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4 MATERIAL E MÉTODOS

3.1. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Para este trabalho foram selecionados dois fragmentos de vegetação representativos da região Sudoeste do Paraná, um pertencente à região fitogeográfica da Floresta Ombrófila Mista (Fragmento FOM) em Francisco Beltrão e outro, com vegetação aberta que compõe o Bioma de Campo (Fragmento de Campo) em Palmas no sudoeste do Paraná. A distância entre as áreas estudadas é de 158 km em linha reta no sentido W – SE (Figura 4 I).

Na seleção dos fragmentos, foi considerado o aspecto da vegetação que melhor caracterizam a sua fitofisionomia. O fragmento de FOM apresenta ambiente de floresta; em sua composição florísticas, destacam-se espécies de Lauraceas como a imbuia (Ocotea porosa), o sassafrás (Ocotea odorifera), a canela-lageana (Ocotea pulchella), a erva-mate

(Ilex paraguariensis), a caúna (Ilex theezans), que compõe a diversidade florística. Outras espécies de leguminosas (jacarandá e caviúna) e Mirtáceas (sete-capotes e guaviroveiras) também são abundantes na FOM, associadas à conífera Araucaria angustifolia (Pinheiro-do-Paraná) (KLEIN, 1984; LIGNER, 2007), contrapondo-se à vegetação aberta do Campo.

Figura 12– Localização dos fragmentos vegetacionais estudados. I: Mapa fitogeográfico do Estado do Paraná (ITCG, 2011), II: Mapa esquemático dos diferentes níveis topográficos (Altitudes), gerados apartir dos dados de radar SRTM. As áreas de estudo situam-se entre as altitudes de 601-700m a.n.m (Ponto A) e 1201-1300m a.n.m (Ponto B). A: Município de Francisco Beltrão. B: Município de Palmas. Fonte: figura II modificada de Paisani et al. (2008) por Jacson G.G. de Lima.

II

B

A

3.1.1 Fragmento de Floresta Ombrófila Mista

O fragmento de FOM encontra-se, no município de Francisco Beltrão – PR, a 1,5 km da BR180, situando-se a 14 km do centro urbano em sentido a Cascavel. Está localizada entre as coordenadas geográficas 26º04’21”S e 53º11’28”W, a aproximadamente 660 m acima do nível do mar (a.n.m) e pertence a uma pequena reserva particular que apresenta área de 86.350 m2 de mata. Tal fragmento de vegetação se situa próximo de cabeceira de drenagem em unidade de relevo local conhecida como patamar intermediário (PAISANI et al., 2008). Este fragmento é limitado por áreas de pastagens e de cultivo agrícola (Figura 5).

Figura 13- Localização da área de estudo (Floresta Ombrófila Mista), Francisco Beltrão - PR. O ponto indicado pela seta refere-se à unidade de amostragem.

O clima da região Sudoeste, em que o fragmento de FOM se encontra estabelecido, é classificado como Cfb (Clima Subtropical Úmido – mesotérmico), com temperatura média em torno de 20

º

C e pluviosidade média anual de 2000 mm (IAPAR, 1994; KLEIN, 1970/71; BEHLING, 1966). A litologia predominante é o basalto da Formação Serra Geral. Essa rocha é o material que deu origem a Latossolos, Argissolos e Cambissolos, enriquecidos em ferro e com relativa fertilidade natural, usados principalmente para agricultura e pecuária nesta região (NARDY et al., 2002).

Figura 14- Vista panorâmica da área de Floresta Ombrófila Mista em Francisco Beltrão- PR. Foto obtida por Edenilson Raitz em novembro de 2010.

A vegetação local apresenta no extrato superior composto pela Araucaria angustifolia, que dá à paisagem caracter fisionômico próprio da FOM (Figura 6). Os extratos inferiores são constituídos por árvores mais baixas e/ou arbustos arborescentes, pertencentes em grande parte às Mirtaceae. O fragmento estudado encontra-se em estágio avançado de sucessão, contendo todos os componentes vegetativos característico dessa fitofisionomia. Nesta área, há uma elevada ocorrência de espécies pertencente ao extrato B (1 a 5 m de altura), representadas pelas Pteridófitas como Dicksonia selowiana (xaxim), Psychotria suterella (Araçá-de-macaco) e árvores de grande porte como a Araucaria angustifolia compondo o extrato D (Figura 7).

A) B)

Figura 15– A) Extrato herbáceo Piper guadichaudianum; B) Extrato arbóreo Araucaria angustifolia. Foto obtida por Edenilson Raitz em julho de 2010.

O fragmento em estudo também é cercado por lavouras e pastagens, com sinais de interferência humana na forma de extração de madeira e frutos, principalmente o pinhão. Embora a coleta das sementes não seja discriminatória, outros fatores também influenciam a dinâmica natural da vegetação como a predação ocasionada pelo gado que, comumente, transita pela área. Estas ações alteram principalmente o desenvolvimento das espécies distribuídas nos extratos A e B, como a Piper guadichaudianum (Figura 7A). Aliado a estes aspectos, observa-se que a vegetação da periferia do fragmento, sofre a ação de influencias exógena, notadamente a erosão do solo.

Levando em consideração as ações antrópicas exercidas sobre a distribuição da vegetação, o fragmento ainda mantém muitas de suas características originais constituindo uma excelente fonte de informações sobre as estruturas e composição de espécies.

3.1.2 Fragmento de Campo

O fragmento de Campo corresponde a uma parcela de terra usada para criação de gado e que nos últimos 2 anos se encontra em repouso. Tal fragmento localiza-se próximo a usina eólica na divisa dos Estados do Paraná e Santa Catarina, no município de Palmas (PR). A área se situa entre as coordenadas 26º34’47”S e 51º41’30”W, à aproximadamente 1.280 m a.n.m (Figura 4 e 8).

Figura 16 – Localização da área de estudo (fragmento de Campo) em Palmas – PR. O ponto indicado pela seta refere-se à unidade de amostragem.

O clima da região em que se encontra o fragmento de Campo diferencia-se da anterior pelo efeito da altitude e foi classificada por Maack (1981) como Cfa, (Clima temperado húmido com verão quente), com média de temperatura anual de 15,6ºC e pluviosidade média anual de 1735 mm (VOLKMER, 1999; IBGE, 2004). Representa a região mais fria do Estado do Paraná.

A geologia da área também corresponde às rochas da Formação Serra Geral, porém de natureza ácida como os dacítos e riodacítos (NARDY et al., 2002). Estes são mais resistentes aos processos de intemperismo, e com coloração cinza-clara e são compostas predominantemente por minerais de calcedônia e quartzo. Diante da complexidade evolutiva dessa área, são registradas as seguintes classes de solos: Cambissolos, Neossolos Regolíticos e Litólicos. A paisagem apresenta relevos planos situados em altos topográficos e mais dissecados, com vertentes curtas e solos rasos cascalhentos (VOLKMER, 1999) (Figura 9). Na área selecionada, são comuns espécies de Poaceae e arbustos representativos dos antigos Campos que recobriam o Planalto de Palmas antes da ocupação, no Século XIX, pelos grandes criadores de gado. Atualmente, suas características vegetativas encontram-se totalmente alteradas.

Figura 17– Vista panorâmica do Bioma de Campo, em Palmas - PR. Foto obtida por Márcia Regina Calegari em agosto de 2010.

A vegetação natural do Campo de Palmas é composta principalmente por gramíneas baixas, pequenos bosques e capões de árvores e arbustos próximos às redes de drenagem (MAACK, 1968) (Figura 10). A paisagem é monótona por vários quilômetros de extensão, interrompida apenas por vegetação arbustiva e arbórea, como a Araucaria angustifolia, que compõe a mata ciliar nos terrenos onde se encontram os afloramentos dos lençóis freáticos e nas superfícies de cimeira conservadas (VOLKMER, 1999), ou, ainda, pelos agrupamentos de espécies exóticas como o Pinus, encontrados nos mais diversificados

ambientes edáficos. Os limites entre os Campos e a FOM são, na atualidade, de difícil identificação, principalmente por causa da agricultura mecanizada, que promoveu uma homogeneização da paisagem regional.

Figura 18– Capões de mata, presentes nos fundos de vales, no Campo de Palmas – PR. Foto obtida por Edenilson Raitz em novembro de 2010.

3.2. AMOSTRAGEM

3.2.1. Amostragem de plantas

A amostragem das epécies dos fragmentos de FOM e do Campo foram realizados em duas etapas: levantamento de campo e descrições taxônomicas.

O trabalho de campo realizado em julho de 2010. Nesta etapa buscou-se coletar folhas de diferentes partes da planta (2folhas de sol e de sombra) e de diferentes indivíduos da mesma espécie. Após a coleta o material proveniente das espécies coletadas foi levado ao Laboratório de Análise de Formações Superficiais, da Unioeste – Campus de Francisco Beltrão, para montagem das exsicatas e separação das folhas intermediárias — descartou-se folhas secas e muito novas — as quais foram submetidas a extração de fitólitos.

Para elaboração da coleção de referência de fitólitos das espécies modernas, foram coletadas aquelas mais representativas de cada fragmento estudado — herbáceas, arbustivas e arbóreas — obtendo desta forma a vegetação potencial de cada fragmento. As coletas foram realizadas em um raio de 30 m a partir de um local selecionado em cada uma

2 Plantas tropicais e subtropicas apresentam mudanças estruturais e fisiológicas significativas em resposta às diferentes condições de luminosidade. Estas adaptações das folhas de um mesmo indivíduo às diferentes condições de luminosas, constituem a base da diferenciação entre folhas de sol e de sombra e estão associados a características morfoanatômicas e fisiológicas distintas (DIAS, 2005).

das áreas. O local foi selecionado por ser representativo da maior densidade e diversidade das espécies conforme o levantamento bibliográfico realizado.

As espécies selecionadas foram identificadas de acordo com o Sistema de Classificação Botânica, com auxílio da literatura botânica específica (LORENZI & SOUZA, 1999; LORENZI, 2000; 2001; 2002; 2007; 2008; 2009) e por anotações das características morfológicas e distribuição das espécies em campo. Partes das amostras foram enviadas ao especialista Osmar dos Santos Ribas, do Museu Botânico em Curitiba (MBC), para identificação e permanecerão no Museu como resultado de pesquisa de mestrado da Unioeste – Campus de Francisco Beltrão – PR.

No total, foram coletadas no fragmento de FOM 42 espécies pertencentes a 38 gêneros e 28 famílias (Tabela 4). Para o fragmento de Campo foi amostrado 34 espécies, 24 gênero agrupados em 6 famílias – Poaceae, Cyperaceae, Solanaceae, Asteraceae, Myrtaceae e Lauraceae distribuidas nos estratos A, B e C, respectivamente (Tabela 5).

3.2.2 Amostragem de serrapilheira

A serrapilheira é composta pela matéria orgânica em decomposição, pela atuação mutua de microorganismos. Esta é proveniente da vegetação que constitui a fonte de material da qual se formará o conjunto de fitólitos da vegetação sobrejacente que se desenvolve no momento da amostragem (MERCANDER et al., 2009; PIMENTA et al., 2011).

A amostragem do material foi realizada em um raio de 30 m, no mesmo ponto de coleta das plantas. Em seguida, as amostras foram misturadas, formando uma amostra composta de aproximadamente 250 g de matéria dos fragmentos de FOM e Campo.

3.2.3. Amostragem de solo

A amostragem do solo foi realizada a partir de 5 minitrincheiras, com 40 cm de profundidade e 50 cm de largura cada, distribuídas em um raio de 30 m nas duas áreas de amostragem. Foi aberta uma mintrincheira e coletado 150 g de solo a cada 5 cm, nos primeiros 40 cm de profundidade no centro das áreas da FOM e do Campo e mais quatro minitrincheiras para coleta de amostras compostas a cada 5 cm, até alcançar 20 cm de profundidade. Com isso garantiu-se a espacialidade e melhor representatividade do sinal do conjunto de fitólitos em cada profundidade.

Após secagem ao ar, as amostras de solo foram destorroadas e peneiradas em malha de 2 mm para obtenção da fração terra fina seca ao ar (TFSA), no Laboratório de

Análise de Formações Superficiais da Unioeste, Campus de Francisco Beltrão. Na fase de peneiramento, foram retirados fragmentos de matéria orgânica como raízes, galhos e folhas.