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Caracterização da Escola Estadual Odete Maria de Freitas

A Escola Estadual Odete Maria de Freitas, localizada no Jardim Santo Eduardo, bairro da periferia do município do Embu-SP, com uma população carente e de baixa renda, atende

19 Redes Escolares de América Latina. Investigação internacional qualitativa sobre como atuam algumas redes de escolas que têm forte alcance na América Latina. Financiado pelo Centro Internacional de Investigação para o Desenvolvimento. O trabalho foi liderado pala Fundación Evolución juntamente com: Instituto de Informática Educativa de la Universidad de la Frontera, Chile; Instituto Latinoamericano de la Comunicación Educativa , México; Enlaces Mundiales Latinoamérica; Costa Rica; y Universidad EAFIT, Colombia.

alunos do próprio bairro e, em menor número, dos bairros vizinhos (principalmente Jardim Dom José e Jardim da Luz), que apresentam as mesmas características socioeconômicas.

Essa unidade escolar conta com a presença de cerca de 1800 alunos, distribuídos em turmas de Ensino Fundamental Ciclo II (5ª a 8ª série) e Ensino Médio. É uma escola organizada, limpa e conservada. Possui recursos materiais em bom estado de conservação e com utilização regular por parte de alunos e professores. Para dinamizar o uso dos recursos didáticos, é estimulado o desenvolvimento de projetos de trabalho que viabilizem a eficácia da utilização dos mesmos e de ambientes de trabalho como a biblioteca, a sala de informática, a sala de vídeo e mesmo a sala de aula. O projeto pedagógico da escola é coerente com a sua realidade, porém sua execução ainda se depara com muitos entraves para uma real efetivação. Temos um projeto estruturado e homologado que acabou em 2006; portanto, estamos em fase de reelaboração, o que permite uma análise da estrutura atual com o intuito de sanar as falhas e equívocos de percurso, e assim traçar metas e propor ações para que se torne mais efetivo.

Como o corpo docente da escola é relativamente coeso, há um relativo apoio pedagógico para iniciativas diferenciadas na sala de aula e em outros espaços, seja em âmbito escolar, seja extra-escolar. Há uma preocupação por parte da escola em integrar a comunidade, tanto por meio de parcerias, como por desenvolvimento de projetos.

Duas parcerias que merecem destaque, no sentido de proporcionarem o desenvolvimento de projetos que englobam a comunidade escolar e proporcionam o uso das TICs no processo de ensino e aprendizagem, são: o Programa Enlaces Brasil20, patrocinado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo – SE/SP e o Programa Sua Escola à 2000 por hora21 (Programa muito parecido com o Enlaces), patrocinado pelo Instituto Ayrton Senna. Por meio, do Enlaces a escola recebeu cinco computadores, assim como, por meio do Instituto Airton Senna, chagaram mais cinco, para compor a sala de informática, que possuía

20 Esta foi a primeira parceria da Escola www.enlaces.pro.br, destaco este Programa pois está diretamente relacionado ao contexto da presente pesquisa.

21 O Programa busca, por meio do uso inovador da tecnologia, uma formação integral do aluno tomando por base quatro aprendizagens fundamentais: aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer. Ver http://www.escola2000.org.br/institucional/apresentacao.aspx.

apenas cinco máquinas oriundas do Programa Nacional de Informática na Educação – ProInfo, totalizando 15 computadores.

O Programa Enlaces auxiliou a escola na realização das primeiras atividades educacionais, envolvendo a tecnologia informática, assim como proporcionou o desenvolvimento dos primeiros projetos telecolaborativos, bem como os primeiros encontros e capacitação para os professores, no sentido de fazerem uso das TICs na educação. Instituiu ainda o trabalho do aluno-monitor22 na sala de informática. O aluno-monitor participa de

capacitação na área de informática, podendo, dessa forma, auxiliar o professor na parte técnica e até mesmo na manutenção das máquinas. No geral, são esses alunos que assessoram os professores na elaboração de páginas e sites para os projetos desenvolvidos. Portanto, o treinamento recebido pelos alunos-monitores proporciona conhecimento técnico sobre os equipamentos, ajuda a desenvolver o senso de responsabilidade a partir das atividades assumidas, eleva a auto-estima, estimula a criatividade e a construção do conhecimento. Também proporciona reconhecimento e valorização social, além de incluir no seu currículo o trabalho como monitor e a participação em projetos colaborativos nacionais e internacionais. As produções colaborativas das páginas dos projetos “Mi Lugar” e “Ih! Ta acabando”, destacadas nesta pesquisa foram desenvolvidas com a participação efetiva desses alunos.

A atuação do aluno-monitor na sala de informática é de grande valia, já que não faz parte da política de implementação das TICs que na escola haja um profissional da área técnica que acompanhe e subsidie o trabalho do professor. Normalmente, esse professor não tem o domínio dos aspectos técnicos relacionados à informática, nesse caso, pode contar com o aluno-monitor que já passou pela capacitação e pode assessorá-lo. É também por intermédio da monitoria que há garantias de que a sala de informática se mantenha aberta e em atividade, uma vez que o aluno-monitor acompanha os alunos mesmo sem a presença do professor, auxilia na realização de pesquisas e continuação de atividades dos projetos mediados e orientados pelos professores. Diante de tantas dificuldades para se manter o laboratório sempre em funcionamento, vemos a atuação da monitoria como um elemento facilitador para a utilização desse ambiente de aprendizagem. Fica claro, porém, que o trabalho do aluno-

22 O projeto do aluno-monitor foi incorporado pela Secretaria de Educação de São Paulo e por empresas que desenvolvem projetos na área educacional como a Microsoft.

monitor tem suas limitações e de forma alguma substitui a mediação do professor e mesmo o suporte de um técnico de apoio.

Podemos caracterizar algumas dificuldades para o pleno funcionamento da sala de informática como sendo de ordem estrutural, técnica e pedagógica. A infra-estrutura técnica é muito precária, as verbas destinadas especificamente para a manutenção da sala de informática são ou mínimas ou nenhumas. Portanto, deparamo-nos, quase que diariamente, com o problema da obsolescência das máquinas, com a falta de manutenção delas, com o problema de conectividade e do acesso à Internet, com as dificuldades financeiras e técnicas para manter os computadores conectados em rede e com o pequeno número de máquinas para atender a um grande número de alunos, pois são 15 máquinas para atender à média de 45 alunos por sala.

Diante dessas adversidades, que dificultam a incorporação das TICs à nossa prática pedagógica, de forma criativa, crítica e competente, é necessário que haja investimentos mais significativos para a melhoria dos laboratórios de informática e, sobretudo, que se priorize a formação dos professores. Mesmo em número reduzido, o computador se faz presente na escola, mas o que de fato fazer com ele, a fim de proporcionar um ensino eficiente, nem todos os professores têm clareza.

Na escola Odete Maria de Freitas, onde se desenvolveu este nosso estudo, muitos professores não passaram por nenhuma capacitação, seja ela inicial ou continuada, para fazer uso das tecnologias digitais no âmbito escolar. Alguns tiveram uma formação aligeirada por meio de programas advindos do NTE/ProInfo, que pouco, ou quase nada, contribuíam para a real incorporação das TICs em favor da educação. Outros ainda tentam incorporar o uso do computador e da Internet nas suas aulas de forma intuitiva. Somente uma ínfima minoria, na qual me incluo, teve a oportunidade de participar de cursos de qualidade, fundamentado e contextualizado, para incorporação das TICs na educação, como no caso da participação no Programa Enlaces, no qual avaliamos como positiva a formação obtida, pois nos fez despertar para as possibilidades educacionais associadas ao uso das tecnologias digitais em favor do processo ensino e aprendizagem.

No período compreendido entre 1999 e 2004, do início da parceria do Enlaces com a escola, a maioria dos projetos desenvolvidos estava diretamente ligada ao currículo escolar . Eram projetos trabalhados de forma interdisciplinar e contextualizada no intuito de colaborar para a melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem, prática assumida após a

capacitação oferecida pelos programas parceiros da escola (“Enlaces” e “Sua Escola a 2000 por Hora”) aos professores, que, após os workshops, se tornavam multiplicadores, em potencial. Atualmente, as parcerias não se mantêm nos moldes iniciais – quando tínhamos aulas presenciais e acompanhamento direto por parte dos formadores –, o que acaba prejudicando o trabalho iniciado e enfraquece uma cultura que se alicerçava no sentido de associar o trabalho com projetos e uso das TICs subsidiadas por essas parcerias. Outro fator que dificulta a continuação do trabalho iniciado pelos professores que receberam capacitação é a própria política da rede pública de ensino, que não prioriza a permanência dos profissionais não-concursados na mesma unidade escolar onde já estavam engajados em uma proposta de trabalho e com experiências vivenciadas no que diz respeito à utilização das TICs no cotidiano escolar. No período mencionado acima, a sala de informática era utilizado com grande freqüência devido os projetos nacionais e internacionais, e muitos professores elaboravam, em decorrência dos cursos dos quais participavam, onde aprendiam a integrar a tecnologia às suas aulas, planos de aula que associavam as TICs ao currículo,

Hoje, o laboratório da escola, mesmo com a referida precariedade, é utilizado por professores e alunos, porém com uma freqüência bem menor, se comparada ao período efetivo das parcerias com o “Enlaces” e com o Instituto Airton Senna. Professores e alunos desenvolvem, basicamente, alguns projetos temáticos ou aprofundam conteúdos desenvolvidos em sala de aula, ainda que se perceba também o desenvolvimento de projetos ou atividades paralelas que não integram diretamente o currículo escolar. As aulas na sala de informática não constam na grade curricular e ficam a cargo de cada professor que prepara sua aula, individualmente. Não há uma clara relação entre os aspectos da incorporação das TICs no âmbito educacional e o projeto pedagógico da escola, o que dificulta ainda mais a apropriação das TICs, no que diz respeito a uma melhoria da qualidade da aprendizagem na escola. A sala-ambiente de informática da escola se constitui, para a esmagadora maioria dos alunos, como o único espaço de integração entre os ambientes reais e virtuais de aprendizagem, já que significativa parcela não possui computador em suas casas, e no bairro não existem locais que garantam acesso gratuito ao computador e à Internet. O que existe é um serviço pago, oferecido pelas lan-houses, que, mesmo por um custo relativamente baixo, nem todos os alunos têm condições de acesso. Por isso, o papel social da escola no intuito de promover a inclusão digital torna-se ainda mais imperativo.

CAPÍTULO 5

PROJETOS: “MI LUGAR” E “IH! TÁ ACABANDO”