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3 INTERAÇÕES SOCIAIS: IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.2 INTERAÇÕES SOCIAIS DA PESSOA COM TEA: RECURSOS E ESTRATÉGIAS

“Uma coisa é não compreender os outros e não ter habilidade para interagir com eles e outra é não ter interesse social.”

(THOMPSON, 2014).

As interações sociais da pessoa com TEA são permeadas por dificuldades, pois o seu desenvolvimento emocional apresenta-se instável, ora com risos ora com choros inesperados. Em alguns casos, por haver um distanciamento entre o mundo construído por ela e o mundo real, fica difícil para os sujeitos com os quais vivencia compreenderem tais reações. Quaisquer mudanças na rotina da pessoa com TEA pode trazer desconforto e levar a criança ao desespero, o que por algumas vezes pode perturbar o convívio com outras pessoas.

Para que isso seja, de certa forma, amenizado ou controlado se faz necessário que a pessoa com TEA desenvolva uma capacidade de análise e interpretação, percepção de sentimentos, expressões faciais e comportamentos dos outros. Essa capacidade é chamada de metarrepresentação ou também pode ser descrita como a habilidade de desenvolver uma Teoria da Mente (BOSA; CALLIAS, 1999), a qual permite entender o comportamento dos outros, na existência de um déficit nessa

teoria, a criança com TEA se fecha em si mesma e evita o ambiente social que a rodeia.

Considerando que as pessoas com TEA diferem entre si e que suas necessidades educativas especiais também, dizemos que para que as interações ocorram é necessário fazer com que a pessoa com TEA compreenda a relação estabelecida de maneira prática: se for uma atividade lúdica, que seja explicada em poucas palavras (devido ao comprometimento da linguagem): como participar da atividade, como iniciá-la, como se desenvolve e como será finalizada. Tudo tem que ser explicado, pois favorece a organização das pessoas com TEA. Sem essa organização não há compreensão e isso inviabiliza a interação.

Em alguns casos, a desestruturação no ambiente repercute na pessoa com TEA gerando birras, irritabilidade, instabilidade no comportamento, deixam-na desconsertada e ansiosa para sair daquele local. Nesses momentos é necessário acalmar, reconquistar, sair do lugar ambiente que provoca a irritação para somente depois, quem sabe, trazê-las de volta, tentando outra estratégia de interação.

A partir do momento que a barreira da falta de compreensão das relações estabelecidas é rompida, a pessoa com TEA vai adquirindo habilidades que despertam nela o interesse pelo social. Se a afetividade é fator central no desenvolvimento de uma pessoa que não possui a síndrome, para a pessoa com TEA a importância dessa afetividade é multiplicada, pois ela transborda em emoções, inesperadas ou não, juntamente com birras, gritos e comportamentos que a afastam das outras pessoas. Esses comportamentos atípicos podem ser da simples mordida no outro até a autoagressão. Comportamentos repetitivos, como se balançar, pular ou emitir sons constantes são também características que podem afastar a pessoa com TEA de uma possível interação.

Considera-se, então, que nesse processo de interação da pessoa com TEAcom o outro tudo é importante, principalmente o ambiente. Associando a Teoria de Vygotsky ao pensamento de Wallon, podemos dizer que o biológico e o social constituem o processo de formação da mente e que cada etapa da criança corresponde a um tipo específico de interação. Assim, inferimos que a escola pode propiciar o melhor desenvolvimento das crianças com TEA, pois nela poderão conviver e participar de experiências relativas a cada etapa de sua vida.

Quando a pessoa autista permanece muito tempo em um espaço social limitado, convivendo exclusivamente com as pessoas da família, sem uma estimulação psicopedagógica adequada, seu comportamento pode apresentar comprometimentos bem mais complicados referentes às manias, aos movimentos ritualísticos, à excitação emocional, aproximando-se de possíveis reações agressivas e regressivas. (RODRIGUES; SPENCER, 2015, p. 23) A partir dessa afirmação ratificamos que o ambiente escolar é propiciador de situações e interações diferenciadas que conduzem as pessoas com TEA tanto ao desenvolvimento cognitivo, a partir do momento que compreende e participa das relações; quanto afetivo, quando consegue expressar sua emoção de forma que seus pares e professor lhes compreenda.

Com todas essas atipicidades no comportamento e na linguagem que comprometem a sua interação social, as crianças com TEA possuem necessidades que precisam ser compreendidas e atendidas para que nelas se gere confiança de modo que garanta a sua permanência em sala.

Para promover as interações sociais de crianças com TEA muitas vezes se faz necessária a utilização de recursos que possibilitem seu melhor entendimento das atividades propostas, dentre eles estão o uso de imagens, tendo em vista as dificuldades na linguagem. Com a descrição imagética é possível possibilitar à criança com TEA a compreensão do que está sendo solicitado.

Outro recurso significativo para potencializar as interações sociais é o uso do material “concreto”, pois favorece tanto a visualização da proposta de trabalho, quanto a experiência através de outras sensações (táteis ou gustativas), possibilitando outras formas de assimilação do conhecimento.

Nessa perspectiva, outra possibilidade significativa de recurso para favorecer as interações sociais com crianças TEA é o uso da ludicidade como uma forma de motivar a atenção por determinado tema por meio de jogos, brincadeiras, músicas e também recursos tecnológicos como os games. No âmbito escolar, conseguir levar esses recursos para a sala regular aumenta a possibilidade de compreensão e interação dos alunos com TEA na execução de determinada atividade e trabalho com um conteúdo. Reconhecendo a importância desses aspectos para a inclusão escolar da criança com TEA, o próximo capítulo versará sobre essa temática.