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Desde 1982, foram feitos grandes esforços para implementar o uso do computador na escola alemã. Os professores estavam interessados em aprender sobre o uso das TICs em sala de aula, eles aprendiam em grupos de discussão/reflexão, que serviam de suporte para a aplicação das novas tecnologias. Diferentes programas de desenvolvimento foram implantados na área de educação. O uso do computador em sala de aula, auxiliando o ensino aprendizagem e propondo um trabalho colaborativo, cresceu de forma rápida como uma nova perspectiva educacional.

Num primeiro momento, foram implantados projetos pilotos. Foram propostos e implantados sistemas de auxílio ao professor, que precisou aprender a usar de forma qualitativa o computador, a multimídia, a rede para que pudessem utilizar em favor da educação.

Observa-se, nesse caso, a prioridade ao desenvolvimento profissional do professor. Há um sistema de treinamento para integração das TICs. Alguns professores que vão ao

treinamento usam softwares específicos de acordo com os seus objetivos, aprendem como associar a tecnologia ao currículo. Os cursos são ofertados em diferentes níveis e tipos de conteúdo, por tema de interesse, uso de hardware, de softwares. Geralmente são oferecidos em períodos curtos e nas próprias escolas. Há uma preocupação com a integração da tecnologia e o processo educacional que está diretamente associada à formação do professor.

Segundo Almeida e Prado (2003), a integração da tecnologia com os conteúdos curriculares e com a realidade do aluno não acontece de forma espontânea. O professor precisa conhecer suas especificidades e implicações no processo de aprendizagem do aluno. Nesse contexto, os professores precisam aprender sobre o computador e ter segurança quanto ao seu uso.

Há questões que interferem nos cursos oferecidos: conflitos, suporte, tempo, dinheiro, equipamentos, pois tudo isso interfere diretamente no desenvolvimento da atividade docente.

Os professores citam problemas com o uso dos softwares, hardware, instrução, organização/administração. Muitos dizem que os softwares são inadequados, que têm design insatisfatório, principalmente porque não seriam elaborados por profissionais da educação.

Há notícias de que algumas dificuldades estão sendo sanadas, tanto que governo e iniciativa privada financiaram o programa educacional que prioriza o uso das TICs para todas as escolas da Alemanha. Além de essas escolas terem sido equipadas, realizou-se uma série de treinamentos dos professores, que passaram a ter melhor compreensão do estudo da multimídia, Internet, rede e da importância de seu uso pedagógico.

A implantação dos computadores na educação se inicia com o primeiro estágio (básico), não muito satisfatório, porque muitas das escolas faziam simples aplicações do uso do computador. O professor precisa aprender a usar, desenvolver novas técnicas para ensinar e aprender de acordo com seus interesses e, logicamente, isso perpassa pela necessidade da formação, sendo ela inicial e continuada (PLOMP apud LANG, 2000).

O autor do estudo de caso alemão sugere que façamos uma crítica sobre a importância da aprendizagem no contexto social e cultural, considerando que o novo ambiente de aprendizagem, que se utiliza das tecnologias da informação e comunicação, inclui colaboração, auto-avaliação e desenvolvimento de projetos. Compreendemos, assim, que a reestruturação da escola sob esta perspectiva é fator preponderante.

3.3 Cyberfobia: ansiedade e insegurança ante o cyberespaço

Este tópico examina a natureza, extensão e implicações da ansiedade dos professores quanto ao uso do computador em escolas públicas de Queensland, Austrália.

Com o aumento do uso dos computadores na educação, a sociedade espera que os professores tenham o conhecimento e usem eficientemente a tecnologia de informação e comunicação com seus alunos. A opinião geral é que os computadores são importantes para os estudantes pelo resto de suas vidas. Entretanto, há evidências de que professores em muitos países não estão muito convictos dos benefícios do uso dos computadores.

A falta de treinamento e de confiança quanto ao uso do computador em sala de aula é empecilho para o desenvolvimento profissional. É também entendido como gerador de ansiedade, medo e inquietudes ou, na linguagem da informática, gerador de cyberfobia.

A preocupação é que se os professores, ao se sentirem apreensivos sobre o uso dos computadores e, conseqüentemente, relutantes para usá-los, suas atitudes e apreensões serão passadas para os estudantes. A cyberfobia afeta significativamente a qualidade de ensino e aprendizagem.

Diversos estudiosos já citados por nós (RUSSELL; BRADLEY, 1997) expressam suas considerações. Para Rosen e Weil (cf. RUSSEL; BRADLEY, 1997), em estudo de 1995, a cyberfobia deve ser reduzida, e defendem a idéia de formação a nível pessoal para proporcionar modelos positivos. Em 1985, Bloom (cf. RUSSEL; BRADLEY, 1997) estabelece que ela pode ser reduzida, sensibilizando o professor quanto a alfabetização digital. Antes ainda, em 1984, Davidson e Walley (cf. RUSSEL; BRADLEY, 1997) afirmam que, em último caso, quando se quer vencer a cyberfobia e não se consegue, é necessário recorrer à psicoterapia.

O projeto australiano também examinou as implicações da fobia aos computadores no desenvolvimento profissional dos professores. Três fontes independentes de ansiedade de uso dos computadores são identificadas nesse trabalho. Esses medos incluíram interesses sobre danos dos computadores, performance das tarefas e reflexão social.

Nesse estudo, pôde-se perceber que todos os professores defenderam o uso dos computadores na educação, porém com ressalvas. Um número de professores salientou a falta de acesso como empecilho, outros acreditavam que o número reduzido de computadores

inviabilizava o acesso satisfatório dos alunos para a realização das aulas. Alguns professores acreditavam que havia uma desvantagem para professores de cidades rurais, quando a sugestão era um curso externo. A existência de equipamentos “obsoletos”, principalmente nas áreas remotas, causou desinteresse para um bom número de professores.

Quando se falou em modelos de treinamento e estratégias para a redução da

ansiedade, foi colocado que as opções mais favoráveis seriam estas: a) promover oportunidades para que se observem colegas hábeis;

b) estimular e promover a participação nos cursos de treinamento realizados nas escolas;

c) oferecer certificados aos participantes dos cursos de informática. Todos os professores concordaram que era responsabilidade do empregador fornecer treinamento dentro do horário de trabalho; boa parte desses professores ainda asseverou que o implemento profissional do modelo era impróprio, porque era tido como imposição.

O acesso aos computadores é um pré-requisito crítico à confiança e à competência crescente do professor. Aqueles que tinham um acesso regular relataram uma ansiedade baixa. Um subgrupo de professores, tais como aqueles que trabalhavam em áreas remotas, sentia-se particularmente em desvantagem.

No estudo em questão, fica bem claro que, embora os professores aceitassem geralmente as novas tecnologias, muitos mostraram que não haviam tido acesso a assuntos relativos à informática na escola, nas faculdades ou universidades. Eram conscientes de que precisavam de treinamento. Uma competência maior foi observada nos professores que tinham recebido a instrução na universidade ou através das agências externas.

É notório que o desenvolvimento profissional financiado e o uso dos computadores na escola são necessários, uma vez que a maioria dos professores tem interesse em saber como usar o computador na escola e em se desenvolver profissionalmente. O problema do uso eficaz dos computadores por professores em sala de aula é um fenômeno comum a muitos países. O exame comparativo (PELEGRUM; PLOMP apud RUSSELL; BRADLEY, 1997), realizado em 18 países, revelou que, apesar de um aumento no número dos computadores nas escolas, a integração dos computadores em práticas escolares está sendo bastante lenta, principalmente devido ao número insuficiente de hardware, à indisponibilidade de software e

ao tempo insuficiente tanto para aprender sobre computadores quanto para criar/planejar atividades em que os computadores sejam usados.

Nessa perspectiva, portanto, o trabalho do professor, no que concerne ao uso das TICs na sala de aula, está diretamente relacionado à necessidade de um desenvolvimento profissional de qualidade que ofereça acesso às máquinas, bem como condições de espaço/tempo para aquisição de novos conhecimentos que permitam a incorporação das tecnologias digitais no processo educacional de forma significativa.