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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Qualidade das águas de irrigação

4.1.3. Características microbiológicas

As características microbiológicas se referem à presença de coliformes fecais e helmintos nas águas de irrigação. Os coliformes fecais são microorganismos patogênicos utilizados como indicadores de qualidade das águas potáveis, das águas residuárias, das culturas e dos solos. Uma elevada contaminação por coliformes fecais pode causar diversas doenças como diarréias, infecções graves e até a morte. No no caso da irrigação, deve-se sempre obedecer aos padrões de

6 LI, T.Y., BAOZHONG, P., HOUQUIN, H., KORONG, J., MONGGAE, C., DISHEITANE, K. Experimental irrigation Project at Glen Valley Water Care Works. Sino-Botswana Government, 2001, Final Report.

qualidade de água, pois assim não haverá riscos de contaminação das culturas irrigadas, dos solos e do lençol freático.

Segundo Di Bernardo et al. (2002) e Motta (2003), a bactéria E.coli, que é de origem exclusivamente fecal, é de relevante importância para a avaliação da eficiência de tratamento de esgoto, uma vez que esse organismo indica presença de poluição fecal.

A escolha desse gênero de bactéria como organismo indicador de contaminação fecal se deu em virtude de serem resistentes às condições impostas pelo meio externo e se diferenciarem das outras bactérias patogênicas, como as Salmonelas e as Shigelas, já que fermentam a lactose do meio de cultura, produzindo gás, o que é não é realizado por todas as bactérias patogênicas. Além disso, a determinação da concentração de E.coli é menos laboriosa e cara do que a quantificação de outros organismos de origem fecal.

Na Tabela 13 estão expostos os dados da qualidade microbiológica das águas utilizadas na irrigação.

Tabela 13 – Valores médios dos parâmetros microbiológicos determinados para as águas utilizadas na irrigação

Tipos de água

Parâmetros AR FL AP UV CO2 FAD

E.coli(1) (NMP100 mL-1) 4,20 x 102 ± 1,13 x 103 2,74 x 101 ± 1,57 x 102 <1±<1 <1±<1 2,32 x 101 ± 1,43 x 102 5,73 x 101 ± 4,87 x 102 Helmintos (Ovos L-1) 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 0,0±0,0 Nota: AR – água Residuária; FL – Filtro lento; AP – Tratamento com água potável; FAD - Tratamento com água

residuária filtrada por filtro de areia e discos; CO2 - Tratamento com água residuária com injeção de CO2; UV - Tratamento com desinfecção por radiação ultravioleta.

(1) Média geométrica;

De acordo com os dados apresentados na Tabela 13, pode-se observar que as menores concentrações de E coli foram obtidas para a água potável que deve, segundo os padrões preconizados pela Portaria n.º 518, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde, apresentar ausência de E coli ou bactérias termotolerantes, em 100 mL de amostra. A partir desses dados, conclui-se que a água potável utilizada na irrigação apresentou excelente qualidade microbiológica.

Entre os tratamentos que utilizaram a água residuária para irrigação, o tratamento UV foi o mais eficiente na remoção de E coli, uma vez a água utilizada nesse tratamento não apresentou

indícios dessa bactéria. Esse resultado já era esperado, pois o uso de radiação ultravioleta é um método comprovadamente eficaz utilizado na desinfecção de águas.

Estudando a aplicação de radiação ultravioleta para desinfecção de efluente secundário Coletti (2003) concluiu que, apesar das altas concentrações de DQO e sólidos suspensos dos efluentes das lagoas facultativas, o sistema de desinfecção por ultravioleta, com lâmpadas emersas operando em bateladas em escala de laboratório, apresentou resultados satisfatórios na redução dos coliformes totais, fecais e colífagos, havendo, portanto, condições dessa técnica ser aplicada ao reuso agrícola de efluentes.

Na água residuária que alimentava o filtro lento e os demais tratamentos, a concentração de E coli variou em função do tratamento recebido. A água residuária do reservatório principal, a qual era distribuída para o filtro lento e para o tratamento FAD apresentou uma concentração média de E coli igual a 4,20x102 NMP 100 mL-1.

No tratamento FAD, o filtro de areia e discos se mostrou eficaz na remoção de E coli, uma vez que apresentou uma concentração média de 5,73x101 NMP 100 mL-1. O mesmo comportamento foi observado para o efluente do filtro lento, cuja concentração média de E coli encontrada foi de 2,74x101 NMP 100 mL-1. Dessa forma, o filtro lento e o filtro de areia e discos removeram, respectivamente, 93,5% 86,4% de E coli contida na água residuária tratada proveniente da ETE do Piracicamirim.

No tratamento CO2, a injeção de dióxido de carbono na água mostrou-se uma forma eficaz de reduzir a concentração de E coli, visto que foram encontradas menores concentrações de E coli nas águas desse tratamento do que nas águas do filtro lento e do tratamento FAD. Em relação ao efluente do filtro lento, a remoção de E coli foi de 18,1%.

Como se pode observar na Tabela 13, houve muitas variações nas concentrações de E coli nas águas AR, FL, CO2 e FAD. Porém, é necessário salientar que tais variações ocorreram em virtude do dia em que se realizou a coleta. Caso a coleta fosse realizada no dia posterior em que o reservatório principal foi abastecido, a concentração de E coli na água seria maior e, após três dias de armazenamento, a concentração teria caído uma casa logarítmica, devido, provavelmente, às altas temperaturas e exposição dos raios solares na água residuária armazenada no reservatório.

WHO (1989) recomenda que para culturas que possam ser consumidas cruas, a água residuária utilizada para irrigação deve conter menos de 1000 CF 100 mL-1 e menos de 1 ovo de nematóides L-1.

Assim, todas as águas utilizadas no experimento poderiam ser empregadas para irrigação da cultura do pimentão, uma vez que os resultados de CF e helmintos encontrados adequaram-se aos padrões preconizados pela OMS para reuso de efluentes na agricultura.

Em estudos realizados ao longo desta última década, diversos autores têm encontrado boas perspectivas para a prática do reuso na agricultura. Bastos et al. (2002) avaliaram a contaminação de alfaces irrigadas por aspersão, utilizando efluentes de três lagoas de estabilização em série e chegaram aos seguintes resultados: as alfaces irrigadas com o efluente da terceira lagoa tiveram qualidade bacteriológica semelhante às irrigadas com água de poço (testemunha) e tiveram qualidade superior às comercializadas em feiras livres, sendo plenamente aceitável para comercialização, segundo a legislação brasileira; as alfaces irrigadas com o efluente da segunda lagoa, o qual possuía qualidade inferior a preconizada pela OMS para irrigação irrestrita, tiveram qualidade bacteriológica próxima do aceitável. Ainda no referido trabalho, os autores recomendam a busca de resultados adicionais através da repetição de experimentos, utilizando outros tipos de culturas que apresentem contato diferenciado com a água de irrigação e com o solo.

Marouelli & Silva (1998) afirmam que berinjela, tomate e pimentão não devem ser irrigados com água contaminada, mesmo por gotejamento, já que os frutos podem ser facilmente contaminados por respingos provocados pela chuva; entretanto, tal problema é inteiramente anulado no caso de cultivo em ambiente protegido.

Por outro lado, conduzindo um trabalho em campo, Oron et al. (1995) pesquisaram a introdução e a translocação de poliovírus no sistema vascular das plantas de tomate (Lycopersicon esculentum) com trinta dias de idade e irrigadas por gotejamento com esgoto tratado. Nesse trabalho, a irrigação foi feita com água potável em três diferentes concentrações do microorganismo: 103, 5x103 e 104 PFU mL-1; com efluente tratado (testemunha); e com efluente enriquecido com 104 PFU mL-1. Além do poliovírus, foram dispostos nematóides no solo, a fim de danificar os sistemas radiculares das plantas e facilitar a entrada do microorganismo. Ao término do experimento, não se encontrou poliovírus nas folhas e nos frutos verdes e maduros.

Porém, foram encontrados poucos microorganismos no sistema vascular grosso das folhas das plantas irrigadas com água potável enriquecida com 104 PFU mL-1.