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5 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Se pensarmos no objetivo da presente pesquisa que trata de analisar o sentido dado pelos professores acerca das interações sociais de alunos com TEA e seus pares em sala regular, vemos que para concretizá-la foi necessário que houvesse, de alguma forma, um desprendimento por parte dos professores e das professoras entrevistadas em relação a pesquisadora e para isso fora necessário um entrosamento, uma conversa espontânea que, de certa forma, desse liberdade para eles explanarem, de forma natural e sensível, sobre como são vistas por eles as interações sociais das crianças com TEA na escola comum.

Como parte da coleta de dados fizemos a entrevista semiestruturada com professores dos alunos com TEA onde utilizamos um guia de entrevista (APÊNDICE B), buscando compreender como acontecem as interações sociais entre estudantes com TEA e seus pares, a atuação do professor nesse processo, bem como sua concepção e avaliação sobre as interações estabelecidas entre os estudantes com TEA e professores e estudantes com TEA e seus pares em sala comum. Esse guia de entrevista, previamente elaborado, serviu não apenas para promover uma reflexão sobre as questões propostas, mas também colaborou para a elaboração de novas indagações a partir da fala dos entrevistados. Conforme Triviños (2011), numa entrevista semiestruturada as perguntas “são resultados não só da teoria que alimenta a ação do investigador, mas também de toda a informação que o mesmo já recolheu sobre o fenômeno social que interessa”. Dessa forma podemos ver que cada pergunta, pode gerar inúmeras outras, dependendo de como discorre a entrevista.

A entrevista semiestruturada nos ajuda a compreender um tema tão subjetivo que é a percepção dos docentes acerca das interações sociais em estudantes com TEA. As questões propostas não foram escolhidas de forma ocasional, mas por permitirem “reconstruir a teoria subjetiva do entrevistado sobre o assunto em estudo” (FLICK, 2009, p.149). Nessa perspectiva, consideramos que fazer simplesmente um questionário e entregar a um professor para responder não seria suficiente para compreender um fenômeno como este, que é tão subjetivo e intrigante. Através da entrevista semiestruturada torna-se, então, possível compreender as percepções dos professores, bem como o sentimento que deixou transparecer no seu discurso, considerando-se o estabelecimento de uma relação de confiança que possibilita um sentimento de liberdade para expor seus pensamentos e atitudes referentes ao estudo.

As entrevistas foram gravadas com o consentimento de cada participante, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A), respeitando-se critérios éticos. Após a realização, as respostas foram transcritas de forma que nada fosse desprezado no momento da análise dos resultados, buscando descrever também as emoções que foram deixadas transparecer no ato da entrevista. Pesquisar sobre tal temática também nos levou a vincular a pesquisa ao paradigma fenomenológico, pois a investigação buscou compreender a realidade das

interações sociais das crianças com TEA em sala comum, emergindo da intencionalidade da consciência do professor.

Assim, caracterizamos esta pesquisa como uma abordagem qualitativa fenomenológica de caráter exploratório. É na busca de conhecer e saber mais sobre o fenômeno que a pesquisadora se lança no campo das percepções. “Sujeito e fenômeno estão no mundo-vida juntos com outros sujeitos, co-presenças que percebem fenômenos” (BICUDO,1994, p.19). Assim, exploramos ao máximo a temática compreendendo a partir das experiências vivenciadas pelos professores.

A partir da abordagem de Bardin (2011) fizemos a análise dos dados, seguindo uma organização da análise em torno de três momentos:

1) A pré-análise, momento no qual aconteceu a leitura flutuante dos documentos de transcrição, seguindo algumas regras que Bardin (2011) nomeia de: exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência. Aqui foram escolhidas as falas que melhor representam o universo de forma homogênea.

2) A exploração do material, fase onde foram codificadas as pessoas entrevistadas e nominadas as categorias de análise.

3) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação com uso de recursos de computador para facilitar a compreensão dos resultados, dentre eles: tabelas e quadros e fizemos algumas considerações e sugestões de acordo com os resultados alcançados, com base nos objetivos propostos.

Imergimos no campo das interações sociais a partir da perspectiva de Vygotsky que considera a transformação do homem por meio das relações sociais. Nesse aspecto Haguette também reforça o pensamento de Vigotsky, falando sobre o processo de formação da mente a partir da interação social. “A vida de um grupo humano dentro da perspectiva interacionista representa um vasto processo de formação, sustentação e transformação de objetos, na medida em que seus sentidos se modificam, modificando o mundo das pessoas” (HAGUETTE, 1995, p. 37).

Para a pessoa com TEA, descobrir o mundo a partir do sentido dado pelo outro é de suma importância.

O sentido dos objetos para uma pessoa surge fundamentalmente da maneira como eles lhe são definidos por outras pessoas que com ela interagem, consistindo o meio circundante de qualquer pessoa, unicamente dos objetos que esta pessoa reconhece. (HAGUETTE, 1995).

Infere-se, então, nesta pesquisa que a mediação pedagógica pode favorecer as interações sociais em sala entre estudantes com TEA e seus pares, bem como a apropriação do mundo simbólico. Essa apropriação será feita a partir dos signos que colaborarão para uma mudança psicológica individual (DÍAZ, 2012). Tal mudança pode ser, assim, favorecida por meio das interações sociais de crianças com TEA e seus professores e entre crianças com TEA e seus pares em sala comum.