• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO V MAIORIA E RELAÇÃO COM A DIFERENÇA

4. DIMENSÕES E RESULTADOS

4.2. Características sócio-demográficas

Começamos por estudar diferenças quanto às variáveis sócio-demográ- ficas que incluímos no questionário, nomeadamente o sexo dos sujeitos, a idade, o ano de escolaridade, o nível educacional dos pais, a (percepção da) dimensão do seu local de residência e a experiência de imigração, bem como de emigração dos pais. A raça não será analisada, devido ao baixo número de sujeitos de raça não branca, como já foi referido.

No que respeita a diferenças de sexo94, as raparigas mostraram-se mais

apoiantes nos direitos individuais (U = 49212, p

<

.001; r = .18), culturais (U

93. Cohen (1988) propôs uma grelha de leitura sobre a magnitude dum efeito que se tornou generica- mente aceite: um r = .10 é considerado um pequeno efeito (apenas 1% da variância explicada), um r = .30 um efeito médio (é explicada 9% da variância) e r = .50 um grande efeito (explica 25% da variância). Nem sempre medidas da magnitude do efeito são reportadas automaticamente pelos programas es- tatísticos, nomeadamente o SPSS, pelo que têm de ser calculadas “manualmente”. Por outro lado, a magnitude do efeito representa o aprofundamento do conhecimento de um determinado efeito. Assim, apenas apresentamos medidas da magnitude do efeito quando julgamos que este tem alguma consis- tência empírica ou interesse teórico.

94. Foram realizados testes Mann-Whitney (representados por um U), o equivalente não paramétrico

= 46753, p

<

.001; r = .22) e discriminação positiva (U = 50639, p

<

.01, r = .12), bem como nos direitos individuais (U = 50353, p

<

.001, r = .16), cultu- rais (U = 45353, p

<

.001, r = .21) e discriminação positiva da minoria cigana (U = 49180, p

<

.01, r = .13), e ainda nos direitos individuais (U = 51751, p

<

.05, r = .09) e culturais (U = 45045, p

<

.001, r = .19) dos imigrantes. Não se registaram diferenças significativas entre rapazes e raparigas na discrimi- nação positiva dos imigrantes.

Nenhuma correlação entre a idade e o suporte dos diferentes direitos foi significativa95. Note-se que as idades dos sujeitos da amostra apenas va-

riam entre 14 e 19 anos.

Quanto ao ano de escolaridade96, foram encontradas diferenças em relação

aos direitos culturais (H (2)= 8,527, p

<

.05), direitos culturais dos ciganos (H (2) = 7,595, p

<

.05) e direitos culturais dos imigrantes (H (2) 10,970 = , p

<

.01). No entanto, quando procurámos uma tendência linear de aumento ou diminuição dos níveis de suporte ao longo dos três anos de escolaridade, não a encontrámos97. Através de gráficos de médias, apercebemo-nos que

o padrão das diferenças é semelhante para os diferentes direitos, mas não linear: os alunos do 10º ano apresentam as médias mais baixas, seguidos dos alunos do 9º ano, tendo os do 11º sido os mais apoiantes. Os testes

post hoc98 revelam que, relativamente às três subescalas em questão, as

diferenças só são significativas entre o 10º e o 11º ano, e não entre o 9º e o 10º ou o 9º e o 11º.

Quanto mais alto o nível educacional dos pais, menor é o apoio dos filhos à discriminação positiva dos ciganos (r = -.149, p

<

.01), dos imigrantes (r = -.124, p

<

.01), e em geral (r = -.152, p

<

.01).

A dimensão do local de residência – podendo os sujeitos optar por aldeia, vila, cidade ou grande cidade – também não parece ter qualquer tipo de relação com o suporte de direitos das minorias em questão.

Como foi anteriormente referido, perguntámos ainda se os sujeitos tinham pais que eram ou foram emigrantes ou imigrantes, uma vez que este facto

95. Também na realização de correlações, utilizámos uma das correlações não paramétricas disponi-

bilizadas pelo SPSS, o rho de Spearman.

96. O teste utilizado para comparação de três ou mais grupos em relação a uma variável foi o Kruskal-

Wallis (que se representa por um H), o equivalente não paramétrico da Anova.

97. O teste utilizado para verificação de uma tendência de aumento ou diminuição linear entre vários

grupos ordenados é o Jonckheere-Terpstra. É designado por um J.

98. Uma vez que o SPSS não calcula testes post hocs não paramétricos, optámos por usar testes

Mann-Whitney com a correcção Bonferroni, isto é, dividindo o nível convencional de aceitação da signi-

poderia estar directamente relacionado com um maior suporte aos direi- tos das minorias, nomeadamente da minoria imigrante99. No entanto, tal

não se verificou: quer os sujeitos que afirmaram ter pais imigrantes, quer os que afirmaram ter pais emigrantes, não parecem ser mais apoiantes dos direitos das minorias em geral, nem dos imigrantes em particular. 4.3. Vinculação

A medida por nós utilizada para medir os padrões de vinculação foi o

Relationship Questionnaire100 (Bartholomew e Horowitz, 1991; Hazan e

Shaver, 1987). Ests medida é constituída por quatro pequenos parágrafos, cada um correspondendo a um dos quatro estilos de vinculação – seguro, desinvestido, preocupado e amedrontado. Assim, é pedido aos participan- tes que leiam as seguintes afirmações e que digam em que medida é que cada uma “tem a ver” consigo (numa escala de 1 a 4, em que 1 correspon- de a nada a ver comigo e 4 corresponde a muito a ver comigo):

1. É fácil para mim ter proximidade emocional com as pessoas. Sinto-me bem a pedir ajuda às pessoas e sei que normalmente elas me vão ajudar; quando me pedem ajuda podem contar comigo. Estar/ficar sozinho não me preocupa e também não me preocupa que haja pessoas que não gostem de mim;

2. É difícil para mim sentir-me perto das pessoas. Quero aproximar- me das pessoas mas acho difícil confiar nelas. Não me é fácil pedir-lhes ajuda. Preocupo-me com o facto de, se me aproximar demasiado das pessoas, elas acabem por me magoar;

3. Não me importa muito se tenho proximidade emocional com as pessoas. É muito importante para mim não pedir ajuda porque gosto de fazer as coisas por mim. Não gosto que me peçam ajuda;

4. Quero aproximar-me muito das pessoas mas elas não querem aproximar-se tanto de mim. Sinto-me triste quando não tenho proximidade emocional com as pessoas. Algumas vezes acho que me preocupo mais com elas do que elas comigo.

99. Lembramos que, pelo mesmo motivo, também perguntámos se algum dos pais dos sujeitos era cigano e que apenas obtivemos uma resposta positiva, evidentemente insuficiente para conduzir qual- quer tipo de análise quantitativa.

100. Hazan e Shaver (1987) desenvolveram inicialmente três parágrafos correspondentes aos três protótipos de vinculação (seguro; ansioso/ambivalente; evitante). Bartholomew e Horowitz adaptaram a medida para os quatro protótipos de vinculação (seguro; preocupado; amedrontado; desinvestido), nomeadamente pela inclusão de um parágrafo correspondente ao estilo amedrontado. De referir que a medida de Hazan e Shaver pedia ao sujeito para escolher o parágrafo que melhor o representasse, enquanto que Bartholomew e Horowitz usaram escalas de Lickert, permitindo assim “a possibilidade, não apenas de um sujeito identificar aspectos de si próprio em mais do que um dos protótipos, mas também de ajustar a medida desta identificação” (Matos, 2002: 107).

As afirmações representam respectivamente o estilo de vinculação segu- ro, amedrontado, desinvestido e preocupado.

Segundo Bartholomew e Horowitz (1991), estes 4 prot ótipos de vinculação são definidos pela intersecção de duas dimensões subjacentes: o modelo do eu e o modelo do outro, como já foi discutido na parte teórica deste tra- balho. A partir das respostas dos sujeitos, podemos calcular os resultados nas duas dimensões da seguinte forma: os resultados para a dimensão do eu, são obtidos através da soma dos resultados dos dois padrões com modelos do eu positivo (seguro e desinvestido) e subtraindo os resultados dos dois padrões com modelos do eu negativo (preocupado e amedron- tado); os resultados para a dimensão do outro, são calculados pela soma dos resultados dos dois padrões com modelos do outro positivo (seguro e preocupado) e subtraindo os resultados dos dois padrões com modelos do outro negativo (desinvestido e amedrontado). Aqui, interessa-nos es- pecificamente a dimensão do modelo do outro, uma vez que este diz da forma como o sujeito percepciona o outro, o que se reveste de particular pertinência para o estudo da relação com a diferença, isto é, com os ou- tros que são diferentes de nós101. Nomeadamente, esperávamos que um

modelo mais positivo dos outros estivesse associado a um maior suporte dos direitos das minorias102. Como podemos observar no gráfico abaixo, a

maior parte dos sujeitos tem um modelo do outro positivo (M = 1.55, DP = 1.75) e a distribuição assemelha-se a uma curva normal.

Figura 8 – Modelo do outro: distribuição de frequências

101. Ainda assim, e de forma exploratória, verificámos a relação entre o modelo do eu e o suporte aos direitos das minorias, não tendo, no entanto, encontrado quaisquer resultados significativos. 102. Também nos pareceu interessante explorar a relação entre o modelo do outro e a percepção de ameaça. Os resultados mostraram associações bastante fracas e inconsistentes.

A positividade do modelo do outro, associou-se significativamente aos di- reitos individuais (rho (one tailed) = .080, p

<

.05), aos direitos culturais (rho (one tailed) = .071, p

<

.05), aos direitos individuais dos ciganos (rho (one tailed) = .097, p

<

.05) e aos direitos culturais dos ciganos (rho (one tailed) = .084, p

<

.05). No entanto, somos obrigados a notar as baixas magnitudes dos efeitos (apesar das significâncias).