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3 INTERAÇÕES SOCIAIS: IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.1 REFLEXÕES CONCEITUAIS SOBRE AS INTERAÇÕES SOCIAIS

Interações constituem o palco do desenvolvimento de características típicas da espécie humana, selecionadas ao longo da evolução por seu valor adaptativo. Constituem um jogo que envolve sincronia e engajamento mútuo.”

(SEIDL-DE-MOURA, 2009)

Para discutir o conceito de interação social partiremos do princípio da psicologia sócio-histórica de Vygotsky de que todo homem é constituído como tal a partir das

relações que estabelece com os outros. Isso significa que o homem se humaniza na relação com o outro.

Buscando a conceituação do termo interações sociais encontramos, segundo Ferreira (1986, p.956), como “Ação que se exerce entre [...] ou duas ou mais pessoas; ação recíproca”. Essa ideia de reciprocidade na ação demonstra que o processo de interação envolve sujeitos ativos. A partir daí podemos construir um conceito de interações sociais como sendo uma ação recíproca, em determinado meio social, que contribui para o processo de formação da pessoa. Não basta aqui está inserido no meio, mas deve-se estar interagindo. Portanto, estar num ambiente tipo um ônibus lotado e não trocar uma palavra com alguém não configura uma interação social; entregar um brinquedo em sala para um aluno, estendendo a mão sem que haja qualquer reação por parte do aluno, também não configura uma interação social.

Nesse sentido, torna-se difícil falar de interações sociais e não falar da questão da afetividade e emoção necessárias para a existência das relações sociais entre indivíduos. Cada relação que se estabelece por meio de vínculos afetivos gera uma emoção ao ser construída. É importante ressaltar que, de acordo com Galvão (2014), ao longo do desenvolvimento ontogenético em cada idade se possui um tipo particular de interação na relação que se estabelece entre o sujeito e o ambiente. Galvão (2014), seguindo a perspectiva walloniana do desenvolvimento, considera que esse processo é cheio de conflitos que impulsionam o próprio desenvolvimento.

No desenvolvimento humano podemos identificar a existência de etapas claramente diferenciadas, caracterizadas por um conjunto de necessidades e de interesses que lhe garantem coerência e unidade.

(GALVÃO, 2014, p.39).

São essas necessidades e interesses que promovem o desenvolvimento humano. Nesse processo consideram-se de extrema importância as interações sociais e o ambiente, na sua forma física e através dos sujeitos que o compõe e da cultura, formam o contexto desse desenvolvimento. Para Wallon as interações se dão de modo diferenciado nas diferentes etapas do desenvolvimento, sendo determinadas pela alternância de fases predominantemente afetivas e outras cognitivas.

Segundo o pensamento de Wallon (2007), na etapa do primeiro ano de vida a afetividade é uma dimensão central que é nesse momento é expressa através das

manifestações fisiológicas da emoção, com isso, a capacidade de sobrevivência do bebê fica atribuída ao emocional. “As emoções consistem em sistemas de atitudes que, para cada uma, correspondem a um certo tipo de situação”. (WALLON, 2007 p. 121). Cada sinal emotivo a exemplo de choro, gritos e sorrisos, que alerte aos cuidadores para uma determinada necessidade, faz parte da construção daquele ser que é tão dependente de cuidados, mas que consegue transmitir mensagens que facilitam e colaboram com as respostas que são tão essenciais para o seu desenvolvimento.

No momento seguinte do desenvolvimento, até os três anos, de acordo com Wallon (1990), a criança está interagindo através da chamada exploração sensório- motora do mundo físico. Nessa fase a criança desenvolve a marcha e também a linguagem, predominando o aspecto cognitivo. (GALVÃO, 2014).

Posteriormente, dos três aos seis anos acontece outro período de ênfase nas relações afetivas: o personalismo. Nesse momento, a criança “entra num período em que sua necessidade de afirmar, de conquistar sua autonomia vai lhe causar, em primeiro lugar uma série de conflitos (WALLON, 1981, p. 217)”. Esse momento é marcado por três fases distintas: oposição, sedução e imitação. Na oposição, a criança sente prazer em contradizer e confrontar-se com o outro. Dessa forma, experimenta sua independência. Na sedução, a criança tem a necessidade de se sentir admirada, de sentir que também agrada os outros. E, na fase da imitação, a criança assimila as qualidades da pessoa que tem por modelo e as reproduz como uma nova pessoa, o que favorece a aprendizagem. Nesse estágio do personalismoa consciência é construída através das interações sociais, pois há um retorno da criança para a relação com as pessoas.

A partir dos seis anos, a criança retorna ao predomínio do aspecto cognitivo, pois se inicia o estágio da categorização, onde a razão é um fator predominante. Aqui, a organização do mundo em categorias bem definidas possibilita também uma compreensão mais nítida de si mesmo. Nesse estágio, a aprendizagem se faz por meio das descobertas de diferenças e semelhanças entre objetos, imagens, ideias.

Por fim, na adolescência, com a crise da puberdade, toda a questão hormonal, modificações na estrutura corporal, retoma a predominância da afetividade. Nesse período há um amadurecimento também sexual. Nessa fase há uma separação da criança ao adulto que ela tende a ser. É uma fase conturbada e difícil. Aqui, há uma

expressão de sentimentos por conta do corpo todo, pois na adolescência também há aquisição de posse da reprodução e da atividade sexual. Nesse momento há um desejo de posse, de ter em si e de ao mesmo tempo se absorver no outro.

Nessa trajetória do desenvolvimento humano segundo Wallon, podemos perceber que em cada fase a criança se relaciona de forma diferente com propósitos diferente, mas sempre intercalando a predominância de aspectos cognitivos ou afetivos. Isso demonstra o quão importante é para os adultos que acompanham esse desenvolvimento e, principalmente, para o professor saber lidar com os conteúdos pedagógicos e também saber conduzir o emocional por meio das interações sociais, especialmente quando nas classes comuns há a inclusão de alunos com TEA que possuem como característica as dificuldades nas interações sociais.

3.2 INTERAÇÕES SOCIAIS DA PESSOA COM TEA: RECURSOS E