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3. Metodologia

3.1. Proposições da tese

Em se tratando de contratos formais, os contratos podem ter maior ou menor formalização, sendo que a completude contratual, e também a complexidade, se referem ao grau de detalhe no acordo formal (MALLEWIGT; DECKER; ECKHARD, 2012). Além das questões associadas à estrutura dos contratos, é observada na literatura a utilização da abordagem funcional dos contratos (SCHEPKER et alli, 2014). Conforme Mallewigt, Decker e Eckhard (2012), a governança das alianças e o contrato destas são inter-relacionados, mas diferem no escopo e nos propósitos a que servem. Os mesmos identificaram doze estudos que teorizam sobre as funções distintas dos contratos, mas não mensuram tais funções separadamente ou utilizam medidas distintas para as funções contratuais individualmente.

Observa-se que diversos estudos visam analisar a relação entre o design e função contratual, considerando as características das transações. Nestes estudos, as questões de completude e/ou complexidade contratual são analisadas de maneira separada das questões associadas aos detalhes sobre as funções que cumprem os contratos (ANDERSON; DEKKER, 2005; MALLEWIGT; MADHOK; WEIBEL, 2007; MALLEWIGT; DECKER; ECKHARD, 2012).

Na pesquisa de Mallewigt, Madhok e Weibel (2007) foi desenvolvida a hipótese de que os contratos servem às funções de controle e coordenação e que tais funções são direcionadas pelos atributos transacionais. Neste mesmo sentido, Reuer e Arino (2007) utilizam medidas separadas para funções contratuais distintas, denominadas enforcement e coordenação.

Por sua vez, Anderson e Dekker (2005) utilizam 24 provisões contratuais e, por meio da técnica de Análise Fatorial, os autores verificaram que as provisões contratuais observadas, combinadas umas com as outras, originaram quatro fatores que os autores denominam dimensões de controle gerencial, quais sejam: cessão de direitos; termos de produto e preço; termos de serviço de pós-venda e termos de recursos legais.

Apesar da diferença de denominação na dimensão, os termos contratuais estudados pelos autores supracitados apresentam-se de maneira bastante semelhante. Na dimensão denominada cessão de direito, os termos contratuais considerados são provisões sobre propriedade intelectual, medidas contra pirataria, e confidencialidade.

No presente trabalho, os termos utilizados para denominação das funções contratuais são os utilizados por Mallewigt, Decker e Ekhard (2012), e a recente revisão bibliográfica de Schepker et alli (2014), sendo estas funções contratuais: salvaguardar; coordenar e adaptar.

Por meio da revisão de literatura em ECT, contratos e da literatura em relações interorganizacionais apresentada acima, foram observados as principais características transacionais que colaboram para a vulnerabilidade ou riscos em que estão inseridas as partes da transação, sendo necessária a existência de formas de controle e estruturas de governança que minimizem os riscos da relação e atendam a diferentes funções na condução desta relação.

Para tanto, Dekker, Sakaguchi e Kawai (2013) definem riscos transacionais como sendo essencialmente os riscos de as organizações não atingirem os resultados pretendidos ou desejados de determinada relação.

A fim de corroborar com as argumentações contidas neste trabalho, destaca-se que as características que geram riscos transacionais são fontes de diferentes problemas de governança e, por isso, as estruturas de governança têm diferentes propósitos. Neste sentido, cita-se Rindfleisch e Heide (1997), que associam a existência de especificidade de ativos com problemas de governança de salvaguardar as partes; a incerteza ambiental com problemas associados à adaptação; e a incerteza comportamental com problemas de avaliação da performance.

Weber e Mayer (2011) argumentam que contratos que têm fundamentos de promoção relacional e de prevenção de riscos contra o oportunismo, induzem a diferentes emoções, comportamentos e expectativas, levando a diferentes resultados e relações, dependendo do contexto. Tal argumento contribui para a percepção de que o conteúdo da governança formal pode ter implicações no conteúdo da governança relacional, sendo relevante o estudo dos conteúdos dos contratos em conjunto.

Nos termos da ECT, Rindfleisch e Heide (1997) demonstram que a natureza dos problemas de governança, ou as funções dos contratos na conduta da relação, geram diferentes custos de governança, tornando-se relevante o entendimento das relações entre o contexto no qual as transações estão inseridas e o conteúdo contratual utilizado. Pela apresentação do Quadro 6, objetiva-se demonstrar a relação entre características da relação e a natureza dos problemas de governança.

Quadro 6 – Fontes e tipos de custos de transação Especificidade de

Ativos Incerteza Ambiental comportamental Incerteza A. Fonte de Custos de

Transação Natureza do problema

de governança Salvaguarda Adaptação

Avaliação de performance B. Tipos de Custos de

Transação

Custos diretos Custos de elaboração de salvaguardas negociação e custos de Comunicação, coordenação

- Custos de blindagem e seleção (ex ante) - Custos de mensuração

(ex post)

Custos de oportunidade Falha ao investir em ativos produtivos Falha na adaptação Má adaptação;

- Falha na identificação de parceiros apropriados (ex ante)

- Perdas de produtividade por esforços para ajuste (ex

post) Fonte: adaptado de Rindfleisch e Heide (1997)

Nesse mesmo sentido, Weber e Mayer (2011) destacam que diferentes riscos transacionais demandam funções contratuais específicas. Os autores argumentam que alguns riscos, como o risco de expropriação, demandam salvaguardas por meio de vigilância e monitoramento extensivos, enquanto outros riscos requerem maior flexibilidade e cooperação, como é o caso da dependência.

Considerando que as transações estão sujeitas a um contexto e podem ser governadas por contratos formais e informais, Vosselman e Van Der Meer-Kooistra (2009) destacam a interação destas estruturas de governança, argumentando que a credibilidade de ameaças verbais no ambiente legal da relação, depende da confiança nos órgãos regulatórios e no sistema legal. Assim, as partes que sabem que um comportamento

malevolente pode ser denunciado a uma corte confiável, têm incentivos para se comportar de maneira benevolente.

De forma a corroborar com a abordagem da interação entre estruturas formais e informais, Doney, Cannon e Mullen (1998) destacam que a existência e a maneira como a confiança é estabelecida, depende das normas sociais e valores que guiam o comportamento e crenças das pessoas.

Luo (2002) também argumenta que os contratos podem contribuir para a minimização de um comportamento oportunista e na maneira como a confiança é desenvolvida. Para o autor, os contratos provêm a estrutura na qual a confiança é desenvolvida. Se assim é, também esperar-se-ia que houvesse alguma relação entre os contratos relacionais e confiança.

Neste sentido, Gundlach e Achrol (1993) destacam que faz-se relevante considerar a natureza e aplicação inter-relacionada dos mecanismos formais e informais de controle da relação.

Os autores argumentam que, apesar das normas relacionais serem distinguíveis conceitualmente e abrangerem o domínio do construto, estas são altamente inter- relacionadas. Como exemplo, os autores destacam que a característica transacional de dependência é a raiz subjacente tanto da norma de solidariedade quanto da reciprocidade.

Spriggs e Nevins (1996) destacam que estudar normas relacionais e seus efeitos, sem considerar a natureza dos contratos envolvidos, pode resultar em um erro de tipo 1, ou o erro de aceitar tais normas como significante em função da má especificação face a variáveis omitidas (correlação espúria).

Hatten et alli (2012) sugerem que existe mais a ser aprendido sobre como se dá a resolução de conflitos que ocorrem em transações caracterizadas como discretas e relacionais, na existência ou não de contratos formais. De forma a corroborar, Globerman e Nielsen (2007) destacam que o ambiente regulatório, em termos de exequibilidade dos contratos, tem impacto no processo de desenvolvimento da confiança.

Assim, argumenta-se que as relações entre organizações podem ser controladas, coordenadas e adaptadas, tanto por contratos formais quanto por contratos informais, sendo que a utilização destes é fundamentada nos fatores contextuais nos quais a transação está inserida, podendo estas estruturas de governança serem utilizadas de maneira complementar ou substituta, conforme a literatura (POPPO; ZENGER, 2002). Destaca-se que os estudos de complementaridade e substituição têm sido realizados utilizando o construto de confiança para a interpretação da governança informal das relações (POPPO; ZENGER, 2002; MALLEWIGT; MADHOK; WEIBEL, 2007). Argumenta-se aqui a possibilidade de se utilizar a teoria dos contratos relacionais para a interpretação da perspectiva informal da relação, uma vez que torna-se relevante a análise do comportamento da confiança na estrutura de governança das relações.

O quadro abaixo apresenta as proposições que fazem parte desta tese, representando de maneira resumida os argumentos construídos a partir da literatura.

Quadro 7 – Proposições da tese Característica da transação Tendência da função contratual Tendência à

formalidade informalidade Tendência à

Dependência Coordenar + - Incerteza Adaptar - + Dificuldade de mensuração Salvaguardar + - Especificidade de ativos Salvaguardar + - Frequência Coordenar - +

Tempo de Relação Coordenar - +

Expectativa de

Continuidade Coordenar - +

Fonte: Elaborado pela autora

Para que o contexto transacional no qual as relações estão inseridas fosse analisado, utilizou-se os atributos transacionais presentes na Teoria da Economia dos Custos da Transação (i.e. especificidade de ativos; incerteza e frequência da transação) e também os atributos considerados na literatura de relações interorganizacionais (i.e. dependência, dificuldade de mensuração da performance, tempo de relação, expectativa de continuidade da relação), totalizando sete atributos para esta pesquisa.

Uma vez considerados os atributos transacionais empregados para a determinação do contexto relacional segundo a literatura, revisou-se teoricamente a estrutura de governança esperada na presença de cada um desses atributos em termos de tendência à

aplicação de estruturas de governança formais ou relacionais, e funções contratuais formais. Assim, a partir da revisão dos atributos transacionais e estrutura de governança esperada na presença dos mesmos, estabeleceu-se as proposições para cada atributo, totalizando também sete proposições para verificação, a saber:

a) P1: Se, sob a condição de dependência existe maior tendência à formalidade e à função contratual de coordenação, esperar-se-ia que os contratos informais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação.

b) P2: Se, sob a condição de incerteza existe maior tendência à informalidade e à função contratual de adaptação, esperar-se-ia que os contratos formais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação.

c) P3: Se, sob a condição de dificuldade de mensuração da performance existe maior tendência à formalidade e à função contratual de salvaguardar, esperar-se- ia que os contratos informais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação.

d) P4: Se, sob a condição de especificidade de ativos existe maior tendência à formalidade e à função contratual de salvaguardar, esperar-se-ia que os contratos informais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação. e) P5: Se, sob a condição de maior frequência da transação existe maior tendência à

informalidade e à função contratual de coordenar, esperar-se-ia que os contratos formais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação.

f) P6: Se, sob a condição de maior tempo de relação entre as partes existe maior tendência à informalidade e à função contratual de coordenar, esperar-se-ia que os contratos formais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação.

g) P7: Se, sob a condição de expectativa de continuidade existe maior tendência à informalidade e à função contratual de coordenar, esperar-se-ia que os contratos formais tivessem menor relevância na estrutura de governança da relação.

Tais relações são relevantes pelo fato de que, à medida que os riscos relacionais aumentam, os contratos tendem a ser menos completos (HART; MOORE, 1999).

Assim, argumenta-se que os riscos relacionais não podem ser todos minimizados por cláusulas contratuais, dando espaço para a presença de contratos relacionais.