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Características microbiológicas do solo antes e após o cultivo

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. Solo

4.2.2. Características microbiológicas do solo antes e após o cultivo

Antes e após o cultivo, foram determinadas as concentrações de coliformes fecais (CF) e de helmintos no solo cultivado. Os valores destas concentrações são apresentados na Tabela 27.

Mediante os dados apresentados na Tabela 27, verifica-se que a irrigação com água residuária tratada, utilizada nesse experimento, não foi um vetor de contaminação do solo. Observa-se que tanto a concentração de coliformes fecais quanto a concentração de helmintos no solo permaneceram inalteradas após as irrigações

Acredita-se que esse fato tenha ocorrido, em virtude da concentração de CF e helmintos (Tabela 13) ter ficado abaixo dos limites recomendados para o reuso agrícola pela Organização Mundial de Saúde, principalmente, a água dos tratamentos AP e UV. Assim, a água residuária, após ter sido submetida aos pós-tratamentos (filtração, adição de CO2 e desinfecção com radiação

7 PALIWAL, K.; KARUNAICHAMY, K.S.T.K.; ANATHAVALLI, M. Effect of sewage water irrigations on growth performance, biomass and nutrient accumulation in Hardwickia binata under nursery conditions.

ultravioleta), mostrou uma excelente qualidade para irrigação irrestrita e não atuou como fonte de contaminação do solo.

Tabela 27 – Concentração de coliformes fecais (CF) e helmintos antes e após o cultivo do solo

Tratamentos

AP(1) FAD(2) CO2(3) UV(4)

Parâmetros AC(6) PC(7) AC(6) PC(7) AC(6) PC(7) AC(6) PC(7)

CF(5) (NMP 4g -1 ST) <1 <1 <1 <1 <1 <1 <1 <1

Helmintos (NMP 4g -1) ausente ausente ausente ausente ausente ausente ausente ausente

(1)AP – Tratamento com água potável;

(2) FAD - Tratamento com água residuária filtrada por filtro de areia e discos; (3) CO2- Tratamento com água residuária com injeção de CO

2; (4) UV - Tratamento com desinfecção por radiação ultravioleta. (5) CF – Coliformes fecais;

(6)AC – Antes do cultivo; (7)PC – Após o cultivo

Além da qualidade da água, outros aspectos contribuíram para a erradicação dos microorganismos patogênicos no solo, entre eles, a suspensão da irrigação dois dias antes da coleta do solo, temperatura, radiação solar intensa e pequeno volume de solo (12 L), o que favoreceu a rápida evaporação e a diminuição da umidade do solo. A sobrevivência dos microorganismos patogênicos no solo, de acordo com Feachen et al. (1983), depende dos fatores citados, além do pH, conteúdo da matéria orgânica, adsorção e antagonismo da microflora do solo. Fegin et al. (1991) relatam que, em condições favoráveis, os microorganismos patogênicos podem sobreviver no solo por longos períodos. Por exemplo, as bactérias do grupo coliformes e os ovos de Ascaris podem sobreviver, no solo, aproximadamente por 38 dias e 7 anos, repectivamente. Shuval et al. (1985) mencionam que os coliformes fecais possuem um período de sobrevivência mais longo em temperaturas mais frias. Entretanto, em temperaturas maiores que 25 °C, podem ser eliminados em duas semanas. Seep8 (1971) apud Feigin et al. (1991) afirmam que a radiação solar exerce um efeito letal sobre todos os microorganismos patogênicos envolvidos na camada superficial do solo e mais de 99% dos vírus e bactérias detectáveis são eliminados após dois dias de exposição solar.

Biscaro (2003) utilizou água do Ribeirão Lavapés (Araraquara-SP), que é receptor de efluentes domésticos e industriais, na irrigação de alface e observou que, em três ciclos de

8 SEEP, E. The use of sewage for irrigation – A literature Review. California. Department of Public health, Bureau of Sanitary Engineering. Berkley, California, (1971).

cultivo, não houve poluição do solo por coliformes fecais ou salmonella 48 horas após as irrigações serem suspensas.

Utilizando efluente secundário na irrigação de berinjela, cuja concentração de coliformes fecais variou de 2,1 x 103 a 1,8 x 104 NMP 100 ml-1, Al-Nakshabandi et al. (1997) constataram que a concentração de coliformes fecais tendeu a ser maior no sólido úmido do que no solo seco. Em cinco meses de experimento, a concentração de coliformes fecais variou de 7,0 x 101 a 5,4 x 103 NMP 100 ml-1 no solo úmido e de 0,0 a 2 x 101 NMP 100 ml-1 no solo seco. Considerando o solo seco e a qualidade da água utilizada, os resultados obtidos por esses autores se assemelham com as observações realizadas neste estudo.

Irrigando alface, tomate e feno com água proveniente de poço e efluente terciário cuja concentração de coliformes fecais era, respectivamente, de 80 e 40 NMP 100 mL-1, respectivamente, Lopez et al. (2006) relataram que as parcelas irrigadas com água de poço apresentaram poluição maior do que as parcelas irrigadas com efluente terciário, devido à qualidade da água de poço ser de pior qualidade microbiológica. Os autores ressaltam ainda que os solos de todas as parcelas cultivadas mostraram ausência de salmonella, uma vez que as águas utilizadas para irrigação não continham esse microorganismo.

Koraa et al. (2002) utilizaram água residuária e potável, para irrigação, com características microbiológicas semelhantes às utilizadas nesse estudo. Esses autores verificaram que, em relação aos coliformes fecais, não foi detectada diferença significativa na qualidade microbiológica do solo, após um ano de irrigação utilizando efluente tratado por lagoas de estabilização e água potável. Eles afirmaram ainda que os solos das parcelas irrigadas com água potável e efluente tratado apresentaram ausência de ovos de helmintos. Por outro lado, nessa mesma pesquisa, o solo que recebeu esgoto bruto apresentou uma maior contaminação do que os solos irrigados com efluente tratado e água potável, com relação à concentração de coliformes fecais e helmintos.

Discordando dos resultados obtidos no estudo descrito acima, Araújo (1999) observou um acréscimo de coliformes fecais no solo, devido à aplicação de água superficial poluída. O autor afirmou que o acréscimo desses microorganismos patogênicos é creditado à péssima qualidade microbiológica da água utilizada, cuja concentração de coliformes fecais era de 5,2 x 105 e 1,8 x 105 NMP 100 mL-1, no primeiro e no segundo ciclo de cultivo, respectivamente.

De acordo com os resultados obtidos no presente estudo, a qualidade microbiológica das águas utilizadas para irrigação influenciou diretamente na não contaminação microbiológica do solo, sendo considerada uma resposta de extrema importância, uma vez que o uso de águas superficiais poluídas ou de esgoto bruto, para irrigação, propicia a poluição do solo, das águas subterrâneas e das culturas irrigadas, constituindo-se um vetor de disseminação doenças para os trabalhadores e consumidores dos produtos produzidos. Assim sendo, o reuso de efluentes tratados de boa qualidade microbiológica para a irrigação é viável e pode tornar essa prática segura e sustentável para o meio ambiente, para os produtores e consumidores de tais produtos.