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Subramo V da família Tupí-Guaraní de acordo com Rodrigues e Cabral (2002)

5. CLASSES DE PALAVRAS EM ARAWETÉ

5.2 O nome e o sintagma nominal

5.2.1.1 Morfologia Nominal

5.2.1.1.1 Caso Nominal

Caso, em uma visão tradicional, como a de Rodrigues (2000) é “... um sistema de marcação de nomes para indicar o tipo de relação que estes têm para com os núcleos dos sintagmas em que ocorrem”. Com base nessa visão, Rodrigues identifica a expressão de caso em línguas da família Tupí-Guaraní, manifestado por meio de morfologia flexional (caso morfológico) e por meio de posposições.

Segundo Rodrigues (1996), há cinco tipos de casos morfológicos encontrados nas línguas TG: argumentativo, que compreende as principais funções gramaticais (sujeito de verbos intransitivos e transitivos, objeto direto, possuidor, objeto de posposição), translativo, que expressa uma mudança de estado físico ou social, locativo situacional, que indica o posicionamento e/ou situação de uma pessoa ou coisa com respeito a uma parte de outra; e locativo pontual e o locativo difuso, que indicam locação no espaço ou no tempo, sendo que o primeiro o faz de forma precisa/delimitada e o segundo, de forma difusa/não delimitada.

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Cabral (2000), com base em Jakobson (1957), descreve o sistema casual do Asuriní do Tocantins, distinguindo caso morfológico de caso semântico. Para Cabral, em Asuriní do Tocantins, diferentemente da morfologia casual, em que cada morfema se associa a um único caso semântico, posposições podem se associar a diferentes casos semânticos, assim como um mesmo caso semântico pode ser expresso por mais de uma posposição.

Asuriní do Tocantins

110) e-esák=kató kosó-a r-ehé e-ver-INT fêmea-ARG R1-em.rel.a

„tome cuidado com as mulheres‟ (CABRAL, 2000)

111) o-seeán sekwehé o-óp-a o-se-he

3-cantar MIT 3-estar.deitado-mesma 3-REF-para „estava cantando deitada para ela mesma (CABRAL, 2000)

Carreira e Lima (2002), em seu trabalho “Expressões de caso nas línguas Tupí- Guaraní” observam que, apesar de os estudos descritivos sobre as línguas da família Tupí- Guaraní mostrarem que essas línguas apresentam diversos casos semânticos associados a uma mesma posposição, é possível interpretá-los como manifestações de um mesmo caso semântico. Assim os dois exemplos acima de Cabral (2000) corresponderiam a uma única expressão do caso semântico “relativo”.

Em Araweté, a morfologia casual é compartilhada pelos nomes em geral, referenciais e não referenciais. O sistema morfológico casual do Araweté é bastante reduzido, quando comparado aos das línguas mais conservadoras da família Tupí-Guaraní.

O Araweté durante o seu desenvolvimento enquanto língua independente perdeu a manifestação do caso argumentativo e do caso locativo situacional (cf. CABRAL, 2001). O seu sistema casual atual é constituído dos casos –we ~ iwe „locativo pontual‟, -mu „locativo difuso‟, -(i)pi „locativo alativo‟, e -mu „caso translativo‟.

134 5.2.1.1.1.1 Locativo pontual

O caso locativo pontual se realiza por meio do morfema -we ~ -iwe que flexiona o tema nominal de forma que este “torna-se um lugar específico em que se está”. Exemplos com nomes flexionados pelo morfema do caso locativo são os seguintes:

112) pe -ta-we 23 R1-aldeia-LP

„na aldeia de vocês‟

113) kaapite-we roça-LP „na roça‟ 114) parani-we rio-LP „no rio‟ 115) kaa-pite -pe-we roça-meio R1-caminho-LP

„no meio do caminho da roça‟

116) a-nu ku he te-pia rea-we

1-deixar FOC 1 1CORR-sandália aqui-LP

135 117) e-dnu rea-we

2-deitar aqui-LP

„deite aqui‟

118) pawe nete-mee maka ee rupe ta-pe-we muito muito manga esse outro aldeia-RETR-LP

„tem muita, muita manga lá na aldeia velha‟

119) ere-j-eta ku ne puretaha-iwe 2-REF-ver FOC 2 espelho-LP

„você se olhou no espelho‟

120) e-reha mada Maria -a-iwe 2-levar mandioca Maria R1-casa-LP

„leve mandioca na casa da Maria‟

5.2.1.1.1.2 Locativo difuso

O caso locativo difuso é marcado nos nomes por meio do sufixo -mu para indicar um lugar no espaço ou no tempo, de forma imprecisa.

121) a-jija ku he pitu-mu 1-cantar FOC 1 noite-LD

136 122) ere-ha kaa-mu

2-ir mato-LD

„você vai pelo mato‟

5.2.1.1.1.3 Locativo alativo

O morfema do caso locativo alativo -pi ~ -ipi flexiona nomes para conferir-lhes o significado de “lugar para onde se vai”. Quando esse lugar é uma pessoa, o seu significado aproxima-se ao do significado da preposição chez do Francês (chez toi, moi, etc.). Alguns exemplos são:

123) mde u-ha bele-ipi 123 3-ir Belém-LA

„nós vamos para Belém‟

124) ere-ja ku ne atamira-ipi 2-vir FOC 2 altamira-LA

„você vem para Altamira‟

125) u-ha ku nivawdu Pakajã-ipi 3-ir FOC Nivaldo Pakajã- LA

„Nivaldo vai para o Pakajã‟

126) a-ha puta brazija-pi

1-ir querer/poder=DESII Brasília- LA

137 127) kunai-ipi ku erieti -ha ree

Funai- LA FOC Eliete R1-ir AT.OUTRO

„para Funai, Eliete foi‟

5.2.1.1.1.4 Translativo

O caso translativo é marcado nos nomes por meio do sufixo -mu que sinaliza uma condição adquirida por meio de uma mudança social ou física. Em Araweté, foram encontrados até o presente poucos exemplos contendo esse morfema.

128) he -hi-mu he r-ehe 1 R1-mãe- TRANS 1 R1-CR

„está na qualidade de minha mãe‟

129) ee u-ha he -ta-we ti-mee-mu esse 3-ir 1 R1-aldeia-LP bonita-NP-LP

„a que é bonita vai na minha aldeia‟

130) ure r-uri-ruri-mu ku ure -mee 13 R1-alegre-alegre-TRANS FOC 13 R1-dar

dd ure r-e a depois 13 R1-CR REIT

„depois é presente pra nós, nós ficamos muito alegres‟

131) he ku arara a-muji boro-mu 1 foc macaxeira 1-fazer bolo-TRANS

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Além dos quatro casos morfológicos descritos acima, noções que em outras línguas do mundo são expressas por morfologia casual, são expressas em Araweté por meio de posposições (cf. seção 5.5).

No documento DESCRIÇÃO GRAMATICAL DA LÍNGUA ARAWETÉ (páginas 131-137)

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