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4 MATERIAIS E MÉTODOS 1 Delineamento da pesquisa

6.1 Caracterização da Amostra

Os principais objetivos do presente estudo foram verificar a influência da intensidade do exercício, do genótipo da apoE, e da interação de ambos na resposta da LPP em sujeitos saldáveis do sexo masculino.

Alguns estudos analisaram a influência do exercício crônico na LPP (21) (22), outros, a resposta aguda do exercício resistido (2) (23), ou endurance (6) (24) (25) (27) (76) (77). Alguns estudos, relacionaram a LPP ao genótipo da apoE (5) (12) (14) (15) (46), entretanto, poucos verificaram a interação entre o exercício e o genótipo da apoE (55) (78) (79) (80) (81), e ao fazerem, nenhum destes que analisaram a interação entre o exercício e apoE, o fizeram de maneira aguda, e até o momento, de acordo com a presente pesquisa bibliográfica, nenhum estudo analisou a LPP em função do genótipo da apoE após exercício aeróbio contínuo e intermitente.

Em análise inicial, verificou-se que a amostra do presente estudo foi semelhante entre os grupos formados pelo genótipo da apoE, como as variáveis antropométricas (peso, estatura, IMC e gordura corporal), as variáveis de desempenho

correspondente ao esforço máximo (VO2 máximo, velocidade máxima e freqüência cardíaca

máxima), e ao limiar anaeróbio (consumo de oxigênio na intensidade correspondente ao LA, a velocidade, a FC e a PSE).

Essa homogeneidade entre os grupos, principalmente sobre as variáveis que foram utilizadas para o controle da intensidade e do volume é importante, haja vista que um dos objetivos do estudo foi verificar a influência da intensidade do exercício na LPP, e isto tem sido motivo de controvérsia em estudos desta natureza (82) (83).

6.2 Efeito da intensidade do exercício

Para responder esse objetivo foi randomicamente realizado um dia controle, no qual não houve a prática de exercício, e dois dias de exercício em esteira ergométrica, sendo um de maneira contínua, a 85% (EX-CON) e outro intermitente, a 115% do LA (EX-INT), no qual ambos foram conduzidos até um gasto calórico de 500kcal. Nesse sentido, a tabela 2 mostrou algumas variáveis de controle referentes ao volume e a intensidade de ambos os exercícios, no qual apesar de algumas destas diferirem entre si, como por exemplo, a velocidade de corrida e a PSE, observa-se que o gasto calórico não diferiu entre os experimentos. Para Katsanos et al. 2004 (28), a principal variável relacionada à resposta da LPP é o gasto calórico, pois parece que sua resposta é proporcional ao gasto calórico.

Neste objetivo, o principal resultado mostra que ambos EX-CON e EX-INT, 30 minutos antes da ingestão da BH, foram eficientes na redução da resposta dos valores de TGs na segunda, terceira e quarta hora, bem como na ASC. O VLDL diferiu do controle na segunda hora (EX-CON) e na quarta hora (EX-CON e EX-INT) após a BH. Adicionalmente, nenhuma diferença significativa foi observada entre EX-CON e EX-INT nas quatro horas pós-prandiais. Assim o presente estudo indica que a intensidade não influenciou na magnitude da LPP. Estes resultados são importantes porque indicam o benefício tanto do exercício contínuo e moderado, quanto do intermitente e intenso no metabolismo lipídico.

Estes dados contradizem os estudos de Teixeira et al. 2006 (39), que analisaram o efeito de 30 minutos de caminhada em velocidade constante, sem inclinação em 27 indivíduos sedentários com idade entre 30 e 55 anos, e Tyldum et al. 2009 (84), que analisaram o efeito do exercício intermitente (4 séries de 4 minutos a 85% da FC máxima) e contínuo (47 minutos a 60% da FC máxima), e não encontraram redução da LPP, mensurados por quatro horas após uma dieta rica em gordura. Nestes estudos, não foram descritos o gasto calórico dos experimentos, contudo, possivelmente ambos tenham ocorrido um dispêndio

energético menor do que o observado no presente estudo. Em outro estudo (31), foi analisado a influencia de 30 minutos no ciclo ergômetro em jovens não treinados com intensidade de 26, 37 e 48% do VO2 máximo, com gasto calórico de 110, 157 e 203 kcal respectivamente, e não observaram redução dos valores de TGs nos momentos de uma a seis horas após uma alimentação rica em gordura, nem na ASC quando comparado o dia controle e os demais experimentos. Para os autores, o pequeno gasto calórico decorrente do exercício, associado aos valores de RER, indicando oxidação de gordura semelhante ao dia controle, foram os determinantes do fracasso do estudo na tentativa de confirmar a hipótese do benefício do exercício na redução da LPP em ciclo ergômetro.

Entretanto, o presente estudo corrobora com os resultados de Miyashita et al. 2006 (29), que analisaram a LPP em 10 homens com idade entre 21 e 32 anos, no qual foram testados, dia controle, exercício intermitente (10 sessões de 3 minutos a 70% do VO2

máximo) e exercício contínuo (30 minutos a 70% do VO2 máximo), e perceberam que ambas

as sessões de exercícios (contínuo e intermitente) apresentaram diminuição na LPP, verificado pela cinética de TG analisada durante sete horas no período pós-prandial. Nesse estudo, a intensidade e o volume do exercício foram as mesmas, mudando somente a forma de execução (contínuo vs intermitente), diferentemente do presente estudo, em que duas intensidades foram testadas (15% abaixo e 15% acima da velocidade correspondente ao LA), contudo, o volume controlado pelo gasto calórico foi semelhante. Todavia, outros autores (6) (85), afirmam que a diminuição da LPP é independente da intensidade do exercício, quando o gasto calórico é o mesmo.

Katsanos et al. 2004 (26), por sua vez, verificaram que quando o exercício é concluído uma hora antes da ingestão de uma refeição rica em gorduras, o exercício físico de intensidade moderada (65%) atenua a LPP, enquanto que o exercício leve (25% do VO2 pico) com o mesmo gasto calórico não. Uma das especulações para este achado envolve a maior

atividade da enzima LPL mediada pela menor liberação de insulina em conseqüência do exercício moderado, mas não do exercício leve, verificada pela ASC da insulina. A LPL facilita o clearance de TG do plasma para os músculos esqueléticos para repor os triglicerídeos intramusculares oxidados durante o exercício (30) (32).

O mecanismo associado à resposta da insulina e a intensidade do exercício ainda precisa ser confirmado, Porém, com base nas evidências disponíveis, parece que o glicogênio muscular contribui substancialmente para a produção total de energia durante o exercício mais intenso, enquanto que a sua contribuição durante o exercício leve é mínima Assim, a diminuição do glicogênio muscular no exercício mais intenso é um estímulo para aumentar o conteúdo de GLUT-4 na superfície da célula muscular, o que aumenta o transporte de glicose para a célula e, conseqüentemente, diminui as exigências para a eliminação de glicose mediada pela insulina no músculo (86).

Entretanto, para Gill et al. 2002 (87), um outro mecanismo além da insulina está relacionado à resposta da LPP após o exercício. Assim, a relação entre exercício, maior atividade da LPL e a conseqüente resposta da LPP, mediada particularmente pela insulina precisa ser mais bem elucidado, tendo em vista que no presente estudo o EX-CON a 69,2% e o EX-INT a 75,6% do VO2 máximo, apresentaram redução semelhante da LPP, quando comparados com o dia controle, entretanto, a ASC da insulina no presente estudo (dados não mostrados) não diferiu entre o dia controle, EX-CON e EX-INT. Semelhantemente, Barrett et al. 2006 (6), encontraram respostas parecidas na LPP, mesmo com valores diferentes de insulina plasmática, pois a ASC da insulina no exercício contínuo não diferiu do dia controle, enquanto que o exercício intermitente sim. Assim, pode haver outro mecanismo, que não a ação da insulina mediando a LPL, e/ou outros mecanismos além da LPL agindo na LPP (88).

Nesse sentido, o gasto energético durante o exercício, parece ser a principal explicação para uma reduzida LPP nas horas subseqüentes a uma alimentação rica em

gordura, e isso parece ser consenso entre a maioria dos trabalhos nesta linha (6) (7) (30) (85). Reforçando esta hipótese, (Zhang et al. 2007 (32), compararam diferentes volumes de exercícios na mesma intensidade, e verificaram que o exercício realizado em esteira rolante a

60% do VO2 máximo com tempos de 30, 45 e 60 minutos, e gastos de 306, 461 e 606kcal

respectivamente, apresentaram redução da LPP comparado com o repouso, sobretudo, a magnitude desta redução foi proporcional ao gasto calórico.

De acordo com os dados do presente estudo, além do gasto calórico proporcionado pela prática de exercício em ambos os experimentos, podemos destacar ainda o gasto calórico dos 30 minutos subseqüentes ao exercício, referente ao excesso de consumo de oxigênio pós-exercício (EPOC), bem como o gasto calórico total durante o período compreendido pelo estudo, no qual, EX-CON e EX-INT foram significativamente maiores, quando comparado com o dia controle.

Altena et al. 2004 (27), ao compararem exercício intermitente com exercício contínuo, durante 30 minutos, totalizando um gasto de 245kcal, verificaram que somente o exercício intermitente proporcionou redução dos valores de TGs no período pós-prandial. Para os autores, tal diferença pode ser explicada pela maior atividade da LPL, e pelo maior consumo de oxigênio pós exercício, observado em decorrência do exercício intermitente. No presente estudo, o consumo de oxigênio pós-exercício não diferiu entre os experimentos realizados a 85% e 115% do LA, o que pode ter contribuído para que a LPP não tenha diferido entre as diferentes intensidades.

Para Pfeiffer et al. 2006 (31), o RER pode ser outro mecanismo importante na explicação da LPP decorrente do exercício. Tal afirmação é coerente com os dados do presente estudo, uma vez que o RER mensurado a cada hora após a ingestão da BH aponta que os valores do dia controle foram significativamente maiores que EX-CON e EX-INT, indicando uma maior oxidação de gordura durante o período pós-prandial. Essa maior

oxidação de gorduras pode ser decorrente da reposição dos lipídeos intramusculares oxidados durante o exercício, bem como, dos lipídios utilizados pelo fígado para a gliconeogênese a fim de repor o glicogênio depletado durante o exercício. Recentemente, Harrison et al. 2009 (86), verificaram a influência do exercício agudo com e sem a suplementação de carboidratos na LPP, e verificaram que o exercício sem a suplementação de carboidrato apresentou redução significativa do glicogênio muscular comparado com o controle e com o exercício com suplementação do carboidrato, entretanto, somente o experimento sem a suplementação de carboidrato apresentou atenuação dos valores de TGs.

Para Magkos et al. 2008 (23), ambos, menor RER, representando maior oxidação de gorduras, e o maior gasto calórico, conseqüente do maior consumo de oxigênio durante o exercício, e principalmente no período pós-exercício contribuem para uma maior

clearance de TGs no período pós-prandial.

Para Miyashita et al. 2006 (29), além dos mecanismos já citados, anteriormente, a redução da síntese e secreção do VLDL do fígado no período pós-prandial poderia ser um mecanismo relacionado ao exercício e associado na explicação deste fenômeno, já que no dia controle o mesmo não foi verificado, o que indica que a oxidação de ácidos graxos no fígado foi elevado, reduzindo a disponibilidade de TGs para incorporação em VLDL. Para Katsanos e Moffatt 2006 (28), quando o exercício é realizado imediatamente antes da refeição, os mecanismos que envolvem a redução da secreção hepática de VLDL ricos em TG podem ser mais importantes para a atenuação na LPP do que o aumento na atividade da LPL. Além disso, o pico de ativação da LPL ocorre de quatro a oito horas após a prática de exercícios, sendo que nas primeiras horas, a redução da LPP também pode apresentar como provável mecanismo, a redução do quilomicrons oriundos da alimentação rica em gorduras.

Adicionalmente, este aspecto destacado por Miyashita et al. 2006 (29) e reforçada por Katsanos e Moffatt, 2006 (28), deve ser relacionado e/ou somado aos mecanismos já propostos anteriormente, contudo, o presente estudo não pode confirmar esta afirmação, ficando somente no campo da especulação.

6.3 Efeito do genótipo

A análise entre os genótipos da apoE, verificados por meio da média dos três experimentos (controle, EX-CON e EX-INT) mostram que tanto as variáveis utilizadas no controle da intensidade e volume do exercício (tabela 5), como aquelas verificadas no pós- exercício (tabela 6) não diferiram entre si, expressando homogeneidade entre os genótipos.

Os principais achados deste objetivo, mostra que a LPP verificada pelas variáveis de TGs, HDL e VLDL durante as quatro horas, não diferiram entre os alelos ε2 / ε3 / ε4. Contudo, o colesterol total nos momentos de uma a três horas, e o LDL na primeira e segunda hora, bem como a ASC de ambos foram significativamente maiores no grupo ε4,

quando comparado com o ε2, mostrando que portadores do alelo ε4 apresentam maior risco

para colesterol total e LDL elevados, aumentando as chances de desenvolver DCV, já que níveis elevados destes lipídios estão associados ao aparecimento de aterosclerose e DCV.

O presente estudo apresenta resultados que contradizem dois estudos, realizado na Espanha (18) e Grécia (17), pois nestes estudos, a presença do alelo ε4 e condições ateroscleróticas foram negativas. Um estudo, realizado com a população brasileira (19), a associação do alelo ε4 com doenças coronarianas foi negativa. Noutro estudo com brasileiros, Dias et al. 2009 (53), em uma análise prospectiva em adultos e idosos, verificou que a gravidade das lesões coronarianas não apresentaram associação com o alelo ε4.

Entretanto, o presente trabalho, corrobora com uma meta-análise, realizado com 45 estudos que verificaram que indivíduos ε3/4 de vários países, apresentaram maiores

níveis de TG e colesterol total, quando comparados com sujeitos ε3/3 (50). Outros autores (14) (15), também verificaram a presença de maiores níveis de colesterol elevados associados com a presença do alelo ε4.

Song et al. 2004 (16), em outra meta-análise com 48 estudos, totalizando 15.492 pacientes e 32.965 controles, concluíram que, comparativamente ao genótipo ε3/3, portadores do alelo ε4 tiveram um risco 42% maior para DCV, enquanto que o alelo ε2 não apresentou nenhuma associação. Nesse sentido, outros estudos também encontraram risco aumentado para DCV associada ao alelo ε4 em outras populações (14) (15) (50) (52), inclusive na população brasileira (20).

O distúrbio nos lipídios relacionado a apoE, foi confirmado mesmo quando outros genes foram analisados conjuntamente, pois Hegele et al. 1991 (49), mostrou que, indivíduos que apresentavam um defeito no gene apoC-II, e eram ε3/4 para o gene da apoE, tiveram níveis de TG significativamente mais elevados do que os seus familiares afetados ou não por esse defeito na apoC-II, porém com genótipos ε3/3 ou ε2/3 para o gene da apoE.

A literatura ainda não esclareceu completamente o mecanismo pelo qual o alelo ε4 poderia estar envolvido numa regulação anormal do metabolismo e no transporte dos lipídios e lipopreteínas, contudo, acredita-se que tais explicações estejam amparadas nas diferentes propriedades biológicas das variantes de apoE (89).

Uma explicação para os resultados do presente estudo envolve o fato de que, o alelo ε2 está associada com uma diminuição dos níveis da apoB e do colesterol no plasma, bem como ao aumento dos níveis de apoE e TG plasmáticos. Na contra mão, o ε4 está associado com maiores níveis de colesterol e apoB e menores da apoE circulante (12).

Sabendo que a apoE plasmática é responsável por diversas funções no metabolismo dos lipídios, e que o ε4 apresenta menores valores desta apolipoproteína, torna- se fácil sua associação com os maiores níveis de colesterol total e LDL encontrados no

presente estudo. Adicionalmente, a apoB circulante está associada com altos níveis de LDL e VLDL (9). Greenow et al. 2005 (44), afirmam que o mecanismo que explica as diferenças entre estes dois alelos (ε2 / ε4) ainda precisam ser mais estudados, exceto a variação do colesterol, que já está bem descrito na literatura, pois uma maior ação do LDL-R seria o maior responsável por essa diferença, pois o ε4 acelera a captação do VLDL rico em TG via LDL-R hepático, aumentando os níveis de LDL, ao passo que, a menor afinidade do ε2 para LDL-R pode diminuir o fluxo celular de colesterol e conduzir a uma diminuição dos níveis intracelulares de esteróis por esta mesma via.

As três isoformas da apoE (ε2/ε3/ε4) apresentam diferentes afinidades para os caminhos do metabolismo dos lipídios. Contudo, estas divergências não representam necessariamente problemas, haja vista que em alguns casos a dificuldade de utilização de um determinado receptor pode ser compensada pela habilidade de utilização de outra trajetória. Por exemplo, a afinidade de ligação do ε2 no LDL-R é menos de 2% da afinidade do ε3 / ε4 (48).Foi verificado em um estudo com ratos com deficiência no LDL-R, a maior capacidade do alelo ε2 em usar o HSPG / LRP, como via alternativa para o colesterol e o TG. Assim, ε2 pode estar associado com baixos níveis lipídicos, enquanto ε4 está associada a uma forma mais grave da hiperlipidemia, pela sua incapacidade de explorar de maneira mais pronunciada outras vias de oxidação lipídica.

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