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2.2 A CADEIA GLOBAL DO TURISMO

2.2.1 Caracterização da cadeia global de turismo

Antes de tudo é importante colocar que os turistas são pessoas cujo objetivo principal, na visita a uma localidade, não é o exercício de uma atividade remunerada. Portanto, o turismo é um subconjunto do mercado de viagens, isto é, os turistas são considerados também como subconjunto dos viajantes (todo turista é viajante, nem todo viajante é turista). Um turista é uma pessoa que viaja para destinos fora da sua residência e do seu local de trabalho, e permanece durante pelo menos 24 horas, com a finalidade de lazer ou de negócios, entre outros motivos, pois existem diversas modalidades de turismo, como se salienta posteriormente no trabalho.

Portanto, o turista é uma “unidade” relevante, que pode ajudar a rastrear todos os elos que fazem parte da cadeia global de turismo. Seguindo os passos tomados por um turista para realizar uma jornada internacional, é possível perceber os detalhes das atividades que permitem a prática turística e com as quais, portanto, o turista “interage”. As atividades cumulativas realizadas por um turista representam o turismo em sua totalidade. Desse modo, a cadeia global do turismo seria o conjunto das atividades e das firmas individuais que permitem a prática dessa atividade.

Existem diferentes tipos de turismo, como se falou. A relação inclui turismo de verão, de inverno, de lazer, de aventura, histórico, cultural, de negócios, de eventos, entre outros, manifestados conforme as diferentes motivações para a realização das viagens e as características dos destinos. Mas, de uma maneira mais ampla, e segundo a organização mundial de turismo (UNWTO, 1993 apud,

GOVERNO DA REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE HONG KONG, 2013), os turistas são geralmente classificados em duas grandes categorias: “Turistas”, ou “visitantes que pernoitam”, e "excursionistas" que são aqueles que não pernoitam em suas viagens.

Os setores essenciais e relacionados com serviços de turismo e que todo tipo de turista pode precisar são os seguintes: Industrias de alojamentos ou acomodação (por exemplo, hotéis, motéis, navios de cruzeiro); Agências de Viagens / Serviços Turísticos; Indústria de Transporte (Companhia Aérea, corporações ferroviárias, Cruzeiros, Serviços de treinamento, Serviços de Aluguel de carros); Atrações turísticas (parques temáticos e museus, entre outros); e finalmente Alimentos e Bebidas (GOVERNO DA REGIÃO ADMINISTRATIVA ESPECIAL DE HONG KONG, 2013).

Visualizar a cadeia global de turismo em sua totalidade é uma tarefa complexa, pois o setor em questão engloba como já sugerido, um grande conjunto de aspectos tangíveis (como ruínas arqueológicas, uma montanha ou um museu, por exemplo) e intangíveis (como a hospitalidade das pessoas, a qualidade de atenção, por exemplo). Os serviços ditos invisíveis tornam mais difícil ainda a análise completa dessa cadeia. Mais adiante falar-se-á sobre esses aspectos (tangíveis e intangíveis), mas com base na citação seguinte já é possível formar uma ideia sobre a referida complexidade, representando grande dificuldade para o estudo da cadeia global do turismo.

Algumas empresas de turismo, tais como serviços de alimentação, serviços financeiros e sistemas informatizados de reserva, não são representadas visualmente, mas eles estão incluídos via proxy nos segmentos de distribuição e excursões. Os serviços de comida podem ser classificados como de varejo ou amplamente como uma atividade de excursão; e muitas empresas de cartão de crédito de serviços financeiros e GDSs [sistemas de distribuição global] operam suas próprias agências de viagens36 (CHRISTIAN et al., 2011, p. 10).

36 Some tourism businesses such as food service, financial services, and computer reservation systems, are not visually represented, but they are included via proxy in the distribution and excursion segments. Food service can be classified as retail or broadly as an excursion activity; and many financial service credit card companies and GDSs [global distribution systems] operate their own travel agencies.

Sendo complexa a análise dessa cadeia, os pesquisadores costumam concentrar a sua atenção, para contornar as dificuldades e mesmo os empecilhos nos seus estudos, nos principais líderes da implicada trama de vínculos. Trata-se do que segue: operadoras internacionais de companhias aéreas, linhas de cruzeiros, operadores turísticos globais e marcas multinacionais de hotéis. Mas todos os estudiosos sabem, todavia, que a cadeia global do turismo contém mais do que isso. Com efeito, a figura 4, a seguir, ilustra os diferentes elos de uma cadeia global de turismo, onde desponta uma miríade de atividades/funções.

Figura 4 - Cadeia global de turismo

Fonte: Elaboração própria com base em Christian (2010 apud CHRISTIAN et al., 2011, p. 11)

Analisando a figura 4 acima, percebe-se que existem dois elos similares tanto no país de origem quanto no país de chegada dos turistas. O primeiro elo primordial da cadeia é a distribuição (que se refere à organização e realização das viagens), dominada pelos agentes de viagens (que se ocupam de transporte, alojamento e excursões) e pelos operadores turísticos (atacadistas ou varejistas que vendem pacotes de viagens muitas vezes completos), os quais também são os principais intermediários da distribuição.

O segundo elo comum, no país de saída e no de entrada, tem a ver com o transporte (internacional, do país de saída para o país de entrada, e regional, dentro do país de entrada). O modo de transporte mais utilizado, seja internacional ou regional, envolve transportadoras aéreas, mas os serviços marítimos, inclusive na forma de cruzeiros, constituem também opção. Além desses, o transporte ferroviário é usado em muitos casos.

Olhando para a figura 4, observam-se mais dois outros elos da cadeia que são identificados somente no país de chegada dos turistas: de um lado, as opções de hospedagem, de outro, as excursões (para os atrativos nas formas de praia, cultura, monumentos e passeios, entre possíveis outras práticas). Isto não quer dizer que são os empreendimentos implicados sejam necessariamente nacionais, pois existem empresas multinacionais que operam no setor de hospedagem (por exemplo, as redes Meliá, Ibis, Best Western, Marriot International, entre outras, ao redor do mundo) e nas excursões (por exemplo, percebe- se a presença expressiva de empresas estadunidenses e europeias que programam safáris no Kruger Park, na África do Sul) em territórios nacionais.

Além desses elos, que têm uma ligação direta com a cadeia global de turismo, as relações implicadas podem ser mais extensas, pois vários outros setores apresentam ligação indireta com o turismo propriamente dito. A figura 5, a seguir, sugere o possível envolvimento de numerosos outros setores, com maior ou menor incidência, dependendo dos ambientes onde ocorre o turismo, que devem ser levados em consideração para uma análise mais robusta dessa cadeia.

Figura 5 - Outros setores da cadeia global de turismo

Fonte: Elaboração própria com base em Bolwell e Weinz (2008)

Como pode ser observado através da figura 5, muitos outros setores mostram-se relacionados com a cadeia global de valor de turismo. Atividades tanto formais (por exemplo, microfinanças, entretenimento e atividades culturais) como informais (por exemplo, a fabricação e venda de artesanato) podem ter ligações potenciais com a chamada indústria do turismo. Os principais setores relacionados, segundo a figura, são a construção, a agricultura, a pesca, o processamento de alimentos, a fabricação de móveis, o transporte, as utilidades diversas (conforme indicado) e os serviços.

Analisar a cadeia global de turismo revela-se, portanto, uma tarefa complexa, pois se trata de uma indústria que, geralmente, tende a envolver empresas de diferentes tamanhos e implicar atividades tanto formais quanto informais. Além de tudo, para tornar ainda mais desafiadora à tarefa, a análise dessa indústria por meio da abordagem sobre cadeias globais, via de regra, procura levar em conta e descrever atividades em escala global, regional e local.

Note-se que não existe, realmente, uma definição exata para o produto turístico, pois não se trata de um produto único, como bem ressaltam alguns autores mencionados no trabalho de Gereffi, Fernandez-Stark e Psilos (2011, p. 194). O “produto turístico”, a rigor, pode ser considerado como uma vasta gama de produtos e serviços, que interagem e – pretende-se – proporcionam lazer (e outros benefícios) e

Turismo Agricultura Construção Processamento de comida Pescaria fabricação de móveis Transporte Moto táxi ônibus barco avião utilidades Internet Eletricidade Telefone Infraestrutura Rede de electricidade Telecomunicações Estradas Pontes Vias navegáveis Portos Aeroportos Serviços Beleza massagem segurança Trabalhos manuais, MicroCinanças, Entretenimento

satisfação a um sujeito (o turista) que quer usufruir de uma experiência turística, cujos aspectos são simultaneamente tangíveis (envolvendo, por exemplo, hotéis, restaurantes, transportadoras aéreas) e intangíveis (por exemplo, o por do sol, os patrimônios físico e natural, a cultura, o clima).