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3. Metodologia

3.2. Método

O presente estudo tem por finalidade propor uma estrutura conceitual sobre o conteúdo contratual formal e relacional na governança das relações entre firmas, considerando a função que os contratos desempenham na condução das relações que podem se dar em diversos contextos transacionais. Para tanto, fez-se necessária a exploração da literatura em Teoria dos Contratos Relacionais, em Contratos Formais e Teoria da Economia dos Custos de Transação em relações interorganizacionais, também sob aspectos metodológicos.

Para realização dos estudos da área, observa-se tanto a aplicação de métodos qualitativos quanto quantitativos. Dentre autores que utilizam abordagens quantitativas citam-se Reuer e Arino (2007), Anderson e Dekker (2005), que utilizam a técnica de análise fatorial para análise da composição dos fatores a partir da análise do conteúdo contratual.

Lumineau e Malhotra (2011) utilizam o nível de detalhamento contratual como construto na identificação da governança das relações, a fim de identificar a forma como o detalhamento contratual influencia o comportamento entre firmas depois da existência de um conflito e como os contratos podem diminuir os custos desse conflito. Em função do problema proposto, os autores utilizam a técnica estatística de regressão dos mínimos quadrados.

Ainda na abordagem quantitativa dos estudos de contratos, Poppo e Zenger (2002) utilizam o sistema de equações simultâneas, pelo fato da complexidade contratual e governança relacional serem determinados de maneira endógena.

Anderson e Dekker (2005) advertem para a dificuldade em obter informações detalhadas sobre contratos, fato que tem limitado a investigação empírica sobre a estrutura destes, sendo que os estudos da área têm examinado poucas características descritivas de um número limitado de contratos.

Mayer e Agyres (2004) também destacam que o estudo dos detalhes de contratos específicos tem sido um método importante pelo qual teorias de contratos, assim como a ECT, têm sido exploradas na literatura, complementando estudos de dados mais agregados sobre a forma contratual.

Considerando-se a abordagem qualitativa, Tsamenyi, Qureshi e Yazdifar (2013) utilizam a técnica do estudo de caso e as seguintes fontes de dados: entrevistas, discussões e análise de documento, iniciando as análises pelo preparo de tabelas para identificação de assuntos frequentemente considerados nas entrevistas.

Assim, no que se refere aos tipos de abordagens metodológicas, Martins e Theóphilo (2007) destacam que a adequação de abordagens qualitativas se dá em função desta possibilitar um tratamento contextual de um fenômeno, possibilitando também, maior nível de detalhamento das relações dentro das organizações, e entre estas, foco deste estudo.

Pelo fato da presente pesquisa objetivar a proposição e a exploração de uma estrutura conceitual que considera normas de governança formais e relacionais em diferentes contextos, implicando em interações teóricas, a mesma é classificada como exploratória, uma vez que explora a inter-relação entre a literatura de Contrato Relacional, Contratos Formais e Economia dos Custos de Transação e busca descrever tais interações nos casos estudados.

Conforme a definição de Hair Jr. et alli (2005), a pesquisa exploratória é útil, principalmente quando se tem poucas informações acerca do assunto, não tendo a intenção de se testar hipóteses, tornando esta classificação adequada aos objetivos deste trabalho.

Dessa maneira, a revisão da literatura caracteriza-se como um passo relevante para o estabelecimento de proposições da tese, a partir das Teorias aqui consideradas e também para a elaboração do protocolo de entrevista para a coleta de dados, sendo este protocolo fundamentado em roteiros de coleta de dados de estudos publicados, conforme será apresentado no item 3.4.

Martins e Theóphilo (2007) destacam que nas pesquisas qualitativas os dados, informações e evidências não são passíveis de mensuração, sendo necessário descrever,

compreender, interpretar e analisar informações que não são expressas por dados e números, sendo as técnicas de entrevista e análise de conteúdo consideradas adequadas para este modelo de pesquisa.

Figura 4 – Desenvolvimento de uma Análise de Conteúdo

Fonte: Bardin (2011, p.132) Leitura “flutuante”

Escolha de documentos Formulação das hipóteses e dos objetivos Referenciação dos índices

Constituição do corpus

Dimensão e direções de análise

Elaboração dos indicadores

Regras de corte, categorização, codificação

Preparação do material Testar técnicas

PRÉ-ANÁLISE

EXPLORAÇÃO DO MATERIAL Administração das

técnicas no corpus

TRATAMENTO DOS RESULTADOS E INTERPRETAÇÕES

Operações estatísticas Síntese e seleção dos

resultados

Provas de validação

Inferências Interpretação

Utilização dos resultados de análise com fins teóricos ou pragmáticos Outras orientações para

Berelson4 (1954 apud Bardin, 2011, p. 24) define a Análise de Conteúdo como “uma

técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto na comunicação”. Bardin (2011, p.35) destaca que a técnica de Análise de Conteúdo “enriquece a tentativa exploratória e aumenta a propensão para a descoberta”. A autora propõe o modelo acima para desenvolvimento da Análise de Conteúdo, sendo esta estrutura utilizada para aplicação do método neste trabalho.

Para a autora, a Análise de Conteúdo organiza-se por meio de três fases: (i) pré-análise, (ii) exploração e (iii) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Para a autora, a fase de pré-análise tem por objetivo operacionalizar e sistematizar de forma a obter um esquema para operacionalizar o plano de análise.

Uma vez que a fase da pré-análise compreende a escolha de documentos, a formulação dos objetivos que se pretende atingir e a definição de indicadores que fundamentam a interpretação (BARDIN, 2011), destaca-se que os documentos utilizados compreenderam entrevistas transcritas e contratos formais, que foram utilizados para análise das proposições da tese e exploração inicial do modelo projetado neste estudo. Ainda na fase de pré-análise, a etapa de categorização foi realizada por meio da classificação dos elementos contidos no documento sob análise, proporcionando o agrupamento de elementos similares e a separação de elementos distintos, tendo como critérios os seguintes elementos: exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade e fidelidade, e produtividade (BARDIN, 2011). Assim, neste estudo, o processo de categorização foi guiado pelo protocolo de coleta de dados que, na sua formação, foi estabelecido com os construtos observados na revisão da literatura, sendo tais construtos considerados como categorias para análise. Tal fato auxiliou o cumprimento dos critérios observados como relevantes para aplicação da técnica de Análise de Conteúdo.

Considerando que esta primeira fase também compreende a fase de codificação, destacam-se aqui, as três etapas a serem seguidas: (i) recorte ou escolha das unidades de análise; (ii) enumeração ou regras de contagem; e (iii) classificação e agregação ou

4 Barelson, B. (1954) Content Analysis. In: G. Lindzey (ed). Handbook of Social Psychology. Vol.1. Reading MA: Addison-Wesley.

escolha das categorias (BARDIN, 2011). As unidades de análise foram estabelecidas a partir das palavras utilizadas pelos entrevistados, que faziam referência à categoria analisada. Procedeu-se também a enumeração, que foi realizada por meio da contagem de ocorrência de elementos que, conforme Bardin (2011), se refere à medição de variações semânticas dentro de uma classe de elementos. Assim, a intensidade com que o entrevistado enfatizava sua percepção, por meio de repetição de termos iguais ou similares, possibilitou descrever os construtos presentes em três intensidades: baixa, média e alta.

Na fase de exploração do material, foi elaborada uma planilha com os itens contidos no protocolo de coleta de dados e que foram utilizados como categorias de análise, e se estabeleceu uma referência em relação à categoria para que se pudesse avaliar a presença/ausência e a intensidade dos construtos analisados neste trabalho. Posteriormente, a planilha foi preenchida com trechos das entrevistas, sendo destacadas as palavras que correspondiam à referência de análise, considerando-se a ênfase que o entrevistado dava à sua resposta pela repetição de termos iguais ou similares. Considerou-se também a análise de aspectos que não estavam compreendidos nas perguntas estruturadas, mas que contribuíam para os aspectos exploratórios da pesquisa. Uma vez obtidas as informações a partir da exploração do material, foi possível, na terceira fase da Análise de Conteúdo (tratamento dos resultados, inferência e interpretação), propor a estrutura conceitual que é objetivo deste trabalho, bem como analisar, nos limites dos casos observados, as proposições extraídas a partir da revisão da literatura.

Foram realizadas seis entrevistas com gestores responsáveis pela relação em análise, no período de agosto a setembro de 2015. Das seis entrevistas, três objetivam a análise da governança contratual de empresas incubadas em diferentes estágios na relação com a incubadora. A quarta entrevista analisa a governança entre uma empresa participante de um conglomerado formal de empresas e este conglomerado; a quinta entrevista avalia a governança da relação de uma empresa calçadista e seus fornecedores, sendo a empresa e seus fornecedores de couro participantes do mesmo conglomerado não formalizado de empresas e, por fim, a relação entre uma usina e seus fornecedores de cana-de-açúcar. As cinco primeiras entrevistas gravadas tiveram duração de 45, 74, 57, 62 e 77 minutos, respectivamente. Não foi obtida a autorização para gravação da entrevista com o

responsável jurídico pela análise de contratos da usina. Entretanto, pode-se afirmar que a entrevista teve duração média de 60 minutos. As autorizações para inserção das entrevistas como apêndice foram obtidas via email.

Uma vez que se estabeleceu a análise de relações interorganizacionais e pelo fato de se tratar de uma pesquisa exploratória, os casos foram selecionados de modo a obter diversidade entre as organizações, considerando que todas as relações analisadas fazem parte de um contexto que demanda coordenação fora de uma estrutura hierárquica. Ao optar pela diversidade entre os casos, torna-se possível verificar aspectos que são comuns às realidades dessas organizações, mas também aspectos que possivelmente diferenciem o design contratual.

Figura 5 – Etapas do desenvolvimento do estudo

Fonte: elaborado pela autora

- Revisão da literatura

- Estabelecimento das proposições da tese considerando a interação das literaturas em Contrato

Relacional, Contrato Formal e Características Contextuais da Transação

- Elaboração do protocolo de coleta de dados a partir de fundamentação teórica

- Definição de casos: optou-se por casos inseridos em diferentes contextos transacionais para observação de

normas relacionais e formais.

- Coleta de dados por meio de protocolo elaborado na 1ª etapa

Fases da Análise do Conteúdo

- Pré-análise: utilização de entrevista transcrita e contratos formais para análise. Para estabelecer a categorização, utilizou-se a mesma subdivisão do

protocolo de coleta de dados.

- Fase de exploração do material: alocação das respostas dos entrevistados para os itens de análise

correspondentes; avaliação de aspectos não correspondentes à estrutura das perguntas do protocolo, mas que contribuem para os aspectos exploratórios da pesquisa; codificação das respostas por meio de palavras mais usadas; análise da ênfase

por repetição de termos. -Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: verificação das proposições fundamentadas na literatura e construção do modelo. 1ª Etapa

2ª Etapa

A figura acima contém as etapas que compuseram o desenvolvimento deste estudo. As entrevistas foram realizadas pessoalmente, gravadas e posteriormente transcritas, com exceção da entrevista realizada junto ao gestor da usina, que preferiu conceder a entrevista sem a gravação. A entrevista da usina foi coletada por meio de anotações que transcreviam a verbalização do entrevistado. Para a análise do conteúdo contratual formal, foi possível ter acesso aos contratos físicos das empresas incubadas e, por essa razão, não foram colocados como anexo no trabalho. Nos demais casos, o conteúdo contratual formal foi analisado por meio do protocolo de coleta de dados no momento da realização da entrevista, quando os entrevistados respondiam perguntas binárias sobre o conteúdo dos contratos formais. No próximo item será apresentada a fundamentação para operacionalização dos construtos que compõem o instrumento de coleta de dados.