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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. Solo

4.2.1. Características químicas do solo após o cultivo

4.2.1.3. Enxofre, potássio e sódio

Os resultados da análise de variância do enxofre, do potássio e do sódio trocáveis no solo, obtidos através do teste F, estão expostos na Tabela 14. Observou-se que a interação tratamento x nível de adubação foi positiva para o teor de enxofre (S-SO4-) trocável. Também houve diferenças significativas entre os níveis de adubação e entre os tratamentos para o potássio e o sódio trocáveis no solo, respectivamente.

O resultado do desdobramento da interação tratamento x nível de adubação para o enxofre (S-SO4-) em função dos tratamentos encontra-se na Tabela 19 a seguir.

Tabela 19 – Desdobramento da interação tratamento x nível de adubação em relação aos tratamentos para o enxofre (S-SO4-)

Tratamentos Quadrado médio Valor de F Pr>F

AP(1) 26,252 3,66 0,0738NS

FAD(2) 26,087 3,64 0,0747NS

CO2(3) 38,724 5,40 0,0337*

UV(4) 275,94 0,04 0,8447NS

Nota: NS – Não significativo; * Significativo (p < 0,05). (1) AP – Tratamento com água potável;

(2) FAD - Tratamento com água residuária filtrada por filtro de areia e discos; (3) CO2- Tratamento com água residuária com injeção de CO

2; (4) UV - Tratamento com desinfecção por radiação ultravioleta.

Segundo os dados mostrados na Tabela 19, o tratamento que utilizou água residuária e adição de gás carbônico (CO2) foi o único tratamento que sofreu efeito da adubação nitrogenada de acordo com o teste F.

Realizou-se também o desdobramento da interação para os níveis de adubação cujos resultados estão expostos na Tabela 20.

Mediante a análise dos dados obtidos no desdobramento da análise de variância, pode-se salientar que, em nenhum dos dois níveis de adubação, houve resposta significativa, quanto ao enxofre no solo. Esse fato já era esperado, uma vez que o solo de todos os tratamentos recebeu doses iguais de sulfato, através da adubação de fundação e cobertura com sulfato de potássio utilizado como fonte de adubação potássica.

Tabela 20 – Desdobramento da interação tratamento x nível de adubação em relação aos níveis de adubação utilizados no experimento, para o enxofre (S-SO4-)

Nível de adubação Quadrado médio Valor de F Pr>F

com nitrogênio 21,305 2,97 0,0632NS

sem nitrogênio 16,589 2,31 0,1149NS

Nota: NS – Não significativo.

Os resultados dos teores médios de enxofre (S-SO42-), potássio e sódio trocáveis, entre os tratamentos e entre os níveis de adubação obtidos mediante o teste de Tukey a 5 % de probabilidade, encontram-se nas Tabelas 21 e 22.

O teste de Tukey, para a comparação das médias dos teores de enxofre (S-SO42-) no solo, não mostrou diferenças significativas entre os tratamentos, bem como entre os níveis de adubação, concordando com o teste F para estas duas fontes de variação.

Tabela 21 – Teores médios de enxofre (S-SO42-), potássio (K) e sódio (Na) trocáveis do solo após o cultivo

Teores médios

Tratamentos S-SO42- (mg dm-3) K (mmolc dm-3) Na (mmolc dm-3)

AP(1) 313,79A 19,71A 0,37B FAD(2) 276,34A 21,29A 0,57A CO2(3) 254,95A 21,50A 0,53A UV(4) 224,48A 26,50A 0,59A

Nota: Letras iguais nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05); (1) AP – Tratamento com água potável;

(2) FAD - Tratamento com água residuária filtrada por filtro de areia e discos; (3) CO2- Tratamento com água residuária com injeção de CO

2; (4) UV - Tratamento com desinfecção por radiação ultravioleta.

De acordo com Raij et al. (2001), teores de S-SO42- no solo acima de 10 mg dm-3 são considerados altos. Desta forma, por causa da adubação de fundação e de cobertura com o sulfato de potássio, o solo cultivado conteve teores de S-SO42- muito elevados.

Os trabalhos relacionados à aplicação de águas residuárias em culturas agrícolas não têm focado o nutriente enxofre; isso porque, na maioria dos efluentes, as concentrações de S-SO42- são similares, tanto para as águas superficiais e de abastecimento quanto para os efluentes domésticos. Fonseca (2001) e Fonseca (2005) não observou diferenças significativas nos teores de S-SO42- no solo, após aplicação de efluente tratado nas culturas de milho e capim - Tifton 85, respectivamente, em experimento e épocas diferentes.

Com relação ao teor de potássio trocável no solo, como já fora mencionado anteriormente, a análise de variância (Tabela 14) mostrou haver diferença significativa apenas entre os níveis de adubação (presença e ausência de nitrogênio). O teste de Tukey, para comparação das médias dos teores de potássio no solo entre os tratamentos e entre os dois níveis de adubação também atestou este comportamento. Os teores médios de potássio obtidos através do teste de Tukey, entre os tratamentos e entre os níveis de adubação, são mostrados nas Tabelas 21 e 22.

Tabela 22 – Efeito da adubação nitrogenada nos teores médios de enxofre (S-SO42-), potássio (K) e sódio (Na) trocáveis do solo após o cultivo

Teores médios

Nível de adubação S-SO42- (mg dm-3) K (mmolc dm-3) Na (mmolc dm-3)

Presença de nitrogênio 278,63A 15,97B 0,50A

Ausência de nitrogênio 256,15A 24,67A 0,53A

Nota: Letras iguais nas colunas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).

Os teores médios de potássio trocável no solo encontrados, ao final da etapa experimental, foram iguais a 19,71, 21,29, 20,45 e 26,50 mmolc dm-3 para os tratamentos AP, FAD, CO2 e UV, respectivamente. Raij et al (2001) mencionam que teores de potássio trocável no solo acima de 6 mmolc dm-3 são considerados altos. Entretanto para exercer efeito deletério quanto à disponibilidade de cálcio e magnésio às plantas, é necessário que as relações K/Ca e K/Mg estejam em desequilíbrio, fato que não aconteceu nesse estudo.

Não se esperava que houvesse efeito significativo nos teores de potássio trocável no solo entre os tratamentos, devido à aplicação da água residuária, por dois motivos: a concentração de

potássio nas águas residuárias, de modo geral, não foi alta e as águas de irrigação, utilizadas no experimento, apresentavam concentração de potássio bem semelhantes (Tabela 12), contribuindo, em parte, para não proporcionar incremento do potássio no solo. Além disso, o solo de todos os tratamentos receberam doses iguais de adubação potássica durante todo ciclo experimental.

Em alguns trabalhos realizados, foram avaliados os teores de potássio no solo, relacionado-os com a aplicação de efluentes tratados para irrigação agrícola. Entretanto, não há consenso entre os pesquisadores, por causa da dinâmica do referido nutriente no sistema efluente- solo-planta (ZEKRI & KOO, 1994).

Al-Nakshabandi et al. (1997) observaram acréscimo de potássio no perfil do solo, após cincos meses de irrigação com efluente doméstico, tratado por lagoas de estabilização, no cultivo de berinjela. Aumentos nos teores de potássio trocável no solo foram constatados por Agunwanba (2001) e Adekalu & Okunade (2002).

Porém, Kouraa et al. (2002), utilizando esgoto bruto, efluente tratado e água potável, cujas concentrações de potássio eram bem semelhantes às das águas utilizadas nesse estudo para irrigação de batatinha e alface, constataram não haver diferenças significativas nos teores de potássio no solo que recebeu esses três tipos de água. Outras pesquisas, com condições de fertilização mineral semelhantes às que ocorreram nesse experimento, realizadas por Azevedo & Oliveira (2005), Azevedo (2004), Fonseca (2001) e Fonseca (2005), forneceram resultados que concordam com as respostas encontradas no presente estudo.

Segundo os dados apresentados na Tabela 22, verifica-se que o teor de potássio trocável no solo foi menor na presença do que na ausência da adubação nitrogenada. Infere-se que esse fato ocorreu em virtude do cálcio advindo da utilização das águas de irrigação e da adubação nitrogenada com nitrato de potássio, que, por possuir carga iônica maior, ocupou os sítios de troca do solo, expulsando, assim, o potássio para a solução do solo. Quando o potássio torna-se disponível na solução do solo, pode ocorrer do mesmo ser lixiviado ou ser mais facilmente absorvido pelas plantas, como pode ser comprovado no tópico em que se discute a análise foliar das plantas.

Nesse experimento, a lixiviação do potássio é uma hipótese pouco provável de ter ocorrido, pois a lâmina de água aplicada nas plantas foi controlada. Assim, pressupõe-se que o potássio disponível na solução do solo foi absorvido pelas plantas que receberam adubação

nitrogenada, as quais tiveram maior desenvolvimento, maior produção de matéria seca e melhor rendimento.

A análise de variância dos teores de sódio trocável no solo, apresentada na Tabela 14, mostrou haver diferença significativa apenas entre os tratamentos. Através do teste de Tukey para comparação das médias dos teores de sódio disponíveis, nos solos dos tratamentos AP, FAD, CO2 e UV, cujos resultados encontram-se expostos na Tabela 21, verifica-se que os teores médios desse elemento não diferiram estatistaticamente entre os tratamentos FAD, CO2 e UV. Entretanto, é possível observar que houve diferença significativa entre os teores de sódio trocáveis no solo do tratamento em que se utilizou água potável para irrigação (AP) e os demais tratamentos, sendo o maior e o menor teor médio de sódio trocável no solo apresentado pelos tratamentos UV e AP, respectivamente.

A salinidade, na forma de sódio, das águas residuárias pode afetar diretamente as propriedades físicas dos solos, como a estrutura e a condutividade hidraúlica. Ainda em determinadas situações, o aumento na salinidade do solo pode afetar a absorção de água pelas plantas, devido à presença de uma maior concentração dos íons Na+, Cl- e HCO3- na solução do solo (BIELORAI et al., 1984; HALLIWELL et al., 2001; TOZE, 2006).

O acréscimo de sódio trocável do solo, em virtude da disposição de efluentes, foi constatado, por vários pesquisadores em trabalhos diversos.

Al-Nakshabandi et al. (1997) constataram, após cinco meses de irrigação com efluente tratado, cuja condutividade elétrica era de 2,5 dS m-1, que a salinidade da camada superficial do solo (0-20 cm) aumentou de 2,87 para 3,61 dS m-1. Emongor et al. (2004) citam que, em Botsuana, existiu acúmulo de sódio na camada superficial do solo, em virtude do uso contínuo de efluentes tratados e de lodo na agricultura. Lopez et al. (2006), cultivando tomate, alface e feno, irrigados com efluente terciário, observaram um aumento moderado da salinidade do solo após o cultivo.

Aqui no Brasil, Fonseca (2001) verificou que a disposição de efluente proveniente da ETE de Lins – SP no solo, ocasionou aumento de até 15,4 vezes no teor de Na trocável e chegou a ocupar até 22,5% da CTC. O autor menciona ainda que a RAS elevada e a alta concentração de Na no efluente da ETE de Lins têm indicado que o manejo desses parâmetros deverá ser o principal obstáculo para a disposição sustentável do efluente no sistema solo-planta.

Utilizando o mesmo efluente para irrigação, Gloaguen (2005) concluiu que houve alterações na condutividade hidráulica do solo tanto com o uso de efluente quanto com a água potável da cidade de Lins-SP, mostrando, nesse caso, que a irrigação convencional deve ser realizada com parcimônia. Nesse estudo, não foram detectadas modificações significativas na densidade, na textura e no volume de sólidos e de macroporos do solo cultivado.

Apesar dos solos, que receberam água residuária, apresentarem teores de sódio mais altos do que o solo que recebeu água potável, considera-se que não houve um acréscimo expressivo desse elemento, em virtude da disposição das águas residuárias, uma vez que as mesmas apresentaram condutividade elétrica adequada para irrigação (Tabela 11). Concordando com a premissa escrita e com os resultados obtidos no presente estudo, com relação ao sódio, Hussain & Al-Saati (1999) ressaltam que o uso de efluentes para irrigação cuja condutividade elétrica seja menor do que 1 dS m-1, não se constitui um problema para as culturas e que bons rendimentos têm sido observados com o reuso dessas águas.