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Características gerais do processo de instabilização ocorrido

Área do deslizamento

3.3.2. Características gerais do processo de instabilização ocorrido

Devido ao desenvolvimento do mapeamento das áreas de risco (Mapa de Risco a Erosão/Escorregamento das encostas), o qual foi realizado no Município de Camaragibe, durante o período de 2001 a 2003, através do Convênio firmado entre a Prefeitura de Camaragibe e a UFPE, e referindo-se a dissertação de mestrado de Bandeira (2003); técnicos da prefeitura informaram sobre a ruptura ocorrida nessa encosta e solicitaram uma visita para avaliação do problema existente no local, a qual foi realizada no mês de fevereiro do ano de 2003.

Segundo informações dos moradores do local e técnicos da prefeitura de Camaragibe, indícios da ocorrência de processos de instabilidade foram observados na encosta no ano de 2000, caracterizado por alguns fatores revelantes; tais como a declividade e as rachaduras verificadas nos pisos das casas situadas no topo do deslizamento (na direção a qual se deu o movimento de massa) e em rachaduras verticais nas paredes das casas, junto com o relato do som de “estalos” que os moradores ouviam freqüentemente. Outros fatores revelantes se apresentaram paralelamente, como o início de formação de um desnível junto com a presença uma fenda no meio da encosta.

Segundo o relato dos moradores e documentos disponibilizados pela defesa civil do município, a declividade e rachaduras encontrados nas casas teriam se acentuado após o período de inverno do ano de 2002 (ano de intensa precipitação pluvimétrica – Figura 3.2). Neste mesmo período, foi relatado pela defesa civil, a queda de alguns degraus da escada de acesso ao quintal de uma das casas. Paralelamente a este fato, verificou-se o aumento de desnível existente no meio da encosta. Os fatores revelantes citados acima caracterizaram a ocorrência de rupturas localizadas na encosta tendendo a ruptura geral que viria a ocorrer.

O estágio de ruptura, que caracterizou o movimento de massa ocorrido na encosta, foi visualmente definido quando afetou significativamente as casas situadas no topo do deslizamento. No segundo semestre de 2002 (após período de precipitações intensas), a qual acarretou um considerável aumento no desnível existente no meio da encosta, com formação de alguns patamares ao longo da encosta, levando-se a crer que a chuva

pudesse ser considerada como o principal fator acionante do movimento de massa ocorrido. A Figura 3.7 ilustra uma vista geral da ruptura ocorrida com indicações de algumas características do movimento de massa ilustradas na Figura 3.8.

Figura 3.7. Vista geral da ruptura ocorrida com indicação de algumas características do movimento de massa.

A defesa civil verificou um desnível de aproximadamente 2 metros do piso das casas para o nível do terreno, conforme ilustra em detalhes a Figura 3.8a. Destaca-se que a tubulação exposta estava enterrada no terreno antes das movimentações na área. As Figura 3.8b e 3.8c ilustram, respectivamente, uma das fendas encontradas ao longo da encosta e a formação de um desnível de aproximadamente 1 a 1,5m de altura.

Apenas na vistoria realizada no dia 07 de janeiro de 2003 foi registrado pela defesa civil do município, o risco que as casas estavam oferecendo aos seus moradores, onde os técnicos avaliaram a necessidade de desocupação dos imóveis. Os moradores permaneceram no local até o mês de junho de 2003. Depois da desocupação das casas comprometidas, a defesa civil de Camaragibe demoliu as mesmas, para que os

Base da encosta Topo da

encosta

Área onde as casas foram demolidas (Ver Figura 3.8d) Área do deslizamento Patamares formados (ver Figura 3.8c) SM-02 SP-01 SP-02

moradores não voltassem a construir no local, pondo em risco suas próprias vidas (Figura 3.8d).

Indicam-se como fatores predisponentes à instabilidade do local, o antropismo e a geologia. No topo do trecho em que ocorreu o deslizamento, foram verificados cortes, aterros, presença de fossas nas bordas do talude e principalmente lançamento de águas servidas na encosta como um todo, aumentando assim a infiltração e a sobrecarga que contribuem para a instabilidade da encosta. Pode-se observar na Figura 3.7 que o relevo da área favorece a concentração do descarte de águas servidas no eixo do movimento de massa ocorrido. Desta forma, tanto as águas de chuva em conjunto com as águas servidas, contribuem com a elevação do nível d’água e aumento da umidade dos materiais presentes na encosta provocando a desestabilização do maciço. Com relação à geologia da encosta; essa possivelmente favorece a ruptura no contato entre as duas litologias presentes na encosta, o qual será avaliado no item 3.4.3. Aspectos referentes à quantificação e ao descarte de águas servidas na encosta serão abordados no Capítulo 5.

De acordo com as observações realizadas na área, concluiu-se que o processo de instabilização ocorrido na encosta ocorreu ao longo do tempo, onde o aparecimento das rachaduras e declividades no piso das casas, situadas no topo do deslizamento, deu-se paralelamente com a formação e posterior aumento do desnível entre os patamares encontrados ao longo da encosta. As características apresentadas são um indício de que a ruptura se deu de forma progressiva no sentido do topo para a base da encosta. O comportamento tensão-deformação dos materiais envolvidos no movimento de massa ocorrido, a serem abordados no capítulo 7, caracterizou-se de forma essencialmente plástica, justificando o processo de ruptura ocorrido na área ser de forma lenta ao longo do tempo. A confirmação do mecanismo descrito será abordado nas análises de estabilidade a serem apresentadas no Capítulo 8.

(a) (b)

(c)

(d)

(e)

Figura 3.8. (a) Deslocamento da escadaria de acesso à porta dos fundos da casa (cerca de 2m); (b) Fenda na encosta; (c) Patamares formados; (d) Detalhe do deslizamento após demolição das casas; (e) Croqui do processo ocorrido na área.

2,0m Fenda (20cm) Patamar Patamar Desnível (1,5m)

Desnível formado em conjunto com o desencadeamento da ruptura na parte superior da encosta

Sentido do movimento de massa 1°ruptura

2° ruptura decorrente da 1° ruptura

Pode-se adiantar que o processo de instabilização na parte superior da encosta, caracterizando o estágio de ruptura, desencadeou as movimentações ocorridas no meio da encosta, com conseqüente formação de patamares conforme ilustra o croqui apresentado na Figura 3.8e. A partir do estágio de ruptura ocorrido e com base na instrumentação implantada na área a ser apresentada no Capítulo 4, foi definido o estágio de reativação do movimento de massa, tendo como fator acionante as precipitações ocorridas na área.

O detalhamento dos fatores predisponentes, revelantes, acionantes e agravantes do movimento de massa estudado serão avaliado em detalhes no Capítulo 4, utilizando-se a proposta de Leroueil et al. (1996) de caracterização geotécnica de movimentos de massa.