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CARACTERIZAÇÃO DAS PARTES DO PROCESSO

No documento Perícia contábil trabalhista (páginas 39-44)

“As partes, segundo a nomenclatura adota na Consolidação das Leis do Trabalho, são denominadas, o autor, reclamante, e o réu, reclamado, nos dissídios individuais.”(GIGLIO, et al., 2007 p. 119)

“Autor, no Direto Processual, é a “parte da relação processual contenciosa que provoca a atividade jurisdicional, mediante propositura de ação”. (Acquaviva, 1997, p. 90).

“São partes do processo os sujeitos do contraditório instituído perante o juiz. ” (Liebman, apud Theodoro Júnior, 2003, p. 68).

Normalmente, é o empregado o autor da lide, o reclamante, mas pode ser também o empregador. De acordo com a CLT, Artigo 791, “Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final. ”

4.2.1 Caracterização da reclamante

A Reclamante é pessoa física, e foi empregada da 1ª Reclamada, Cooperativa de Crédito, tendo exercido durante o período contratual a função de Caixa, mas por exigência de seu empregador, acumulou as atividades de atendente, de cobrança e venda de ativos da Empresa, assim como de responsável pelo PAB Supertimm6.

Pessoa é todo “ente físico ou moral a que a ordem jurídica atribui direitos e deveres, ” (ACQUAVIVA,1997, pág. 228).

Segundo o Código Civil (CC), instituído pela Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, artigo 1o toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. ”

Para Basso (2011, p.36): “Por pessoa física entende-se a pessoa natural, identificada pelo registro de nascimento no Cartório de Registro Civil, e junto a autoridade fiscal pelo Cadastro de Pessoa Física. ”

A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) conceitua empregado no Art. 3°, a saber:

Art. 3º. Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.

Parágrafo único - Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, técnico e manual.”

Martins também traz uma definição de empregado: “Da definição de empregado temos que analisar cinco requisitos: (a) pessoa física; b) não-eventualidade da prestação de serviços; c) dependência; d) pagamento de salário; e) prestação pessoal de serviços. ” (MARTINS, 2001, p. 128).

O empregado em empresa privada, o empregado doméstico, o empregado rural e, inclusive, o empregado público são regidos pela CLT, daí serem chamados de empregados celetistas, enquanto o funcionário público é regido por estatuto.

A reclamante “X”, foi empregada Cooperativa de Crédito (1ª Reclamada) e não do Banco Cooperativo (2ª Reclamada), como entendia no Acórdão a 2ª Turma do TRT - 4ª Região, que a enquadrou como "bancária", de acordo com decisão do Tribunal Superior do Trabalho – TST.

No acórdão relativo ao recurso de revista impetrado pela 2ª Reclamada junto ao TST, o relator deu provimento ao recurso para restabelecer a sentença da Vara do Trabalho no particular - enquadramento da reclamante como "bancária", por contrariedade à Orientação Jurisprudencial da Seção de Dissídios individuais do Tribunal Superior do Trabalho OJ- SDI - 379/TST, a saber:

379. EMPREGADO DE COOPERATIVA DE CRÉDITO. BANCÁRIO. EQUIPARAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. (DEJT divulgado em 19, 20 e 22.04.2010): Os empregados de cooperativas de crédito não se equiparam a bancário, para efeito de aplicação do art. 224 da CLT, em razão da inexistência de expressa previsão legal, considerando, ainda, as diferenças estruturais e operacionais entre as instituições financeiras e as cooperativas de crédito. Inteligência das Leis nos 4.594, de 29.12.1964, e

5.764, de 16.12.1971.

A reclamante era funcionária de uma Cooperativa de Crédito, porém a vinculação sindical não pode ser objeto de ato de vontade, e sim, pelo enquadramento, já que a atividade da empresa/empregadora a insere numa dada categoria econômica e a vincula à Entidade Sindical que a representa; no prisma profissional, o empregado integra a categoria correspondente à atividade da empregadora, constituindo única exceção o membro de categoria diferenciada, que se vincula ao específico Ente Sindical. Porém, até o ano de 2010 não havia sindicato específico para funcionário de Cooperativas de Crédito, por isto da classificação da reclamante como bancária.

Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.

Já no §1º do Art. 18, a Lei nº 4.595/64 dispõe:

Art. 18, §1°: Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de crédito, financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas de crédito ou a seção de crédito das cooperativas que a tenham, também se subordinam às disposições e disciplina desta lei no que for aplicável, as bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização, as sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de terceiros, atividade relacionada com a compra e venda de ações e outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras.

Assim, a Lei mencionada distingue cooperativas de crédito de estabelecimentos bancários, embora os equipare por força do §1º do art. 18 da Lei n° 4.595/64, sendo aplicável no caso o entendimento consubstanciado na Súmula 55 do TST: “As empresas de Crédito, Financiamento ou Investimento, também denominadas ‘financeiras’, equiparam-se aos estabelecimentos bancários para os efeitos do artigo 224, da CLT. ”

O citado Art. 224 da CLT dispõe:

Art. 224 - A duração normal do trabalho dos empregados em bancos, casas bancárias e Caixa Econômica Federal será de 6 (seis) horas continuas nos dias úteis, com exceção dos sábados, perfazendo um total de 30 (trinta) horas de trabalho por semana.

§ 1º - A duração normal do trabalho estabelecida neste artigo ficará compreendida entre 7 (sete) e 22 (vinte e duas) horas, assegurando-se ao empregado, no horário diário, um intervalo de 15 (quinze) minutos para alimentação.

§ 2º - As disposições deste artigo não se aplicam aos que exercem funções de direção, gerência, fiscalização, chefia e equivalentes, ou que desempenhem outros cargos de confiança, desde que o valor da gratificação não seja inferior a 1/3 (um terço) do salário do cargo efetivo.

4.2.2 Caracterização das reclamadas

O Sistema de Crédito Cooperativo é formado pelas Cooperativas Singulares, suas Centrais, uma Confederação, um Banco Cooperativo e suas empresas coligadas, BC Card. e Corretora de Seguros e suas Unidades Regionais de Desenvolvimento e Controle. (RIBEIRO, 2008 p. 13)

A 1ª Reclamada, Cooperativa de Crédito, é instituição financeira, pessoa jurídica de natureza civil, sociedade cooperativa e, como tal, sociedade de pessoas, sem fins lucrativos. No site oficial da instituição, consta:

O Sicredi, instituição financeira cooperativa, é referência internacional pelo modelo de atuação em sistema. São 100 cooperativas de crédito filiadas, que operam com uma rede de atendimento com 1.321 pontos. A estrutura conta ainda com quatro Centrais Regionais – acionistas da Sicredi Participações S.A., uma Confederação, uma Fundação e um Banco Cooperativo e suas empresas controladas. Todas essas entidades, juntas, formam o Sicredi e adotam um padrão operacional único. A atuação em sistema permite ganhos de escala e aumenta o potencial das cooperativas de crédito para exercer a atividade em um mercado no qual estão presentes grandes conglomerados financeiros.

Na página web do Banco Central do Brasil há o conceito de cooperativa de crédito:

A cooperativa de crédito é uma instituição financeira formada por uma associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, sem fins lucrativos, constituída para prestar serviços a seus associados.

O objetivo da constituição de uma cooperativa de crédito é prestar serviços financeiros de modo mais simples e vantajoso aos seus associados, possibilitando o acesso ao crédito e outros produtos financeiros (aplicações, investimentos, empréstimos, financiamentos, recebimento de contas, seguros, etc.).

O objetivo da constituição de uma cooperativa de crédito é prestar serviços financeiros de modo mais simples e vantajoso aos seus associados, possibilitando o acesso ao crédito e outros produtos financeiros (aplicações, investimentos, empréstimos, financiamentos, recebimento de contas, seguros, etc.).

As cooperativas de crédito atuam basicamente no setor primário da economia, com o objetivo de permitir uma melhor comercialização de produtos rurais e criar facilidades para o escoamento das safras agrícolas para os centros consumidores, destacando que os usuários finais do crédito que concedem são sempre os cooperados. (FORTUNA, 1999 p. 23)

A Lei Federal nº 5.764/71, dispõe sobre as Sociedades Cooperativas, que defere a política nacional de cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, dispões o Art. 4º, caput e incisos I a VII, quais são suas características:

Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características:

I - Adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II - Variabilidade do capital social representado por quotas-partes;

III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV - Inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;

V - Singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI - Quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral baseado no número de associados e não no capital;

VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral;

VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social;

IX - Neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;

X - Prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços.

A 2ª Reclamada, Banco Cooperativo, é pessoa jurídica, instituição financeira cooperativa, integrante do Sistema Financeiro Nacional e do Sistema Cooperativista e é constituída como Sociedade de Capital, sob a forma de Sociedade Anônima.

O Banco Cooperativo enquadra-se como uma instituição financeira e, como tal, é integrante do Sistema Financeiro Nacional (Lei n° 4.595/1964, art. 18, parágrafo 1°).

Dispõe a Lei Federal nº 6.404/1976, a Lei das Sociedades por Ações, no Art. 1º: “Art. 1º. A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. ”

De acordo com o disposto no Art. 25, caput, da Lei Federal 4.595/1964: " Art. 25. As instituições financeiras privadas, exceto as cooperativas de crédito, constituir- se-ão unicamente sob a forma de sociedade anônima, devendo a totalidade de seu capital com direito a voto ser representada por ações nominativas. ”

Ainda, o Banco SICREDI S.A. integra também o Sistema Cooperativista, ou seja, é um Banco Cooperativo (BCo).

O Banco Central, através da Resolução nº 2.193, de 31/08/95, autorizou a constituição de bancos comerciais com participação exclusiva de cooperativas de crédito, com, atuação restrita `Unidade de Federação de sua sede, cujo PLA [?] deverá estar enquadrado nas regras do Acordo de Basiléia, representando 15% dos ativos ponderados pelo risco [...]A Resolução nº 2.193/1995 do Banco Central "deu autorização para que as cooperativas de crédito abrissem seus próprios bancos comerciais, podendo fazer tudo o que qualquer outro banco comercial já faz: ter talão de cheques, emitir cartão de crédito, fazer diretamente a compensação de documentos e, principalmente, passar a administrar a carteira de crédito antes sob responsabilidade das cooperativas. A constituição do banco cooperativo vai permitir também levantar recursos no exterior, atividade vetada às atuais cooperativas de crédito [...]No Banco Cooperativo a vantagem para o sistema [cooperativista] é que o produtor rural é o gerador e o controlador do fluxo do dinheiro, ao mesmo tempo que mantém estes recursos. Em síntese, isto significa que o dinheiro fica na região onde é gerado para reaplicação no desenvolvimento de novas culturas" (FORTUNA, 1999, p. 29).

Ressalte-se que o Juiz da Vara do Trabalho, no dispositivo da Sentença de 1º Grau, condenou ambas as Reclamadas, a Cooperativa de Crédito SICREDI (1ª Reclamada) e o Banco SICREDI (2ª Reclamada) a pagar, de forma solidária, em favor do Reclamante os valores a serem apurados em liquidação de sentença.

4.3 A SENTENÇA DE 1º GRAU – VARA DE TRABALHO, O ACÓRDÃO DE 2º

No documento Perícia contábil trabalhista (páginas 39-44)

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