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CARACTERÍSTICAS DA VEGETAÇÃO DO SUDOESTE DO PARANÁ .1 Floresta Ombrófila Mista (Matas com Araucárias)

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.6 CARACTERÍSTICAS DA VEGETAÇÃO DO SUDOESTE DO PARANÁ .1 Floresta Ombrófila Mista (Matas com Araucárias)

O Bioma Mata Atlântica compreende um complexo ambiental que abrange toda a faixa continental Atlântica leste brasileira. Distribui-se, ainda, no Sudoeste, Sul e Oeste do país, alcançando as fronteiras com o Paraguai e Argentina. Na sua distribuição, a Floresta Ombrófila Mista ocupa o Planalto Meridional do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná (IBGE, 2004).

Este Bioma depende exclusivamente de altos e uniformes índices de chuvas, que proporcionam o desenvolvimento de diferentes tipos de vegetação como as Florestas Ombrófilas Densa, Aberta e Mista e Florestas Estacionais Semidecidual e Decidual. Na região fitogeográfica da Floresta Ombrófila Mista (FOM) restam poucas e dispersas formações, remanescentes exclusivas do Planalto Meridional e disjunções (refúgios de vegetação) nas áreas elevadas nas Serras do Mar e da Mantiqueira, em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais (IBGE, 2004; SILVA 2009).

Antes da colonização européia, o Estado do Paraná comportava, em boa parte de seus planaltos interiores, formações florestais, subtropicais densas com Araucárias. Atualmente, esta fitofisionomia encontra-se muito devastada devido a exploração de madeira bem como para expansão da agropecuária e de reflorestamentos com espécies exóticas e de crescimento rápido. A FOM representava, no início do século XX, cerca de 35% da cobertura vegetal da região Sul do Brasil. Atualmente, encontra-se reduzida a valores estimados entre 2% a 4% da área original, por vezes em fragmentos alterados e descaracterizados (LIGNER, 2007; SILVA et al., 2009).

A FOM é composta por espécies de Gimnospermas e Angiospermas de origem austral-antártica, caracterizada pela presença dominante da Araucaria angustifolia associadas com espécies como Ilex paraguariensis, Podocarpus lambertii e espécies pertencentes à família das Lauraceas e Myrtaceaes. Entre as Angiospermas típicas da flora austral, encontram-se as espécies Sebastiana commersoniana (Euphorbiaceae), Lythrae brasiliensis (Anacardiaceae), Mimosa scabrella (Leguminosae), Ilex theezans (Aquifoliaceae) e as Famílias Cunonaceae e Rhamanaceae de hábito arbóreo (Figura 1).

Figura 9- Perfil esquemático destacando a estrutura da Floresta Ombrófila Mista com predominância de Araucaria angustifolia no extrato D, Cedrela fissilis no extrato C, Psychotria suterella no extrato B, Setaria poiretiana no extrato A e no dossel da floresta distribuem-se as espécies de epífitas (adaptado de Roderjan et al., 2002).

Apesar da presença marcante da flora austral, há também um elevado número de espécies da flora tropical na composição florística da FOM. Destacam-se as espécies Ocotea porosa imbuia (Lauraceae), Piptocarpha augustifolia (Asteraceae) e várias Myrtaceas como a Campomanesia xanthocarpa, Eugenia uniflora, características de Florestas Montanas da região Sul e Sudeste do Brasil. Tal composição de espécies atribui à vegetação uma estrutura vertical diferenciada para a FOM, que compõe o estágio de sucessão mais desenvolvido da Floresta com Araucária (KLEIN, 1970/71).

De acordo com Roderjan et al. (2002), a FOM apresenta cerca de 350 espécies arbóreas; destas, 40% são endêmicas e apresentam-se bem distribuidas. De acordo com IBGE (2004), a FOM ocupa uma área de 400.000 km², situando-se entre os três Estados do Sul do Brasil, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em áreas de relevo planáltico e altitudes elevadas, variando entre 600 e 1100 m acima do nível do mar (a.n.m). Os Planaltos Meridionais onde se encontra essa região fitogeográfica apresentam evolução genética e são sustentados, sobretudo, por rochas basálticas (IBGE, 2004).

A total oposição entre as características fitogeográficas dos Planaltos Meridionais que comportavam a Floresta com Araucária e o Campo despertou o interesse de muitos profissionais que buscavam o entendimento da dinâmica espacial florística. No entanto, foi somente com Maack que a vegetação do Sul do Brasil foi estudada sob a visão evolutiva das características fitogeográficas, principalmente no Estado do Paraná, nas décadas de 1940 e 1950 (AB’SÁBER, 1996).

De acordo com Maack (1981), a Mata com Araucária tem avançado sobre os solos rasos encontrados nos Campos de gramíneas nas margens e cabeceiras de rios e nos declives das escarpas, devido a mudanças climáticas do Quaternário tardio (Pleistoceno). Os Campos são considerados atualmente como vegetação relictual de um clima semi-árido pretérito. Essas observações contribuíram com a hipótese de que as vegetações meridionais do Brasil ainda não haviam atingido um estágio de clímax, estando ainda em fase de acomodação antes da alteração provocada pela atividade humana. Tal fenômeno ocorre principalmente na zona limítrofe da mata com os Campos Gerais (ambiente de tensão ecológica).

A FOM é conhecida, hoje, por ser a vegetação mais descaracterizada, assim como o Bioma Mata Atlântica num todo, devido aos episódios de desenvolvimento socioeconômico do país, desde a colonização (SILVA, 2009). Ainda assim, seus remanescentes abrigam uma biodiversidade impar que oferece benefícios ambientais primordiais.

3.6.2 Campos (vegetação de gramíneas)

Na América do Sul, a vegetação composta de gramíneas secundárias-húmidas temperadas são distribuídas ao longo da Argentina Central-Oriental, Uruguai e no Sul do Brasil, estendendo-se até o Sudoeste do Paraná (HONAINE et al., 2009). De acordo com essa distribuição os Campos Sulinos foram divididos em savanas e estepes. Porém, estes termos não são adequados para descrever os Campos Sulinos devido às estepes serem influenciadas por um clima temperado frio (semi-árido) e savanas serem associadas à vegetação com formas mistas de hábito herbáceo. Assim, os Campos aparecem na literatura como Campos Limpos (sem componentes lenhosos) e Campos Sujos (com arbustos), ou apenas Campos (Figura 2) (MAACK, 1948; BEHLING, 1966; KLEIN, 1970/1971;; PILLAR et al., 2009).

Figura 10- Ilustração dos Campos limpos e Campos sujos presentes no Bioma Campo. Modificado de Coutinho (1982) citado por Silva et al. (2009).

A vegetação campestre desse Bioma é submetida a duas estacionalidades anuais, a primeira é fisiológica, provocada pelo frio das frentes polares; a outra, seca, mais curta (déficit hídrico); são esses fatores relevantes que promovem a formação met de uma vegetação aberta e rasteira (KLEIN, 1970/71).

Esse Bioma compreende fisionomias campestres, com tipologia vegetal dominada por espécies de gramíneas, herbáceas e arbustivas, recobertos por um conjunto ambiental de diferentes litologias e solos, em superfícies de relevos aplainados e suavemente ondulados de solos rasos e ácidos. Há, entretanto, afloramentos de rochas Paleozóicas como ocorre no Segundo Planalto do Paraná, onde se desenvolvem grandes manchas de Campo, distribuindo-se também nos Campos Gerais das cidades de Palmas, Guarapuava, Laranjeiras do Sul e na região Sul e Sudeste do Estado de Santa Catarina (IBGE, 2004; MAACK, 1981).

A área nuclear (core) do Campo ocorre no Planalto Sul-Rio-Grandense com cobertura vegetal gramíneo-lenhosa (IBGE, 2004; RODERJAN, 2002). A massa seca produzida por essas gramíneas, ao longo da estação de crescimento, é o produto da ação integrada da altitude, do tipo de solo e das condições climáticas da região em que se encontram distribuídos.

As formações florestais são pouco expressivas no Bioma de Campo, restringindo a vegetação arbórea às vertentes, depressões e margens de rios e afluentes. As paisagens campestres são naturalmente invadidas por contingentes arbóreos decíduos, pelas matas-de-galerias como a Araucaria angustifolia, proveniente da FOM, principalmente no Estado do Paraná, e por outros tipos de vegetações de contato (Figura 3). Acredita-se que esse processo caracteriza a substituição das formações abertas, compostas de gramíneas, pelas matas em função das mudanças climáticas no atual período interglacial, quente-úmido (IBGE, 2004; MAACK, 1981). Este processo induz a formação dos refúgios ecológicos, por diminuir a área de distribuição da vegetação campo, além das fronteiras atuais.

Figura 11- Vista panorâmica do Bioma de Campo com predomínio de gramíneas e agrupamentos arbóreos em depressões no Sudoeste do Paraná. Nota-se que o Campo ocorre em áreas de relevo suavemente ondulado. Foto obtida por Edenilson Raitz em novembro de 2010.

O Campo é composto por espécies de Angiospermas e Gimnospermas, mas a representatividade florística do Campo difere daquelas da FOM, é constituída de Panicum dichotomiflorum, Panicum maximum, Panicum repens, Panicum rivulare, Paspalum maritimum, Paspalum modestum, Paspalum notatum, Paspalum repens, Paspalum urvillei, Setaria poiretiana (Poaceae), representantes das gramíneas não lenhosas, Eremanthus erythropappus, Piptocarpha axillari (Asteraceae), herbáceas Bacckaris uncinela, Bacckaris magellanica e as espécies arbóreas Campomanesia dichotoma, Compomanesia. xanthocarpa, Psidium cattleyanum (Myrtaceae) (KLEIN, 1970; MAACK, 1981; BEHLING, 1966).

A atividade humana propiciou uma significativa homogeneização da cobertura vegetal, tanto nas áreas de gramíneas quanto nas áreas de formações pioneiras lenhosas arbustivas, que beneficiou as espécies dotadas de rizomas (espécies com maior resistência a períodos sem chuva). Essa atividade é influenciada pelo uso intensivo das pastagens naturais e/ou manejadas, associadas e atividades agrícolas (IBGE, 2004). As estimativas atuais sobre a área de distribuição do campo indicam a existência de cerca de 6,5 milhões de hectares com vegetação nativa. Isso representa um enorme patrimônio de diversidade floristica, onde a herbívoria e queimadas será sempre um elemento moldador da paisagem (PILLAR et al., 2009). Consequentemente, essas características das áreas nativas foram restringidas aos setores onde as atividades agronômicas são impedidas, por exemplo, pelo aparecimento de afloramento rochoso e solos rasos.

Em geral, nas áreas de Campo, como em Palmas – PR ocorrem queimadas naturais e, sobretudo, antrópicas. Desde tempos históricos, de acordo com Maack (1968; 1981), elas são empregadas para a renovação das gramíneas para pastagem.