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5.2 Metodologia

6.1.3 Caracterização das Forças Indutoras do Desmatamento no Estado do Amapá

Wood (2002) e Carrero (2009) propõem uma divisão dos vetores de mudança e uso do solo entre biofísicos e socioeconômicos, operando em diversos níveis, desde locais, a regionais e globais. Os fatores biofísicos, como o índice pluviométrico, sazonalidade e a fertilidade dos solos são os principais determinantes do uso do solo, pois estas condições impõem uma barreira natural ao desenvolvimento agrícola (CARRERO, 2009).

O Amapá destaca-se por seu alto índice pluviométrico anual com mais de 3000 mm em algumas regiões. A classificação do clima do Amapá (classificação climática de Köppen) é “tropical superúmido”, sendo que o Estado possui duas regiões climáticas principais: a “úmida com um ou dois meses secos (setembro e outubro)” que predomina sobre a maior parte do interior do Estado – oeste, sul, norte e toda a parte central e outra, “úmida com três meses secos (setembro, outubro e novembro)” localizada a leste no litoral (Figura 23) (GEA, 2010).

Figura 23 : Distribuição da precipitação pluviométrica média (mm) mensal no Amapá.

Fonte: IEPA (2006).

O Governo do Estado do Amapá (2010) descreve que 65% do Estado é formado por uma configuração de solos muito antigos que embora a estrutura física seja favorável à agricultura, por serem submetidos a longos processos de intemperismo e lixiviação, apresentam baixos níveis de nutrientes e de Capacidade de Troca Catiônica (CTC). Esta condição exige rotações de ciclo curto, ou adições constantes de fertilizantes. Historicamente o alto valor dos insumos para a agricultura no Amapá, devido sua à localização geográfica isolada, foi um dos fatores que contribuíram para o baixo desenvolvimento da agricultura, dependendo de subsídios do Estado.

Na Amazônia cerca de 80% do desmatamento se concentra próximo a rede de estradas. Esta característica é comum em áreas rurais amazônicas, e no Amapá a relação encontrada é

ainda mais forte. De acordo com SEMA/AP (2014), 90,69% das áreas desmatadas localizam- se em uma área de entorno de menos de 10 km da malha viária (Figura 24).

Figura 24: Malha viária do Amapá e sua relação com o Desmatamento.

Fonte: SEMA/AP (2014).

Neste mesmo aspecto, o estudo desenvolvido por Facundes (2013) na região da BR- 21015, denominada Perimetral Norte, localizada entre a cidade de Porto Grande e a Terra

15 A rodovia BR-210, denominada Rodovia Perimetral Norte, se origina na cidade de Macapá, de onde parte em direção norte, atravessando 120 km de campos de cerrado até alcançar a cidade de Porto Grande. A partir desta cidade, a rodovia muda seu rumo em direção oeste recortando o domínio da Floresta densa de terra firme e seguindo até o interior da Terra Indígena Waiãpi, na região central do estado do Amapá (FACUNDES, 2013).

Indígena Waiãpi (Figura 25) apresenta uma relação ainda maior entre a expansão da rede viária com o desmatamento.

Figura 25: Região da Rodovia Perimetral Norte.

Fonte: Facundes (2013).

Facundes (2013) estudou o nível da correlação entre Mudanças de Uso do Solo e o crescimento da rede viária no período entre 1988, 1997, 2009 e identificou que as variáveis analisadas apresentaram uma forte correlação (0,9773), concluindo que as mudanças estão fortemente relacionadas à ampliação da rede viária e vice-versa. Os principais fatores que ajudaram a consolidar o quadro de Mudanças no Uso do Solo na área de estudo foram a criação da UC Flota do Amapá e dos assentamentos rurais do INCRA, as áreas de concessão mineral e a expansão da atividade madeireira na região.

Guadalupe (2014) também destacou o aumento da concentração do desmatamento na zona norte do Estado ao longo da rede rodoviária, principalmente após as ações governamentais empreendidas a partir de 2004, quando houve a pavimentação de um trecho de aproximadamente 60 km da BR-156 entre Oiapoque-Calçoene. Embora as rodovias sejam importantes para iniciar o processo, os vetores envolvidos no desmatamento e suas contribuições variaram grandemente para o norte do Estado, uma vez que as maiores mudanças

do uso da terra foram impulsionadas pelo aumento da área de pastagens, extração mineral, lavouras e área urbana (Figura 26).

Figura 26: Área de transição do uso da terra para o período 1985 – 2008 da região do módulo IV da Floresta Estadual do Amapá no norte do estado.

Fonte: Guadalupe (2014).

Segundo Guadalupe (2014), as atividades agropecuárias desenvolvidas no estado são praticadas num contexto de agricultura familiar e de pecuária de baixa produtividade, enquanto que no resto da Amazônia Legal a agropecuária predominante é de grande escala comercial. Ainda de acordo com autor, destaca-se a atividade pecuária como principal fator de indução do desmatamento na região norte amapaense. Esta atividade é predominantemente praticada por pequenos proprietários que comercializam a carne na cidade de Oiapoque. A relação rebanho/área desmatada em aproximadamente 45% dos pecuaristas com propriedades com tamanho médio de 100 ha possuem menos de uma cabeça de gado por hectare, levando a conclusão que a atividade pecuária na região tem um fim especulatório.

Em estudo visando traçar a linha de base das emissões de GEE relacionadas a Mudanças de Uso do Solo na área do Projeto Jari nos municípios de Laranjal do Jari e Vitória do Jari

(região sul do Estado), Brandão Jr. et al. (2012) identificaram os agentes do desmatamento que foram divididos em três grupos:

1.Os “invasores de terra”16 que têm como o objetivo a especulação fundiária, pois

invadem terras nas áreas sob controle do Projeto Jari e, para consolidar a posse desmatam a área e a vendem para outros quando esta posse é consolidada.

2. Os “posseiros” são famílias que moram nestas áreas há mais de 10 anos e desenvolvem atividades ligadas ao extrativismo e à agricultura de subsistência, tendo como base de produção a mão de obra familiar.

3. Os pequenos agricultores têm propriedades rurais com área de até 200 ha, onde há atividade de lavoura temporária ou permanente e criação de gado com pastagens em diferentes estágios de degradação.

Cabe destacar o processo de ocupação na região sul do estado, onde o desenvolvimento de novas frentes relacionadas a atividades florestais e de exploração mineral ocasionaram um grande deslocamento populacional em busca de emprego. Migrantes que muitas vezes chegam para trabalhos temporários permanecem na região tornando-se posseiros ou caseiros de pequenos sítios ou fazendas (BRANDÃO Jr. et al., 2012).

O saldo migratório positivo destacou-se como vetor importante para o desmatamento na região de Laranjal do Jari. Além das atividades do setor florestal do projeto Jari, a migração intra-regional foi ocasionada por importantes obras de infraestrutura na região como a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio do Jari, a melhoria da BR-156, e recentemente pela construção da linha de Alta Tensão, que interliga o Estado do Amapá ao Sistema Nacional de Energia. Segundo Carrero (2009), verifica-se que em regiões de expansão das fronteiras rurais no final da década passada a migração intra-regional contribui diretamente para o aumento das taxas de desmatamento.

Segundo Brandão Jr. et al. (2012), existe uma forte correlação entre o crescimento populacional e o desmatamento acumulado ocorrido no período entre 2000 e 2010, devido à demanda por novas áreas para agricultura e pastagem de pequeno porte (Figura 27). Isto se deve ao fato que cada família rural tem necessidade de desmatar em média 1,5 ha/ano para o plantio do roçado, o aumento da população demanda novas áreas.

Figura 27: Relação entre o crescimento populacional e o desmatamento histórico na Região do Projeto Jari.

Fonte: Brandão Jr. et al. (2012).

A extração ilegal de madeira também ocorre na região do Vale do Jari. A maior pressão por madeira é procedente de polos localizados em Laranjal do Jari e Mazagão, destacando-se também o aumento da demanda de produtos florestais e seus derivados na região (SFB e IPAM, 2011; BRANDÃO Jr. et al., 2012).