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4. Análise dos dados

4.2. Caracterização das empresas e suas relações

A caracterização das empresas e as relações analisadas são descritas nos subitens aqui apresentados.

4.2.1. Empresa incubada em fase de pré-residência

A primeira empresa a ser analisada pertence à área de biotecnologia, sendo uma startup voltada para desenvolvimento de sistemas para procedimentos de diagnóstico de doenças. A fim de viabilizar este projeto ainda em fase de elaboração, a empresa está instalada na incubadora SUPERA. A SUPERA ‘é uma incubadora de empresas de base tecnológica sem fins lucrativos que oferece apoio para a criação de novos negócios, oferecendo o espaço físico para o empreendimento, serviços básicos, assessoria, capacitação e networking’ (SUPERA, 2015)

A SUPERA tem o objetivo de apoiar e contribuir para o desenvolvimento de micro e pequenas empresas de base tecnológica por meio da realização de processos seletivos para três modalidades de incubação: pré-residência, residência e associação (SUPERA, 2015).

A empresa analisada neste item se encontra relacionada com a incubadora na modalidade de pré-incubação, sendo analisada a relação contratual para este primeiro nível de incubação por meio da análise do conteúdo da entrevista realizada com os

donos e gestores da empresa, sendo um de nacionalidade argentina, idade de 46 anos, formado em genética, e o outro, brasileiro, idade de 37 anos, formado em biomedicina.

4.2.2. Empresa incubada em fase de residência

A segunda empresa entrevistada desenvolve aplicativos caracterizados como uma plataforma de comunicação baseada em mobilidade para o setor educacional a fim de facilitar a relação entre educadores e os responsáveis dentro de uma escola. Por meio deste aplicativo, é possível visualizar mensagens e acompanhar os compromissos dos alunos na escola aproximando os pais da realidade escolar do aluno.

Esta empresa de base tecnológica foi fundada em 2012 e presta outros serviços tais como, a terceirização de tecnologia da informação. A entrevista foi conduzida com o dono e gestor desta empresa, brasileiro, 33 anos de idade, formado em análise de sistemas, trabalha no setor desde 2002, tendo experiência de criação, desenvolvimento e venda de outra empresa no mesmo setor.

Por meio de um Instituto de Inovação do qual a empresa participa, o gestor da empresa tem conhecimento da incubadora e, ao verificar dificuldades relacionadas ao processo de gestão e ao processo de identificação e formas de acesso a recursos financeiros, esse gestor opta por participar do processo seletivo da incubadora. Essa relação incubado- incubadora tem início, então, em Janeiro de 2015. Apesar da empresa ter uma sala alugada junto a outra empresa, o dono percebe o ambiente da Supera como um facilitador para que a empresa pudesse ter seu próprio time, além da possibilidade de troca de experiências com outras startups.

Nesta fase denominada residência, a Supera declara como objetivo:

apoiar empreendedores ou empresas constituídas que tenham conhecimento da tecnologia, apresentem condições de dominar o processo de produção, disponham de capital mínimo assegurado e um modelo de negócios bem definido, que permitam a instalação e o início da operação na incubadora no prazo estipulado no cronograma do processo seletivo (SUPERA, 2015).

Cabe ressaltar que existe um prazo máximo de permanência da empresa nesta modalidade que é de 36 meses, prorrogável por mais 12 meses, mediante aprovação do Conselho Consultivo (SUPERA, 2015).

Para este estudo, analisa-se a relação contratual que governa a empresa residente com a incubadora, sendo relevante essa observação nos diferentes níveis de apoio prestados pela Supera. No próximo item é descrita a empresa incubada na terceira modalidade.

4.2.3. Empresa incubada em fase de associação

A empresa foi fundada em 2008, mas desde 2007 vinha sendo trabalhado o projeto para aplicação de um extrato vegetal na produção de cosméticos, projeto este iniciado no curso de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo – campus Ribeirão Preto. Por meio de um projeto da incubadora que auxiliava empresas na elaboração do plano de negócios, se dá o início da relação entre a empresa, em fase inicial do seu ciclo de vida, e a incubadora. Tal relação tem seu começo fundamentado nas questões relacionadas à elaboração do plano de negócio, à viabilização das instalações da empresa, bem como questões relacionadas à identificação de fontes de financiamento viáveis.

A dificuldade de captação de recursos para realização dos testes relevantes para se ter o produto testado para comercialização fez com que a empresa optasse pela abertura de outra frente de negócios relacionada com a prestação de serviços em análises clínicas de controle de qualidade.

O desenvolvimento da empresa no setor de análises clínicas faz o espaço na incubadora ser insuficiente para suas operações e as instalações são feitas em outro espaço. Conforme relatado pelo entrevistado, neste momento, percebeu-se que a empresa poderia passar para outra modalidade de relacionamento com a incubadora, tornando-se uma empresa associada. O entrevistado, gestor e um dos donos da empresa, brasileiro, 33 anos de idade, farmacêutico, destaca que, o fato da empresa ter passado para outra fase em seu crescimento, não acaba com a relevância do vínculo com a incubadora. Em consonância com os objetivos da incubadora em relação a empresas associadas, que é fornecer apoio a empresas já constituídas que atuam em negócios de base tecnológica e que não precisam de espaço físico na incubadora, mas que estejam interessadas no apoio e serviços prestados para o desenvolvimento dos seus negócios e que tenham potencial de desenvolver parcerias com as empresas residentes (SUPERA, 2015), a empresa entrevistada mantém o vínculo, considerando a rede de relacionamentos e a promoção da interação e qualificação.

Neste item é finalizada a apresentação das empresas que se relacionam com a incubadora nas suas três modalidades de incubação. No próximo item é apresentada a caracterização da empresa que se relaciona com Arranjo Produtivo Local (APL) de Equipamentos Médicos, Hospitalares e Odontológicos.

4.2.4. Empresa associada ao Arranjo Produtivo Local (APL) de Equipamentos Médicos, Hospitalares e Odontológicos

O Arranjo Produtivo Local (APL) de Equipamentos Médicos, Hospitalares e Odontológicos (EMHO) de Ribeirão Preto é uma ação desenvolvida pela FIPASE, desde 2008, em parceria com diversos atores (...) Este projeto tem como objetivo canalizar esforços para capacitar, qualificar e fortalecer o setor de EMHO de Ribeirão Preto, buscando o desenvolvimento econômico sustentável do município e região (FIPASE, 2015).

A entrevista foi realizada com a sócia de uma empresa que atua na área de equipamentos eletromédicos e também na área de equipamentos veterinários que, embora tenham a mesma tecnologia, a fabricação desses aparelhos utiliza diferentes normas reguladoras da ANVISA.

A entrevistada, brasileira, 45 anos, formada em Geografia, História, e pós-doutora em Administração, destaca que em 2009 houve uma primeira tentativa de constituir um arranjo produtivo local das empresas com as indústrias da área de eletromédicos, com a finalidade de enfrentar a competitividade externa, principalmente de equipamentos chineses.

Apesar da intenção de constituir uma associação de empresas de equipamentos médico- hospitalares, nessa época não foi estabelecido o cadastro de pessoa jurídica nem o regimento interno para a condução das relações das empresas participantes. Por questões de dificuldade de negociar as diferenças do grupo, a iniciativa ficou estagnada até 2013.

Nesta época, a reunião de instituições como Ciesp, Fipase e Sebrae mobiliza as indústrias de equipamentos eletromédicos, mas também outras indústrias da área da saúde como a indústria de cosméticos, fármacos, biotecnologia e veterinária, para a

promoção e estabelecimento do arranjo produtivo local, que agora conta com cadastro da pessoa jurídica e com um regimento interno, que fundamenta a conduta da relação. De acordo com a FIPASE (2015), atualmente o APL representa a associação de 115 empresas do setor promovendo projetos junto a essas empresas para o desenvolvimento e melhoria da competitividade dos associados.

4.2.5. Empresa calçadista participante de conglomerado não formalizado

Diferentemente das relações interorganizacionais citadas nos itens anteriores, o caso em análise neste tópico se refere a uma empresa calçadista instalada no município de Franca – SP e que faz parte de um ajuntamento de empresas similares mas que, por serem díspares e não simétricas, este ajuntamento tende a não se caracterizar como um APL (MOORI; PEREIRA, 2005).

A fim de caracterizar o caso de Franca, destaca-se que a formação de um APL passa por fases como a decisão sobre os parceiros, decisões sobre a estrutura e a dinâmica de evolução da parceria (GULATI, 1995), fases e características não observadas na condução da entrevista.

Conforme Amato Neto (2000), ao analisar as relações de poder neste ajuntamento de empresas, destaca-se que essas relações podem ser consideradas assimétricas, estabelecendo uma governança imposta pelos agentes de maior força de mercado com grande presença de hierarquia.

Assim, a entrevista foi realizada tendo como base a relação entre a empresa produtora de calçados e os curtumes com os quais a mesma se relaciona. Tal relação se torna relevante, uma vez que 90% dos recursos desta empresa são negociados com três curtumes. O entrevistado é dono e gestor da empresa, australiano, 45 anos de idade, bacharel em administração de empresas.

De acordo com o entrevistado, a empresa foi fundada em 2004, e teve significativa expansão da diversificação de produtos em 2009 e 2010, e atende os mercados nacional e internacional. Além de focar a produção de calçados confortáveis com alta qualidade, a operação internacional faz com que a empresa produza considerando a legislação dos países com os quais trabalha.

Utilizar couro em seus produtos implica verificar e seguir as recomendações internacionais de ausência de cromo, produto utilizado no processo produtivo do couro. Assim, além da empresa e do curtume fazerem parte de um ajuntamento de empresas, a relação daquela com os curtumes é considerada pelo entrevistado como sendo seus principais fornecedores.

A fim de ter um caso para comparação de diferentes relações interorganizacionais, no próximo item são apresentadas as características da relação entre a usina e os fornecedores de cana-de-açúcar.

4.2.6. Usina de cana-de-açúcar

De acordo com o CEPEA (2015, p.20), ‘o setor sucroalcooleiro brasileiro é o maior produtor de etanol de cana-de-açúcar do mundo, sendo o Brasil o único país a possuir uma ampla frota de veículos bicombustíveis, contribuindo para que seu consumo superasse o de gasolina em veículos leves’.

Dados do Ministério da Agricultura (2014) demonstram que no Estado de São Paulo concentra-se 61,9 % do total da produção de cana-de-açúcar da região centro-sul do Brasil. Nesse contexto, foi realizada a entrevista em uma usina da região de Ribeirão Preto – SP, para análise da relação entre essa empresa e os fornecedores de seu principal insumo: a cana-de-açúcar. Uma vez que o presente estudo foca a análise das relações sob um aspecto contratual, entrevistou-se o gestor de contratos de compra do referido insumo, sendo o mesmo formado em direito, brasileiro, com 33 anos de idade.

O entrevistado destaca que a compra da cana pode ser feita de quatro maneiras: 1) por meio de parceiros; 2) por arrendamento; 3) fornecimento por contrato de longo prazo; 4) mercado spot, no qual as negociações são realizadas contrato a contrato.

Os contratos de longo prazo duram, em média, 5 a 6 anos, enquanto os contratos de parceria e arrendamento são renovados automaticamente caso não haja notificação pelas partes, não havendo dificuldade na substituição entre os tipos de fornecimento.

Pela representatividade do setor e por se tratar de relações de maior duração, este caso contribui para a presente pesquisa, uma vez que possibilita o entendimento do perfil de governança adotado na condução do fornecimento do principal insumo do setor.

Abaixo apresenta-se quadro com as características das empresas entrevistadas.

Quadro 11 – Caracterização dos entrevistados

Empresa Setor de atividade da empresa Cargo do entrevistado Tipo de relação em análise 1 Biotecnologia - desenvolvimento sistemas para procedimentos de

diagnóstico de doenças Dono da empresa

Relação de empresa pré- incubada com a incubadora 2 Tecnologia - desenvolvimento de plataforma de interação para

educação Dono da empresa

Relação de empresa incubada com a incubadora

3

Biotecnologia - prestação de serviços para certificação de qualidade na área bioquímica e projeto de utilização de

novos princípios em cosméticos

Dono da empresa Relação de empresa associada com a incubadora

4 Equipamentos médico-hospitalares: produção de equipamentos Dono da empresa Relação de empresa associada ao arranjo produtivo local formalizado

5 Calçadista: produção de calçados infantis Dono da empresa Relação com o fornecedor do principal insumo 6 Agricultura: usina de cana-de-açúcar Gestor de contratos - responsável jurídico

pela análise de contratos

Relação com o fornecedor do principal insumo Fonte: elaborado pela autora

Uma vez apresentadas as relações que serão analisadas, seguem as análises do conteúdo das entrevistas transcritas.