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Tendo como base o estado liberal (livre comércio) e com a Revolução Industrial na Inglaterra, o capitalismo atingiu sua maturidade e em um século levou a civilização a um progresso sem precedentes e se espalhou na maior parte do planeta. Os grandes progressos científicos e tecnológicos levou o Homem a acreditar que a natureza representava apenas um limite relativo para a sua expansão, tendo em vista que uma indisponibilidade ou escassez de certo recurso natural, poderia ser superada substituindo o recurso por outro mais abundante (GONÇALVES, 2013).

Segundo Satrustegui (2013), o crescimento exponencial da produção quebrou os limites que condicionavam a capacidade de satisfazer as necessidades da sociedade e somada ao domínio técnico científico, gerou-se a expectativa de que todas as classes sociais pudessem ser beneficiadas.

No entanto, sob a ótica de um mercado autorregulado, a interação do Homem (sob o nome de mão de obra) e a natureza (sob o nome de terra) são elementos do meio de produção e tratados como mercadoria, ficando sujeitos às leis da oferta e da procura. Enquanto a produção

teoricamente pode ser organizada desta forma, o fato de deixar o destino da natureza e das pessoas por conta do mercado foi o mesmo que aniquilá-los4 (POLANYI, 2000).

Neste sentido, Aguiar (2012) destaca a constatação de diversos historiadores sobre uma calamidade irremediável e predeterminada da relação das sociedades humanas e a natureza que, no decorrer dos séculos tenderam a subjugar a natureza a uma relação de exploração levando ao esgotamento do recurso, à decadência e morte.

Devido aos diversos problemas ambientais enfrentados a partir da Revolução Industrial, o discurso ecológico promovido por ambientalistas, ganhou força e vem sendo cunhado principalmente desde a segunda metade do século XX devido à evolução de três “grandes ondas” de preocupações com questões ambientais (BARBIERI, 2013).

A primeira onda corresponde ao surgimento nas décadas de 1940 e 1950 de preocupações sobre os impactos do rápido crescimento populacional sobre os recursos naturais, especialmente em termos da produção agrícola e exaustão de recursos não renováveis5 (BARBIERI, 2013).

A segunda onda decorre das questões relacionadas aos impactos dos padrões de produção e consumo, e a capacidade do ambiente em absorver resíduos produzidos pela tecnologia moderna. Foi marcada por grandes desastres ambientais e o lançamento do livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson, que denunciava a eminente extinção de várias espécies de pássaros e os agravos à saúde humana devido ao uso indiscriminado de pesticidas, ainda na década de 1960. A 1° Conferência das Nações Unidas realizada em Estocolmo em 1972 ocorreu em um momento de quebra de paradigma sobre o modelo de desenvolvimento predatório, destaca-se que foi precedida pela publicação do livro Limits of Growth (Limites do Crescimento) comissionada pelo Clube de Roma (FRANÇA, 2010).

A terceira onda deslocaria, a partir da década de 1980, o foco das preocupações ambientais de questões locais ou regionais típicas das ondas anteriores para questões ambientais globais. Em 1987, uma comissão de especialistas convocada pelas Nações Unidas publicou o Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido por Relatório de Brundtland, em que a

4 Segundo Booth (2013), pode-se afirmar que esta é a origem de uma das principais contradições do sistema

capitalista, uma vez que o capitalismo tem como base a propriedade privada dos meios de produção e a concorrência entre diferentes indivíduos privados visando o lucro. A competição incentiva ao capitalista investir parte de seu lucro em pesquisa e desenvolvimento para aumentar a sua produtividade, por outro lado também incentiva a pagar os seus trabalhadores o mínimo possível. No entanto, são os salários dos trabalhadores que criam a demanda para as mercadorias que o capitalista produz.

5 Esta primeira onda tem a influência do trabalho pioneiro Thomas Malthus (Malthus, 1798), e a partir de releituras de Malthus pelos “neomalthusianos” (BARBIERI, 2013).

mudança no clima e a perda de biodiversidade entraram em pauta, sendo pela primeira vez utilizado o termo Desenvolvimento Sustentável (CORRÊA, 2007; FRANÇA, 2010).

No Brasil, no final da década de 1970, casos de poluição ambiental extrema fez com que as correntes de pensamento de cunho ambientalista ganhassem força, aprovando-se a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) pela Lei n° 6.938/1981. Dentre os grandes avanços desta lei, destaca-se o artigo 4° que estabelece os Princípios do Usuário-Pagador e Poluidor-Pagador. Estes princípios partem da afirmação que os recursos ambientais são bens públicos, e que os meios de produção e consumo geram reflexos, ora resultando na sua degradação, ora resultando na sua escassez. Sendo assim os custos gerados, seja para prevenção desta poluição ou pela escassez do recurso, devem ser internalizados e incorporados nos custos de produção. Este conceito provem da economia ambiental, no qual é denominado “internalização das externalidades”.

A externalidade é o “custo gerado pela economia que não é contabilizado pelo seu gerador, que os remete ao social ou a sociedade que o internaliza como custo social” (SHIKI e SHIKI, 2011), e neste sentido, os serviços ambientais também são considerados externalidades, porém são positivas. Portanto, o Pagamento por Serviços Ambientais é uma evolução dos princípios “poluidor-pagador” e “usuário-pagador”, sendo considerado um novo princípio do Direito Ambiental, denominado de “protetor-recebedor” (NUSDEO, 2013; PERALTA, 2014). Existem diversas correntes de interpretação da economia do meio ambiente, no entanto as que têm se destacado são a economia ambiental neoclássica, que considera que os recursos naturais não representam, em longo prazo, um limite à expansão da economia; e, por outro lado, a economia ecológica considera o sistema econômico um subsistema dentro de um sistema maior que o contém e impõe uma restrição absoluta à sua expansão (ROMEIRO, 2010; GONÇALVES, 2013).

Para a economia ambiental neoclássica, os mecanismos de mercado regidos principalmente pela Lei de Oferta e Procura possibilitam a ampliação indefinida dos limites ambientais ao crescimento econômico. Uma vez que a escassez de um determinado bem ambiental provoca a elevação no seu preço, e consequentemente, induz inovações para poupá- lo ou substituí-lo por outro recurso mais abundante (GONÇALVES, 2013).

Esta corrente reconhece que existem falhas destes mecanismos no caso de bens ou serviços ambientais públicos (ar, água, capacidade de assimilação de rejeitos) e que é necessário a criação de políticas ambientais para que, por meio da precificação de bens e serviços, se criem

condições para os agentes econômicos “internalizarem” os custos da degradação que provocam (NUSDEO, 2013).

No caso dos provedores de serviços ambientais essa internalização é positiva, sendo necessário criar instrumentos que beneficiem aqueles que desenvolvam práticas de conservação ou restauração dos serviços ambientais, que por sua vez contribuem para a redução de custos ou para a manutenção da qualidade e quantidade dos recursos naturais que são utilizados em atividades econômicas (PERALTA, 2014).

Os princípios do poluidor/usuário-pagador e do provedor-recebedor são considerados como simétricos e complementares. Tendo em vista que na adoção de instrumentos econômicos que seguem os princípios do poluidor-pagador e usuário-pagador ocorre a redução da poluição ou o uso dos recursos naturais, espera-se que ao aplicar o princípio do provedor-recebedor ocorra um aumento na provisão dos serviços ambientais. (GONÇALVES, 2013; NUSDEO, 2013).

A economia ecológica, por outro lado, busca enfoques que fogem do objetivo de internalizar as externalidades ambientais por meio de mecanismos de mercado. Pois, mesmo com o aumento da eficiência na utilização de recursos naturais ocasionado pelo progresso científico e tecnológico, a sustentabilidade do sistema econômico não é possível se a capacidade de assimilação do meio é ultrapassada (GONÇALVES, 2013).

Para tanto, a economia ecológica baseia-se nas duas leis da termodinâmica. A primeira Lei sustenta que nem matéria nem energia podem ser criadas ou destruídas e por isso se mantêm constantes em um sistema isolado. A segunda lei da termodinâmica, conhecida como a lei da entropia, diz que a qualidade da matéria e da energia é progressivamente degradada, pois uma parte sempre se dissipa em calor, tendendo a atingir um limite em um sistema isolado, tal como o nosso planeta, e não se pode reverter este processo (CECHIN e VEIGA, 2010).

Assim, a economia ecológica sustenta que deve haver uma estabilização do consumo per capita de acordo com a capacidade de carga do planeta aliada ao conhecimento profundo da dinâmica ecológica dos ecossistemas, para que finalmente a valoração econômica dos serviços ecossistêmicos possa subsidiar a adoção de políticas de gestão dos recursos naturais (ROMEIRO, 2010; GONÇALVES, 2013).

Trata-se portanto de duas perspectivas sobre a economia, onde a economia ecológica sustenta que a macroeconomia é um subsistema aberto de um sistema bem maior, materialmente fechado, sendo portanto finito e não aumenta. Já na perspectiva neoclássica (convencional) a economia é o sistema maior e considera a natureza, o meio ambiente, ou a biosfera, como partes

ou setores da macroeconomia (florestal, pesqueiro, mineral, agropecuário, áreas protegidas, pontos ecoturísticos, etc.) (CECHIN e VEIGA, 2010).

Nesta perspectiva, contabilizar os custos ambientais e o valor dos recursos naturais de uma maneira objetiva tem sido um problema que a economia tem enfrentado, uma vez que eles estão sujeitos a temporalidades ecológicas de regeneração e produtividade que não correspondem aos ciclos econômicos. Adicionalmente, em uma tentativa de valorizar ou precificar a natureza existem valores a serem agregados que são de caráter extra econômico e simbólico, que são definidos por valores culturais, direitos comunais e interesses sociais (LEFF, 2001).

3.4 A VALORAÇÃO DA FLORESTA SOB A PERSPECTIVA DAS TEORIAS