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Caracterização da Pesquisa

No documento GEOGRAFIA DA RE-EXISTÊNCIA: (páginas 58-61)

Tempos depois, apareceu um homem branco. Era seringueiro

2.1. ASPECTOS METODOLÓGICOS

2.1.3. Caracterização da Pesquisa

Neste item descreve-se o tipo de pesquisa utilizada para atingir os objetivos desejados, apresentam-se quais foram os procedimentos adotados e os instrumentos de coleta de dados e, logo em seguida, apontamos a forma como os dados foram tratados.

Esta pesquisa é do tipo etnográfica e caracteriza-se pela abordagem qualitativa. Etnográfica porque apresenta a prática da observação, da descrição e da análise das dinâmicas interativas e comunicativas. E, a partir dos encontros e relacionamentos, extraímos a compreensão e explicação das experiências humanas, que se dão no mundo com a finalidade de extrair as evidências necessárias para compreender os contextos dos relacionamentos.

Logo, a etnografia pressupõe o encontro e o relacionamento.

A etnografia é entendida por muitos estudiosos como a ciência das etnias, ver a etimologia da palavra: Do grego ethos (cultura) + graphe (escrita).

Sendo assim, a etnografia estuda e revela os costumes, as crenças e as tradições de uma sociedade, que são transmitidas de geração em geração e que permitem a continuidade de uma determinada cultura ou de um sistema social. Uma das características da Etnografia é a presença física do pesquisador e a observação in loco.

Com o contato e o relacionamento, o ambiente da pesquisa torna-se um laboratório vivo, no qual, o próprio observador deve levar em consideração todas as informações, não só o comportamento dos observados, mas as condições de constituição do próprio contexto dos observados.

Segundo SPRADLEY (1979), etnografia “é a descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo”, objetivando entender um outro modo de vida, mas do ponto de vista do informante. O trabalho de campo, então, inclui o estudo disciplinado do que o mundo é, como as pessoas têm aprendido a ver, ouvir, falar, pensar e agir de formas diferentes. Mais do que um estudo sobre as pessoas, etnografia significa “aprendendo com as pessoas”.

A pesquisa etnográfica fundamenta-se em dois conjuntos de hipóteses sobre o comportamento humano:

- a hipótese naturalista-ecológica, que afirma ser o comportamento humano significativamente influenciado pelo contexto em que se situa, daí a necessidade de estudar o indivíduo em seu ambiente natural;

- a hipótese qualitativo-fenomenológica, que determina ser quase impossível entender o comportamento humano sem tentar entender o quadro referencial dentro do qual os indivíduos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. Desta forma, o pesquisador deve exercer o papel subjetivo de participante e o papel objetivo de observador, a fim de compreender e explicar o comportamento humano. (LÜDKE

& ANDRÉ, 1986)

As autoras LÜDKE & ANDRÉ (1986), prosseguem descrevendo três etapas para a realização da pesquisa etnográfica:

1) Exploração – envolve a seleção e definição de problemas, a escolha do local onde será feito o estudo e o estabelecimento de contatos para a entrada no campo. Nesta fase, são realizadas as primeiras observações com a finalidade de adquirir maior conhecimento sobre o fenômeno e possibilitar a seleção de aspectos que serão mais sistematicamente investigados. Essas primeiras indagações orientam o processo da coleta de informações e permitem formulação de uma série de hipóteses que podem ser modificadas à medida que novos dados vão sendo coletados.

2) Decisão – consiste numa busca mais sistemática daqueles dados que o pesquisador selecionou como os mais importantes

para compreender e interpretar o fenômeno estudado. Assim, os autores, citando Wilson (1977), afirmam que os tipos de dados relevantes são: forma e conteúdo da interação verbal dos participantes; forma e conteúdo da interação verbal com o pesquisador; comportamento não-verbal; padrões de ação e não-ação; traços, registros de arquivos e documentos. Os tipos de dados coletados podem mudar durante a investigação, pois as informações colhidas e as teorias emergentes devem ser usadas para dirigir a subsequente coleta de dados.

3) Descoberta – consiste na explicação da realidade; isto é, na tentativa de encontrar os princípios subjacentes ao fenômeno estudado e de situar as várias descobertas num contexto mais amplo. Deve haver uma interação contínua entre os dados reais e as suas possíveis explicações teóricas permitindo estruturação de um quadro teórico, dentro do qual o fenômeno pode ser interpretado e compreendido.

Por exigir um trabalho de campo, a pesquisa do tipo etnográfica pressupõe uma proximidade com as pessoas, situações e locais. Por isso, Geertz (1989, p. 212) adverte para o fato de que

[...] a cultura de um povo é um conjunto de textos, eles mesmos conjuntos, que o antropólogo tenta ler por sobre os ombros daqueles a quem eles pertencem. (...), mas olhar essas formas como ‘dizer alguma coisa sobre algo’, e dizer isso a alguém, é pelo menos entrever a possibilidade de uma análise que atenda a sua substância, em vez de fórmulas redutivas que professam dar conta dela.

Para o autor, a interpretação da cultura implica em envolvimento e proximidade com o povo, para que sejam desvelados seus hábitos e costumes, seus modos de vidas e suas próprias interpretações.

De acordo com Paladim Jr. (2010) o primeiro passo é o da aproximação:

“Podemos afirmar que essa foi uma das questões mais importantes do aspecto metodológico”. (p.81). Mais à frente, o autor fortalece sua argumentação dizendo que para adentrar ao campo do etnoconhecimento só é possível estudar “os conhecimentos inerentes a esse povo se levarmos em conta a vida no que possui de mais comum, no intuito de legitimar a importância da pesquisa participante, a força da observação-participante, ativa” (p. 84). O pesquisador adotou a pesquisa participante, dialogando com os pressupostos da pesquisa ação, estando convencido de que essas duas possibilidades de pesquisa proporcionam esse diálogo (p. 87).

Escolhemos trabalhar com a abordagem qualitativa, pois os dados pesquisados são tratados a partir de um olhar que revela os significados que os sujeitos dão às suas vivências e experiências.

Neste sentido, a abordagem qualitativa e o método etnográfico, nos dão as bases epistemológicas necessárias para a realização desta pesquisa.

Desse modo, pretendemos compreender a história de vida e seus saberes, a subjetividade, a autoria, as experiências, bem como trazer as reflexões que emergiram dos relatos apresentadas.

No documento GEOGRAFIA DA RE-EXISTÊNCIA: (páginas 58-61)