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4 O ESTUDANTE COM TEA NA ESCOLA COMUM: UMA CONQUISTA

4.2 A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO DOCENTE PARA ESTUDANTES COM TEA

Ao analisarmos as necessidades das crianças com TEA de interagir diante dos estímulos provenientes das relações sociais em sala comum somos desafiados a pensar como é grande a responsabilidade do professor com relação ao desenvolvimento escolar desse aluno em sala.

A responsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos conta, é sempre grande.[...] O professor tem o dever de dar suas aulas, de realizar sua tarefa docente. Para isso, precisa de condições favoráveis, higiênicas, espaciais, estéticas, sem as quais se move menos eficazmente no espaço pedagógico. Às vezes, as condições são de tal maneira perversas que nem se move. O desrespeito a este espaço é uma ofensa aos educandos, educadores e à prática pedagógica (FREIRE 1996, p.65-66).

Em sua afirmação, Freire nos leva a pensar nas condições de trabalho dos professores para que este consiga promover uma mediação e estabelecer uma interação social que seja correspondida pelo estudante. Porém além de condições de trabalhos favoráveis é necessário também que o professor tenha assegurado formas de aprimorar o seu conhecimento em relação à necessidade do educando. Esses dois processos associados favorecerão a disposição de recursos facilitadores para a concretização da mediação e a adequação do currículo às necessidades do aluno com TEA. Por exemplo, sabemos que sem a linguagem oral a compreensão das crianças com TEA fica centralizada no campo visual, ou seja, para que elas entendam, o professor deverá fazer uso de diversos componentes visuais que estimulem a compreensão. Isso implica na necessidade de promover recursos para que sejam mediadas as interações sociais em sala de aula.

Galvão (2014, p.30), apoiando-se nos conhecimentos de Wallon afirmou: “A existência do homem, ser indissociavelmente biológico e social, se dá entre as exigências do organismo e as da sociedade, entre os mundos contraditórios da matéria viva e da consciência”. Isso leva-nos a crer que quando tratamos de uma síndrome como o TEA, todo estudo voltado para esse tema pode abrir portas para conhecermos e colaborarmos pedagogicamente, de alguma forma, na sala comum com tais pessoas.

A valorização dessa colaboração pedagógica embasa-se nos estudos de Vygotsky quando o mesmo defende que o desenvolvimento psíquico acontece de um plano interpessoal para um plano intrapessoal (VYGOTSKY, 2007). Assim, por meio da mediação estabelecida em sala de aula, no cotidiano da prática do professor, o estudante com TEA tem maiores oportunidades para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, avançando do seu desenvolvimento real, que é provido de habilidades que o mesmo já domina, para um desenvolvimento potencial que é o que ele consegue alcançar por meio de alguém que possua um maior conhecimento, nesse caso o professor como mediador. A esse “espaço” socialmente criado pela mediação do outro no processo de ensino-aprendizagem Vygotsky (2007) denominou de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). De acordo com Díaz (2011), a Zona de Desenvolvimento Proximal é modificada pelo que a criança consegue aprender com a ajuda dos outros, seja adultos como seus professores ou também os colegas da classe mais experientes.

Com base nesse entendimento podemos investir em muitas possibilidades de desenvolvimento para a criança com TEA no contexto escolar, onde podemos dispor de diversas situações e eventos que, de certa forma, colaboram para o desenvolvimento intrapessoal desses alunos. Saber lidar com o TEA certamente aumentará as chances de interação em sala de aula, pois possibilitará o estímulo à linguagem e a busca de sentido no comportamento demonstrado por essas crianças em cada reação apresentada.

Diáz (2012, p. 67), a partir da teoria sócio-histórica de Vygotsky, destaca que a construção de conhecimentos por meio das relações sociais provoca mudanças no nível psicológico individual:

[…] a natureza psicológica do homem é a totalidade de suas relações sociais transferidas a esfera interna e tornadas funções da personalidade e formas de sua estrutura, assim na medida que mudam tais relações sociais, também muda o individual psicológico.

Na vida de uma pessoa com TEA, portanto, essas interações podem impactar uma mudança com efeitos diversos, dependendo da forma que esse estudante as processe, podendo ser um efeito positivo, se bem mediada, e o oposto, se causar frustrações a esse aluno.

Essas afirmações reforçam a dificuldade que se impõe para o professor conseguir mediar às interações sociais na classe em que há alunos com TEA, tendo em vista que é uma tarefa árdua trazer esse aluno com TEA para o contexto real da escola, ou seja, envolvê-lo na rotina da sala, num passeio, na contação de uma estória infantil. Assim, o professor, levando sempre em consideração a história de vida dessa criança em relação aos conceitos já aprendidos, deverá utilizar sua linguagem além das palavras, utilizando-se do campo visual, das imagens e símbolos.

De acordo com Pimentel (2012, p.55) os conceitos aprendidos por uma criança têm relação direta com o que cada palavra significa na linguagem do adulto, a qual a criança internaliza conforme relação com sua cultura. Ainda segundo Pimentel (2012), a internalização do conceito passa por um processo dialógico e como tal, necessita da ajuda de outra pessoa para elaboração e socialização do conteúdo. Essa outra pessoa é o que chamamos de mediador.

implica o reconhecimento da diversidade das características dos estudantes, de suas potencialidades e uma resposta adequada às suas necessidades a partir da interação professor-aprendente e entre aprendentes. É uma reação contrária à “cristalização do ato pedagógico igualmente produzido para todos na sala de aula” (PIMENTEL, 2012, p.81)

Essa mediação, baseada nos conceitos da Teoria de Vigotsky, onde o sujeito parte do aprendizado com ou outro, das interações intencionalmente planejadas pelo professor ou por outra pessoa mais experiente em seu contexto, consegue alterar a forma desse sujeito compreender o mundo. Muitas vezes no caso da criança com TEA é necessário fazer algo personalizado / individualizado para chamar a atenção desse estudante. Nesse momento, as características individuais do estudante com TEA deverão ser respeitadas: o que gosta, qual o personagem que lhe chama a atenção, todas essas observações cuidadosas poderão contribuir para que a criança saia do seu mundo restrito e se concentre no mundo real da sala de aula. Assim, o currículo deverá ser construído também de acordo com as necessidades educacionais especiais que se apresentam em sala, buscando a personalização que segundo Rivière (2004) na educação de crianças com TEA é de suma importância. A mudança nas questões de ajuste do currículo implica, pois em incorporar o que mais estimula nas atividades em sala, mantendo o foco no conteúdo que almeja ser ensinado/aprendido na classe em geral.

4.3 AS INTERAÇÕES DE ESTUDANTES COM TEA EM SALA REGULAR: UMA