre fazem parte dos programas institucionais de extensão.

3.2. As incubadoras como programas de extensão

“As incubadoras de empresas e parques tecnológicos vêm ganhando cada vez mais importância em todo o mundo, induzindo a criação de novas empresas, em função da aproximação das universidades.” Sérgio Rezende - Ministro da Ciência e Tecnologia

O vínculo estabelecido entre as incubadoras e as instituições de ensino quase sempre ocorre por meio de programas de extensão. A extensão universitária ou acadêmica pressupõe uma ação conjunta com a comunidade, disponibilizando ao público externo da instituição o

conhecimento adquirido com o ensino e a pesquisa, desenvolvidos pelas universidades e demais instituições de ensino. Essa ação produz um novo conhecimento a ser trabalhado e articulado. É um conceito, adotado pelas universidades, que se refere ao contato imediato da comunidade interna de uma determinada instituição de ensino superior com sua comunidade externa, em geral, a sociedade à qual está subordinada.

A ideia de extensão está associada à opinião de que o conhecimento gerado pelas instituições de pesquisa deve, necessariamente, possuir intenções de transformar a realidade social, intervindo em suas deficiências e não se limitando apenas à formação dos alunos regulares da instituição. No Brasil, a extensão é um dos pilares do ensino superior, conjuntamente com o ensino e a pesquisa, conforme dispõe o artigo 207, caput, da Constituição Federal: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. A extensão deve ser valorizada por ser uma forma de interação entre a população e a universidade. Ela é indissociável do ensino e da pesquisa; complementam-se na medida em que fornece material para a pesquisa e campo para o ensino, mas, além disso, ela forma cidadãos40.

As propostas extensionistas passaram a abarcar, em seus objetivos, vários pontos, como a extensão universitária como processo acadêmico; o cuidado para com os problemas sociais; o estímulo às atividades transdisciplinares e interprofissionais; o emprego da tecnologia para ampliar a oferta de oportunidades; a consideração das atividades voltadas para o desenvolvimento, produção e preservação cultural e artística; a inserção da educação ambiental e desenvolvimento sustentável como objetos de atividades extensionistas; fomento dos programas de extensão interinstitucionais; e a constante avaliação das atividades de extensão.

Com o intuito de unir teoria e vida real, estudantes engajam-se em projetos de extensão, colocando em prática uma das premissas do processo de aprendizado: o compromisso com a sociedade local. Colocar “a mão na massa” é um complemento muito importante para a construção de um verdadeiro conhecimento. Os projetos de extensão permitem a conjugação da prática com as teorias absorvidas em sala de aula, possibilitando aos envolvidos observarem as condições locais e formularem demandas. Há uma verdadeira integração entre ensino, pesquisa e extensão com a comunidade. É um exercício diferente, que

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antes ficava apenas no plano teórico e abstrato e que, com os projetos de extensão, passaram a confrontar a teoria e a condição real e a apoiar a construção de políticas públicas. Geralmente, são ações que garantem trabalho e renda e que, por isso, mudam realidades. As atividades de extensão dão, desse modo, um direcionamento social àqueles cursos voltados, unicamente, para fins privados.

Nesse sentido, as incubadoras são programas de extensão que, através de suas ações, constituem-se como um campo de articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Essas dimensões são garantidas quando são organizadas atividades voltadas ao estudo e à pesquisa, a fim de sustentar a formação profissional centrada na realidade regional, bem como, permitir a replicabilidade dos conhecimentos acumulados. Trata-se de um processo de construção coletiva, de um conhecimento e de uma prática que é, consequentemente, inacabada. Dito de outra maneira, a construção coletiva efetiva-se pela participação dos alunos, professores e técnicos, num processo de troca de experiências de vidas singulares e de perspectivas teórico- analíticas diferenciadas e construídas a partir da subjetividade de cada sujeito envolvido na troca de saberes e conhecimentos díspares.

Pode-se observar que a extensão ganhou um caráter de política pública, com filosofia, estratégia, metodologia e pesquisa, objetivando o suprimento do processo de ensino e aprendizagem como um todo e a intervenção na realidade concreta, sem, contudo, substituir as funções de responsabilidades do Estado. Os projetos de extensão visam contribuir, por meio da produção de saberes científicos, tecnológicos, artísticos e filosóficos, para o desenvolvimento da sociedade.

As ações de uma incubadora passam pela geração de uma capacidade tecnológica a fim de potencializar a inserção produtiva dos trabalhadores, possibilitando, ao mesmo tempo, uma mobilização que é política, econômica e social. A perspectiva que se tem é a de permitir o acesso às políticas públicas de crédito – Banco do Povo, Programas de Microcrédito, Banco do Empreendedor, Bancos de arranjos produtivos, Programas de financiamento a juro zero, Cooperativas de crédito –, ao investimento em tecnologia, à inovação tecnológica e à educação. Nos termos apresentados nesta pesquisa, as incubadoras buscam o desenvolvimento da organização econômica e social, fortalecendo o caráter de cidadania e de inclusão social, dimensões consideradas fundamentais para as políticas de geração de trabalho e renda. Da circulação de ideias e experiências concretas resultam novos produtos e processos, construídos a partir da abundância de vivências que se fazem e se renovam em cada momento

das práticas de ensino, pesquisa e extensão. A articulação dessas três áreas deve ser um desafio constante no âmbito das incubadoras.

Embora as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) não sejam o objetivo deste trabalho, vale ressaltar que elas foram criadas, justamente, para eliminarem-se as barreiras da universidade perante o mundo real. Esse movimento foi iniciado no Brasil, em 1996, na Universidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de transferir conhecimentos tecnológicos, seja de gestão, produto ou processo para a população excluída, econômica e socialmente. As ITCPs funcionam a partir da articulação das diferentes áreas de conhecimento das universidades com grupos interessados em gerar trabalho e renda. Além de tirar da informalidade muitos cidadãos e grupos comunitários, as ITCPs resgatam a cidadania.

A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (ITCP/USP), cujo início das atividades deu-se em 1999, é um exemplo desse tipo de empreendimento que objetiva a transformação de comunidades carentes e diminuição da pobreza. A ITCP/USP foi pensada a partir da implantação, no Brasil, em 1997, do Programa Nacional de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (PRONINC), cujo início ocorreu com o apoio da FINEP, da Fundação Banco do Brasil, do Banco do Brasil e do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Por meio da participação de professores e estudantes da USP, auxilia grupos comunitários a trabalharem com economia solidária até alcançarem a autogestão. Nessa experiência todos ganham: os professores abrem o leque de suas pesquisas para experiências de organizações de tipo autogestionário e de empreendimentos de Economia Solidária, os estudantes recebem uma formação diferenciada, gerando novos conhecimentos, e os grupos comunitários têm acesso ao conhecimento gerado na universidade. Vê-se que a ITCP/USP, da forma como foi concebida, é um projeto universitário completo, abrangendo atividades de ensino (cursos de formação em cooperativismo), de pesquisa (professores e estudantes) e de extensão (comunidades carentes).

Agricultura urbana, produção de sabão ecológico, confecção de roupas, artesanato e produção de alimentos são exemplos de atividades que já foram incubadas na ITCP/USP. O resultado positivo do trabalho dos integrantes da incubadora é percebido quando grupos de

pessoas que tinham baixa autoestima conseguem, após o processo de incubação, gerenciar seu