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CARBONO

Em 1987, uma comissão de especialistas convocada pelas Organização das Nações Unidas publicou o Relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido por Relatório de Brundtland, em que evidenciou-se as temáticas das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade. Por outro lado, a questão da poluição, relativamente resolvida nos países desenvolvidos, ficou em segundo plano. Nesta época, o Brasil tornou-se o centro das atenções devido a sua política de ocupação da Amazônia, tendo em vista a aceleração do desmatamento nos anos 1987 e 1988 (SEIXAS CORRÊA, 2007; FRANÇA, 2010).

De acordo com os autores supracitados, com o intuito de melhorar a sua imagem deteriorada em relação às questões ambientais perante o cenário internacional, o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), a qual foi a maior do século. A partir desse ponto, o país passou a assumir uma postura mais aberta e transitiva, tendo o papel de interlocutor no encaminhamento multilateral das questões ambientais (SEIXAS CORRÊA, 2007; FRANÇA, 2010).

Desde a década de 1990, com a crescente preocupação com problemas ambientais no cenário internacional ocasionados pelas mudanças climáticas e perda da biodiversidade, o governo brasileiro passou a reconhecer a necessidade de conservação da Floresta Amazônica e vem implementando programas de conservação da floresta na região. Atualmente 40% do território da Amazônia Legal estão sob alguma forma de proteção, seja por Unidades de Conservação (UC) ou Terras Indígenas (TI) e a legislação ambiental estabelece Áreas de

Preservação Permanente (APP) e áreas as Reservas Legais em propriedades públicas e privadas em 80% da superfície total de propriedades no caso do Bioma Amazônia (WUNDER et al., 2009).

Contudo, apesar do Brasil ter sido o primeiro país a assinar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima9, resultado da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e ratificado pelo Congresso Nacional em 1994, as medidas de combate às mudanças climáticas somente se acentuaram a partir da década de 2000. O desempenho do país nas medidas de redução das emissões de GEE deve-se ao sucesso no setor “Mudança de uso da terra”, no qual as emissões caíram um bilhão de toneladas, o equivalente a uma queda de 64% no período de 2001 a 2011, enquanto que em outros setores elas aumentaram. A redução deve-se essencialmente a diminuição do desmatamento na Amazônia (Figura 10) (BOUCHER et al., 2014). Em 2013, o setor deixou de ser o principal emissor de GEE no Brasil, sendo ultrapassado pelo setor de energia.

Figura 10: Participação dos Setores que contribuíram para a emissão de GEE.

Fonte: Boucher et al., (2014), adaptado de Azevedo (2012).

Segundo dados Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI, 2014), o setor de mudança do uso da terra e florestas correspondia, em 1990 e em 2005, à principal fonte de emissões de GEE no Brasil, e era responsável por mais de 60% das emissões totais. O bioma Amazônia respondeu por praticamente dois terços destas emissões (Figura 11).

9 Criada após a Eco 92, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) estabelece as bases para a cooperação internacional sobre as questões técnicas e políticas relacionadas à mudança climática global. Em 1997, durante COP-3, foi assinado o Protocolo de Quioto, um acordo em que os países desenvolvidos se comprometeram a reduzir suas emissões de GEE (FRANÇA, 2010).

Figura 11: Contribuição relativa dos setores nas emissões totais de CO2 no ano 2000 (exceto Resíduos Sólidos) no Brasil; e contribuição relativa dos biomas nas emissões do setor Mudança de uso do Solo.

Fonte: MCTI, (2014); BRANDÃO e GUIMARÃES (2015).

Com a criação do Programa de Prevenção e Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAM) em 2004, as taxas de desmatamentos caíram nos últimos anos, no entanto elas ainda são intensas se considerarmos a área de terras desmatadas e abandonadas na Amazônia. Segundo dados do INPE, a taxa de desmatamento na Amazônia Legal passou de 27.772 km², em 2004, para 5.012 km², em 2014 – uma queda de 82% (Figura 12).

Figura 12: Redução do desmatamento na Amazônia Legal.

Fonte: MMA (2015).

As medidas de emissões de GEE fizeram o Brasil alcançar uma redução de 38% no período compreendido entre 2005 e 2012, que equivale a uma redução de um bilhão de toneladas de CO2 equivalentes somente para o setor “mudanças de uso da terra” (BOUCHER et al., 2014).

Nos últimos anos a taxa do desmatamento tem flutuado, sendo impulsionada por novas forças. Vem alternando anos com quedas nas taxas como nos anos 2010 e 2011 teve diminuição de 55% mesmo com o aumento dos preços da soja e gado – tradicionalmente associados ao aumento do desmatamento - porém em 2012-2013, esta taxa aumentou em 29% (5.891 km2), tornou a cair em 2014 registrando a segunda taxa mais baixa desde 1988 (5012 km²) e em 2015 subiu novamente (5831 km²), ainda assim esta foi a terceira taxa mais baixa do histórico (ver figura 3).

Segundo o IPAM, IMAZON e ISA (2014), o aumento do desmatamento no período de 2012-2013 coincidiu com vários fatores que tradicionalmente incentivam o corte de florestas (ex. aumento do preço de produtos agrícolas) e atingiu áreas situadas em diferentes categorias fundiárias (ex. UC, TI e Projetos de Assentamentos). Entretanto, as grandes obras de infraestrutura como hidrelétricas, asfaltamento de rodovias (BR-163 e a Transamazônica) e construção de portos (Itaituba e Santarém) alteraram a dinâmica da região e podem ter contribuído em parte o aumento da derrubada de florestas no período. Isto ocorreu devido as salvaguardas socioambientais para mitigar o risco de desmatamento associado a estas grandes

obras serem fracas e por falta de cobrança e investimentos do poder público para que sejam cumpridas.

O PPCDAM foi estruturado em três eixos temáticos que direcionaram a ação governamental – Ordenamento Fundiário e Territorial, Monitoramento e Controle e Fomento às Atividades Produtivas Sustentáveis é tido como o grande responsável pela redução do desmatamento alcançada.

Destaca-se a criação de áreas protegidas na região localizadas majoritariamente na frente da expansão do desmatamento. Estas ações, que foram inclusas no eixo de Ordenamento Fundiário e Territorial, criaram 50 milhões de hectares de UC federais e estaduais bem como houve a homologação de 10 milhões de hectares de Terras Indígenas (BOUCHER et al., 2014; ARAÚJO et al., 2015).

Neste sentido, atribui-se às ações que partiram do eixo Monitoramento e Controle, o maior impacto na queda do desmatamento, com destaque ao Projeto de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER) do INPE ao planejamento integrado da fiscalização, responsável pela deflagração de operações de fiscalização sob planejamento estratégico baseado em critérios técnicos e prioridades territoriais (MMA, 2013).

Estas ações ocasionaram o fechamento de empresas clandestinas de madeira e o desmantelamento de quadrilhas especializadas em crimes ambientais. Evidencia-se também o aprimoramento dos sistemas de monitoramento ambiental, envolvendo a análise de imagens de satélite, tais como os projetos Detecção de Exploração Seletiva (DETEX), Mapeamento da Degradação Florestal na Amazônia Brasileira (DEGRAD), e o Levantamento de Informações de Uso e Cobertura da Terra na Amazônia (TerraClass) (MMA, 2013).

O terceiro eixo do PPCDAM, denominado de Fomento às Atividades Produtivas Sustentáveis evidencia ações para valorização e fortalecimento de cadeias produtivas dos produtos florestais. Dentre as principais medidas temos a publicação da Lei de Gestão de Florestas Públicas (11.284/2006) e a criação do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) que já concedeu aproximadamente 480 mil hectares de florestas federais e que estão sob o regime de Manejo Florestal Sustentável (SFB, 2015), e a implementação da Operação Arco Verde, por meio de alternativas produtivas sustentáveis e apoio à regularização ambiental dos imóveis rurais (COUTINHO et al., 2013).

Destaca-se também a criação do Distrito Florestal Sustentável da BR 163; a emissão de licenças ambientais protocoladas para assentamentos de reforma agrária na Amazônia Legal nos respectivos órgãos estaduais de meio ambiente e desenvolvimento de projetos de manejo

de recursos naturais em assentamentos; apoio da Política de Garantia de Preços Mínimos da Sociobiodiversidade e a instituição de Pactos Setoriais com o setor empresarial, visando a redução do desmatamento e a responsabilidade socioambiental das cadeias produtivas, principalmente a Moratória da Soja, Pecuária e Madeira Legal (COUTINHO et al., 2013).

3.6 O PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS E O MECANISMO DE REDD+ NAS