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II.5. MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RISCO NA MMC

II.5.4. Nível II – Equação NIOSH

Em 1981, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) dos Estados Unidos publicou o Work Practices Guide for Manual Lifting (NIOSH WPG). Este guia, entre outros conteúdos, apresentava uma equação para calcular o peso limite recomendável para elevações e abaixamentos simétricos e efectuados com as duas mãos.

Mais tarde, foi publicado o documento Scientific Support Documentation for the revised 1991 NIOSH Lifting Equation: Technical Contract Reports, que continha uma revisão da equação NIOSH original, ampliando as suas condições de aplicação. Por exemplo, passou a ser aplicável na avaliação de tarefas de elevação assimétricas e de objectos desprovidos de boas pegas. A equação NIOSH’91, designação como ficou conhecida esta última versão, contempla maiores amplitudes na duração do trabalho (até 8 horas) e na frequência das elevações. Esta nova equação também possibilita o cálculo do limite para o dispêndio de energia em tarefas de elevação e um índice de elevação para a identificação de postos de trabalho com especial risco (Waters et al., 1994).

A equação NIOSH tem como base três tipos de critérios, nomeadamente:

- biomecânicos, limitados pela força máxima de compressão no disco intervertebral L5/S1 = 3,4 kN;

- fisiológicos, limitados pelo dispêndio energético máximo compreendido entre 2,2 a 4,7 kcal/min; - psicofísicos, limitados pelo peso máximo considerado aceitável para 75% das trabalhadoras e cerca de 99% dos trabalhadores do sexo masculino (Waters et al., 1993).

O principal resultado da aplicação desta equação (Figura II.4) é o peso limite recomendado (PLR), que se define como sendo o peso da carga, para uma determinada tarefa com um conjunto de características específicas, que quase todos os trabalhadores saudáveis (99% de homens e 75% de mulheres) podem realizar durante um período substancial de tempo sem um aumento de risco de lesões músculo-esqueléticas.

O PLR baseia-se num peso máximo recomendado que se designa por constante de carga (CC = 23 kg). A CC é ajustada através da aplicação de diferentes multiplicadores (geralmente inferiores à unidade) em função dos desvios que a tarefa apresenta em relação às condições óptimas.

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Figura II.4: Equação NIOSH’91 e principais distâncias aplicadas.

As variáveis da tarefa consideradas pelos multiplicadores da equação são as seguintes:

- distância horizontal (H) entre as mãos e a linha vertical que passa pelos tornozelos no início da elevação;

- distância vertical (V) das mãos ao solo no início da elevação;

- distância vertical da elevação (D) desde o ponto de início até onde é depositada a carga;

- assimetria (A), ou seja ângulo de rotação do tronco, do movimento de elevação em relação ao plano sagital;

- tipo de pegas (P) existentes nos objectos a elevar; - frequência média (F) das elevações;

- duração do período de trabalho com tarefas de elevação (T).

Note-se que os multiplicadores podem ser usados quando se pretende melhorar os postos de trabalho, alterando as variáveis descritas.

A partir do PLR torna-se possível determinar o índice de elevação (IE) que fornece uma estimativa do stress físico associado ao trabalho manual de elevação. Este obtém-se através do quociente entre o peso da carga e o PLR, ou seja, um IE superior a 1 indica risco de LMERT.

45 Mas, antes de utilizar esta equação é necessário verificar:

- se é requerido um controlo no destino da carga no final da elevação;

- se o posto de trabalho deve ser analisado como tendo uma única ou várias tarefas (single-task ou multi-task) de elevação de cargas.

Quando é requerido um controlo significativo de um objecto no destino da elevação, o trabalhador tem de aplicar uma força para desacelerar o objecto. A força de desaceleração depende da velocidade de elevação, sendo superior à força necessária para iniciar a elevação. Quando se verifica esta situação, o PLR deve ser calculado no início e no fim da elevação, sendo considerado para a avaliação o menor dos dois valores calculados. Este procedimento também é obrigatório quando se verifica alguma das seguintes situações:

- se o trabalhador tiver de segurar a carga imobilizada antes de a pousar; - se modificar a pega no final da elevação;

- se for preciso posicionar o objecto com cuidado no destino da elevação.

Os postos de trabalho com multi-tarefas de elevação de cargas são aqueles onde se regista uma diferença significativa entre as variáveis de cada tarefa. Assim, a sua avaliação é mais complexa pois cada tarefa deve ser analisada em separado (Waters et al., 1994) e têm que se determinar os seguintes parâmetros:

1. PLRIFj (PLR sem ter em consideração o valor da frequência, ou seja com MF=1);

2. PLRTSj = PLRIFj * MFj;

3. IEIFj = Lmaxj / PLRIFj;

4. IETSj = Lmax / PLRTSj;

5. IEC (índice de elevação composto): primeiramente, ordenar as tarefas simples por ordem decrescente do valor de IETSj, depois fazer IEC = IETS1 + IE* (Paz Barroso, 2005).

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Todavia, a equação NIOSH só pode ser aplicada no caso de se verificarem as seguintes condições: - duração do período de trabalho não superior a 8 horas;

- elevação feita com suavidade, sem movimentos bruscos; - elevação sem restrições à postura mais favorável;

- boas condições mecânicas, asseguradas por um piso plano e sem obstruções, oferecendo uma boa aderência ao calçado;

- condições térmicas e visuais favoráveis.

Portanto, a equação NIOSH’91 tem ainda algumas limitações, nomeadamente:

- assume que quaisquer outras actividades de manipulação para além das de elevação são mínimas e não requerem dispêndio de energia significativo, como por exemplo as tarefas de empurrar, segurar, transportar, caminhar ou subir;

- não inclui factores para as consequências de circunstâncias imprevistas, tais como pesos inesperadamente elevados, escorregamentos ou quedas durante a manipulação;

- a equação não é aplicável a tarefas de elevação com uma só mão, ou nas posições de sentado, ajoelhado, ou ainda em espaços confinados que obriguem à adopção de posturas desfavoráveis. Esta também não se aplica a tarefas de elevação de pessoas, ou de objectos excessivamente quentes ou frios, sujos ou contaminados, bem como a tarefas de elevação de barris, padejar, ou elevação muito rápida;

- segundo a equação a superfície de contacto do calçado do trabalhador com o solo tem um coeficiente de fricção estática, no mínimo, de 0,4 (preferencialmente 0,5). Porém, se as condições de aderência forem inferiores, os riscos e o acréscimo de esforço resultantes serão imprevisíveis; - a equação NIOSH’91 assume que as tarefas de levantamento e de abaixamento de cargas têm idêntico potencial para causar lesões lombares. Tal facto pode não ser verdadeiro se, em vez de manter o objecto nas mãos até pousar no chão, o trabalhador apenas conduzir a descida ou mesmo deixá-lo cair até ao chão (Waters et al., 1994).

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