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A GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

No documento GEOGRAFIA DA RE-EXISTÊNCIA: (páginas 77-81)

Tempos depois, apareceu um homem branco. Era seringueiro

SEÇÃO 3: ESTADO DA ARTE –

3.2 A GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

Não são muitos os trabalhos publicados (em nível de doutorado) que abordam especificamente o ensino da geografia na formação de professores indígenas no estado de Rondônia, sendo que essa disciplina na educação escolar indígena permite:

Conhecer e explicar o mundo por meio do estudo do espaço geográfico levando em conta o que se vê - as paisagens; o que se sente e com que a pessoa se identifica - os lugares; e o que são referências significativas para os povos e os indivíduos, para conviver, trabalhar, e produzir sua cultura - os territórios.

[...] Além disso, o ensino de Geografia pode também contribuir para a luta contra os preconceitos e em favor do sentimento de pluralidade. (Brasil, 1998, p. 227 )

A relação de um povo com seu espaço em um determinado tempo histórico é marcada pelas relações entre homem, natureza e sociedade estando presentes as questões do espaço, território e lugar o que confirma na expressão de Paladim Júnior (2010, p. 103) de que “O saber popular e o conhecimento científico podem e devem fortalecer a luta pela e na terra”, destacam-se nas atividades propostas dentro da grade curricular da Geografia, auxiliando também o seu conhecimento nas atitudes de defesa da terra indígena como assegura. “Assim, a geografia ajuda a conhecer e defender o território” (Brasil, 1998, p. 229).

Através do ensino de Geografia nas escolas indígenas, os conhecimentos geográficos podem contribuir no entendimento da realidade de cada etnia, buscando a valorização dos modos de vida indígena. Em relação a outras sociedades, a geografia pode contribuir para conhecer o mundo através do espaço geográfico e como já foi dito acima sendo pautada em três conceitos-chaves: Paisagem, Lugar e Território.

Os conhecimentos geográficos a serem trabalhados dentro de uma escola indígena devem buscar o fortalecimento da cultura, do espaço vivido, do lugar, da história, das tradições e costumes indígenas e não se limitar ao folclórico, selvagem, exótico, excêntrico, não permitindo o constrangimento e a generalização de um indígena comum, genérico, reprimidas em tradições culturais estáticas e estereotipadas reivindicando uma identidade cultural congelada e destorcida, num passado que (praticamente) já não existe mais.

Da vida de cada povo nasce uma geografia. Os alunos e alunas indígenas como todos os outros trazem para a escola seus conhecimentos geográficos. Esses conhecimentos devem ser o ponto de partida e chegada da geografia na escola. No caminho, há um dialogo entre o conhecimento geográfico do aluno e a geografia escolar não indígena. (BRASIL, 2005, p.

225).

As geograficidades indígenas, as relações com o meio ambiente, a cultura, os conhecimentos e saberes tradicionais geográficos e suas representações, devem obrigatoriamente fazer parte do ensino da geografia na educação escolar indígena em todos os níveis, Kozel (2002), considera as representações como importante aporte didático-pedagógico. Para a autora

[...] o ensino da geografia teria mais significado se priorizasse a pesquisa e análise das representações construídas pelas sociedades, considerando ainda o próprio aluno como agente de representações e conhecimentos necessários para entendimento das relações estabelecidas na organização espacial (KOZEL, 2002, p. 216).

Assim, o discurso sobre os conhecimentos geográficos ampara a sugestão de uma escola indígena que seja intercultural, bilíngue e diferenciada, considerando as diversidades e as peculiaridades existentes nos diversos grupos étnicos existentes no estado de Rondônia.

A geografia pode ser o nosso dia a dia como sugere Kaercher (1998, p.

13): “[...] o homem faz a geografia que se faz humano, ser social, nessa luta o homem usa, destrói/constrói/modifica a si e a natureza”.

Ramos (2010), em sua dissertação de mestrado: aborda sobre o Referencial curricular nacional para as escolas indígenas e ainda sobre a disciplina de Geografia em que afirma:

A geografia é definida no RCNEI como a relação de um povo com seu espaço em um determinado tempo histórico, portanto, a questão do espaço/território aparece destacada nas atividades propostas dentro da grade curricular da Geografia, auxiliando também o seu conhecimento nas atitudes de defesa da terra indígena:

Assim, a geografia ajuda a conhecer e defender o território.

Também é útil para compreender a economia da região e a economia de mercado, diferente da economia indígena, e para planejar os projetos econômicos que possam interessar. [...].

Nesse ponto, é importante lembrar do tema transversal auto-sustentação. (p. 229)

Os temas sugeridos buscam a valorização dos modos de vida indígena em relação a outras sociedades, indicando que seja trabalhada a valorização da realidade de cada povo indígena.

(RAMOS, 2010, p. 86)

Assim sendo e sabendo que o currículo e os programas de nossas instituições escolares não oferecem as melhores condições para o ensino da Geografia em escolas indígenas, educadores não-indígenas (mesmo com as melhores intenções) não podem decidir sozinhos de que modo essas escolas devem ser organizadas e muito menos o quê e como nelas ensinar. Os conhecimentos geográficos e pedagógicos precisam ser debatidos entre os não-indígenas e os indígenas, os maiores interessados. As novas estratégias pedagógicas devem ser estabelecidas pelos indígenas e para os indígenas.

A tradição indígena, segundo Marcia Spyer Resende (1992, p. 68), nos ensina que:

Esta tradición forma el saber geográfico del indio, su comprensión del espacio vivido y del espacio no-vivido.

Es com los ojos de la tradición que éste nos habla de su percepción minuciosa, detallada, exhaustiva, del espacio en que vive, pero también ló que sabe y lo que imagina sobre la ciudad y el mundo de los blancos. La geografia de las aguas, de la ciudad, de la selva, del universo, brota de su tradición, de sus conocimientos acumulados durante milênios.

A Geografia na educação escolar indígena precisa ser um desafio que traga informações novas para eles, mas também, privilegie os conhecimentos tradicionais. Assim teremos uma escola que permite a aquisição do saber do outro e como espaço de Re-existência do seu próprio saber.

Figura 15 – Foto de crianças indígenas na organização dos Mapas Mentais

Fonte: GURGEL DO AMARAL, Gustavo, Set/Out. de 2015.

No documento GEOGRAFIA DA RE-EXISTÊNCIA: (páginas 77-81)