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Capítulo II – Sistema Econômico e o Papel do Estado: Razões para Tributar

II.4 Características dos Tributos

A natureza do tributo determina-se pelo fato que o gera e, segundo Brasil (1966), dá-se a esse fato a denominação de “fato gerador”, que constitui uma das fontes da obrigação tributária. A obrigação de pagar o tributo decorre de lei específica, segundo o princípio de que não pode haver tributação sem lei prévia que a autorize.

O tributo pode ser classificado como progressivo, regressivo ou neutro (caso a relação, respectivamente, aumente, diminua ou mantenha-se constante com o crescimento da renda), segundo a variação da relação entre a carga tributária e a renda do contribuinte. Quanto à forma de incidência, o tributo pode ser: i) específico, se o montante for fixo para cada unidade transacionada; ii) ad valorem, quando estabelecido como uma certa porcentagem do valor adicionado em uma determinada transação; iii) unitário, se incidir apenas uma vez numa mesma cadeia comercial; e, iv) múltiplo, caso incida em vários estágios de comercialização de um determinado bem.

Uma segunda classificação dos tributos diz respeito à distinção entre tributos incidentes sobre as rendas das pessoas e sobre as transações ou os objetos. Há os tributos gerais diretos e indiretos. O primeiro é caracterizado por incidir de acordo com a capacidade de pagamento de cada contribuinte, enquanto o segundo é aplicado sobre atividades e objetos, independente diretamente das características do pagador. O tributo indireto possui ainda uma subcategoria denominada imposto seletivo (excise tax) ou especial, que se aplica ao desempenho de um determinado ato econômico, tal como a produção de um determinado bem ou a oferta de um serviço específico, diferenciando-se do tributo geral, que incide amplamente sobre as transações econômicas (Simão, 2001).

Os impostos que têm captado a maior atenção como fonte de receitas são aqueles sobre o consumo local de bens e serviços, tipo Imposto sobre o Valor Agregado - IVA - associados a impostos seletivos de consumo. A experiência tem demonstrado que são relativamente fáceis de administrar, pois o IVA é, em grande medida, auto-controlado.

A base do IVA é geralmente complementada com alguns impostos seletivos (excise

tax), tipicamente sobre combustíveis, fumo, bebidas, automóveis e jogos de azar (Souza,

1999).

Segundo Grupta e Mahler (1995), a experiência internacional23 mostra que, a partir da segunda metade dos anos 60, a adoção da sistemática do valor adicionado correspondeu a um avanço importante na área da tributação, caracterizando o domínio de impostos gerais sobre a produção e o consumo.

Quando os tributos indiretos representam, basicamente, impostos sobre valor adicionado, a competição entre os produtos de um país A e de outro país B tende a ser feita em bases tributárias similares, onde a taxação dos produtos importados é igual a dos produtos nacionais, além de desonerar as exportações do peso desses tributos. Neste sentido, o imposto sobre Valor Agregado (IVA) é considerado a forma mais eficiente de tributação sobre vendas, principalmente por tratar-se de um tributo neutro em relação à estrutura organizacional das empresas, tendo em vista que o total do imposto incidente em um determinado produto não depende do número de transações por ele sofrido ao longo dos vários estágios da produção e da distribuição – ao contrário do que ocorre com os impostos em cascata ou cumulativos. Sendo uma proporção constante do valor adicionado, o IVA é facilmente identificado, o que permite que as exportações possam ser isentas e as importações tributadas da mesma forma que a produção doméstica.

Os tributos cumulativos são problemáticos por tornar, no mercado interno, o produto nacional mais caro que o importado (que não possui a incidência destes tributos). Além disso, no mercado externo, o produto nacional enfrenta concorrência de produtos sem essa carga tributária – o país taxa as exportações. Assim, além de distorcerem a alocação de recursos, os tributos cumulativos reduzem a competitividade dos produtos nacionais (Giambiagi e Além, 2000).

Segundo a finalidade, os tributos podem ser fiscais (com fins arrecadatórios) e extrafiscais (visando induzir comportamentos de agentes econômicos). Essa extrafiscalidade deve ser o instrumento de incentivo a determinados setores da

23 A análise específica da tributação do mercado internacional de combustíveis pode ser observada no capítulo V.

economia, tal como o de combustíveis automotivos, que será objeto de estudo da subseção V.1 do capítulo V.

É importante destacar a necessidade de minimizar os efeitos negativos da tributação sobre a eficiência e a competitividade do setor produtivo, assegurando a integração comercial. Desta forma, evitar-se-ia a ocorrência de danos à economia (que serão expostos no capítulo III) do país além de combater a sonegação fiscal. Ressalta-se a existência de duas maneiras para evitar o pagamento ou recolhimento de tributos: a elisão e a evasão tributária: a primeira é o ato de se evitar o aparecimento da obrigação tributária, sem a prática do dolo ou fraude; a segunda é o simples não pagamento ou não-recolhimento do tributo previsto em lei, podendo ser um ato falho ou ação consciente, espontânea, dolosa ou intencional, que, valendo-se de meios ilícitos ou não, retarda, reduz, elimina ou evita o pagamento ou recolhimento de tributo, o que é crime (Rietveld e Woudenberg, 2004).

Alguns combustíveis automotivos (como a gasolina), por possuírem características24 como a de um bem superior (portanto, com consumidores que possuem maior capacidade de pagamento), propiciam aumento do mecanismo tributário de redistribuição da renda (função distributiva do Estado, referida no início do capítulo).

Outra característica importante neste mercado é a ausência de substitutos (ou substituição limitada), que se reflete na baixa elasticidade preço da demanda, tornando esses bens propensos a uma maior tributação (segundo a regra de Ramsey, referida no decorrer deste capítulo). Tal fato está de acordo com a função alocativa do Estado.

Desta maneira, segundo os critérios de eficiência e capacidade de pagamento (desenvolvidos ao longo deste capítulo), a tributação dos combustíveis automotivos deve ser diferenciada. Esta diferenciação, oriunda das características destes bens, pode refletir ganhos para a sociedade, através, por exemplo, de aumento de arrecadação.

Uma vez que a arrecadação aumenta, as funções do Estado ficam facilitadas (pode haver diminuição de outros tributos – funções distributiva e estabilizadora, e aumento de oferta de bens públicos ou meritórios – função alocativa).

Analisadas, em termos teóricos, as razões fundamentais de aplicação dos tributos aplicados sobre os combustíveis automotivos, buscar-se-á, no próximo capítulo, desenvolver a ótica do consumidor, em uma análise microeconômica.