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Características tipológicas

No documento DESCRIÇÃO GRAMATICAL DA LÍNGUA ARAWETÉ (páginas 88-93)

Subramo V da família Tupí-Guaraní de acordo com Rodrigues e Cabral (2002)

3.3 Características tipológicas

As palavras da língua Araweté tendem a ser a combinação de mais de um morfema, chegando a ser constituídas de até cinco, seis ou sete morfemas, de forma que se caracteriza

Subramo V

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como uma língua do tipo aglutinante. As fronteiras morfológicas são bastante transparentes em Araweté, o que se deve, em parte, ao fato dessa língua ter perdido as consoantes finais presentes nas formas fonológicas das línguas de sua família lingüística, e de ter desenvolvido um padrão acentual que permite identificar as fronteiras morfológicas de uma palavra tomada isoladamente. Essa situação muda na combinação de mais de uma palavra, não só pelo padrão rítmico da língua, mas também pelos alomorfes zero de alguns prefixos.

No que diz respeito às fronteiras internas de palavras, além de sua fácil visibilidade, as relações entre morfemas e significados são, em princípio, biunívocas. Há, entretanto, casos de alomorfes zero de prefixos flexionais, como dito anteriormente, que tornam a forma fonética de um tema mais simples do que é na realidade.

O Araweté é uma língua que faz uso equilibrado de prefixos e de sufixos, o que se deve ao fato de ter perdido vários sufixos e prefixos flexionais ao longo de sua história. Isso se deu, em parte, pela perda de consoantes finais; mas outros fatores devem ser também considerados – contato lingüístico, entre outros.

O Araweté tem prefixos e sufixos flexionais e derivacionais. Os prefixos flexionais são pessoais e relacionais e os sufixos são casuais. Dos derivacionais, há prefixos que expressam voz – causativa simples, causativa comitativa e reflexiva – e os sufixos derivacionais são de atualização nominal, de dimensões físicas ou afetivas e derivadores de novos nomes. As derivações são endocêntricas e exocêntricas.

Além de prefixos e sufixos derivacionais e flexionais, o Araweté tem várias partículas que se tornam foneticamente muito próximas dos temas, de sorte que se comportam como sufixos. Contribui para isso o número de sufixos acentuados que mantêm seu acento quando combinados com temas lexicalmente acentuados. Esses fatos dificultam a distinção fonológica entre posposições e sufixos.

3.3.1 Núcleos dependentes

Araweté distingue nomes relativos de nomes absolutos. Os primeiros, os verbos e as posposições são marcados por prefixos que estabelecem entre núcleo e determinante relações de dependências e de contigüidade sintática. Determinantes de nomes, como o possuidor, de

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verbos transitivos como o objeto, de verbos intransitivos como o sujeito e determinantes de posposições, um nome ou pronome, precedem o núcleo que determinam.

A função de adjetivo é preenchida por um nome ou um verbo intransitivo em composição com um nome. O tema atributo segue o tema nominal modificado. Quantificadores e demonstrativos não formam com o nome uma unidade sintática, de forma que podem seguir ou preceder um nome e mesmo ocorrer na periferia oracional oposta.

Expressões adverbiais internas ao predicado seguem o núcleo deste, enquanto que advérbios sentenciais comumente ocorrem nas periferias das sentenças. Quando ocorrem no início, acionam mudanças morfossintáticas no núcleo do predicado, chamadas por Rodrigues (1953) de Indicativo II, ao tratar de fenômeno correspondente na língua Tupinambá.

Verbos que correspondem a verbos modais em línguas como o Inglês (may, shall, ought) formam um composto com o verbo que eles determinam, seguindo-o.

Orações adverbiais, como as de gerúndio e as de subjuntivo, acionam o indicativo II quando precedem a oração principal.

3.3.2 Argumentos

Argumentos verbais não são marcados para caso, mas ocupam posições definidas em várias construções e, na ausência deles, o núcleo que determinam recebem marcas relacionais que estabelecem as relações de dependência entre eles.

3.3.3 Seqüências de predicados e referência alternada

Araweté marca a co-referencialidade do possuidor, do complemento de posposição e do sujeito de predicados intransitivos dependentes com o sujeito da oração principal, padrão que se contrapõe às situações em que não há essa co-referência. Nestas situações há marcação que expressa essa disjunção. Um predicado principal pode ser modificado por mais de um predicado dependente, com co-referência ou com referência disjunta. Parte desses predicados pode ter como núcleo verbos posicionais ou direcionais.

92 3.3.4 Alinhamento

O Araweté é uma língua nominativa no indicativo I e no imperativo, quando o objeto é de terceira pessoa, mas absolutiva quando o objeto é uma primeira ou uma segunda pessoa, independentemente da pessoa do agente e do modo em que a proposição se estabelece.

3.3.5 Incorporação e reduplicação

Araweté faz uso produtivo de composição de nomes relativos e uso mais restritivo de nomes absolutos com verbos transitivos. Verbos assim compostos podem ser a base para vários outros processos derivacionais, razão pela qual consideramos esse tipo de composição um processo lexical.

Reduplicação pode ser monossilábica e dissilábica.

3.3.6 Ordem de argumentos relativa ao verbo e topicalização/focalização

Em orações no modo indicativo I afirmativo, a ordem básica é SOV, embora outras ordens possíveis sejam identificadas, com as ordens VSO e OVS, mas estas últimas resultam da posição periférica que V e O ocupam na oração para fins de topicalização/focalização.

Topicalização/focalização em Araweté caracteriza-se pela posição que um constituinte ocupa na periferia esquerda da sentença. Pode ser enfaticamente marcada por uma partícula (foco), a qual em várias situações é funcionalmente obrigatória.

3.4 Conclusão

Neste capítulo apresentamos resumidamente as propostas de classificação genética do Araweté na família Tupí-Guaraní, assim como alguns dos principais traços tipológicos que caracterizam essa língua. Mostramos que os estudos histórico-comparativos têm contribuído com resultados que comprovam a proximidade do Araweté com as línguas Asuriní do

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Tocantins, com o Anambé do Cairari, e com o Amanajé e o Ararandewára, mas que a identifica como mais próxima do Anambé do Cairari.

Dos traços tipológicos do Araweté, destacamos a ordem determinante/determinado, em que o segundo segue o primeiro, e a marcação de dependência entre eles no núcleo dependente. Ressaltamos que o Araweté apresenta sufixos e prefixos, tanto derivacionais quanto flexionais, que demonstrativos e quantificadores não formam com o nome um constituinte sintático, e que expressões adverbiais ao precederem um predicado acionam mudanças morfossintáticas no núcleo destes.

Observamos que a língua Araweté apresenta as ordens de palavras SOV, VSO e OVS, mas que SOV é a mais freqüente e a menos marcada. Observamos ainda que a língua faz uso de morfologia derivacional, de composição e de reduplicação e que apresenta um sistema de referência alternada.

94 CAPÍTULO IV

No documento DESCRIÇÃO GRAMATICAL DA LÍNGUA ARAWETÉ (páginas 88-93)

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