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IV.2. RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO DE CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

IV.2.2. Caracterização das tarefas envolvendo MMC

O segundo grupo de questões do questionário dizia respeito à caracterização da situação das empresas no tocante à existência de tarefas de MMC, bem como à, eventual, adopção de medidas de prevenção/protecção adequadas ao problema em questão.

Dos dados totais recebidos e validados, os respondentes reportaram um total estimado de aproximadamente 44.600 trabalhadores envolvidos em tarefas de MMC, correspondendo a um total estimado de mais de 4.000 postos de trabalho. Tal valor representa, grosso modo, cerca de 37,5%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

<20 20-99 100-499 >500

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dos trabalhadores envolvidos na amostra considerada. Este valor deve, no entanto, ser referido com alguma prudência, uma vez que é possível que o questionário tenha sido preenchido por técnicos em cujas empresas existam situações de MMC e, eventualmente, não respondido por técnicos que entendessem que a inexistência de situações deste tipo não justificava o preenchimento do questionário.

Considerando o número de empresas e de trabalhadores envolvidos em tarefas de MMC, na Figura IV.7 apresenta-se um gráfico ilustrativo do número médio de trabalhadores envolvidos em tarefas de MMC por empresa. Desta Figura, é possível constatar que os sectores “Administração Pública e Defesa” (sector O), “Electricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio” (Sector D) e “Comércio por grosso e a retalho; reparação de veículos automóveis” (Sector G) apresentam o maior número de trabalhadores envolvidos em MMC por empresa. No entanto, se for feita uma análise desta Figura à luz da Figura IV.2, em particular considerando os dados do número médio de colaboradores por empresa de cada sector, verificamos que o perfil por sector é semelhante, ou seja, as respostas parecem indicar que quanto maior for o número de colaboradores por empresa também maior será o número reportado de colaboradores envolvidos em MMC.

Existe apenas uma excepção a este perfil que convém aqui destacar, a do sector da “Educação” (Sector P). Neste caso, e salvaguardando a pequena representatividade da amostra, verifica-se que embora o número médio de colaboradores por empresa seja elevado (aproximadamente 800 trabalhadores por empresa, ver Figura IV.2), registou-se um valor relativamente pequeno para o número de colaboradores envolvido em tarefas de MMC (29,3 trabalhadores por empresa). Tal é facilmente explicado pela natureza das tarefas associadas a este sector de actividade, no qual não se prevê a realização frequente de tarefas de MMC.

Como uma das principais medidas de prevenção/protecção dos trabalhadores face ao risco de MMC consiste na utilização de ajudas mecânicas para a manipulação das cargas, o questionário continha uma questão relativa ao tipo de ajudas mecânicas utilizadas, propondo um conjunto de medidas mais frequentemente adoptadas, mas abrindo a possibilidade de os respondentes reportarem outras medidas não indicadas no questionário.

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Figura IV.7: Número médio de trabalhadores com tarefas de MMC por empresa (nº total de trabalhadores com tarefas de MMC/nº de empresas).

Na especificação das medidas não referidas, os respondentes tendem a adoptar designações distintas para as mesmas medidas, pelo que a compilação e validação dos dados a posteriori visou, igualmente, a agregação e a normalização das designações utilizadas pelos respondentes. Tal prática repetiu-se em todas as situações em que o questionário permitia a introdução de respostas “abertas” por parte dos respondentes.

Os resultados correspondentes à questão sobre o tipo de ajuda mecânica adoptada são apresentados, sob a forma de histograma, na Figura IV.8. Através desta figura é possível concluir que 2 das medidas incluídas entre as respostas sugeridas foram as mais escolhidas e que, em conjunto, correspondem a mais de 50% das respostas obtidas (assinaladas a vermelho na Figura IV.8).

Para além das 6 medidas sugeridas, os utilizadores adicionaram nas suas respostas mais de 12 categorias distintas, sendo que a referida Figura apenas apresenta as que tiveram mais de 4 respostas, agrupando as restantes na categoria “Outros”.

De destacar o número de respostas (cerca de 40) associadas à categoria “Nenhumas”, isto é, de respondentes que reportaram a não adopção de qualquer medida de ajuda às tarefas de MMC, mesmo que na empresa existam tarefas deste tipo.

49,2 10,0 87,6 387,1 93,3 94,2 273,1 177,1 5,7 14,0 20,00,0 27,8 4,3 399,6 29,3 123,1 30,0 234,8 1,4 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S nd

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Algumas das medidas referidas são também características do sector de actividade em que são utilizadas. A título de exemplo, no sector da construção são utilizadas com regularidade gruas e escavadoras para elevar cargas importantes, assim como em meio hospitalar são utilizados determinados mecanismos concebidos especificamente com o propósito de ajudar na manipulação de pessoas (doentes, acamados, pessoas com incapacidades motoras, etc.).

Figura IV.8: Tipo de ajudas mecânicas disponíveis nos postos de trabalho com MMC (nº de respostas).

Complementando a questão sobre a utilização de ajudas mecânicas, o questionário continha uma questão sobre os Equipamentos de Protecção Individual (EPI) que estão, regularmente, disponíveis para a realização de tarefas envolvendo a MMC.

Também neste caso as possibilidades de resposta apresentadas no questionário foram as mais significativas nos resultados. Contudo, foram também incluídas nas respostas outros tipos de EPI não apresentados no questionário. Os resultados finais são apresentados na Figura IV.9.

0 50 100 150 200 250

Empilhador/Porta-paletes Carros de transporte Equip. mecânicos de elevar cargas Bancada adaptável em altura Tapete Rolante Nenhumas Gruas/Auto-gruas Guinchos/"Garibaldi"/Diferenciais,etc. Ponte Rolante Ventosas e Magnetos Disco Rotativo (Retro)Escavadoras Ajudas ténicas para meio hospitalar Robôs Outros

127 Embora a contribuição, em termos de protecção do trabalhador, de alguns EPI em relação às tarefas de MMC possa ser muito ténue, ou mesmo inexistente (por exemplo, no caso da utilização de protectores auditivos), as respostas ao questionário mostram, sobretudo, a elevada frequência na utilização de luvas mas mostram, igualmente, um elevado número de respostas que é assumido não ser disponibilizado nenhum tipo de EPIs neste tipo de tarefas.

A Figura IV.9 ilustra, igualmente, a opção dos técnicos relativamente à adopção de cintos lombares, com uma 3ª posição em termos do número de respostas, mas sendo o 2º tipo de EPI mais utilizado. Este resultado é relativamente importante, uma vez que, apesar deste EPI ser especificamente utilizado para as tarefas de MMC, alguns estudos recentes referem que a sua eficiência poderá ser posta em causa e dependerá de muitos factores, tais como o grau de ajuste do cinto e as características da tarefa (Chen, 2003). É também frequente encontrar-se vários autores que alertam para o facto de a utilização do cinto lombar poder induzir situações de “falsa segurança”, isto é, dar a sensação de protecção quando na realidade o seu efeito de protecção “real” poderá ser diminuto. No entanto, estudos muito recentes mostram que a percepção dos trabalhadores sobre o risco associado a MMC parece não ser alertada pela utilização de cintos lombares (Ciriello, sem data).

Figura IV.9: Tipo de Equipamento de Protecção Individual disponível para a realização de tarefas de MMC (nº de respostas). 273 54 49 29 13 9 8 8 5 6 0 50 100 150 200 250 300 L u va s N e n h u ma s C in ta s L o mb a re s Bo ta s d e Pro te cçã o C a p a ce te s Pu lso s El a st ico s Má sca ra s Pro te ct o re s Au d it ivo s Arn ê s d e Se g u ra ça O u tro s

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A segunda parte do questionário termina com uma questão relativa à existência de acções formativas sobre os procedimentos a adoptar na realização de tarefas de MMC. Embora houvesse alguma informação complementar que poderia ser importante perceber, nomeadamente a duração das acções de formação, os conteúdos, a especificidade do contexto das acções (em contexto de trabalho, com prática, expositiva, teórica, etc.), por motivos de simplificação optou-se por apenas se questionar se os trabalhadores tinham recebido ou não formação neste domínio específico.

Os resultados (Figura IV.10) mostram que, do total das respostas, a maior parte reportou o envolvimento dos trabalhadores em acções de formação, embora seja possível verificar que existe ainda cerca de 30% das respostas em que é assumido não ter havido formação ou os respondentes não terem opinião sobre o assunto, o que significará, em princípio, que não possuem informação sobre o assunto.

Figura IV.10: Existência de formação dos trabalhadores sobre procedimentos específicos a adoptar durante a realização de tarefas de MMC (% do total).